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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, novembro 4
sexta-feira, novembro 2
CINCO PALAVRAS APENAS
Lydia Panas
Podia escrever acerca do Tratado Reformador, ou Tratado de Lisboa, como será designado a partir de 13 de Dezembro, mas o tema é hermético demais para os escassos caracteres que me cabe ocupar. Para mim a importância do tratado, chapéu jurídico da UE, resume-se a uma palavra: paz.
Podia escrever acerca do PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento), ou mais prosaicamente, acerca do deficit, mas o tema está banalizado. O governo socialista bateu por KO técnico os seus adversários. Resta saber como a economia portuguesa, e a europeia, se animam para crescer mais e melhor somando à paz, a prosperidade.
Podia escrever acerca do desemprego, uma tragédia social, dilacerante para a vida real de milhares de famílias, mas receio ser levado a conclusões demasiado pessimistas pois creio que a mudança da especialização internacional da economia portuguesa é potencialmente geradora de desemprego e será ainda mais difícil somar à paz e à prosperidade, a solidariedade.
Podia escrever acerca do mercado de trabalho, que se estreita nos extremos, afastando os mais novos, que buscam o primeiro emprego, e os mais velhos, que buscam o reconhecimento da experiência; que lança para a emigração os trabalhadores mais qualificados e atrai, por via da imigração, mão-de-obra estrangeira menos qualificada, tornando mais difícil juntar à paz, à prosperidade e à solidariedade, a inclusão.
Podia escrever acerca do Dr. Santana Lopes que voltou à ribalta política com a onda que fez emergir o Dr. Menezes. De vez em quando os partidos mostram a sua verdadeira face. Nas dobras da longa túnica que encobre o exercício do poder, em democracia, acoitam-se todos os géneros de narcisismo indigente, tornando ainda mais difícil juntar à paz, à prosperidade, à solidariedade e à inclusão, a decência.
Podia escrever acerca dos homens e mulheres, de boa vontade, que colocam a liberdade acima de qualquer outro valor, para que se não dêem ao luxo do conformismo que Albert Camus, como se fora do nosso tempo, identificou como “O problema mais sério que se põe aos espíritos contemporâneos”.
Como poderão os cidadãos acreditar nas virtualidades da democracia representativa se ela não garantir a paz? Não gerar a prosperidade? Não propiciar, em solidariedade e inclusão, a dignidade, qualificação e valorização das pessoas? Não tomar a seu cargo o rejuvenescimento das elites dirigentes, sob o primado da decência?
Cinco palavras apenas: paz, prosperidade, solidariedade, inclusão e decência para escrever, finalmente, a frase que queria escrever: como hão-de os cidadãos, conformados à descrença nas suas próprias virtudes, ajudar à riqueza da nação?
[Transcrição integral do artigo publicado, hoje, no “Semanário Económico”. Também disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.]
Podia escrever acerca do Tratado Reformador, ou Tratado de Lisboa, como será designado a partir de 13 de Dezembro, mas o tema é hermético demais para os escassos caracteres que me cabe ocupar. Para mim a importância do tratado, chapéu jurídico da UE, resume-se a uma palavra: paz.
Podia escrever acerca do PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento), ou mais prosaicamente, acerca do deficit, mas o tema está banalizado. O governo socialista bateu por KO técnico os seus adversários. Resta saber como a economia portuguesa, e a europeia, se animam para crescer mais e melhor somando à paz, a prosperidade.
Podia escrever acerca do desemprego, uma tragédia social, dilacerante para a vida real de milhares de famílias, mas receio ser levado a conclusões demasiado pessimistas pois creio que a mudança da especialização internacional da economia portuguesa é potencialmente geradora de desemprego e será ainda mais difícil somar à paz e à prosperidade, a solidariedade.
Podia escrever acerca do mercado de trabalho, que se estreita nos extremos, afastando os mais novos, que buscam o primeiro emprego, e os mais velhos, que buscam o reconhecimento da experiência; que lança para a emigração os trabalhadores mais qualificados e atrai, por via da imigração, mão-de-obra estrangeira menos qualificada, tornando mais difícil juntar à paz, à prosperidade e à solidariedade, a inclusão.
Podia escrever acerca do Dr. Santana Lopes que voltou à ribalta política com a onda que fez emergir o Dr. Menezes. De vez em quando os partidos mostram a sua verdadeira face. Nas dobras da longa túnica que encobre o exercício do poder, em democracia, acoitam-se todos os géneros de narcisismo indigente, tornando ainda mais difícil juntar à paz, à prosperidade, à solidariedade e à inclusão, a decência.
Podia escrever acerca dos homens e mulheres, de boa vontade, que colocam a liberdade acima de qualquer outro valor, para que se não dêem ao luxo do conformismo que Albert Camus, como se fora do nosso tempo, identificou como “O problema mais sério que se põe aos espíritos contemporâneos”.
Como poderão os cidadãos acreditar nas virtualidades da democracia representativa se ela não garantir a paz? Não gerar a prosperidade? Não propiciar, em solidariedade e inclusão, a dignidade, qualificação e valorização das pessoas? Não tomar a seu cargo o rejuvenescimento das elites dirigentes, sob o primado da decência?
Cinco palavras apenas: paz, prosperidade, solidariedade, inclusão e decência para escrever, finalmente, a frase que queria escrever: como hão-de os cidadãos, conformados à descrença nas suas próprias virtudes, ajudar à riqueza da nação?
[Transcrição integral do artigo publicado, hoje, no “Semanário Económico”. Também disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.]
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quinta-feira, novembro 1
PRESIDENCIAIS - USA
Antes de mais nada o que todos pensam mas poucos dizem: uma mulher na Casa Branca?
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quarta-feira, outubro 31
D. JOÃO PECULIAR (II)
Continuando a discorrer acerca da figura de D. João Peculiar que desempenhou um papel central na orientação da política de Afonso Henriques.
“Uma vez escolhido, [para Bispo do Porto] D. João Peculiar mostrou, desde logo, a sua natureza decidida e empreendedora ao dirigir-se a Burgos, ainda antes de ter sido sagrado bispo, para tomar parte no concilio que aí se celebrou a partir de 4 de Outubro de 1136 na presença do legado papal, o cardeal Guido de Vico.
(...) De regresso a Portugal, João Peculiar tomou conta da sua diocese, mas a 4 de Julho de 1137 acompanhou a Tui, juntamente com Paio Peres, arcebispo de Braga, o principe D. Afonso, para assistir ao juramento de vassalagem que nesse dia ele prestou a seu primo o imperador Afonso VII, como vimos noutro capítulo.”
“D. João desempenhou por pouco tempo as funções de bispo do Porto. (...)” tendo sido “eleito arcebispo de Braga, a função eclesiástica mais importante de Portugal, aquela que, por causa das tentativas de absorção empreendidas por Diego Gelmírez e da necessidade de lhe resistir, o obrigou a desenvolver intensos contactos com os poderes políticos portugueses e leoneses e com a cúria romana.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”13 – Os auxiliares”, pgs 131/133. (29).
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“Uma vez escolhido, [para Bispo do Porto] D. João Peculiar mostrou, desde logo, a sua natureza decidida e empreendedora ao dirigir-se a Burgos, ainda antes de ter sido sagrado bispo, para tomar parte no concilio que aí se celebrou a partir de 4 de Outubro de 1136 na presença do legado papal, o cardeal Guido de Vico.
(...) De regresso a Portugal, João Peculiar tomou conta da sua diocese, mas a 4 de Julho de 1137 acompanhou a Tui, juntamente com Paio Peres, arcebispo de Braga, o principe D. Afonso, para assistir ao juramento de vassalagem que nesse dia ele prestou a seu primo o imperador Afonso VII, como vimos noutro capítulo.”
“D. João desempenhou por pouco tempo as funções de bispo do Porto. (...)” tendo sido “eleito arcebispo de Braga, a função eclesiástica mais importante de Portugal, aquela que, por causa das tentativas de absorção empreendidas por Diego Gelmírez e da necessidade de lhe resistir, o obrigou a desenvolver intensos contactos com os poderes políticos portugueses e leoneses e com a cúria romana.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”13 – Os auxiliares”, pgs 131/133. (29).
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terça-feira, outubro 30
CORRENTES DE LEITURA
O Tomas Vasques desafia-me para outra corrente da página 161. Não o vou deixar sem resposta. O livro: O Príncipe de Nicolau Maquiavel, comentado por Napoleão Bonaparte – uma edição antiga. A citação que corresponde ao desafio é a nota 393 de Napoleão Bonaparte que surge no final de uma passagem do capítulo “Das coisas pelas quais os homens, e sobretudo os príncipes, ganham censura ou louvor”.
Alargo um pouco a citação da dita passagem para que se entenda o seu sentido, aliás, com inusitada actualidade política: “Apartando, pois, as coisas que se imaginaram em relação a um príncipe e discorrendo daquelas que são verdadeiras, digo que a todos os homens, quando deles se fala, e sobretudo aos príncipes, por se encontrarem em mais alta condição, se atribui uma das qualidades que provocam censura ou louvor. Isto é, um será tido por liberal, outro por sovina (…); um por amigo de dar, outro por ganancioso; um por cruel, outro por compassivo; um por mentiroso, outro por homem de palavra; um por efeminado e cobarde, outro por viril e corajoso; um por afável, outro por orgulhoso; um por devasso, outro por casto; um por franco, outro por matreiro; um por opinoso, outro por complacente; um por grave, outro por leviano; um por religioso, outro por incrédulo, etc. Sei muito bem que todos achariam ser coisa de grande louvor encontrar-se um príncipe que tivesse das referidas qualidades todas as que são consideradas boas." É aqui que Napoleão Bonaparte escreve a nota 393: “Sim, como Luís XVI; mas também se acaba por perder o reino e a cabeça.”
Com as minhas desculpas, desta vez, não passo porque alguns dos jogadores, já anteriormente desafiados, ainda estão em dívida.
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Alargo um pouco a citação da dita passagem para que se entenda o seu sentido, aliás, com inusitada actualidade política: “Apartando, pois, as coisas que se imaginaram em relação a um príncipe e discorrendo daquelas que são verdadeiras, digo que a todos os homens, quando deles se fala, e sobretudo aos príncipes, por se encontrarem em mais alta condição, se atribui uma das qualidades que provocam censura ou louvor. Isto é, um será tido por liberal, outro por sovina (…); um por amigo de dar, outro por ganancioso; um por cruel, outro por compassivo; um por mentiroso, outro por homem de palavra; um por efeminado e cobarde, outro por viril e corajoso; um por afável, outro por orgulhoso; um por devasso, outro por casto; um por franco, outro por matreiro; um por opinoso, outro por complacente; um por grave, outro por leviano; um por religioso, outro por incrédulo, etc. Sei muito bem que todos achariam ser coisa de grande louvor encontrar-se um príncipe que tivesse das referidas qualidades todas as que são consideradas boas." É aqui que Napoleão Bonaparte escreve a nota 393: “Sim, como Luís XVI; mas também se acaba por perder o reino e a cabeça.”
Com as minhas desculpas, desta vez, não passo porque alguns dos jogadores, já anteriormente desafiados, ainda estão em dívida.
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segunda-feira, outubro 29
ANTÓNIO CABRAL
Soube, através do Expresso, da morte de António Cabral. Um dia, nos inícios de 1996, alguém sugeriu o seu nome para delegado do INATEL no distrito de Vila Real. Propus a sua nomeação. Era um homem calhado para a função. Não tanto por ser um “homem de letras” mas por ser um entusiasta de um tema fora de moda, a cultura popular. Os delegados distritais do INATEL tinham, e ainda têm, uma característica peculiar. São amadores no exercício da função, recebem uma espécie de gratificação irrelevante, em dinheiro, para lidar com um sem número de colectividades que promovem actividades de cultura popular, desporto amador e o turismo social. Ele desembaraçava-se da complexa tarefa e, nas reuniões, fazia intervenções fora do registo burocrático. Bem haja!
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A Europa e alguma Esquerda
Estou de acordo com Leonel Moura com excepção da diabolização do referendo que me parece ser uma questão bem mais complexa na lógica do funcionamento do sistema democrático no que concerne, em particular, à questão europeia.
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domingo, outubro 28
CENÁRIO DE GUERRA - 2ª EDIÇÃO
A notícia faz lembrar os antecedentes da intervenção militar dos USA no Iraque. As mentiras de Bush, Blair, Aznar e C.ª, a propósito do “poderio militar” do Iraque, poderão ser reeditadas no caso do Irão? Uma segunda edição a papel quimico? Desta vez com ameaças ainda mais graves? Atendendo aos antecedentes preparemos-nos para o pior!
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sábado, outubro 27
CRESCESTE
sexta-feira, outubro 26
SONDAGENS
Fotografia daqui
Em algum momento o PS teria de descer nas sondagens. O que espanta é a sua resistência à erosão da governação, quer no tempo, quer na margem do desgaste. Como sempre aconteceu, as presidências europeias, mesmo competentes, provocam estragos na popularidade dos governos. Aguardemos a remodelação!
Em algum momento o PS teria de descer nas sondagens. O que espanta é a sua resistência à erosão da governação, quer no tempo, quer na margem do desgaste. Como sempre aconteceu, as presidências europeias, mesmo competentes, provocam estragos na popularidade dos governos. Aguardemos a remodelação!
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quinta-feira, outubro 25
REVOLTA À VISTA NA BLOGOSFERA
Burocrazia sul web? Allarme in rete
O governo italiano tem ultimado um diploma destinado a – para ser directo – controlar a blogosfera. Para ajudar a compreender a ideia do governo Prodi (uma coligação dos partidos da esquerda moderada até à extrema esquerda) leia-se a notícia do El Pais. Era mesmo o que nos faltava!
O governo italiano tem ultimado um diploma destinado a – para ser directo – controlar a blogosfera. Para ajudar a compreender a ideia do governo Prodi (uma coligação dos partidos da esquerda moderada até à extrema esquerda) leia-se a notícia do El Pais. Era mesmo o que nos faltava!
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"FUTEBOLISMO"
Ilustração daqui
A propósito do meu texto intitulado FUTEBOL – “FLUXO” E RESISTÊNCIA a Defesa de Faro publicou dois posts, de autoria Adolfo Pinto Contreiras, intitulados O "FLUXO FUTEBOLÍSTICO" DO EDUARDO GRAÇA E O MEU e "FUTEBOL E RESISTÊNCIA" EM EDUARDO GRAÇA.
Aqui fica a referência, embora tardia, pelo seu interesse próprio e pelo interesse que demonstram pela minha reflexão acerca do tema futebol que, seja qual for a opinião de cada um, ocupa uma fatia importante do imaginário de todos.
A propósito do último daqueles posts transcrevo o comentário que escrevi, directamente, na "caixa de comentários" daquele blog no qual introduzi pequenas correcções:
O Adolfo, a quem agradeço ter dado atenção ao meu texto, tem razão em quase tudo dando de barato a sua visão exacerbada de condenação dos fenómenos mercantis que atingem quase toda as actividades humanas desde há muito tempo. Esse fenómeno, e as suas sequelas mais conhecidas, entre elas a compra e venda, é muito antigo mesmo no futebol.
A propósito do meu texto intitulado FUTEBOL – “FLUXO” E RESISTÊNCIA a Defesa de Faro publicou dois posts, de autoria Adolfo Pinto Contreiras, intitulados O "FLUXO FUTEBOLÍSTICO" DO EDUARDO GRAÇA E O MEU e "FUTEBOL E RESISTÊNCIA" EM EDUARDO GRAÇA.
Aqui fica a referência, embora tardia, pelo seu interesse próprio e pelo interesse que demonstram pela minha reflexão acerca do tema futebol que, seja qual for a opinião de cada um, ocupa uma fatia importante do imaginário de todos.
A propósito do último daqueles posts transcrevo o comentário que escrevi, directamente, na "caixa de comentários" daquele blog no qual introduzi pequenas correcções:
O Adolfo, a quem agradeço ter dado atenção ao meu texto, tem razão em quase tudo dando de barato a sua visão exacerbada de condenação dos fenómenos mercantis que atingem quase toda as actividades humanas desde há muito tempo. Esse fenómeno, e as suas sequelas mais conhecidas, entre elas a compra e venda, é muito antigo mesmo no futebol.
Onde o Adolfo se engana é ao considerar a minha abordagem da faceta de resistência no futebol como resultante da saudade de um tempo antigo no qual o futebol era esplendoroso em vitalidade e verdade desportivas. Mas o que eu quero dizer, e falo de ciência certa, é que o futebol é mesmo um lugar de resistência ao que o Adolfo chama de “futebolismo”.
Sem entrar em estatísticas, que as não tenho actualizadas, existem mesmo, no caso de Portugal, um número de praticantes de futebol amador, em todas as suas categorias, divisões e formatos, formalizadas em campeonatos ou informais, muito superior ao de todos os praticantes profissionais de futebol ou, porventura, de todos os praticantes profissionais em todas as modalidades desportivas.
Não é que entre uma parte dos praticantes amadores não exista competição e mesmo, nalguns casos, por mimetismo, afloramentos do mesmo tipo de males que afligem o “futebolismo”. Mas uma parte significativa destes amadores joga o jogo pelo jogo, num âmbito não mercantil e, acima de tudo, pelo prazer do convívio. Essa realidade do futebol amador, espaço da prática desportiva, que eu chamo de resistência, não é uma criação intelectual mas uma realidade concreta da vida em sociedade.
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