Muitos ficaram felizes com a derrota de Sócrates mesmo muitos daqueles que antes o apoiaram. O pior mal não é a adversidade na luta por fazer vencer uma ideia é a ausência de ideias pelas quais valha a pena lutar. Um dia, mais tarde que cedo, se sentirá a sua falta. Adiante, por agora, pois chegará o tempo próprio para tentar entender o ódio que Sócrates suscitou em tanta “gente de bem”.
Mas o futuro continua a precisar de ideias renovadoras, projectos mobilizadores e gestores ousados cuja acção convergente as exigências do Memorando de Entendimento não dispensa. A começar na própria reforma da democracia representativa pois não se pode desvalorizar o facto de ter sido a ABSTENÇÃO a grande vencedora destas eleições com 41,1% dos votos (mesmo com muitos eleitores fantasmas!).
Hoje, na hora da derrota, Sócrates deve ter sentido o velho sentimento da ingratidão que se apossa dos grandes lutadores quando perdem. Mas o seu discurso de derrota foi uma notável lição de política democrática, assumindo as responsabilidades pelo resultado, retirando as consequências e reafirmando, ao mesmo tempo, de forma positiva e inequívoca, os valores do único partido da esquerda democrática portuguesa – O Partido Socialista - quer seja chamado a exerçer funções de governo, quer seja chamado a ser oposição.
O PS é um partido nacional, fundador da democracia em Portugal e, seja qual for a sua futura liderança, desempenhará em tempo de oposição um papel central na política portuguesa. Ninguém pense que é possível fazer frente aos desafios que se perfilam no horizonte da vida nacional se o futuro governo de maioria, centro direita, assentar a sua orientação política na hostilização da esquerda derrotada nestas eleições e, muito menos, hostilizando o Partido Socialista.