quarta-feira, dezembro 15

Ir a Canal Caveira na Passagem do Século

Há muitos anos atrás fiz uma combinação com a F. Um daqueles compromissos do género “daqui a vinte anos – após a conclusão do curso vamos encontrarmo-nos aqui, no pátio da escola, aconteça o que acontecer.” Assim, eu e a F., no meio de muitas cumplicidade, decidimos que haveríamos de ir a Canal Caveira no dia da passagem do século.

Somos da mesma idade. As relações entre ambos entrelaçaram-se com amigos, solidariedades, trabalho, militância, ajuntamentos, casamentos, separações, sucessos retumbantes e fracassos terríveis. Vidas intensas de empenhamento nas mudanças sociais e políticas.

Ainda estamos a caminho do futuro no selim da mota que nos haverá de conduzir a Canal Caveira. Ninguém nos derrubará. Com o tempo ficámos mais resistentes às ilusões do sonho de uma vida para além da miséria do sofrimento humano.

Essa viagem que não fizemos não tem importância nenhuma. Foi uma forma de manter, anos sem fim, um objectivo de partilha de uma aventura que não cumprimos. Outras aventuras surgirão para que os nossos, em primeiro lugar, os mais novos, se possam orgulhar de nós.
Absorto - 1º Aniversário (14 de 17)

A estratégia do PP

A coragem faz falta para tomar posições, abrir caminhos, ousar decisões, assumir responsabilidades, exercer o poder, abdicar do poder, afrontar os poderes, desmascarar a mentira. Faz falta nos momentos difíceis mas também nos outros.

Penso sempre no que terá pensado e sentido Federico Garcia Lorca quando foi preso pelos fascistas espanhóis (sob inspiração do “caudilho”) e fuzilado.

O que fazer perante a barbárie, mansa ou brutal, dos aspirantes a tiranos. A coragem da resistência. Não a velha resistência dos heróis da 2ª guerra mundial. Mas a resistência ao populismo mediático que propagandeia a ideia de que é a direita que defende os pobres e os desprotegidos.

Quem derrubou Santana Lopes foi o PP e Bagão Félix. Não foi o PR. Metam isto na cabeça. Por isso foi o PP que impôs a Santana uma separação de águas e a ida às urnas a “solo”. A sua estratégia é a de crescer à custa dos votos dos deserdados de todas as condições, derrotando o seu parceiro de ocasião no exercício do poder.

Não há qualquer autenticidade no proclamado acordo pós eleitoral que encobre a separação dos parceiros da coligação da direita. É uma mera manobra de diversão para credibilizar uma herança vazia de solidariedade mas prenhe de disputas e hostilidades.

É assustador, nos últimos dias, observar o olhar chispando ódio dos dirigentes dos partidos de direita. É penoso ouvir o seu discurso de indisfarçável ressentimento face ao PR. Paulo Portas, em particular, tem personificado uma vontade impotente de golpear um regime político que, no fundo, não lhe atribui todos os poderes de que se considera merecedor.

Um chefe. Exagero nos meus receios? Queira Deus que me engane. O futuro o dirá.

terça-feira, dezembro 14

Jornalismo Promíscuo

Assinalo a denúncia do Clube de Jornalistas sublinhada no abrupto. O ministro Morais Sarmento, no fundo, naquela entrevista ao "Diário Económico" (a do “caudilho”), entrevistou-se a si próprio.

Não vale a pena chover no molhado acerca dos abusos verificados no passado ou previsíveis para o futuro. O que é preciso é denunciar todas as situações de promiscuidade entre os gabinetes do poder e a comunicação social. Já dei, recentemente, o meu contributo.

E já agora que seja criada, com urgência, uma entidade reguladora que acautele a existência de mecanismos dissuasores de tais práticas e, se possível, penalizadores das mesmas ao menos perante a opinião pública.


O Lugar do Meu Avô em Santos

Conheci os meus avós de forma diferente. Os paternos de memórias. Eram mais velhos e eu, filho tardio, cheguei tarde demais para os conhecer de perto. Compenso-me dessa ausência mantendo perto de mim uma fotografia do meu avô Dimas Eduardo Graça (Dimas é o nome de meu pai e de meu irmão mais velho, Eduardo é o meu).

Tirada em Santos, no Brasil, para onde emigrou no tempo em que os portugueses partiam em busca de uma vida melhor, a foto é majestosa pela qualidade, em si mesma, e pela figura que retrata.

Um dia de visita a S.Paulo quis visitar a rua na qual, em Santos, o meu avô Dimas tinha trabalhado numa fábrica de malas, baús, malões, ao que suponho propriedade de seu irmão.

No SESC de S. Paulo falei alto acerca da minha vontade de visitar a rua e, se possível, a fábrica ou os resquícios que dela tivessem sobrevivido. E eis que uma das presentes me diz ter vivido numa vivenda mesmo em frente da fábrica que eu procurava. E lembrar-se, em criança, das pessoas que nela trabalhavam.

No outro dia lá fui. Em plena zona industrial a rua estava tal e qual com o mesmo nome. E o número da porta também não tinha mudado. Era um armazém de fronte do qual pude observar a vivenda que me tinha sido referida.

Por ser domingo não pude entrar mas era aquele o espaço, agora ao serviço da empresa de celulares que a PT explora na região de S. Paulo, onde o meu avô tinha trabalhado boa parte da sua vida.

Regressei com o sentimento de ter cumprido uma das íntimas missão que, desde há muito, me tinha imposto a mim próprio.

Absorto - 1º Aniversário (13 de17)

segunda-feira, dezembro 13

À memória de Fernando Pessoa

Se eu pudesse fazer com que viesses
Todos os dias, como antigamente,
Falar-me nessa lúcida visão -
Estranha, sensualíssima, mordente;
Se eu pudesse contar-te e tu me ouvisses,
Meu pobre e grande e genial artista,
O que tem sido a vida - esta boémia
Coberta de farrapos e de estrelas,
Tristíssima, pedante, e contrafeita,
Desde que estes meus olhos numa névoa
De lágrimas te viram num caixão;
Se eu pudesse, Fernando, e tu me ouvisses,
Voltávamos à mesma: Tu, lá onde
Os astros e as divinas madrugadas
Noivam na luz eterna de um sorriso;
E eu, por aqui, vadio de descrença
Tirando o meu chapéu aos homens de juízo...
Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias
- Autênticos patifes bem falantes...
E a mesma intriga: as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual! Acordando e adormecendo
Na mesma cor, do mesmo lado, sempre
O mesmo ar e em tudo a mesma posição
De condenados, hirtos, a viver -
Sem estímulo, sem fé, sem convicção...
Poetas, escutai-me. Transformemos
A nossa natural angústia de pensar -
Num cântico de sonho!, e junto dele,
Do camarada raro que lembramos,
Fiquemos uns momentos a cantar!

António Botto

Poema de Cinza
As Canções de António Botto
Editorial Presença1999

Não deixar rasto

Eis uma notícia, da edição de hoje, do "El País" muito interessante para a realidade portuguesa actual.

El equipo de Aznar borró los archivos informáticos de Presidencia antes de irse
Una empresa especializada fue contratada por 12.000 euros para eliminar todas las copias

Cuenta el ex presidente Leopoldo Calvo-Sotelo que, cuando llegó a La Moncloa para sustituir a Adolfo Suárez, en febrero de 1981, y abrió la caja fuerte que debía contener los secretos de Estado, sólo halló en su interior un papel, en el que estaba anotada la combinación para abrirla.

José Luis Rodríguez Zapatero no se sorprendió menos cuando en abril pasado sustituyó a José María Aznar al frente del Gobierno. Todos los archivos informáticos de Presidencia estaban vacíos. La clave también figuraba en un papel: la factura, por unos 12.000 euros, de la empresa contratada para borrarlos.”

Um Búzio e Uma "Água-Forte"

Nos idos de 1976 visitei Cuba. Che tinha sido assassinado, nove anos antes, em 9 de Outubro de 1967. Faço a referência à efeméride para dar a ideia da profundidade e significado de terem já passado 37 anos desde esse acontecimento que tanto marcou a minha juventude.

Ao ver o filme “A Viagem de Che Guevara”, as personagens, os sonhos e as canções que envolvem o mito de Che, lembrei-me desta memorável viagem. Era uma delegação do MES composta por mim, pelo Vítor Wengorovius e pelo Francisco Farrica.

Julgo que não havia um objectivo concreto a alcançar mas tão só dar testemunho do processo político português. Estávamos em plena campanha das eleições presidenciais, em Portugal, e Otelo era, à época, muito popular em Cuba.

Fizemos as visitas da praxe, pisamos os lugares mais emblemáticos da revolução cubana, visitamos uma fábrica de “puros habanos”, uma plantação de cana, fomos recebidos por alguns dirigentes político intermédios, mas não por Fidel.

Lembro-me de ter ficado impressionado com o olhar triste ou, talvez, melancólico das trabalhadoras da fábrica de charutos. Apesar de tudo a viagem foi há quase trinta anos. A situação de Cuba era menos difícil do que na actualidade. O calor humano dos cubanos, a sua amabilidade e companheirismo eram, e são, incomparáveis. E, em muitos casos, disfarçavam a custo as críticas.

Mas lembro-me de ter sentido, de parte do regime, um alheamento que só consigo explicar pela nossa postura intelectual de não cedência à eventual expectativa de uma atitude reverencial que nunca seríamos capazes de assumir. Não tínhamos nada para pedir. Ninguém ousou oferecer-nos nada. Saímos como entramos.

Da minha parte trouxe de Cuba um búzio e uma “água-forte”, escolhida e comprada por mim, no atelier de Lopez-Nussa (*), aquando de um passeio livre por Havana. O búzio enorme que colhi, em plena praia de Camaguey, mereceu uma detalhada análise das desconfiadas (ou interesseiras?) autoridades alfandegárias à chegada ao aeroporto de Lisboa.

São as mais preciosas recordações que guardo dessa viagem. Mas espero lá voltar como simples turista.

(*) Pelas minhas pesquisas trata-se de uma “água-forte” de um consagrado artista plástico cubano, Leonel Lopez-Nussa Carion, 1916, Havana, da série “Música e Músicos”, intitulada “Músicas 5 A”.

Absorto - 1º Aniversário (12 de 17)


sábado, dezembro 11

De Cabeça Perdida

Tinha acordado comigo próprio não abordar mais a questão da dissolução da AR. Vamos para eleições, ponto final.

Mas a manifestação do governo frente às câmaras de TV, realizada hoje à noite, ultrapassa tudo o que seria possível imaginar.

Fez-me lembrar os tempos do PREC. Os rostos patibulares dos Ministros, o gaguejar pretensamente institucional do PM, o discurso em tom retórico e arruaceiro, a tomada de posição do PSD Madeira, proclamando o pretenso “golpe constitucional” do PR.

A direita está de cabeça perdida. A perspectiva da perda do poder fá-los perder a cabeça. Devem possuir indicações, sondagens e estudos de opinião, que aconselham à dramatização e assumpção do papel de vítimas. As sondagens devem ser mesmo muito más. Ou então é um comportamento próprio da sua natureza, ou seja, uma questão de carácter. Como diz o povo, gente má.

O Primeiro-ministro está a arrastar o país para o caos mesmo com um pé e meio fora do governo, Estive a reparar e não vi o Dr. Bagão Félix perfilado na manifestação de demissão do governo. Estranho!

Cadernos de Camus

Num período que decorreu até Março deste ano José Pacheco Pereira tomou a iniciativa de criar um blog que, durante algum tempo, consistiu num exercício de diversas leituras de Camus, em particular, dos seus “Cadernos”. Esse blog ainda está disponível.

A minha modesta contribuição ficou lá, parcialmente, depositada e, está disponível, na íntegra, no arquivo do absorto.

Por razões, certamente estimáveis, que o próprio JPP saberá, melhor do que ninguém, explicar o projecto cessou.

No contexto dos primórdios de uma batalha eleitoral que, todos já percebemos, vai ser atravessada pela mais baixa política dos anais da República apetece tratar de temas que dela se afastem mas que estão fortemente ligados à defesa dos valores sagrados da justiça e da liberdade.

Por isso me lembrei, ainda a propósito da intervenção do PR, que tinha arquivado a bibliografia de Albert Camus para posterior utilização no contexto daquele projecto.

No meio das trapalhadas e insultos desta pré-campanha eleitoral coloco essa bibliografia disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR .



Eleições - 20 de Fevereiro

Desde a data do anúncio formal, pelo PR, da decisão de convocar eleições legislativas até à sua realização, em 20 de Fevereiro de 2005, vão passar 71 dias.

É muito tempo. É tempo demais. A decisão é, politicamente, inquestionável e, conforme apontam todas as sondagens e o senso comum, era desejada pela maioria dos portugueses.

Mas não se poderiam encurtar todos os prazos? Nenhuma sociedade aguenta tanto impasse, hesitação, “complexidade”, sigilo, sem amargar a sua sorte.

Reparem só no caso particular do combate aos incêndios de verão. Na véspera da decisão formal do PR demitiu-se o responsável máximo dos “Bombeiros e Protecção Civil”.

O responsável governamental não falava com ele. É uma técnica antiga para “despedir” e humilhar os dirigentes da administração.

Chegaremos, assim, ao verão de 2005, de novo, impreparados para a inevitável calamidade dos incêndios.

Previsão: a direita, na oposição, acusará o governo socialista de não ter feito nada para fazer face à situação.

Em Julho de 2005 já ninguém se lembrará de nada do que se está a passar neste momento.

sexta-feira, dezembro 10

O Populismo Saiu à Rua Num Dia Assim

A "Ode Triunfal" foi o que me apeteceu, verdadeiramente, publicar a título de comentário à comunicação presidencial. É mais clara. Intemporal. Está sempre actual e não se atrasa. Não é alvo de críticas nas TVs a não ser por especialistas que ninguém sabe quem são e ninguém lê. Excepto outros especialistas igualmente desconhecidos do grande público, ou seja, do povo e que, igualmente, ninguém lê.

Mas a razão comezinha da disputa do poder, ou seja, de uma série de coisas que o poema trata, com meridiana clareza, e que interferem com a nossa vidinha, exige um comentário mais prosaico: resumindo a baralhando vamos para eleições.

Dia 20 de Fevereiro. Porque não 13? Ou mesmo 6? O Carnaval? A camapnha eleitoral não pode coincidir com o Carnaval? Uma boa anedota. O que interessava a toda a gente, aos cidadãos, menos aos partidos da maioria (estão no poder) e ao PC (está "de Jerónimo") era a data mais cedo possível! Tudo demora tanto tempo! Desde 9 de Julho de 2004 a 20 de Fevereiro de 2005 contam-se mais de 7 meses!

A partir deste momento começou a campanha eleitoral. O governo que não-se-sabe-se-é-de-gestão-ou-não, e os partidos que o integram, vão aproveitar, a fundo, as vantagens de disporem do poder e de um Orçamento de Estado aprovado.

O populismo saiu à rua num dia assim...

ODE TRIUNFAL

Este poema de Fernando Pessoa pela voz de Álvaro de Campos é, convenhamos, longo para um blog. Hoje, dia 9 de Dezembro, esteve um dia frio em Lisboa e não me pareceu que a noite tivesse aquecido. Seria desapropriado publicar num blog com esta natureza, na íntegra, este belo e longo poema. Mas após ter ouvido a declaração ao País do PR, e os comentários que sobre ela estão a ser produzidos, publico uns versos e aqui deixo o link para quem esteja interessado em o ler na íntegra. A crise política deu-me para isto...

ODE TRIUNFAL

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

(...)

(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes --
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraitre amarelos com uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

(...)

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos -- e eu acho isto belo e amo-o!
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosa gente humana que vive como os cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!

(...)

Álvaro de Campos, 6-1914

quinta-feira, dezembro 9

IBM/"BM"

No mundo dos negócios a notícia do dia foi a compra da IBM por uma empresa chinesa. Os chineses avançam a todo o vapor para o domínio de áreas chave do conhecimento e do comércio mundial. Nada que não esteja “escrito nas estrelas”.

A notícia mais chocante foi a de saber que muitos alunos das nossas escolas têm como aspiração máxima o “BM”. Traduzindo: o “Balde da Massa”. Aquém e além fronteiras.

Dias com Árvores

Dias com Árvores – um blog a visitar

Sampaio - caudilho

Morais Sarmento, Ministro do Governo da República, disse que o
Presidente decidiu numa "lógica de caudilho", referindo-se à dissolução da AR e consequente convocação de eleições antecipadas.

As palavras não enganam, foram ditas, representam, em toda a sua crueza, pura ignorância ou, o que é mais certo, um inaceitável insulto ao PR.

Afinal era mesmo verdade aquilo que muitos pensavam e alguns disseram, ou seja, que Portugal se haveria de transformar numa grande Madeira.

Caudilho - "1 - político com força militar própria; 2 - ditador". Houaiss





Aldrabices

Não é preciso ser muito inteligente para entender as razões do PR para a dissolução da AR. As trapalhadas da maioria de direita e do seu governo, agora na versão aldrabices eleitoralistas, continuam…

"Ao contrário do que afirmou ontem Paulo Portas
Ministro das Actividades Económicas nega acordo para a construção de blindados na Bombardier

O ministro de Estado e das Actividades Económicas, Álvaro Barreto, negou hoje que tenha sido assinado qualquer contrato para a construção de parte dos novos blindados do Exército nas instalações da Bombardier, ao contrário do que afirmou ontem o ministro da Defesa, Paulo Portas.”

Público

quarta-feira, dezembro 8

A direita para sobreviver é capaz de tudo...

A situação política em Portugal, desde o início da passada semana, pode ser caracterizada como “complexa”. É assim que se costuma apelidar uma situação complicada na política.

O assunto teria merecido um pouco mais de pedagogia a começar nos órgãos de soberania e a prosseguir nos órgãos de comunicação social. Ninguém se deu ao trabalho de dar trabalho a tantos porta vozes e comentadores qualificados que por aí pululam.

O campo ficou aberto para a demagogia e o populismo mais rasteiros. O dia de amanhã (5ª feira), e o dia seguinte, são decisivos.

Uma coisa é certa: para sobreviver no poder a direita é capaz de tudo...mas há sinais de que a debandada já começou.

Ir à rua

A rua é uma instituição urbana. Os meus antepassados próximos, de origem rural, conheciam mal este conceito. O advento da sociedade urbana atribuiu um estatuto especial a “ir ao campo”. Mas, durante séculos, para os rurais o grande dia era o da feira que os levava a “ir à cidade”.

A geração dos “babby-boomers”, de que faço parte, experimentou a fase final desta contradição. Lembro-me da impressão que me causou o filme de Renoir, “Passeio ao Campo”.

Lembro-me dos meus passeios ao monte dos meus avós maternos que, ainda nos anos 70, não tinham energia eléctrica em casa tendo assistido, impotentes, à instalação, mesmo ao pé da porta, de dois postes que suportavam a linha que fornecia a energia a Tavira mas não os alimentava a eles.

Senti o encanto da grande urbe de Lisboa ainda mal tinha resolvido a contradição “cidade/campo”. Nos primeiros dias, após a minha chegada definitiva a Lisboa, caminhei a pé pela Baixa, calcorreei as ruas dos bairros da Estrela, Campo de Ourique e da Lapa. Até que os pés aguentassem. Só. Fiz a carreira do eléctrico 28 dos Prazeres à Graça e da Graça aos Prazeres. Lindas as palavras que identificam estes dois bairros de Lisboa.

Caminhar pelas ruas da cidade de Lisboa era uma alegria. A partir de certo momento tornou-se uma aventura e um risco. Não pelo trânsito nem sequer pela delinquência que, em Lisboa, sempre foi uma brincadeira de crianças se comparada com outras urbes da Europa ou das Américas.

Mas porque em certas esquinas, à noite, nas saídas tardias das tertúlias ou das actividades associativas (subversivas?), surgiam vozes cavas e anónimas que pronunciavam o nosso nome em tom ameaçador. Porque ao caminhar pela rua surgiam interpelações ameaçadoras de desconhecidos que nos acotovelavam. Porque o regresso a casa, à noite, tinha de ser cuidadosamente preparado prevendo a arremetida que nos levaria ao hospital ou à prisão.

Muitas destas caminhadas fi-las acompanhado pelo Eduardo Ferro Rodrigues. Nunca nos deixamos intimidar mas estávamos longe de prever como seria possível que, nos tempos da democracia, pela qual lutamos a vida toda, ressurgirem as mesmas ameaças à liberdade revestidas de novas e mais subtis formas.

Ir à rua, para mim, sempre foi um verdadeiro exercício de liberdade. Como sabemos “ir à rua” pode ser até uma manifestação espontânea, ou organizada, de protesto. Mas há quanto tempo não vamos à rua?

Em tempo: ir às urnas, em democracia, também é um salutar exercício de liberdade!

Absorto - 1º Aniversário (11 de 17)