terça-feira, dezembro 28

Ilha

Deitada és uma ilha E raramente
surgem ilhas no mar tão alongadas
com tão prometedoras enseadas
um só bosque no meio florescente

promontórios a pique e de repente
na luz de duas gémeas madrugada
o fulgor das colinas acordadas
o pasmo da planície adolescente

Deitada és uma ilha Que percorro
descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro

ou se te mostro só que me inebrias
Amiga amor amante amada eu morro
da vida que me dás todos os dias

David Mourão-Ferreira

"Os sonetos"
In "Matura Idade" (1966-1972)

Chocante

Desta vez estou de acordo com Mira Amaral. Hoje no DN.

“Recurso ao fundo de pensões da CGD é «chocante»

Para este ex-ministro de Cavaco Silva, o «mais chocante» desta medida é o facto de ela ter sido adoptada «por um Governo de direita», que não se preocupa em «destruir mecanismos de mercado».

A existência de fundos de pensões capitalizados e a funcionar com a participação dos próprios trabalhadores é importante para o próprio funcionamento e credibilização do mercado de capitais.”

segunda-feira, dezembro 27

"Homenagem ao Papagaio Verde"

Para quem não leu recomendo o extraordinário conto “Homenagem ao Papagaio Verde”, de Jorge de Sena.

Foi recentemente reeditado, pelo “Público”, na “Colecção 2 Horas de Leitura” à venda nas livrarias.

Regresso

Hoje muitos portugueses regressam ao trabalho. Alguns abutres, também. Pode ser que as “trapalhadas” regressem com alguns deles.

A quadra foi muito pobre em notícias do governo. Pode ser que regressem com ideias novas para dar alegria ao povo. Foi o que o nosso primeiro-ministro prometeu na mensagem de Natal.

Não tarda está aí o Carnaval.

Educação no Cinzento - Alerta

O DN publica um artigo importante acerca do tema “educação”. Não é a estatística que é importante são as prioridades que dela emanam.

A ver com atenção pelos responsáveis pela preparação dos programas dos partidos políticos para as eleições de 20 de Fevereiros.

“Portugal falha metas na formação de adultos

Para alcançar os objectivos estabelecidos pela União Europeia (UE) em matéria de educação e formação, Portugal teria de melhorar as qualificações de pelo menos 3,1 milhões de adultos até 2010. Uma meta que o Governo reconhece ser impossível, mas que seria necessária para o País estar à altura do compromisso - assumido há três anos pelo Conselho Europeu de Lisboa - de tornar a UE na «economia baseada no conhecimento mais competitiva do mundo». (...)

Contas feitas, há 4,3 milhões de portugueses sem as qualificações necessárias - e não poderia haver mais de 1,2 milhões.”

domingo, dezembro 26

Pior do que previsto

No verão passado escrevi a propósito de Santana Lopes:

“O primeiro ministro está a cumprir o terceiro período de férias num mês. Como se estivesse cansado de um exercício que ainda não começou. É uma evidência ostentada que o governo tarda em instalar-se. No plano físico e orgânico. A substância da sua acção é a propaganda. Contratam-se assessores para produzirem notícias vistosas. O reformismo vai desvanecer-se e, finalmente, transformar-se numa nota de rodapé na encenação dos “benefícios para todos”. As aparições do chefe vão ser encenada para dar seriedade à comédia. No final do ano todas os desempenhos vão sair abaixo das previsões. O país paralisado ficará mais pobre. Mas a “corte” ficará mais rica.”

A encenação não resistiu ao trágico desempenho dos protagonistas. A minha avaliação era pouco severa para os comparsas.

No final do ano só uma realidade ficou de pé: “a corte ficou mais rica”.

Natal Frio

Até no Algarve como foi frio este Natal.

sábado, dezembro 25

Dúvidas, quais dúvidas...

Estou a escrever numa posição incómoda. Igual à posição das(os) assessoras(es) de imprensa do governo. Querem esclarecer o quê acerca do Fundo de Pensões da CGD? Os passos dos protagonistas do caso? No dia de Natal? Ridículo! Já não restam dúvidas acerca do caso. Dúvidas, quais dúvidas...

“Governo esclarece notícias sobre Fundos da CGD

O Governo português quis hoje “dissipar quaisquer dúvidas que possam existir, em virtude de notícias objectivamente erradas ou incompletas” sobre a transferência do Fundo da Caixa Geral de Depósitos.”


sexta-feira, dezembro 24

Natal

Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira

in "Cancioneiro de Natal"

quinta-feira, dezembro 23

Só Para Rir

Não é a plataforma que dá vontade de rir. Plataformas tem o PSD já duas, um pré e outra pós eleitoral. Esta não tem importância nenhuma.

O tom empolgado e triunfal do anúncio da “plataforma” por Pedro Santana Lopes, que vi nas TVs, é que é pungente.

PSD estabelece "plataformas" com MPT e PPM

"Nas últimas eleições legislativas, de 17 de Março de 2002, e ganhas pelo PSD, o Partido da Terra recolheu 0,28 por cento dos votos, correspondentes a 15233 votos, e o Partido Popular Monárquico 0,23 por cento, correspondentes a 12494 votos."

Fundo ao Fundo

Os trabalhadores da CGD afirmaram, hoje, que o Ministro Bagão Félix é mentiroso. Quem sou eu para os desmentir.

A CGD tem um fundo de pensões. Outras empresas criaram fundos de pensões. A CGD é a maior empresa do sector financeiro português. Um fundo de pensões é um “mealheiro” no qual se acumulam fundos para prover aos encargos futuros com as reformas dos trabalhadores.

É uma fórmula de “contrato de empresa” em prol da estabilidade laboral e da paz social. Alivia o Estado. É uma solução, em regra, preconizada por todos os políticos e gestores de bom senso mas sempre foi reivindicada pela direita.

A direita no poder, ironia das ironias, acaba de “nacionalizar”, o fundo de pensões da CGD. Primeiro uma parte, agora outra fatia, depois se verá… tudo para “benefício dos trabalhadores”. Já tinha acontecido o mesmo a outros. É uma tentação que estava à vista de todos face ao fracasso da “venda do património”, à pressão do tempo e à ditadura do deficit.

Este processo de liquidação (ou enfraquecimento) dos fundos de pensões é uma política a que fica ligado o nome de Bagão Félix. Às arrecuas é a direita radical no seu melhor. A direita radical (ou extrema direita), em Portugal, não é liberal, é mansa, beata e dissimulada além de populista e socializante, como todas, em qualquer parte do mundo. Bagão Félix é, no governo, o seu expoente máximo.

Estamos sempre a aprender. Se pensam que já viram tudo estão bem enganados. E o melhor ainda está para vir.

Um Baile de Bêbedos

A acção do Governo na vertigem de se manter de pé trocando os passos. É uma tragicomédia que o país vai pagar caro.

O Caminho das Figueiras

As figueiras e as suas sombras quentes são um laço que me prende à vida pela memória. Descia o caminho de casa à estrada e passava por elas, umas castelhanas, outras vulgares, de copas grandes e arredondadas, baixas e rasteiras e a todas conhecia de cor.

A minha mãe me ensinou o caminho para lhes chegar. Na época de verão, aí por Julho, os figos eram, quase sempre, suculentos. Arrancava-os com cuidado para uma cesta, primeiro os mais acessíveis, às minhas mãos de menino, depois os das ramadas mais altas, em bicos de pés.

Alguns sempre ficavam inacessíveis. Não me importava com esses. Nunca me importei com o que é inacessível a minhas mãos que não a meus olhos. Leitosos escorriam seiva e, por vezes, ressequidos, abriam fissuras finas por onde se iniciava a retirada da pele. Depois comia-os com prazer.

A apanha, a meio da tarde, era dolorosa. Ia-mos muitas vezes pela força do calor, como lá se diz, e ficava doente. Ou pelo sol que me fazia ferver a cabeça ou pelos figos que me descosiam o intestino. Ainda hoje algumas dessas figueiras estão à beira do mesmo caminho. A mais frondosa resiste defronte do antigo poço, abandonado, mas que noutros tempos alimentava de água o monte.

O prazer da sombra das figueiras, do cheiro ao campo, embebido no ar quente, do sabor dos frutos, colhidos à mão, nunca me deixou por um só momento. Somente, por vezes, descanso dele. É esse prazer físico da memória que me faz amar aqueles que me amam. E resistir às adversidades.

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Inspirado no “Lied da Figueira”, de René Char, poema com uma génese completamente diferente e que reproduzo:

Gelou tanto que os ramos leitosos
Enfadaram a serra e nas mãos se partiram.
A primavera não viu verdejar os graciosos.
A figueira pediu ao dono do lugar
O arbusto de uma nova fé.
Mas o verdelhão, seu profeta,
Na alva quente do seu regresso,
Ao pousar sobre o desastre,
Em vez de fome, morreu de amor.


“Regresso a Montante”
in O Nu Perdido (1964-70)

René Char
“Este Fanático das Nuvens”
Cotovia

quarta-feira, dezembro 22

O Governo Apodreceu

"Luís Nobre Guedes pondera demitir-se

Santana Lopes cancelou conferência de imprensa do ministro do Ambiente

A SIC sabe que o ministro do Ambiente está a ponderar apresentar a demissão, depois do gabinete do primeiro-ministro ter mandado cancelar uma conferência de imprensa marcada por Nobre Guedes para o início da tarde."

É Fartar Vilanagem

Correm notícias, oriundas das mais diversas fontes, de que continuam a chover exonerações e nomeações de responsáveis da administração pública e organismos autónomos do Estado.

As conversas são tidas às abertas e deixam perceber que muitos dirigentes, nomeados por este governo, continuam a tomar medidas que ferem os mais elementares conceitos de decência.

E não cessam de planear tomar outras para os próximos meses…Janeiro, Fevereiro, Março…até onde der…

Estes 40 e tal dias úteis, até 20 de Fevereiro, e os que se seguem, até à data da tomada de posse do novo governo, vão ser de autêntica “carnificina” populista, uma orgia despesista sem paralelo na história recente da democracia portuguesa.

Hoje, por exemplo, os funcionários públicos ficaram a saber que terão férias nos dias 24 e 31 de Dezembro (duas sextas-feiras) e ainda, à livre decisão dos dirigentes dos serviços, um dia à escolha entre 27 de Dezembro e 3 de Janeiro.

Para uma maioria que defendeu, como bandeira, acabar com as “pontes” não está nada mal. Lembram-se ou já se esqueceram?



Máquina Nova

Neste fim de semana que passou o meu velho computador deu o último suspiro. Tinha sido "herdado" de minha mulher quando reequipou o escritório. Só eu era capaz de conhecer as suas manhas.

Tudo o que publiquei, a partir de sábado, está fora de uma programação que sempre trago na cabeça. E foi necessário adiar a estreia da imagem. Fica para o ano.

O defunto já foi substituído com enormes vantagens para o utilizador mas invisíveis para o receptor. A alternativa foi adoptada sob conselho técnico de quem sabe e a operação de compra expedita. Obrigado Fred.

Mas resta sorver da memória do antecedente uma multidão - uma multidão mesmo - de textos que ficaram inacessíveis. Lá chegaremos.

O Melhor Ainda Está Para Vir

Não vinha o suplemento com o meu jornal!

Notícia falsa? Má distribuição? Sabotagem? Quero um suplemento desses do Dr. Morais Sarmento!

"Ministro recusa acusações de propagandaOE: Morais Sarmento justifica suplemento em jornais com necessidade de informar"

Esperem que o melhor ainda está para vir!

Castelo Branco


O interesse não está nas pessoas em si mas na necessidade de afirmação de uma marcação partidária pessoal. Mas afinal quem é Morais Sarmento para ombrear com o Secretário-geral do PS? E quem é que o PS coloca à cabeça em Lisboa para ombrear com Santana Lopes?

Ao contrário do que pensam muitos cépticos, nestas eleições, o sentido do voto dos portugueses foi decidido com muita antecedência. Não são os quarenta e poucos dias úteis de pré campanha e campanha, até 20 de Fevereiro, que vão alterar alguma coisa de essencial. A não ser uma qualquer hecatombe.

Até já o PSD percebeu isso pois o PP percebeu mais cedo.

terça-feira, dezembro 21

Retornos

A ler no Tugir. Neste caso ainda para mais porque refere o meu companheiro da madrugada do 25 de Abril de 1974 António Cavalheiro Dias.

As Finanças e os Ministros

Um dos cavalos de batalha da direita e dos comentadores “bem pensantes” é exigir o nome do futuro ministro das finanças de um governo PS. Tem de ser credível, dizem eles. E com razão, digo eu.

Pergunta: e os ministros da finanças dos governos de direita têm sido credíveis? O ministro Bagão Félix é credível? Como se mede a credibilidade de um ministro das finanças?

Pela condução da política financeira e da gestão orçamental...e, finalmente, pelos resultados, não é?

A Banca e o PR não são responsáveis pela condução da política financeira e orçamental do Estado!Mas, para este governo, servem de bodes expiatórios dos fracassos dessas políticas.

Ver aqui uma descrição impediosa do último episódio.