Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, agosto 17
agosto - dia 17
Último dia de férias de verão, sempre um regresso à terra, visitando toda a largura do sotavento junto ao mar, da fronteira a Vila Moura com epicentro em Faro - berço meu. Visitações familiares desde a minha tia Lucília, decana da família, nos seus 97 anos, um belo rosto que se mantém luminoso, até aos mais jovens sobrinhos netos, campeões nacionais de ténis nas respetivas categorias. Sucessivas gerações mantendo, no essencial, os mesmos traços físicos, bronzeados do sul e longilíneos porque sim, em suas tarefas e misteres, juntos à terra que os viu nascer. O futuro desenha-se, para todos e cada um, com uma enorme interrogação. Mas não foi sempre assim? Praticando a arte de sobreviver a toda procela.
sexta-feira, agosto 15
quarta-feira, agosto 13
agosto - dia 13
A nossa cidade é aquela que nos habita mais do que aquela que habitamos. E somos habitados por muitas cidades e lugares delas. Tal como pelas pessoas que ao longo da vida amamos. Nada pode mudar esta capacidade do homem incorporar a natureza, transformando-se e, por fim, a ela regressar. Finito na esplendorosa compreensão da sua existência e dos limites do seu papel individual na relação com ela. A vida irradia beleza pelas ruas da cidade banhada de luz e arrefecida pela misteriosa brisa que sopra suave. Desde que me conheço que reconheço a sua aura que atravessa os corpos elegantes dos carregadores de mercadorias que desfilam nos corredores das festas de verão ou a caminho do mercado. Por entre notícias de morte de ilustre, e notável, gente e do alastrar de guerras sempre injustas, raia, embora incipiente, a aurora de um novo humanismo. Basta estar atento aos sinais.
segunda-feira, agosto 11
domingo, agosto 10
agosto - dia 10
É difícil encontrar trabalho por mais que o jargão populista insinue de todas as formas: "eles não querem é trabalhar"!. Se assim fosse a maioria dos que emigram em busca de trabalho quedar-se-iam em ameno repouso. Não me refiro ao tema do ócio, tempo de lazer, essa conquista recente das sociedades ocidentais. Refiro-me ao trabalho, em todas as áreas da actividade humana, que além de ser um "ganha pão" é um meio de realização humana e de afirmação da personalidade. É preciso saber conjugar o tempo de trabalho com o tempo de lazer. Mas os benefícios do lazer não se alcançam no desespero da escassez dos meios materiais e na desesperança de alcançar acesso a actividades de trabalho dignas e devidamente remuneradas. Esta é uma questão complexa que se não compadece com simplificações. Manter o realismo de acreditar no futuro de uma sociedade mais justa, igualitária e livre. Aceitar os desafios das mudanças mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis. Trabalhar sempre o melhor que estiver ao alcance de cada um. Abrir caminho para que o maior número encontre trabalho digno.
sexta-feira, agosto 8
agosto - dia 8
De férias a sul como sempre aconteceu desde que me conheço, nem que tenha sido por um só dia como, excepcionalmente, em 1975. Próximo das terras, e praias, (mais terras, que praias) frequentadas pelos meus antepassados do lado materno e paterno. Toda a minha ascendência nasceu a sotavento deste Algarve nome que incorporou até há bem pouco tempo a designação do Reino de Portugal (e dos Algarves). Não me espreguiço, pois, em simples veraneio envolvido que me sinto pelas ressonâncias de gerações nas quais correu, e corre, sangue do meu sangue. A paisagem está por dentro de mim como estão os odores, os rostos, as vozes, os dizeres, as manhas e tudo o que resiste às facetas perversas da globalização. Caminho de pé por entre memórias felizes o que reconstrói a minha vontade de continuar a percorrer esta vida povoada de enganos.
quinta-feira, agosto 7
segunda-feira, agosto 4
agosto - dia 4
Banco Bom, Banco Mau, acabou mais um episódio da maior crise de uma instituição financeira nos últimos (muitos) anos em Portugal. Outros se seguirão. Não tenho conta no BES nem nunca tive. Nenhuma instituição que tenha estado sob minha gestão alguma vez teve conta no BES. Não tenho, pois, queixas nem experiência directa de lidar com o BES. Não deveria escrever nem uma palavra acerca deste assunto, além do mais, porque tendo obtido uma formação académica em finanças, não me imagino como administrador de falências... Somente a escala dos números envolvidos, a nível nacional, é muito grande. E passamos a vida, todos nós, a ouvir falar em números de uma escala muito inferior como salário mínimo, pensões de sobrevivência, tudo o que toca ao mundo do trabalho ou das pensões, quantas vezes, apresentados como excessivos. Exigem-se reformas e todos clamam por justiça no âmbito do Estado Social. Nesse mundo conhecem-se os esquemas para obter benefícios ilegítimos, desde os beneficiários, aos fornecedores de bens e serviços. Abundam as fugas, e lateralidades, que prejudicam os cidadãos e as entidades cumpridoras. Sabemos todos que tolerar o incumprimento das obrigações de uns significa o sacrifício da obtenção de legítimos benefícios sociais de outros. Mas o sector financeiro tem gozado de uma infinita tolerância e compreensão por parte da sociedade e de todos os responsáveis dos poderes públicos seja qual for a sua natureza e cor ideológica e politica. Pela sua escala o caso BES, que se desenrola debaixo dos nossos olhos, hoje, aqui e agora, produz um efeito de descredibilização do sector financeiro e, em particular, da banca comercial que impõe uma acção rápida, diria fulminante, na investigação das suspeitas de ilícitos e de crimes. O governador do BP não pode falar deles - e falou - sem que hajam consequências imediatas. Sou contra a justiça popular ou mediática mas é preciso fazer funcionar o estado direito e, em consequência, proteger a democracia dos seus inimigos.
domingo, agosto 3
VIVER POR CIMA
A qualquer hora do dia, em mim próprio e entre os outros, eu subia às alturas, acendia aí fogueiras bem visíveis e alegres saudações subiam até mim. Era assim que eu tomava gosto à vida e à minha própria excelência.
A minha profissão satisfazia, felizmente, esta vocação das alturas. Ela livrava-me de toda a amargura em relação ao próximo, que eu sempre obsequiava, sem nunca lhe dever nada. Colocava-me acima do juiz, que, por minha vez, eu julgava, acima do réu que eu forçava ao reconhecimento. Pondere bem nisto, meu caro senhor: eu vivia impunemente. Nenhum julgamento me dizia respeito, não me encontrava no palco do tribunal, mas em qualquer outra parte, nos urdimentos, como esses deuses que, de tempos a tempos, são descidos por meio de um maquinismo, para transfigurar a acção e dar-lhe o seu sentido. No fim de contas, viver por cima é ainda a única maneira de ser visto e saudado pela maioria.
Albert Camus, in A Queda
A minha profissão satisfazia, felizmente, esta vocação das alturas. Ela livrava-me de toda a amargura em relação ao próximo, que eu sempre obsequiava, sem nunca lhe dever nada. Colocava-me acima do juiz, que, por minha vez, eu julgava, acima do réu que eu forçava ao reconhecimento. Pondere bem nisto, meu caro senhor: eu vivia impunemente. Nenhum julgamento me dizia respeito, não me encontrava no palco do tribunal, mas em qualquer outra parte, nos urdimentos, como esses deuses que, de tempos a tempos, são descidos por meio de um maquinismo, para transfigurar a acção e dar-lhe o seu sentido. No fim de contas, viver por cima é ainda a única maneira de ser visto e saudado pela maioria.
Albert Camus, in A Queda
sábado, agosto 2
agosto - dia 1
O BES, em menos de nada, afundou-se. Um banco de referência, com história e mercado, está a estrebuchar caído no chão dando a sensação, a quem assiste de fora, que afastada a família que lhe dá o nome, ninguém sabe o que fazer dele. Pode ser que esteja enganado, assim espero, mas o Estado vai socorrê-lo, em linguagem comum, "entrará com o dinheiro", "uma pipa de massa", diria o Dr. Barroso. Estou a ser simplista, está bem de ver, pois a fórmula para a entrada temporária do Estado será engenhosa e sempre teria de o ser. Nada de novo. A tralha dos Espíritos Santos, diabolizados como é da praxe, dará lugar a quem? Para já, quer dizer, depois de amanhã, ao Estado, salvo qualquer milagre de última hora. Os jornalistas das economias surgiram hoje, pelo menos a meus olhos, nervosos e hesitantes como o verão que teima em não despontar. Nada de nacionalização do BES. De acordo, que não é solução. Resta explicar, bem explicado, como é que um banco privado, representando 20% do mercado nacional, uma grossa fatia do crédito concedido, milhões de depositantes, continuará a ser privado se a maioria do capital passar a ser público. E caso a explicação corresponda à operação de salvamento em curso, que desejo seja bem sucedida, como será apresentada a saída pós intervenção do Estado. A que prazo e em que condições. E qual a medida das consequências dessa intervenção na economia e na vida quotidiana dos cidadãos. O problema do BES, a partir de hoje, deixou, em definitivo, de ser privado, tornando-se público. Um problema de todos nós.
Fotografia de Hélder Gonçalves
quinta-feira, julho 31
julho - dia 31
Fotografia de Hélder Gonçalves
O absurdo do modelo neoliberal, ou da sua profunda degenerescência, está patente em todo o seu esplendor, no caso GES/BES. Não se trata desta feita da falência de um quiosque, de uma pequena oficina ou do café da esquina. Não podemos, neste caso, observar os olhos turvos de lágrimas do comerciante fechando de vez a porta, nem o olhar triste do funcionário despedindo-se de vez dos seus clientes habituais... Faz muito tempo que não se via nada assim. Talvez, para quem tenha vida longa, similitude com os acontecimentos dos idos de 80, entre 1983/85, para não falar, noutro contexto, no período pós 25 de abril de 74. Mas nestas épocas de crise brava (1974 e 1983) sempre havia expectativas positivas de futuro, fossem ou não realizadas, a todos agradassem ou não agradassem. A liberdade em todas as suas vertigens, após 48 anos de ditadura, e a adesão à actual União Europeia com seu interminável cortejo de promessas de prosperidade. O que me dá que pensar, ainda com energia para questionar o que for que queira, é quais as expectativas que povoam a cabeça de cada um, e de todos nós, no olho do furacão da presente crise. Pode ser que hajam mas estão ao alcance de muito poucos.
O absurdo do modelo neoliberal, ou da sua profunda degenerescência, está patente em todo o seu esplendor, no caso GES/BES. Não se trata desta feita da falência de um quiosque, de uma pequena oficina ou do café da esquina. Não podemos, neste caso, observar os olhos turvos de lágrimas do comerciante fechando de vez a porta, nem o olhar triste do funcionário despedindo-se de vez dos seus clientes habituais... Faz muito tempo que não se via nada assim. Talvez, para quem tenha vida longa, similitude com os acontecimentos dos idos de 80, entre 1983/85, para não falar, noutro contexto, no período pós 25 de abril de 74. Mas nestas épocas de crise brava (1974 e 1983) sempre havia expectativas positivas de futuro, fossem ou não realizadas, a todos agradassem ou não agradassem. A liberdade em todas as suas vertigens, após 48 anos de ditadura, e a adesão à actual União Europeia com seu interminável cortejo de promessas de prosperidade. O que me dá que pensar, ainda com energia para questionar o que for que queira, é quais as expectativas que povoam a cabeça de cada um, e de todos nós, no olho do furacão da presente crise. Pode ser que hajam mas estão ao alcance de muito poucos.
quarta-feira, julho 30
julho - dia 30
Se todas as notícias a que o cidadão comum está exposto forem levadas a sério o cidadão comum, para sua sanidade mental, terá que se proteger delas. As notícias, como sabem os que sabem, quando são produzidas destinam-se a produzir efeitos sempre, ou quase, previamente conformados em função de interesses de poder sejam directamente de natureza politica, económica ou outros. Há académicos por esse mundo fora que se dedicam a estudar o tema nas suas diversas vertentes. Nada de novo. O que é novo nestes dias que passam, aqui e agora, é a confluência de tantas notícias que surgem, aos olhos de quem esteja minimamente atento, como sucessivas frentes de fogo e de contra fogo. Uma luta sem tréguas, ameaçando o vale tudo, pelo poder num país escasso, dependente, pobre, acabrunhado, deficitário em cultura do pleno exercício das liberdades e da democracia. Sem desprimor para os políticos, reformados e no activo, que os há sérios e empenhados, uma espécie de plutocracia*, na qual, paradoxalmente, os ricos são cada vez mais pobres.
* A plutocracia (do grego ploutos: riqueza; kratos: poder) é um sistema político no qual o poder é exercido pelo grupo mais rico. Do ponto de vista social, esta concentração de poder nas mãos de uma classe é acompanhada de uma grande desigualdade e de uma pequena mobilidade. (In Wikipédia).
Fotografia de Hélder Gonçalves
terça-feira, julho 29
domingo, julho 27
julho - dia 27
Ao contrário do que é próprio da sua missão, mesmo considerando a presente época de férias, os jornais (refiro-me às suas edições online) actualizam as notícias a passo de caracol. Num mundo repleto de acontecimentos preocupantes, quando não aterradores, que caem em catadupa no nosso conhecimento por outras vias, os jornais entraram numa espécie de estado vegetativo. A sua falta de vitalidade, e o decréscimo da sua influência no presente, noutros tempos tão marcante na vida pública, resulta de uma crise porventura irreversível (uma ou outra excepção confirmam a regra). Os chamados jornais tradicionais, mesmo quando vertidos para versões em formato virtual, estão em vias de extinção. Se não é assim, assim parece. O assunto está estudado e já muito se dissertou acerca da matéria. Faço simplesmente uma observação que resulta da minha experiência de leitor de jornais, em todas as formas e formatos, desde há muitos anos.
sexta-feira, julho 25
julho - dia 25
Cansado. Por entre notícias de guerras, abertas e ocultas, disputas e enredos burocráticos. Na véspera de férias, com seu encanto, na busca do equilíbrio permanente, tenho na lembrança aquela frase de Camus, que nunca esqueço e cito de cor: "manter o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos". É cada dia mais forte o cheiro a pólvora e o ranger dos laços que unem os usurpadores do bem comum. Um dia, mais cedo que tarde, mais perto que longe, a maioria da comunidade, a todas as escalas, terá que se levantar para abrir portas a uma nova época. Uma época na qual os cidadãos, livres e autónomos, tomem de novo posse dos seus destinos. Pela paz, pela vida, pela liberdade.
Fotografia de Hélder Gonçalves
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Fotografia de Hélder Gonçalves
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quarta-feira, julho 23
Maria João Pires on old fortepiano plays Chopin Piano Concerto no. 2, 1 ...
Uma grande artista portuguesa,esteja onde estiver,
70 anos - parabéns.
terça-feira, julho 22
julho - dia 22
Fotografia de Hélder Gonçalves
Ao escrever, tomando posição, corremos riscos. Desde logo o de mais tarde verificarmos que estávamos errados (tantas vezes! ...). Mas preciso de escrever que não gosto do discurso de Rui Rio: as suas tiradas acerca do direito de voto, que o mutilam ou condicionam, são perigosas para a liberdade. Não gosto de sentir que me podem retirar o direito de voto se, por uma circunstância qualquer, decidir abster-me de votar o que nunca, até hoje, fiz. A faceta austera dos políticos pode ser suportável quando não à custa do sacrifício da liberdade, essa exacta liberdade, abstracta, que se sobrepõe à ordem mesmo quando a escassez a ameaça encostar à parede. Lembro-me de Lorca e de tantos outros - ontem, hoje e amanhã - encostados à parede não pela injustiça dos mundos mas pelas mãos dos homens que são capazes, sem piedade nem escrúpulos, de matar outros homens. Não gostei da CPLP ter admitido a Guiné Equatorial por todas as razões que tantos já apontaram: o regime politico vigente nesse país que não preza, mais uma vez, a liberdade; a língua portuguesa que deixa de ser a marca simbólica da Comunidade - mesmo quando sabemos que nalguns países de língua oficial portuguesa mal se fala o português. Podia a CPLP sobreviver contra a opinião do Brasil e de Angola? Talvez não! Podia Portugal sobreviver à CPLP? Com certeza que sim! Como hoje se diz a propósito de tanta coisa podíamos, nós portugueses, neste caso, ser austeros utilizando a palavra simples e clara: Não!
Aditamento: depois de ter lido e ouvido, ao longo deste dia, inúmeros opiniões acerca do assunto Guiné Equatorial/CPLP, mesmo relativizando a sua importância, mantenho a opinião "ingénua" acima afirmada.
Ao escrever, tomando posição, corremos riscos. Desde logo o de mais tarde verificarmos que estávamos errados (tantas vezes! ...). Mas preciso de escrever que não gosto do discurso de Rui Rio: as suas tiradas acerca do direito de voto, que o mutilam ou condicionam, são perigosas para a liberdade. Não gosto de sentir que me podem retirar o direito de voto se, por uma circunstância qualquer, decidir abster-me de votar o que nunca, até hoje, fiz. A faceta austera dos políticos pode ser suportável quando não à custa do sacrifício da liberdade, essa exacta liberdade, abstracta, que se sobrepõe à ordem mesmo quando a escassez a ameaça encostar à parede. Lembro-me de Lorca e de tantos outros - ontem, hoje e amanhã - encostados à parede não pela injustiça dos mundos mas pelas mãos dos homens que são capazes, sem piedade nem escrúpulos, de matar outros homens. Não gostei da CPLP ter admitido a Guiné Equatorial por todas as razões que tantos já apontaram: o regime politico vigente nesse país que não preza, mais uma vez, a liberdade; a língua portuguesa que deixa de ser a marca simbólica da Comunidade - mesmo quando sabemos que nalguns países de língua oficial portuguesa mal se fala o português. Podia a CPLP sobreviver contra a opinião do Brasil e de Angola? Talvez não! Podia Portugal sobreviver à CPLP? Com certeza que sim! Como hoje se diz a propósito de tanta coisa podíamos, nós portugueses, neste caso, ser austeros utilizando a palavra simples e clara: Não!
Aditamento: depois de ter lido e ouvido, ao longo deste dia, inúmeros opiniões acerca do assunto Guiné Equatorial/CPLP, mesmo relativizando a sua importância, mantenho a opinião "ingénua" acima afirmada.
segunda-feira, julho 21
domingo, julho 20
julho - dia 20
Volto ao tema da guerra. Os portugueses vêem a guerra como realidade distante. Assistimos às cenas de guerras localizadas que se multiplicam pelo mundo no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Não conhecemos ao vivo os horrores da guerra. Não sofremos dos seus efeitos destruidores na nossa vida, de familiares e de amigos. Temos sido poupados e julgamos-nos imunes às suas terríveis consequências. Nem se conhecem manifestos que expressem posições colectivas de repúdio pelas guerras que, aparentemente, não nos dizem respeito. Assistimos resignados à devastação de comunidades, e à morte de inocentes, sem um gesto de solidariedade ou uma palavra de repulsa. Mal tomamos partido. Podemos dizer que sentimos, mas não expressamos, em sobressalto colectivo, a nossa indignação. Julgo não ser injusto se disser que nem os órgão de soberania assumem em plenitude o dever da condenação da guerra em solidariedade com as suas vitimas inocentes. Reina, entre os portugueses, perante uma real ameaça de generalização da guerra um silêncio sepulcral. Estranha forma de vida!
sexta-feira, julho 18
dia 18 - julho
Fotografia de Hélder Gonçalves.
Pode acontecer, e espero que aconteça, não estarem reunidas as condições para a eclosão de uma guerra. Mas as fronteiras da Europa, as nacionalidades ( e correspondentes nacionalismos), as rotas comerciais e, no nosso tempo, os pipelines, o domínio de espaço, terra mar e ar, sempre foram, fonte de conflitos bélicos. A Rússia sente-se cercada pela consumação passo a passo da estratégia alemã de reconstruir o seu velho império enquanto potência continental. A Inglaterra, a outra verdadeira potência europeia (marítima) hesita, protesta, ameaça, mas não rompe com a estratégia alemã, ou seja, com a UE. Chegamos assim, por estes dias, a um enfrentamento entre as duas grandes potências continentais: Alemanha e Rússia. Não sabemos o que se passa no seio da diplomacia e qual a verdade dos fatos que, neste preciso momento, ameaçam a paz. Mas pelas aparências, à distância, somente por sensibilidade, nunca estivemos, nos últimos muitos anos, tão perto de uma confrontação militar. [No dia do aniversário do inicio da guerra civil de Espanha - 18 de julho de 1936.]
quinta-feira, julho 17
quarta-feira, julho 16
julho - dia 16
Uma breve nota de verão acerca do que Henrique Raposo escreveu hoje no Expresso, de que respigo a passagem que me despertou a atenção: "... a história do MES é idêntica à história do Bloco de Esquerda (BE)." Muito já se escreveu acerca do MES, embora talvez não o suficiente, mas para quem queira conhecer a sua história, ou eloquentes fragmentos dela, basta pesquisar um tudo nada na net. Num instante qualquer um entenderá que a única semelhança entre o MES e o BE é a palavra esquerda que as respectivas siglas ostentam. Nada mais.
Mesa da sessão pública final do I Congresso do MES - Aula Magna da Cidade Universitária - Lisboa (Dezembro de 1974)
segunda-feira, julho 14
julho - dia 14
Fotografia de Hélder Gonçalves
O verão desponta finalmente, sem mácula ou quase, desferindo, apesar de todos os revezes, aquele golpe que nos faz sentir mais soltos ao imaginar o não fazer, o lazer, um exercício que não há muito tempo só estava ao alcance dos ricos. Como sabem aqueles que sabem, e é preciso saber bastante, as férias pagas são uma aquisição recente da sociedade de "bem estar". Somente pelos idos do ano 1936, com o governo da frente popular em França, se inaugurou o instituto legal das chamadas férias pagas. Os trabalhadores de todas as qualidades por conta de outrem, o povo que depende do salário, e as classes de modestos rendimentos de propriedade, passaram a gozar de um período, em muitos casos, obrigatório de férias. São ténues as tentativas para questionar esta conquista do estado social, está bem de ver porque deu origem a uma poderosa indústria que dá pelo nome de turismo (de massas). Com todas as contingências oriundas de ideologias, e carências, será uma das conquistas do período do ante II grande guerra que se manterá para que os vindouros possam abençoar o tempo livre como um tempo de liberdade de fazer o que a cada um apetecer. Apesar da maioria não amealhar o suficiente para dar realidade ao direito conquistado ao menos que se preserve o direito de gozar de férias num futuro mais desafogado.
O verão desponta finalmente, sem mácula ou quase, desferindo, apesar de todos os revezes, aquele golpe que nos faz sentir mais soltos ao imaginar o não fazer, o lazer, um exercício que não há muito tempo só estava ao alcance dos ricos. Como sabem aqueles que sabem, e é preciso saber bastante, as férias pagas são uma aquisição recente da sociedade de "bem estar". Somente pelos idos do ano 1936, com o governo da frente popular em França, se inaugurou o instituto legal das chamadas férias pagas. Os trabalhadores de todas as qualidades por conta de outrem, o povo que depende do salário, e as classes de modestos rendimentos de propriedade, passaram a gozar de um período, em muitos casos, obrigatório de férias. São ténues as tentativas para questionar esta conquista do estado social, está bem de ver porque deu origem a uma poderosa indústria que dá pelo nome de turismo (de massas). Com todas as contingências oriundas de ideologias, e carências, será uma das conquistas do período do ante II grande guerra que se manterá para que os vindouros possam abençoar o tempo livre como um tempo de liberdade de fazer o que a cada um apetecer. Apesar da maioria não amealhar o suficiente para dar realidade ao direito conquistado ao menos que se preserve o direito de gozar de férias num futuro mais desafogado.
sábado, julho 12
sexta-feira, julho 11
quinta-feira, julho 10
julho - dia 10
A um jogo do fim, tantos sofrendo tanto, outros zombando, apaixonados e desinteressados, um mundo subjugado pela força da mediatização do jogo. Um dia, muitos anos atrás, tornei-me apreciador do futebol - que não verdadeiro apaixonado. Como em tudo na vida aprende-se a gostar e o tempo modera a cega paixão. O fluxo futebolístico é um fenómeno que vai além do espectáculo e ainda mais do puro negócio que o envolve. Os praticantes multiplicam-se por inúmeros campeonatos, profissionais, semi profissionais e amadores. É um fenómeno de uma dimensão física e humana difícil de abarcar, e compreender, através da simples mediatização. O negócio do futebol é só uma pequena parte da realidade do futebol. O verdadeiro futebol, o que se constitui escola de vida, como bem dizia o jovem praticante Camus, vai muito além dos suspeitosos bastidores do futebol profissional de alta competição. Argentina ou Alemanha? Não foi por acaso que chegaram à final. Nem sequer, desta vez, através de qualquer favorecimento espúrio. A Argentina é a minha dama!
terça-feira, julho 8
segunda-feira, julho 7
julho - dia 7
A politica, ao contrário do que alguns querem fazer crer, é uma actividade nobre. Mesmo nos tempos que correm em que proliferam os seus detractores sempre, pela sua parte, a praticando mesmo quando a denigrem. O ambiente de crise social, em todos os tempos, encosta o discurso político à tentação do messianismo. Nada a fazer pois dele emerge a própria natureza humana. Mas não confundo todos os políticos com a massa da qual emergem. Nem os seus discursos que sendo todos feitos de palavras advêm de diversas formações filosóficas e experiências de vida. Nem confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro da homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade.
Gal Costa
domingo, julho 6
julho - dia 6
Viagem de trabalho ao norte que sempre parece breve. A tentação inevitável de intercalar, ou de misturar, contactos pessoais com obrigações profissionais. Resisto com a consciência que sacrifico o culto da amizade à improvável riqueza da tarefa profissional. Uma força e uma fraqueza. No imediato sinto-me mais só, como que sozinho no mundo, mas determinado a cumprir a minha tarefa. Com uma convicção secreta que a verdadeira amizade não sofre a usura do tempo. Que a verdadeira amizade resiste para todo o sempre enquanto sobreviver em nós um sopro de vida digna. Como não cultivar com mais intensidade as amizades? Porquê? Em qualquer caso uma fuga ao confronto connosco próprios à vista do rosto dos outros. Não serei nunca capaz de ultrapassar esta contradição que me acompanhará até ao fim. Desculpem.
sexta-feira, julho 4
julho - dia 4
Aceito o repto da acção, consciente das limitações da acção. Sei muito bem, hoje melhor do que ontem, que as nossas acções são ínfimos pontos na profundidade temporal da história dos povos. Um quase nada apesar da, por vezes, infinita grandiloquência dos nossos actos no presente. Então porquê insistir na acção? Porventura porque há razões mais fundas que nos movem. Um impulso vital para partilhar o destino da colectividade que nos envolve. Subir a montanha para sentir o vento e apreciar a beleza do horizonte infinito.
quinta-feira, julho 3
julho - dia 2
O grande artista afirma-se pela obra, sempre assim foi. Comenta-se, muitas vezes, o caso do artista, premiado, num dado ano, com o Nobel da literatura cuja obra o tempo tornou irrelevante. Lembrei-me da polémica em França quando Sarkozy, pelo cinquentenário da morte de Camus, propôs a sua entrada no Panteão. Sabendo o que sabemos hoje, exactamente hoje, abençoada parte de sua família que se opôs. Não é o caso de Sophia de Mello cuja personalidade, acção cívica e obra, suportam tudo incluindo as honrarias de Estado. Que se mantenha viva através da divulgação da sua palavra luminosa e da lembrança das suas corajosas tomadas de posição em prol da liberdade.
domingo, junho 29
junho - dia 29
É verão. Pelo calendário e, pelo menos, hoje pela meteorologia. Percorri os caminhos meus conhecidos junto ao mar na costa mais ocidental da Europa. Não sei se este verão vai ser quente pelos critérios da meteorologia, ninguém sabe, nem sequer os meteorologistas. Mas sei que vai ser, quase certamente, quente na política. A disputa pela liderança do PS, ao contrário do que parecem pensar alguns mais distraídos, não se confina ao PS. Antecipa a disputa da liderança do governo. O óbvio ululante, como alguém escreveu, exigindo a apresentação de programas e a tomada de compromissos. Ninguém vai mais acreditar em cartas de intenção, ideias gerais, demagogias eleitoralistas. O tempo da tentação dos populismos não acabou. Mas não creio que nas próximas disputas eleitorais venha a ter sucesso. Ponham as cartas na mesa e não se isolem nos castelos (aparelhos) partidários.
sexta-feira, junho 27
junho - dia 27
Não me senti verdadeiramente triste com o desempenho futebolístico da selecção de Portugal no mundial do Brasil. Entusiasta do futebol que julgo entender nas suas diversas facetas - do negócio à arte - em que os pés assumem o comando, não me deixo dominar pelas emoções. O tempo resolve e as gentes relevam depressa o insucesso, o espectáculo tem que continuar. Como escrevi numa pequena nota publicada no facebook "carteiras cheias, cabeças vazias", mas um golo a mais, num momento decisivo, mudaria tudo. Mas nem mesmo o futebol, hoje, muda nada de essencial do estado de espírito dos povos, nem favorece, nem desfavorece governos, nem salva bancos, ou os afunda, embora bancos possam afundar clubes endividados ou, pelo menos enfraquecê-los. Mas nada por nada me faz perder o prazer de apreciar um bom jogo de futebol, no qual esteja presente o verdadeiro fluxo futebolístico.
quarta-feira, junho 25
junho - dia 25
A situação nacional agita-se como sempre se agitou, mesmo aquando da aparente calmaria dos tempos de bonança, com disputas por todos os lugares onde o poder se disputa. A banca (rota) deixou de cuidar das aparências mostrando em todo o seu esplendor quanto descuidou a prudência. As gentes remediadas que não almejam senão dispor de serviços que supunham honestos, alarmam-se. Não é caso para menos por mais que se despejem toneladas de água fria por cima do clamor da desconfiança. Até prova em contrário os banqueiros, e sua corte, são gente honesta, sempre anunciada como âncora segura da economia da nação, zelosos cumpridores das leis e das regras da função, afinal, uma elite sem mácula. Assim seja mas, ao que parece, não é possível manter a ordem das coisas quando nem as aparências os banqueiros são capazes de manter. Um dia destes, não se sabe quando nem como, o fogo vai pegar na palha seca.
terça-feira, junho 24
DIGNIDADE
"O que vive em nós mesmo irrealizado precisa nestes tempos dúbios da rijeza da pedra. Orgulho autêntico. Recusa da conivência, do arranjo disfarçado. Dignidade. Elementos de que se faz a vagarosa teimosia dos sonhos. E então a partida está ganha. Pode perdê-la o escritor (por outras razões, aliás) mas o homem vence-a de certeza."
"O Aprendiz de Feiticeiro" de Carlos de Oliveira
Fotografia de Hélder Gonçalves
Roma - Janeiro de 2005
segunda-feira, junho 23
domingo, junho 22
junho - dia 22
Por irónica coincidência passei o dia de solstício de verão, a sul, na minha cidade de Faro. Abro a janela do quarto que dá para a rua, no centro da cidade, e oiço o silêncio quente entre cortado pelo chilrear da passarada. Conheço, tanto como me conheço, este silêncio acolhedor por entre o ar de cores mediterrânicas. E reconheço os contornos das faces felizes, ou sofredoras, dos meus que sempre me rodeiam mesmo quando ausentes. Que viva o verão!
sexta-feira, junho 20
junho - dia 20
Para os meus amigos, sejam elas ou eles, que me lêem, e persistem em me seguir, por pura amizade e devoção, após um dia de trabalho: Trabalhar. Fazer coisas com sentido. Partilhadas. Com esforço e vontade. Talvez criar. Não perder o gosto de trabalhar para o bem comum. Sem perder o sentido do prazer. Do amor-próprio. Respeitar e ser respeitado. Nada perder do sentido do dever. Usar o tempo sem sentir passar o tempo. Envelhecer devagar. Sentidamente. Com um abraço pelo início do verão.
Chico Buarque por Caetano Veloso
"Chico chega aos setenta (e até agosto sou apenas um ano mais velho do que ele, prazer de dois meses a cada ano). O Brasil é capaz de produzir um Chico Buarque: todas as nossas fantasias de autodesqualificação se anulam. Seu talento, seu rigor, sua elegância, sua discrição são tesouro nosso. Amo-o como amo a cor das águas de Fernando de Noronha, o canto do sotaque gaúcho, os cabelos crespos, a língua portuguesa, as movimentações do mundo em busca de saúde social. Amo-o como amo o mundo, o nosso mundo real e único, com a complicada verdade das pessoas. Os arranha-céus de Chicago, os azeites italianos, as formas-cores de Miró, as polifonias pigmeias. Suas canções impõem exigências prosódicas que comandam mesmo o valor dos erros criativos. Quem disse que sofremos de incompetência cósmica estava certo: disparava a inevitabilidade da virada. O samba nos cinejornais de futebol do Canal 100, Antônio Brasileiro, o Bruxo de Juazeiro, Vinicius, Clarice, Oscar, Rosa, Pelé, Tostão, Cabral, tudo o que representou reviravolta para nossa geração foi captado por Chico e transformado em coloquialismo sem esforço. Vimos melhor e com mais calma o quanto já tínhamos Noel, Haroldo Barbosa, Caymmi, Wilson Batista, Ary, Sinhô, Herivelto. A Revolução Cubana, as pontes de Paris, o cosmopolitismo de Berlim, o requinte e a brutalidade de diversas zonas do continente africano, as consequências de Mao. Chico está em tudo. Tudo está na dicção límpida de Chico. Quando o mundo se apaixonar totalmente pelo que ele faz, terá finalmente visto o Brasil. Sem o amor que eu e alguns alardeamos à nossa raiz lusitana, ele faz muito mais por ela (e pelo que a ela se agrega) do que todos nós juntos.”
quarta-feira, junho 18
junho - dia 18
Um texto dos mais antigos que escrevi aqui acerca do futebol. Intitulei-o de "Após a Derrota", de tantas que fazem parte da actividade humana, do jogo da vida e também do desporto. Nada pior do que não saber aceitar a derrota com as suas penas. Nada pior do que não saber vencer com suas alegrias. Escrevi assim: "Os negócios da imagem (e outros) dominam o fenómeno do futebol contemporâneo, eu sei, mas a imagem dos meus heróis de juventude, que quase pagavam para jogar, colou-se na formação do meu gosto e este jamais o perderei ao contrário do vício de fumar que perdi de um dia para o outro. A beleza do futebol, mesmo após a derrota, tal como a beleza feminina, mesmo sendo produzida (e a beleza não é sempre produzida?), fascina-me e incorpora a minha formação cultural. Não há volta a dar!"
terça-feira, junho 17
segunda-feira, junho 16
junho - dia 16
Hoje foi um dia não para notícias, não que não hajam notícias, todas as antigas e outras novas, os povos da Europa navegando por entre fumos de guerra. Volto a referir a guerra, o Irão oferece uma aliança aos USA na luta contra os insurgentes sunitas no Iraque. Os USA dão sinais de aceitar. Qual será o negócio? A Rússia ameaça o abastecimento de gás à Ucrânia (e à Europa da UE) e a diplomacia da UE aparenta desnorte, qual barata tonta, enquanto todos chatageiam todos, ameaçando em on e off, como se estivéssemos em plena época de manobras bélicas. Hoje numa tribuna de um país de criação portuguesa, o Brasil, nascido da estratégia vencedora da projecção externa de quinhentos, a chanceler alemã, com toda a carga simbólica, aplaudiu a vitória dos seus. Hoje, em Salvador da Baía, não havia quem simbolicamente confortasse os derrotados, no exacto lugar da chegada de Cabral. A primeira capital, coisas sem importância. Honra aos vencidos, glória aos vencedores.
junho - dia 15
Fotografia de Hélder Gonçalves
Continuo a escrever aqui. Para mim é uma coisa normal. Mas passou muito tempo desde que comecei. Apetece-me escrever quando me recolho. É fascinante a página em branco. Nada me obriga. Oiço dizer em muitos lugares que escrever no espaço público é perigoso. Mas não tenho medo de me manifestar, através da opinião, do testemunhar, tomar partido. De forma mais serena e, naturalmente, mais ponderada do que ontem. Mas não ter medo, salvo raras excepções, não é um estado de espírito inato. Resulta de uma aprendizagem na qual as nossas relações com os outros e o mundo nos conformam o ser em construção. Por estes dias viajei pelo sul litoral. O meu olhar reteve uma paisagem natural extraordinariamente bela, o mar beijando a terra sob a lua de prata. A terra florescente nos seus contrastes fascina o olhar mais distraído. Mas a qualidade dos serviços prestados parece ter parado no tempo, senão mesmo regredido. Será uma injustiça generalizar mas parece-me notório que recrudesceu o amadorismo. A maior parte das nossas pequeníssimas empresas (que são quase a totalidade do nosso empresariado), parece à beira de sucumbir. Poupa-se na ração, o animal ameaça morrer.
Continuo a escrever aqui. Para mim é uma coisa normal. Mas passou muito tempo desde que comecei. Apetece-me escrever quando me recolho. É fascinante a página em branco. Nada me obriga. Oiço dizer em muitos lugares que escrever no espaço público é perigoso. Mas não tenho medo de me manifestar, através da opinião, do testemunhar, tomar partido. De forma mais serena e, naturalmente, mais ponderada do que ontem. Mas não ter medo, salvo raras excepções, não é um estado de espírito inato. Resulta de uma aprendizagem na qual as nossas relações com os outros e o mundo nos conformam o ser em construção. Por estes dias viajei pelo sul litoral. O meu olhar reteve uma paisagem natural extraordinariamente bela, o mar beijando a terra sob a lua de prata. A terra florescente nos seus contrastes fascina o olhar mais distraído. Mas a qualidade dos serviços prestados parece ter parado no tempo, senão mesmo regredido. Será uma injustiça generalizar mas parece-me notório que recrudesceu o amadorismo. A maior parte das nossas pequeníssimas empresas (que são quase a totalidade do nosso empresariado), parece à beira de sucumbir. Poupa-se na ração, o animal ameaça morrer.
sábado, junho 14
junho - dia 14
Não sou mais do que um cidadão interessado pelas coisas do mundo. Preocupam-me os sinais de guerra
que em algumas regiões passaram de ameaças a actos. Não me guio pela agenda da comunicação social global e busco contrariar o esquecimento. Li nas notícias do dia que a França e a Alemanha manifestaram preocupação com a situação na Ucrânia. É a Europa à beira da guerra ou a guerra à beira da Europa. Com aparente surpresa os islamitas radicais (sunitas) ameaçam tomar o poder no Iraque. Não foi lançada pelo ocidente imperial uma "guerra santa" contra o poder sunita de Saddam Hussein? Sabem quando foi? Quanto tempo demorou? Quanto custou? Da democracia que lá implantou? Das razões reais e invocadas? Da Síria as trombetas emudeceram! Da Líbia as novas são escassas! A paz sofre tratos de polé do grande conglomerado militar industrial internacional. Seja qual for o lado em que avança vitoriosa uma guerra as armas ostentam as mesmas insígnias. Alguém as vende, alguém as paga, enquanto os povos sofrem! É preciso ouvir com muita atenção as palavras do Papa Francisco.
sexta-feira, junho 13
junho - dia 13
Fotografia de Hélder Gonçalves
Dia de Santo António, feriado em Lisboa, inicio do campeonato do mundo de futebol. Nada de novo a ocidente a não ser tudo o que de novo o nosso tempo anuncia. Sob os nossos pés, tantas vezes sem nos darmos conta, florescem sinais de mudança. O tempo, leal conselheiro, faz o seu trabalho. Muitas injustiças, que a nossos olhos são irreparáveis (e muitas são), reverterão em favor dos injustiçados. As mulheres e os homens de boa vontade, seja qual for a sua condição social, profissão, ideologia, partido, raça ou credo, em suas tarefas e misteres, não temem as dificuldades. As barreiras tantas vezes derrubadas ao longo da história por movimentos que os próprios homens moldaram serão de novo derrubadas. De um a outro campo da vida em comunidade, adversários e correlegionários, entrecuzam-se e disputam o poder. Sempre assim foi em democracia. Nada de novo a ocidente a não ser tudo o que de novo o nosso tempo anuncia.
quinta-feira, junho 12
junho - dia 12
Véspera de Santo António, dia de festa em Lisboa. Só para lembrar que a rendição de Lisboa ocorreu em 21 de Outubro, mas a tomada de Lisboa aos "mouros" deu-se em 25 de Outubro de 1147. Ao calcorrear as ruas de Lisboa, ao sentir a quentura da sua luminosa luz, ao ouvir a grita de suas gentes, mesmo no auge de sua nostalgia, lembremos que esta é uma cidade antiga. Hoje cosmopolita talvez mais do que nunca, a porta maior de abertura de Portugal ao mundo, um porto, um rio, uma mescla de gentes de toda a sorte, ao olhá-la atentamente, com seus claros e escuros, Lisboa ilumina-nos a esperança no futuro.
terça-feira, junho 10
junho - dia 10
Hoje é dia 10 de junho, um dia como outro qualquer, salvo ter sido escolhido faz tempo, não vem ao caso a razão, para Dia de Portugal. Lembrei-me a propósito do dia 10 de junho de 1977, celebrado na Guarda, como este que hoje se celebra. O que me faz lembrar esse longínquo dia é o discurso que nele foi convidado a proferir Jorge de Sena. Estávamos no fim do chamado período revolucionário, haviam ocorrido as eleições presidenciais, tendo sido eleito Ramalho Eanes, e a voz de Sena, tão pouco chamada a ser ouvida fora dos meios literários e académicos, irrompia como uma fagulha que iluminava temas raramente trazidos à praça pública em eventos de natureza politica, ou afins. A partir desse dia passei a ler a obra de Sena de forma sistemática,em particular a poética, que sempre me inspirou. Publiquei, na madrugada de hoje, o discurso de Jorge de Sena, proferido em 10 de junho de 1977, no IRAOFUNDOEVOLTAR porque contém tanta actualidade que até dói. Foi uma das sua últimas intervenções públicas em Portugal, senão a última, pois morreu em 4 de junho de 1978 em Santa Bárbara, Califórnia, onde vivia com sua mulher Mécia (haja saúde) e sua vasta prole.
segunda-feira, junho 9
domingo, junho 8
junho - dia 8
O verão ameaça dar sinal de si por entre os ruídos de todos os perigos que ameaçam a paz na Europa. Abate-se o silêncio acerca da emergência dos extremismos que as eleições europeias revelaram em toda a sua crueldade. Ao solavanco da surpresa sucede-se a acomodação ou o que parece ser a aceitação de uma normalidade que, na verdade, deveria colocar em alerta vermelho os amantes da liberdade. Na falta do pão a primeira tentação dos povos é valorizar a justiça em detrimento da liberdade. A maior tentação de todas as comunidades, em períodos de carência, é menosprezar os valores da liberdade em favor dos da justiça. Um erro que sempre se pagou caro na maior parte das vezes com a eclosão da guerra. É preciso manter o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos mesmo quando as vozes se elevam mais alto do que os valores que proclamam.
sexta-feira, junho 6
junho - dia 6
Chove em Lisboa, cheira a verão, não ardem os pinheiros, sempre me lembram os pinheiros, quase à beira mar, e as figueiras do campo de meus avós, e seus saborosos frutos. Hoje celebra-se o 70º aniversário do longínquo dia D, o desembarque na Normandia, que é a batalha emblemática que ditou a derrota do nazi fascismo. Os americanos vieram derramar o seu sangue na Europa, os ingleses resistiram aos bombardeamentos, os franceses desertaram dos seus ideias de liberdade igualdade e fraternidade, deixando ao heroísmo de uma minoria de resistentes a tarefa de resgatar a sua honra, o povo russo, uma vez mais, mostrou que jamais será vencido pelas armas. Na hora que passa semeiam-se sinais de uma nova peste totalitária. Ainda bem que os lideres são capazes de se juntar para celebrar a efeméride.
quarta-feira, junho 4
junho - dia 4
No ambiente político, no ar que se respira, reina uma tensão como poucas vezes se tem sentido nos últimos anos. Anunciam-se mudanças mesmo que ninguém revele ao que vem nem para onde pensa que vai. São demasiadas coincidências, nos gestos, falas, silêncios e gritas. É um tempo novo que se anuncia sem que saibamos quem dele vai beneficiar, quem nele vai perder ou ganhar, viver ou morrer. Continuar a trabalhar, o melhor que se pode e sabe. Nada mais.
domingo, junho 1
junho - dia 1
Primeiro dia de um mês de junho que vai ser quente em diversas frentes. Na frente europeia, após eleições, surgirão novos responsáveis e inevitáveis ajustamento nas politicas. Podem ser na aparência pequenos acertos mas a situação resultante da ascensão de forças da extrema direita exige mudanças profundas. A nível nacional é o que está à vista de todos. Os dados estão lançados. Nem à direita nem à esquerda é possível imaginar a vitória do situacionismo. O PS pode mudar de liderança, o PSD será obrigado a responder, o CDS não poderá ficar indiferente, todas as forças serão obrigadas a reposicionar-se, atrair eleitores descrentes e desiludidos, com eleições legislativas e presidenciais à vista. No meio de tudo o campeonato do mundo de futebol ... e uma crise financeira/económico/social sem precedentes ...
sábado, maio 31
NA MORTE DE MARILYN
Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser atá ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou.
Ruy Belo
Transporte No Tempo
Editorial Presença
quarta-feira, maio 28
A minha cabeça está baralhada
"A minha cabeça está baralhada
Sobre um determinado trabalho, sobre um determinado assunto (habitualmente aqueles sobre os quais se fazem dissertações), sobre um determinado dia de vida, gostaria ele de colocar como divisa este dito de comadre: a minha cabeça está baralhada (imaginemos uma língua na qual o jogo das categorias gramaticais obrigasse por vezes o sujeito a enunciar-se sob as vestes de uma velha).
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.
"Roland Barthes por Roland Barthes"
Edição portuguesa: "Edições 70"
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.
"Roland Barthes por Roland Barthes"
Edição portuguesa: "Edições 70"
segunda-feira, maio 26
Ruy Belo - ...tu és em cada gesto todos os teus gestos
“...tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui”
Ruy Belo
in “Toda a Terra”
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui”
Ruy Belo
in “Toda a Terra”
sexta-feira, maio 23
VOTAR - DE NOVO
Tenho escrito sempre na véspera de eleições desde que frequento estes espaços de comunicação - vulgo redes sociais - por dever de consciência. Faço parte daquele grupo de eleitores, que os especialistas na matéria devem qualificar de uma forma qualquer, fiéis a um ideário. Nada que me incomode ou associe, de mim para comigo, a um qualquer imobilismo ou letargia acrítica. A propósito destas eleições europeias tenho-me lembrado, com frequência, da experiência de candidato, independente nas listas do PS, às eleições legislativas de 1985. Ainda no decurso de um período de dura politica de austeridade, dirigida por um governo PS, nas vésperas da adesão à CEE, ser candidato foi mais do que uma maçada, foi um risco físico, à beira de apanhar pancada vinda de enfurecidos, mas pacatos, cidadãos que anunciavam a pior votação de sempre no PS. É como em tudo na vida, umas vezes em baixo outras em cima. Para dizer que, desde que o misterioso e distinto MES, acabou para as lides eleitorais, sempre votei no PS. Para ganhar ou perder é uma manifestação de fidelidade que acalento desde a adolescência. Assim seja!
quinta-feira, maio 22
quarta-feira, maio 21
O COELHINHO QUE NASCEU NUMA COUVE
Era uma vez um coelhinho que nasceu numa couve.
Como os pais do coelhinho nunca mais aparecessem a couve passou a cuidar dele como se do seu próprio filho se tratasse. Com ervinhas tenras que cresciam ao seu redor a couve foi criando o coelhinho dentro do seu seio até que este passou a procurar a sua própria alimentação. O coelhinho, que tinha um coração muito bondoso, retribuindo o afecto que a couve lhe dedicava considerava-a como sua verdadeira mãe. A mãe couve e o seu filhinho adoptivo foram vivendo muito felizes até que um dia uma praga de gafanhotos se abateu sobre aquelas terras. O coelhinho ao ver que aqueles insectos vorazes devoravam tudo o que era verde cobriu com o seu próprio corpo o corpo da mãe couve e assim conseguiu que os gafanhotos pouco dano lhe fizessem. Quando aqueles insectos daninhos levantaram voo os campos em volta passaram a ser um imenso deserto de areias e pedra. O pobre coelhinho, que sempre tinha vivido nas proximidades da sua mãe couve, teve de deslocar-se para muitos quilómetros de distância a fim de procurar comida.Mas já nada havia que se pudesse mastigar naquelas terras. Passaram muitos dias e o pobre coelhinho estava cada vez mais magro mais magro e faminto. Então a mãe couve disse-lhe assim: “Ouve meu filho: é a lei da vida que os velhos têm de dar o lugar aos novos, por isso só vejo uma solução: assim como tu viveste durante algum tempo no meu seio, passarei a ser eu agora a viver dentro do teu. Compreendes, meu filho, o que eu quero dizer?” O pobre coelhinho compreendeu e, embora com grande tristeza na alma não teve outro remédio, comeu a mãe.
Pedro Oom
IN “2 HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS (EMANCIPADAS) QUE ILUSTRAM A DIFERENÇA ENTRE O AMOR FILIAL E O AMOR CONJUGAL” (Também magistralmente dito por Mário Viegas em Humores, 1980)
Actuação Escrita, edição & etc (1980)
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PEDRO OOM
Francisco Pedro dos Santos Oom do Vale nasceu em Santarém, a 24 de Junho de 1926.
Aos 2 anos acompanha a família para Setúbal e a partir dos 11 fixa-se em Lisboa. A aspiração do pai a que ingressasse no Colégio Militar nunca foi cumprida pois Pedro Oom se recusou.
Ingressa na Escola António Arroio onde conheceu Júlio Pomar, Vespeira, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas e outros que viriam a aderir ao surrealismo.
Aos 24 anos, órfão de pais, ingressa no INE, como funcionário público, onde segue uma carreira desconcertante de disciplina em relação ao período anterior da sua vida e um “interregno”, afastando-se de toda a actividade artística e literária ligada ao surrealismo.
Dedicou-se, entretanto, com entusiasmo, ao xadrez modalidade na qual se distinguiu.
Em 1962 dá por finda a sua vida de funcionário público, sai do INE, reingressando, dois anos passados, desta vez, no Ministério da Educação onde se dedicou a estudos de estatística sobre o ensino.
A sua obra literária, poética e panfletária, ficou dispersa sendo impregnada de uma ironia que vai dos tons mais violentos da contestação à mordacidade pessoal.
Morreu no dia 26 de Abril de 1974, pelas duas e trinta da tarde, no Restaurante “13” quando, com alguns amigos, festejava os acontecimentos que então se viviam apaixonadamente.
A sua obra foi publicada em dois volumes sob o título “Actuação Escrita” pelas Edições & etc de cujas “notas biográficas” se respigou o presente texto.
domingo, maio 18
sábado, maio 17
sexta-feira, maio 16
NORMALIDADE
Fotografia de Hélder Gonçalves
quinta-feira, maio 15
AÇORES
Ontem fui a Ponta Delgada em viagem profissional. Os Açores no seu conjunto e, em particular, a ilha de São Miguel são um paraíso na terra. Lugar de excepção, apesar dos elevados índices de pobreza e desigualdade. A maioria das estradas, ruas, caminhos, são tão bem cuidados, seja quem for os cuida, que impressiona o mais distraído. Tudo em aberto para o progresso humano após tamanhos avanços na área das infraestruturas. Que se continue a proteger o ambiente quase no limite do fundamentalismo na crista da insularidade. Resiste a imprensa regional, modernizando-se como o Açoriano Oriental. Com esperança nos novos tempos que surgirão no horizonte útil das nossas vidas.
domingo, maio 11
sexta-feira, maio 9
quinta-feira, maio 8
DIAS DIFÍCEIS (3)
A vida é feita de pequenas coisas, pequenos nadas, a mão que adormece, uma pontada no corpo, uma falta inesperada, um desgosto por nada, uma doença por perto, tirar sangue para análise, ficar desapontado, engolir em seco, ver ganhar quem se gosta, ver perder quem se ama, uma fala inoportuna, o suor, uma lágrima, a fruta que apodrece, o pão que acaba, o sono que não vem, o dinheiro que falta, o imposto cresceu, o menino adormece, o homem do círculo (de leitores), a notícia mil vezes repetida, a dor nas costas, a cadeira predileta, o sofá que se disputa; no meio de tudo, dos pequenos nadas, uma disputa imensa, a casa grande onde cabem todos, a luta por vencer, uma opinião, a sociedade aberta, os pequenos nadas, a hora da grande decisão. Os pequenos nadas, sem medo, mudam de qualidade, fundem-se, resistem. Connosco tudo acontece, aos outros nada acontece. Na hora acertada todos os pequenos nadas fazem sentido. Conhecemos-mos pelo olhar dos outros. Desassossegam-se nossos passos. Unos e plurais, Sempre, Rendidos jamais.
quarta-feira, maio 7
DIAS DIFÍCEIS (2)
Não é difícil dar-mo-nos conta de estar a viver em período pré eleitoral. Deve acontecer o mesmo com todos os cidadãos nos restantes 26 países da UE. As eleições banalizaram-se, uma coisa boa. As eleições institucionalizaram-se, uma coisa banal. Quatro décadas atrás, em Portugal, as eleições, livres e democráticas, foram uma novidade e lembro-me de meus pais terem vestido os melhores trajes no dia do voto, das longas filas de espera à porta das urnas, do ar feliz da multidão surpreendendo-se ao encarar no ato civico de votar a concretização de uma aspiração desaprendida. A maioria nunca havia votado senão uma meia dúzia, incluindo democratas, nos simulacros eleitorais do antigo regime. Vem esta prosa a propósito do que podemos designar da "fadiga eleitoral" do nosso tempo, revelada pelo crescente abstencionismo, perda de energia no ato da escolha, moda na descrença nos políticos ("são todos iguais!"), frustração de expectativas por promessas não cumpridas, o que se sabe ... que a maioria diz, ou pensa e não diz, mantendo, no entanto, uma sábia reserva de esperança em mudanças que abram caminho à reinvenção da democracia representativa. Não é tarefa fácil reinventar o sufrágio universal, essa criação extraordinária que permite dar voz, através do voto, a todos os cidadãos em liberdade e igualdade. É tempo de não perder de vista o essencial, o voto. O vazio criado pela omissão das escolhas abre as portas aos messias de todos os tempos.
segunda-feira, maio 5
DIAS DIFÍCEIS
Dias difíceis no vendaval de uma espécie de anúncio de armistício na austeridade que o tempo dirá da espessura e sustentabilidade. É o que se discute, ou seja, o significado politico, e as consequências para a comunidade nacional, do encerramento formal de um pequeno ciclo de assumpção de politicas de austeridade. O que me preocupa, mais que tudo, é a pulsão que paira acerca da bondade do debate público aberto, do confronto de ideias, que tende a constranger a construção e apresentação de alternativas. Como se as soluções para os problemas nacionais pudessem ser forjados a golpes de espada e não através do confronto aberto de ideias. Os sinais que nos chegam de fora não são animadores. Os populismos de cariz fascista, no caso da Europa, de forma surpreendente para os menos atentos, alargam a sua base de apoio e ameaçam ganhar eleições. Basta ver quer as ameaças de guerra na Ucrânia, com seu cortejo de manifestações populistas de direita, quer as sondagens tendo em vista as eleições para o Parlamento Europeu, em França e Inglaterra, que apontam para a possível vitória de partidos de cariz fascista como sempre enfeitados com seus apelos ultra nacionalistas, xenófobos e racistas. Todo um ambiente de tempestade perfeita - politica, económica e financeira - prenúncio de guerra. Os democratas não podem debandar da sua luta, nem deixar aberto o campo às aventuras dos inimigos da liberdade. É o tempo de juntar forças.
Fotografia de Hélder Gonçalves
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