terça-feira, janeiro 18

Falta de Vergonha

Tudo estava previsto para 2006. Mas sempre se arranja uma esmola para a véspera do dia de votar. A falta de vergonha no seu máximo esplendor.

"Aumentos concretizam-se uns dias antes das eleições
Função Pública Trabalhadores e pensionistas só sentirão os aumentos, fixados em 2,2%, em Fevereiro Portaria ontem publicada leva sindidatos a sublinhar que o atraso "não é comum"

"Quando no dia 17 de Fevereiro os reformados do Estado (aqueles que são abrangidos pela Caixa Geral de Aposentações) receberem a sua reforma vão verificar que esta não só inclui o aumento de 2,2% fixado para este ano, como também o correspondente retroactivo de Janeiro. Um reforço salarial que chega às contas escassos dias antes das eleições legislativas, enquanto no caso dos funcionários públicos, naquela data, o aumento ainda só constará no recibo do ordenado, que já terão recebido."

Ao Alto


Um tronco, uma árvore, uma escultura.
Imagem de Helder Gonçalves

Avisos à Navegação

A SEDES vai tornar público um documento ao qual se deve dar muita atenção. O populismo e o eleitoralismo, fundados em promessas irrealizáveis, vão encher as notícias. Já nestes dias se assistiu a um bombardeamento de promessas impossíveis de cumprir.

A direita apresenta-se nas eleições com dois líderes de perfil populista. A esquerda e, em particular, o PS não podem fazer concessões à onda populista. O documento da SEDES, neste contexto, é muito importante.

“Sedes avisa que próximo Governo terá de aumentar impostos e cortar despesa”

"A Sedes alerta ainda para o fenómeno de Portugal estar a apresentar "sinais evidentes de ingovernabilidade", com a acção política a tender para "sucumbir ao populismo e imediatismo, com sacrifícios dos resultados mais duradouros".

Segundo esta associação, "a situação é tanto mais grave quanto o Estado, crescendo em dimensão, tem sido desqualificado, enfraquecido e tornado palco indevido da disputa partidária, à custa do mérito, da competência e do sentido de serviço público"."

segunda-feira, janeiro 17

Orgulho Criador

(…) “O essencial é juntar ao pecúlio (de todos) os nossos dez réis de orgulho criador. Aqui têm, façam favor de ler. E para isso (adianto eu como hipótese já verificada), o balanço dos haveres da casa pode revelar-se útil. Não seria a primeira vez que tais revelações conduziriam a revoluções inesperadas. Uma palavra conduziu agora a outra pela mudança de duas vogais…

Também não sofro da doença do passado nem vou de barbas brancas para o Restelo malsinar os que partem. Afonso Duarte diz:

O tornar ao passado é sempre um resto
Ou pior, uma falta de saúde.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 7 (1 de 1)

Ironias

“Santana Lopes afirma que vai continuar a inaugurar obras já concluídas”

A afirmação de Santana Lopes nada tem de extraordinário. Todos os governos fazem inaugurações nas campanhas eleitorais. O que a afirmação tem de irónico é o facto de ter sido proferida na inauguração de uma grande obra do governo socialista, o tal da “pesada herança”!

“O novo Palácio da Justiça de Sintra, que representou um investimento de mais de 26 milhões de euros e cuja construção teve início quando António Costa era ministro da Justiça do Governo socialista de António Guterres, irá acolher os tribunais de comarca, cível, criminal, de família e menores, administrativo e fiscal, além das varas mistas.”

domingo, janeiro 16

Altivez


Sóbrias enquanto esperam pela morte. Altivas enquanto esperam pela primavera.
Imagem de Helder Gonçalves.

A Inveja

Vivemos Paralisados pela Inveja José Gil

Excerto da entrevista com José Gil publicada na "Pública". A abordagem da inveja. No alvo. É isso! É isso!

P. - A incapacidade de agir vem de dentro, do nosso medo. Mas, quando alguém tenta, o que acontece? Temos a aprovação ou a sanção dos outros?

R. - Uma sanção terrível. É o mecanismo da inveja.

P. - Não agimos, mas também não deixamos ninguém agir. Como funciona esse mecanismo?

R. - O mecanismo da inveja tem a ver com práticas da magia, o "mau olhado", o "quebranto", e também com o que em psiquiatria se chama "transferência psicótica", ou seja, o que passa de uma pessoa para outra e não é verbal. Imagine que você chega ao pé dos seus colegas e diz: "Fiz uma reportagem extraordinária!" E não está a falar por vaidade, mas objectivamente. Mas logo o tipo que está a seu lado diz: "Ai sim? Pois muito bem." E com este tom introduz em si um afecto inconsciente que o vai paralisar.

P. - É um mecanismo semelhante ao do ostracismo?

R. - Exactamente. Cria-se um ambiente que é hostil à iniciativa e que tem um efeito sobre a própria vontade de querer fazer. Isto é generalizado em Portugal. A inveja é mais do que um sentimento. É um sistema. E não é apenas individual: criam-se grupos de inveja. Várias pessoas manifestam-se simultaneamente contra a sua iniciativa. Cria-se um ambiente de inveja. Um grupo determinado age segundo os regulamentos da inveja.

P. - É uma atitude concertada ou inconsciente?

R. - Pode ser concertada ou inconsciente, mas funciona. Não se permite que numa empresa, num escritório, ninguém ultrapasse a linha da média baixa. Vivemos reconhecendo-nos como irmãos na desgraça.

P. - Mas por que se faz isso? Não seria do interesse de todos encorajar cada um a fazer melhor?

R. - Sim, mas há um efeito de espelhos. Se você faz alguma coisa de forte, isso deveria ser um estímulo para mim, para fazer algo também forte. Mas não. Vê-lo forte diminui-me a mim. Vê-lo com intensidade, com iniciativa, faz-me pensar, por causa da imagem que tenho de mim, na minha pobre condição, em que não faço nada. E faço tudo para destruir a sua iniciativa, para que eu possa viver. Você sufoca-me com a sua energia. Terrível isto. Uma pessoa sufoca a outra com a sua energia. E o resultado é que estamos todos sem energia.

P. - Mas para que essa acção da inveja tenha efeito não é necessário que a "vítima" esteja vulnerável?

R. - Precisamente. Um etnólogo pôs-me essa questão. Disse: só se é afectado pela inveja quando se quer, quando se está num estado determinado. Eu respondo: sim, em quem tem a pele grossa não entra nada. São as pessoas porosas que são fragéis. E isso é típico de Portugal. Os portugueses são sensíveis, porque não são maduros. Isso poderia ser maravilhoso. Somos pessoas de pequenas percepções, de intuições imediatas, e por isso sentimos quando alguém está a torcer para que não avancemos. Faz curto-circuito, fecha o espaço das possibilidades. É um sistema.

P. - Uma espécie de acordo tácito para que ninguém aja, ninguém ameace, e possamos viver em paz.

R. - Precisamente. Para que possamos viver em paz. Porque temos medo do conflito.

P. - Daí os "brandos costumes"?

R. - Recusamos o conflito a céu aberto, mas temos uma violência incrível na nossa sociedade. Violência doméstica em relação às crianças. Os brandos costumes escondem uma violência subterrânea enorme.

sábado, janeiro 15

Até à Data Não Voltou a Nevar

(…)
"Chegavam do Matadouro os gritos dos bichos sacrificados, mas chegavam a custo, na atmosfera espessa, quebrando-se contra as esquinas e as telhas vítreas que os desfaziam num amplo murmúrio de dor. Pouco a pouco, abria-se a madrugada. Pareceu-me então que a sua claridade vinha de propósito aplacar a fúria da neve. Felizmente, porque não era ainda capaz de dirigir o meu próprio poder…

Quando for, talvez tente de novo, se o anjo estiver distraído outra vez. Nessa altura dominarei a neve, transformarei a cidade numa acrópole de gelo (Camilo Pessanha), para a ressuscitar depois sem quartos de aluguer.

Pode ser apenas coincidência, mas até à data não voltou a nevar.”

“O Aprendiz de Feiticeiro”- Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 6 (3 de 3)

A Entrevista

Não dá para acreditar em nada.

Só habilidades daquele género Quaresma, em velocidade de cruzeiro.

Passa a bola por cima da cabeça recolhe-a com o pé esquerdo, passa para o direito, vai à linha, volta para trás, simula rematar, afinal não remata... esquece os companheiros de equipa, joga só para ele…

O Pacheco Pereira até já só se dedica ao Titã. Palavras para quê!

Os Estranhos Critérios do Expresso

Hoje uma sondagem encomendada, entre outros órgãos de comunicação social, pelo Expresso, não merece sequer uma chamada de primeira página na edição em papel deste semanário. No entanto, na versão on-line, os resultados dessa sondagem merecem o máximo destaque.

Ainda se poderia dizer que a referida sondagem não apresenta novidade nenhuma dando o PS como virtual vencedor das próximas eleições no limiar da maioria absoluta.

A questão está em que a sondagem apresenta, de facto, uma novidade e que consiste na convicção de quase dois terços dos inquiridos que afirmam preferir que, das eleições, resulte uma maioria absoluta.

Ora como dois e dois são quatro, a maioria absoluta só poderá ser alcançada pelo PS atendendo a que na sondagem anterior mais de 80% dos inquiridos se mostravam convencidos de que seria o PS o vencedor das eleições.

“OS PORTUGUESES estão hoje confirmadamente rendidos às virtudes da estabilidade governativa e à necessidade da maioria absoluta. Se necessário fosse, a sondagem EXPRESSO-SIC-Renascença/Eurosondagem não deixa margem para dúvidas: praticamente dois em cada três eleitores acham que o próximo Governo deve contar com o apoio de mais de metade do Parlamento.”

"Expresso on line"

sexta-feira, janeiro 14

Sucesso em Titã

Veja no blogdamiúda uma amostra de um genuíno entusiasmo por algo que vale a pena.

Nunca Vi Nada Como Isto

(…)
Neve por toda a parte: árvores, telhados, ruas, cintilando sob a luz das lâmpadas; raios verdes, roxos, cruzando-se no ar, chocavam e do choque nascia um grande revérbero azulado que lembrava a cor das descargas eléctricas; mais lento em todo o caso, modelado pelo vento quase imperceptível.

O filtro mágico das palavras (pensei, cheio de espanto), aí está ele. E senti a mão de Gelnaa apertar-me o ombro: - Nunca vi nada como isto.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 6 (2 de 3)

Orlando Ribeiro

Querem conhecer uma grande figura portuguesa do nosso tempo?

A Biblioteca Municipal do meu bairro de Telheiras foi baptizada com o seu nome: Orlando Ribeiro

Veja aqui e aqui.

Um Caso de Polícia

O assunto já era conhecido mas ganhou, subitamente, algum impacto mediático.
O blog r.precision investigou e publicou.

Mas falta a parte da história do magistrado enquanto Inspector Geral da Segurança Social cargo que exerceu, nomeado pelo Dr. Bagão Félix, até assumir as funções de Director da PSP.

Como se pode ler em vários blogs nada disto teria importância nenhuma não se desse o caso da Junta Médica ter decidido o que decidiu pelas razões que agora se conhecem.



Paisagem

Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te comtemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno desta praia.

E desejei: <dos horizontes que tu olhas!>>

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, janeiro 13

Eleições - Faltam 37 dias

Os partidos da maioria de direita tentam empurrar o PS para um lugar de governo virtual. Como se o PS já fosse responsável por uma política cujos efeitos negativos o povo julgará nas urnas em 20 de Fevereiro.

Os partidos da coligação do governo demissionário tentam colocar-se no lugar da oposição a um governo virtual do PS. A penalização nas urnas dessa maioria virtual é possível de explorar pela convicção esmagadora, enraizada na opinião pública, de que o PS vai ganhar as eleições.

Faltam 37 dias. Um tempo longo para a direita. Mas um tempo escasso para o PS. A direita esconde com dificuldade as suas divisões profundas. Entre partidos, no seio de cada partido e, de forma perturbante, no interior do PSD. É essa fraqueza que o PS tem de explorar.

Mas para isso o PS tem de apresentar o seu programa eleitoral depressa e bem. Os ensaios, convenhamos, não têm sido brilhantes.

Neve em Lisboa

(…)
“E entramos por fim no que mais interessa: acabado o impulso das primeiras palavras, afastei a cadeira distraidamente e levantei-me, tentando delinear o seguimento da peça, cuja ideia me surgira só no acto de escrever. Nenhum plano anterior, nenhum esboço. Levantei-me e andei para a janela, metido na pele do inquilino, perguntando a mim mesmo (ou a ele) se não haveria outras perguntas a fazer antes duma decisão que podia ferir o equilíbrio do mundo ou coisa parecida. Foi quando a madrugada explodiu numa féerie mais ou menos nórdica, como se tivesse realmente bastado mexer na cadeira, na ordem pré-estabelecida do quarto, para desencadear o imprevisto: uma tempestade de neve em Lisboa.” (…)

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 6 (1 de 3)

Nudez


A natureza chegando a estação certa despe-se sem pudor ao olhar dos homens e não detém a sua marcha. Imagem de Helder Gonçalves.

Árvores

O Helder Gonçalves é fotógrafo amador. Fotografa por prazer e amor à arte. Iniciei a edição de imagens com fotos de sua autoria.

Conheço essa sua faceta há bastante tempo. Temos um projecto, em parceria, para editar um livro.

Mas para já vamos editar um conjunto de posts com imagens de árvores legendadas com textos curtos. As fotos são dele, os textos são meus. Uma série experimental dedicada às árvores.

quarta-feira, janeiro 12

Nevou a Sul

Uma página interessante do meu “livro artesanal” com fragmentos do “O aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira, é, sem dúvida, a página 5. Nessa página, antecedendo um longo fragmento, que ocupa mais de duas páginas, escrevi um texto que assinala um dos acontecimentos mais extraordinários a que assisti na minha vida.

Eis esse curto texto:

“Noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Digo eu que andava na memória à procura desta data há anos. Depois dessa noite nunca mais nevou no Algarve (nem no sul). Foi quando vi pela primeira vez nevar ainda não tinha 7 anos e recordo como se fosse hoje. O meu pai abençoou a neve, o frio, tudo, pois fazia o carvão depositado ao ar livre pesar mais”.

O fragmento de Carlos de Oliveira começa assim:

“Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….”

(No próximo fragmento surgirá a descrição da neve a cair em Lisboa)

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 5 (1 de 1)