O editor de economia da SIC Notícias "babava-se" comentando, em cima do acontecimento, a "criatividade" da proposta do orçamento de estado para 2005 do Dr. Bagão Félix. Chegou a dizer que era de esquerda (o orçamento) e com preocupações sociais associando estas á militância católica do ministro.
O editor devia estar avisado de como a direita populista trabalha. Muitos já escreveram acerca disso, por exemplo, Pacheco Pereira, de forma abundante e clarividente. A direita populista é capaz de surgir face à opinião pública como a campeã da defesa dos pobres. Tem ao longo da história assumido muitas variantes, algumas radicais, desde o justicialismo, aos fascismos (nas fases de implantação) até às soluções sul americanas de tipo militarista.
O populismo em democracia agrava um problema mais vasto com o qual se confrontam todas as políticas económicas: os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica. O ciclo eleitoral que se avizinha, em Portugal, é um exemplo vivo deste problema. O “orçamento expansionista”, para 2005, do Dr. Bagão Félix, será promotor do crescimento, a curto prazo, mas inibidor do potencial de crescimento a longo prazo.
Esta é a raíz do engano e a razão dos danos futuros desta proposta de orçamento para já não dizer que se trata de uma proposta que rompe com a política do governo anterior que este se tinha comprometido a prosseguir. Esta é também parte da matéria dos estudos que valeram, este ano, o Prémio Nobel da Economia de que dei notícia em anteior post.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, outubro 15
Diálogo de crise
No quiosque em frente a um local de manifestações.
Um cliente:
Então, estes ajuntamentos são bons para o negócio?
Sempre se vende mais qualquer coisinha. Sabe lá as dificuldades porque tenho passado neste último ano e meio. Perdi tudo, mas tenho de me aguentar!
O cliente:
É a crise, deviam haver manifestações todos os dias, não é?
A proprietária do quiosque:
Pois é, mas são só poucas vezes!
Um cliente:
Então, estes ajuntamentos são bons para o negócio?
Sempre se vende mais qualquer coisinha. Sabe lá as dificuldades porque tenho passado neste último ano e meio. Perdi tudo, mas tenho de me aguentar!
O cliente:
É a crise, deviam haver manifestações todos os dias, não é?
A proprietária do quiosque:
Pois é, mas são só poucas vezes!
Nobel da Economia - 2004
Procurei informação acerca do Prémio Nobel da Economia de 2004 e é muito escassa e pouco acessível. Deixo aqui um contributo sintético, colhido directamente na fonte, acerca dos laureados e da natureza do seu trabalho.
The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award the Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel, 2004, jointly to Finn E. Kydland, Carnegie Mellon University, Pittsburgh and University of California, Santa Barbara, USA, and Edward C. Prescott, Arizona State University, Tempe, and Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA
"for their contributions to dynamic macroeconomics: the time consistency of economic policy and the driving forces behind business cycles".
New theory on business cycles and economic policy
The driving forces behind business cycle fluctuations and the design of economic policy are key areas in macroeconomic research. Finn Kydland and Edward Prescott have made fundamental contributions to these areas of great significance, not only for macroeconomic analysis, but also for the practice of monetary and fiscal policy in many countries.
Time Consistency of Economic Policy
The higher taxation of capital households expect in the future, the less they save; the more expansive monetary policy and the higher inflation firms expect, the higher prices and wages they set, etc. The Laureates showed how such effects of expectations about future economic policy can give rise to a time consistency problem. If economic policymakers lack the ability to commit in advance to a specific decision rule, they will often not implement the most desirable policy later on.
Driving Forces Behind Business Cycles
Research by the Laureates also transformed the theory of business cycles by integrating it with the theory of economic growth. Whereas earlier research had emphasized macroeconomic shocks on the demand side of the economy, Kydland and Prescott demonstrated that shocks on the supply side may have far-reaching effects. In their business-cycle model, realistic fluctuations in the rate of technological development brought about a covariation between GDP, consumption, investments and hours worked close to that observed in actual data.
Read more about this year's prize
Information for the Public
Advanced Information (pdf)
Links and Further Reading
Finn E. Kydland, born 1943 (60 years) in Norway (Norwegian citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1973. Professor at Carnegie Mellon University and University of California, Santa Barbara, USA.
Edward C. Prescott, born 1940 (63 years) in Glen Falls, NY, USA (US citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1967. Professor at Arizona State University, Tempe and researcher at Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA.
The Royal Swedish Academy of Sciences has decided to award the Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel, 2004, jointly to Finn E. Kydland, Carnegie Mellon University, Pittsburgh and University of California, Santa Barbara, USA, and Edward C. Prescott, Arizona State University, Tempe, and Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA
"for their contributions to dynamic macroeconomics: the time consistency of economic policy and the driving forces behind business cycles".
New theory on business cycles and economic policy
The driving forces behind business cycle fluctuations and the design of economic policy are key areas in macroeconomic research. Finn Kydland and Edward Prescott have made fundamental contributions to these areas of great significance, not only for macroeconomic analysis, but also for the practice of monetary and fiscal policy in many countries.
Time Consistency of Economic Policy
The higher taxation of capital households expect in the future, the less they save; the more expansive monetary policy and the higher inflation firms expect, the higher prices and wages they set, etc. The Laureates showed how such effects of expectations about future economic policy can give rise to a time consistency problem. If economic policymakers lack the ability to commit in advance to a specific decision rule, they will often not implement the most desirable policy later on.
Driving Forces Behind Business Cycles
Research by the Laureates also transformed the theory of business cycles by integrating it with the theory of economic growth. Whereas earlier research had emphasized macroeconomic shocks on the demand side of the economy, Kydland and Prescott demonstrated that shocks on the supply side may have far-reaching effects. In their business-cycle model, realistic fluctuations in the rate of technological development brought about a covariation between GDP, consumption, investments and hours worked close to that observed in actual data.
Read more about this year's prize
Information for the Public
Advanced Information (pdf)
Links and Further Reading
Finn E. Kydland, born 1943 (60 years) in Norway (Norwegian citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1973. Professor at Carnegie Mellon University and University of California, Santa Barbara, USA.
Edward C. Prescott, born 1940 (63 years) in Glen Falls, NY, USA (US citizen). Ph.D. from Carnegie Mellon University, Pittsburgh in 1967. Professor at Arizona State University, Tempe and researcher at Federal Reserve Bank of Minneapolis, USA.
quinta-feira, outubro 14
Diálogo de merda
O homem, com ar de patrão, ao balcão da pastelaria:
-Admiro aquele homem!
O empregado:
-Quem?
-O Scolari! Você ouviu?
-O quê?
O patrão empolgado:
-Ele disse que os jornalistas são uns merdas!
-O empregado, divertido:
O que é que vai hoje?
-Remate do patrão:
Nada, nada, grande homem, o Scolari, até logo!
-Admiro aquele homem!
O empregado:
-Quem?
-O Scolari! Você ouviu?
-O quê?
O patrão empolgado:
-Ele disse que os jornalistas são uns merdas!
-O empregado, divertido:
O que é que vai hoje?
-Remate do patrão:
Nada, nada, grande homem, o Scolari, até logo!
"A última crônica", de Fernando Sabino
Em 1965, Fernando Sabino escreveu a crônica que gostaria que fosse a sua última. O texto foi publicado no livro A companheira de viagem, e é reembrado hoje no Portal Literal. Belo, belo, belo, do início ao lírico desfecho. Ta aí embaixo, amigos, "puro como um sorriso":
Vejam no PENTIMENTO
Vejam no PENTIMENTO
Kerry vence debate...graças a Deus!
Emprego e imigração no frente-a-frente entre Kerry e Bush
O candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, foi o vencedor do debate de quarta-feira com o presidente George W. Bush, mostram as sondagens efectuadas depois do frente a frente. No centro das atenções no debate estiveram questões como o emprego ou a imigração.
(In TSF on line)
O candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, foi o vencedor do debate de quarta-feira com o presidente George W. Bush, mostram as sondagens efectuadas depois do frente a frente. No centro das atenções no debate estiveram questões como o emprego ou a imigração.
(In TSF on line)
"Jorge podes ir participação cívica enfim morta!"
O JPN do respirar o mesmo ar tem algumas tiradas do melhor da blogosfera. Com todo o respeito e consideração pessoal que nutro pelo PR também considero ser um dever cívico chamar a atenção para os passos do que parece ser a sua prematura abdicação do pleno exercício da função presidencial. Queira Deus que esteja enganado.
7-1
Como falei do JPN (ver post anterior) e um dia, a propósito do “Euro – 2004”, travei com ele um diálogo estimulante, sempre quero assinalar que visitei hoje, pela primeira vez, o novo Estádio de Alvalade. Vi, ao vivo, o Portugal-Rússia. Em boa hora. Há noites felizes. Digam o que disserem, aconteçam os resultados que acontecerem, na “arte da bola” os portugueses são mesmo bons.
E os Estádios, construídos para o "Euro – 2004", por iniciativa do governo da “pesada herança”, “o anterior ao anterior”, são mesmo espaços imponentes e que, finalmente, pasme-se (!) já ninguém questiona. Isto de sermos bons em qualquer coisa custa, não é?
Talvez reabrir um processo de averiguações que esteja adormecido numa qualquer gaveta. Afinal não foi o actual líder do PS o impulsionador do "Euro – 2004"?
E os Estádios, construídos para o "Euro – 2004", por iniciativa do governo da “pesada herança”, “o anterior ao anterior”, são mesmo espaços imponentes e que, finalmente, pasme-se (!) já ninguém questiona. Isto de sermos bons em qualquer coisa custa, não é?
Talvez reabrir um processo de averiguações que esteja adormecido numa qualquer gaveta. Afinal não foi o actual líder do PS o impulsionador do "Euro – 2004"?
quarta-feira, outubro 13
"Um actor sem tripas"
"Olhando a prestação de Pedro Santana Lopes na televisão, na passada segunda-feira, espantou-me a falta de convicção da personagem. Como se um actor ágil em outros papéis de um vasto reportório se tivesse, de súbito, desencontrado.
O facto é por demais surpreendente. Enterrado numa cadeira em que as costas surgiam como orelhas negras, mais abismado na leitura do que em nos olhar de frente, com uma dicção preocupada em não falhar as palavras, em vez de demonstrar a firmeza do discurso, não era, nitidamente, alguém sentado no topo do Poder que nos falava. Era alguém que timidamente simulava estar a controlar as coisas, vagamente abordando temas que usualmente escutamos na boca de membros do Governo (impostos, salários, pensões de reforma), mas que, na verdade, estava só a fazer de conta, desenquadrado do papel, debitando falas que teriam sido escritas para outro, com uma indizível vontade de chegar ao fim da cena e ir-se embora o mais depressa possível.
Fez-me lembrar aqueles pobres adolescentes amadores em récitas de liceu que decoram com cuspo um papel em que não se sentem à vontade e o deitam cá para fora entre suores frios e pânico de ser ridículo ante tão larga audiência.
O espanto é ver que Pedro Santana Lopes, a quem já vimos desempenhar com talento papéis diversíssimos (de playboy a «enfant terrible» do PSD, de dirigente desportivo a Secretário de Estado), apareça agora tão desfibrado.
Um encenador pouco dado à paciência talvez desesperasse, considerando haver ali um puro erro de «casting» e apressando-se a escolher diferente intérprete para o papel de Primeiro-Ministro. Um outro, mais brando, consideraria a hipótese de uma ajuda especializada, umas quantas aulas de postura, movimento e voz - esperando que, no fim da preparação, o papel soasse mais credível. Mais necessário que tudo, todavia, é a prática daquilo que os actores chamam um «monólogo interior», um conjunto de referências anímicas que dê vida à personagem. Vida e não apenas técnica, não apenas fingimento, guarda-roupa e adereços."
Jorge Leitão Ramos, in Expresso on line
O facto é por demais surpreendente. Enterrado numa cadeira em que as costas surgiam como orelhas negras, mais abismado na leitura do que em nos olhar de frente, com uma dicção preocupada em não falhar as palavras, em vez de demonstrar a firmeza do discurso, não era, nitidamente, alguém sentado no topo do Poder que nos falava. Era alguém que timidamente simulava estar a controlar as coisas, vagamente abordando temas que usualmente escutamos na boca de membros do Governo (impostos, salários, pensões de reforma), mas que, na verdade, estava só a fazer de conta, desenquadrado do papel, debitando falas que teriam sido escritas para outro, com uma indizível vontade de chegar ao fim da cena e ir-se embora o mais depressa possível.
Fez-me lembrar aqueles pobres adolescentes amadores em récitas de liceu que decoram com cuspo um papel em que não se sentem à vontade e o deitam cá para fora entre suores frios e pânico de ser ridículo ante tão larga audiência.
O espanto é ver que Pedro Santana Lopes, a quem já vimos desempenhar com talento papéis diversíssimos (de playboy a «enfant terrible» do PSD, de dirigente desportivo a Secretário de Estado), apareça agora tão desfibrado.
Um encenador pouco dado à paciência talvez desesperasse, considerando haver ali um puro erro de «casting» e apressando-se a escolher diferente intérprete para o papel de Primeiro-Ministro. Um outro, mais brando, consideraria a hipótese de uma ajuda especializada, umas quantas aulas de postura, movimento e voz - esperando que, no fim da preparação, o papel soasse mais credível. Mais necessário que tudo, todavia, é a prática daquilo que os actores chamam um «monólogo interior», um conjunto de referências anímicas que dê vida à personagem. Vida e não apenas técnica, não apenas fingimento, guarda-roupa e adereços."
Jorge Leitão Ramos, in Expresso on line
Diálogo no elevador
Antes da chegada ao destino entram três senhoras.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.
Educação Profissional - Caminho do Futuro
Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo "Educação profissional - Caminho do Futuro" publicado, no "Semanário Económico", em Junho de 2004.
Um assunto sério
O Prémio Nobel da economia foi atribuído, dias atrás, a dois economistas que, segundo todas as notícias, têm estudado os benefícios das políticas macroeconómicas de longo prazo. Falamos de decisões económicas com influência real na vida quotidiana dos cidadãos. É a teorização daquilo que toda a gente de bom senso deveria considerar razoável: é preciso tempo para conceber e desenvolver, de forma estruturada, medidas que permitam resolver os verdadeiros problemas das sociedades. Mas os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica.
A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?
Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!
A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?
Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!
segunda-feira, outubro 11
A quadratura do círculo
Este texto já estava escrito antes da comunicação ao país do senhor primeiro-ministro. A sua publicação, sem alterações, deve-se à nova estratégia de propaganda do governo que mostrou, hoje, uma faceta original. A comunicação foi gravada e, ao contrário do anunciado, passada sequencialmente nos telejornais da SIC, RTP, …e não sei onde mais. Não foi uma comunicação foi uma retransmissão. Não tive paciência para escrever nada em cima daquela comunicação flácida. O que antes tinha escrito acerca do que dela previa basta. Aqui vai.
Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.
Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.
Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).
Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.
Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.
Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.
Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).
Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.
"O que ele vai dizer?
O país está suspenso da comunicação que hoje fará o primeiro-ministro. Há quem garanta que não falará sobre o caso Marcelo, apontando antes para os desafios que o Governo vai enfrentar nos próximos meses. Há quem admita que voltará a desafiar o Presidente da República para, se considera que o executivo pressionou a TVI a afastar Marcelo, tomar as decisões consequentes. E há quem assegure que fará um balanço elogioso do que o Governo já fez e anunciará as linhas do orçamento do Estado para 2005. Mas há coisas de que o primeiro-ministro não falará.
E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.
Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.
É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?
Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."
Nicolau Santos, in "Expresso on line"
11 Outubro 2004
E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.
Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.
É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?
Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."
Nicolau Santos, in "Expresso on line"
11 Outubro 2004
domingo, outubro 10
Censura! Help!
Ajudem-me a interpretar a notícia da Lusa que abaixo transcrevo. Por favor! Se "tem que ser banida" é porque existe! O PR está a confirmar que existe censura em Portugal. O assunto é da maior gravidade. Já tinham dado por isso? Não me refiro à gravidade da declaração do PR. Mas à existência de censura. Eu, por acaso, já tinha sentido algo que brigou comigo! Do género da frase do PR: "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas..." Mas ninguém ligou coisa nenhuma. Então como se materializa a dita censura? Como? É isso? E onde? E quem são os agentes? E quando? E por que meios? E quais as medidas que o PR pensa tomar?
"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"
Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.
"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.
Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".
"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.
Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.
Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".
"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.
Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".
"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"
Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.
"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.
Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".
"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.
Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.
Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".
"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.
Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".
Che Guevara
Acabo de ver (em DVD) o documentário “A viagem de Che Guevara” realizado a propósito do filme “Diários de Che Guevara”, do brasileiro Walter Salles, em exibição em Lisboa mas que ainda não vi.
Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.
O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.
Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.
Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.
O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.
Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.
sábado, outubro 9
"O monstro da totalidade
Outro discurso: neste dia 6 de Agosto, no campo, uma manhã dum dia esplêndido: sol, calor, flores, silêncio, calma, esplendor. Nada há que vagueie, nem o desejo nem a agressão; apenas o trabalho aqui está, à minha frente, como uma espécie de ser universal: está tudo cheio. Será então isto a natureza? Uma ausência… do resto? A Totalidade?”
6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
----------------------------------
Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.
O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.
A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.
6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
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Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.
O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.
A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.
Marcelogate
Todos os caminhos, no caso Marcelo, vão no mesmo sentido. Um autêntico processo de pressão ilegítima do governo sobre um canal de televisão privado; iniciativas para a eliminação ou condicionamento das vozes críticas do governo, em particular, se situadas na mesma área política; utilização do aparelho diplomático para fins duvidosos; colocação de "comissários" no controle do oligopólio da comunicação social pública ou controlada através da PT; e tudo o mais que adiante se verá.
Um "marcelogate". Alguém que investigue o caso a sério e quem de direito que retire as devidas consequência políticas.
"Velha Europa" na 3ª Idade
O “Expresso” na sua edição de hoje publica um trabalho acerca da questão demográfica a propósito de um relatório da EU intitulado: “A situação social na União Europeia – 2004”.
Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.
“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais
Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.
Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”
Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.
“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais
Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.
Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”
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