Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, julho 7
CRISE - dia 7 de julho 2015
Nós sabemos pouco dos meandros, encontros e desencontros, da politica que se compõe de uma sobreposição de vontades, interesses, doutrinas ... , que se entre-chocam no tempo e no espaço, hoje mais do que nunca a uma velocidade alucinante. Nós cidadãos comuns somos espectadores de um jogo do qual conhecemos as regras gerais mas que raramente jogamos. Em democracia somos eleitores o que não é nada pouco, e representa um avanço civilizacional brutal, mas é assustador o quanto transparece de medo ao sufrágio popular por parte dos lideres europeus. Ao ponto a que se chegou a Grécia, salvo qualquer milagre, vai ser um teste à sobrevivência do € e da própria UE, tal como a conhecemos no presente. Os americanos rezam para que não se abra uma nova fronteira de crise militar nos flancos da Europa da NATO (poucos falam em guerra, mas a guerra está presente em todo o cenário da presente crise politica), os países membros da UE, cada um a seu modo, temem os nacionalismos radicais quando as respectivas lideranças já não foram engolidas por eles, incluindo a Grécia. Assim resta esperar que reine o bom senso e que, numa linguagem antiga, e fora de moda, seja possível fazer emergir nas lideranças europeias, com suficiente massa critica, um verdadeiro e forte sentido de estado supra nacional...
domingo, julho 5
Grécia - 5 de julho, 2015
Não sabemos o que vai acontecer na Grécia, e ao povo grego, após o dia de amanhã. Alguns afirmam que não somos a Grécia, pois é verdade, mas todos opinam acerca dos acontecimentos da Grécia. A Grécia tornou-se o epicentro da crise da politica europeia, revelando as fragilidades da moeda única e do próprio projecto da UE. Estamos perante um ruptura politica que pode ser de baixa intensidade e com efeitos restritos ou, o mais certo, o inicio da criação de uma convicção, em largas camadas da opinião pública europeia, da necessidade de repensar o € (ou sair dele) e o próprio edifício da UE. Certamente muitos responsáveis políticos já preparam o caminho de mudanças profundas que correspondam à necessidade de combater o avolumar na descrença de uma cada maior parte dos europeus no próprio projecto da UE. A UE não pode existir sem democracia. Os povos não podem ser desapossados do direito ao voto livre. Nem à liberdade de expressão do pensamento. Nem à liberdade de imprensa. O valor supremo que deve ser preservado em quaisquer circunstâncias, a defender pelos democratas, é o da liberdade. Inquieto-me ao pensar que a guerra da propaganda em que se envolveram os dirigentes das potências europeias na questão grega possa despertar não o ressurgimento politico das forças moderadas do centro mas avolumar o peso, quiçá a vitória, das forças anti europeístas hegemonizadas pela extrema direita - na Grécia e não só. Aí a tentação da intervenção militar pode ganhar, para os incautos, uma surpreendente e inesperada força. A ver vamos!
terça-feira, junho 30
A Grécia em Guerra - 30 de junho - 2015
A Grécia está desde alguns anos mergulhada numa guerra pois o que é a guerra senão os efeitos dela. Os indicadores falam por si e não falo deles aqui pois deverão hoje ser bem mais desoladores do que há uma semana atrás. É verdade que faltam as acções militares na Grécia, conforme nos habituamos a entender as acções militares. Nada que não possa vir a acontecer um dia destes como tantas vezes aconteceu na Grécia num passado não muito longínquo. Aliás a guerra está presente ao longo de boa parte das fronteiras da Europa e a Grécia é uma das suas fronteiras mais sensíveis. A Grécia, por estes dias, é um tema que suscita - tal como em qualquer teatro de guerra - uma intensa actividade de informação, e contra informação, que se estende a nível global. Por isso me previno de acreditar nas notícias da guerra.
domingo, junho 28
Junho - dia 28
A crise grega - uma faceta radical da crise da UE - permite-nos ficar a conhecer muita coisa. Por exemplo que a reunião dos ministros das Finanças dos países que adoptaram o € é informal quando, no que me toca, sempre pensei que era uma instância cujas decisões, obrigatoriamente unânimes, "subiam", após aprovadas para decisão de instâncias superiores. Afinal é uma instância informal... mas que deve, certamente, reger-se por regras próprias escritas e ... formais. Se assim não for como se justificam as despesas em viagens e estadias, além do tempo gasto pelos ministros das Finanças para participar nessas reuniões? Mas mostra que a UE é, paradoxalmente, menos burocrática do que quer fazer crer... Também toda a gente ficou a saber que não está previsto, nos tratados, que um país saia do €, tendo sido criado um modelo no qual só estão previstas adesões ao €. Há porta de entrada mas não há porta de saída! Nesta semana de finais de Junho, inícios de Julho de 2015, vão ensaiar-se, pois, um conjunto de experiências sem enquadramento nas normas que regem o funcionamento da UE. Assim parece. O mais curioso - se não fosse dramático - será assistir-se aos dirigentes dos países do norte da Europa envolvidos num processo que apela mais ao "improviso organizacional", próprio da cultura dos países do sul, do que à "previsibilidade racional" da cultura dos alemães e dos povos do norte da Europa. Afinal ainda existe, e continuará a existir, em toda a sua diversidade, UE!
domingo, junho 21
O MURO
Acontecem, por estes dias, coisas assustadoras por essa Europa fora. O governo de um país da UE anunciou que vai levantar um muro na fronteira do país que governa (Hungria)com a Sérvia. Para evitar ou, pelo menos, conter a entrada de migrantes! Um muro não virtual mas que deverá ser de betão, ou assim, com uma dimensão de cerca 170 KM. Na União Europeia! E as gerações vivas de alemães que assistiram ao derrube do muro que dividia a Alemanha em duas, desde a final da II Guerra, toleram a um governo de um país da UE que venha a construir um muro que separe um país da UE de um outro país que, apesar de não a integrar, faz parte desta mesma Europa? Se for possível construir este muro, sem consequências politicas para os seus construtores, adeus UE!
terça-feira, junho 16
junho. Dia 16
A Grécia. Desde quando se não falava tanto da Grécia! Hoje num comentário na TV Vitorino (António) gracejou acerca da Grécia enquanto berço da democracia. Não gostei. Antes, ou depois, já não me lembro, fez uma declaração de interesses para se pronunciar acerca da privatização da TAP. Integra o escritório de advogados contratado pelos vencedores. Não é obrigatório ser uma má pessoa para exercer advocacia de negócios. Mas advogar um negócios em concreto, o que é próprio da profissão de advogado, e emitir opinião num espaço público de opinião, como um canal de TV, acerca do dito, não me parece eticamente muito promissor. Não gostei. A liberdade de opinião condicionada, ou aprisionada, pelos interesses.
domingo, junho 14
Junho - dia 14
Um dia após o 13 de junho numa época em que o simbolismo das datas sofre tratos de polé. As fronteiras externas da UE após a euforia do alargamento, e com a emergência da crise, são o epicentro de uma crise não já financeira, mas politica. Os sinais são bastante explícitos mesmo para um leigo em ciência politica. A criação da moeda única sem orçamento único (fosse qual fosse o calendário da sua implementação e o modelo de gestão), e o arrastamento consequente do debate acerca de soluções politicas, de feição federalista, tornaram as regiões de fronteira da UE, cada uma com suas especificidades, bombas ao retardador - Ucrânia, Grécia, Portugal, Espanha, Itália... Não se vislumbram sinais de convergência no sentido de conciliar as democracias representativas, e seu fortalecimento, e os interesses estratégicos das grandes potências. Não é possível, todo o tempo, subalternizar o resultado politico de eleições democráticas sem por em causa o próprio modelo democrático. Se os povos concluírem que de nada vale, através do voto, escolher os governos, e respectivas politicas, não é de admirar que seja o próprio sistema democrático a entrar em colapso. Está a aproximar-se um tempo de grandes escolhas que se podem sintetizar em poucas palavras: guerra ou paz? democracia ou tirania? O que até há pouco tempo parecia um cenário de equações improváveis e longínquas torna-se cada vez mais presente até nos discursos dos mais altos responsáveis pelos estados.
sábado, junho 13
Dia 13 de junho. 2015
Noite de Santo António, 2015. Por vezes penso naqueles que foram ficando pelo caminho. Naqueles que sofrem as dores de doenças difíceis de suportar. Dos caminhos que cada um de nós foi trilhando, de suas venturas e desventuras. Um mundo complexo de decisões, vivências e acontecimentos que a geração do "baby boomers" marcou de uma forma muito particular. Resta um pavio de energia por consumir que, por junto, representa muita experiência, saber e força disponível em prol da defesa dos valores da liberdade e da democracia. Uma geração mais jovem será capaz de erguer uma nova esperança. Sei que essa geração está a despontar, dispensa paternalismos bacocos, espera somente que a deixem fazer o seu caminho. Mais do que tudo o que lhe podemos deixar de herança, são exemplos. Uma persistente defesa dos valores da dignidade humana, da valorização do trabalho honesto, da demonstração prática de que é possível ascender socialmente pelo mérito, da solidariedade cívica nas dificuldades do momento, da coragem de abraçar o futuro sem renegar o passado.
terça-feira, junho 9
domingo, junho 7
Maio de 2015, dia 7
Eu sei que as expectativas são baixas para a maioria das gentes e muitas as suas aflições; sei que se temem as politicas sejam elas quais forem, qualquer um que mantenha o discernimento, cidadão desperto para a vida que o rodeia, percepciona o desencanto, salpicado pela crença ingénua dos que sempre acreditam no futuro, ou que beneficiam das benesses do presente. Eu sei que o mundo não vai acabar amanhã, que a politica ocupará o seu lugar, e se regenerará pela participação de uma nova geração que ainda dela não participa, que a descrença pode durar muito tempo mas não se eternizará. O que terão pensado, e sentido, os portugueses em 1580? Como se acomodaram à perda de independência nacional, que aconteceu ao patriotismo, como se transformou e se readquiriu, sessenta anos passados. Portugal quer queiram, ou não, os eurocratas, (não os europeístas), tem língua (que evoluiu) e fronteira física (que se manteve na Europa) faz muitos séculos. Arvorou o estandarte nacional em muitas praças, por esse mundo fora, e manteve capital em cinco cidades (Guimarães, Coimbra, Lisboa, Rio de Janeiro e Angra do Heroísmo), tendo em todas as épocas, a mais das vezes conturbadas, sobrevivido a variadas e fortes desditas. Ninguém desvalorize a crise contemporânea de Portugal no seio da Europa, nem facilite na hora de traçar os caminhos do futuro. Mas, uma vez mais, se formos capazes de exercer essa extraordinária capacidade de inventar o futuro, persistiremos na feitura de uma história própria na partilha com o diverso.
sábado, junho 6
sexta-feira, junho 5
PELO ANIVERSÁRIO DE GARCIA LORCA
Fotografia de Hélder Gonçalves
O SILÊNCIO
Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales,
e que inclina a fronte
para o chão.
Federico Garcia Lorca - Traduzido por Eugénio de Andrade
El silencio
Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.
O SILÊNCIO
Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales,
e que inclina a fronte
para o chão.
Federico Garcia Lorca - Traduzido por Eugénio de Andrade
El silencio
Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.
domingo, maio 31
SPORTING
O futebol não é uma escola de virtudes mas como tal deveria fazer-nos pensar da razão de suscitar tantas, e tão fortes, paixões. Como nenhuma atividade do homem é uma escola de virtudes como nos demonstra a experiência vivida mais do que as públicas notícias. Não que não haja virtudes na atividade do homem e não hajam homens virtuosos nos percursos das suas vidas. Mas é pequena a margem pura da virtude e querer viver só nela, e por ela, é quase reduzirmos a nossa vida a sucessivos desencontros e, por fim, a nos retirarmos dela. Vem esta prosa a propósito do comezinho feito do Sporting, hoje, ter ganho a Taça como antes o próprio, e outros, terem ganho troféus e campeonatos por entre a sorte, o saber e a luta dos seus heróis, em jogos limpos e, quem sabe, sujos, que oferecem à multidão apaixonada momentos de alegria sublime e libertadora. O futebol, com seus meandros obscuros, ganha no jogo, e suas vissitudes, uma claridade singular que, apesar de todos os seus males,alumia o mundo.
sábado, maio 30
Maio, dia 30
Final de maio, o mês das flores, que muitas mãos acariciam - como a minha mãe gostava de rosas - e encantam em todos os canteiros vivos por esse mundo fora. Os homens, a mais das vezes, não são merecedores de apreciar a sua beleza que, para sorte da humanidade inteira, se espraia por fora deles. O mercantilismo, sem principios, tende a matar a justiça, capturando-a, tornando-a parte dos negócios. O desespero de muitos à mingua do pão exige um fortalecimento da justiça para defesa da liberdade. Muito mais além do que um valor abstrato a liberdade merece, tal como as flores, os maiores cuidados. Não como ornamento de uma sociedade injusta mas como garantia de ser possível lutar pela plenitude do exercício dela. A imprensa, em todas as suas formas, exige ser servida por cidadãos livres o que se mostra cada vez mais dificil à nossa observação. E, no tempo presente, o mais perigoso nem são os meios da imprensa tablóides que todos sabem do formato e dos fins que prosseguem, mas dos meios chamados de referência que lutam pelas audiências e cedem, em prol do que julgam ser a sua salvação económica, às facilidades do populismo.
quinta-feira, maio 28
segunda-feira, maio 25
Espanha, pós eleições, maio - dia 25
As eleições realizadas ontem em Espanha tinham o atrativo especial de testar a resistência dos partidos tradicionais à emergência dos novos. Já se sabia que se desgataria o partido de apoio ao governo maioritário (PP), restava saber como se aguentaria o PSOE, na oposição, "apertado" pelos partidos emergentes. Não é de espantar o meu interesse pelas eleições em Espanha pois, de todos os países europeus,são as que mais influenciam a politica portuguesa. E o que aconteceu? O PP, partido maioritário, ganhou, perdendo; o PSOE perdeu, ganhando; os partidos emergentes, simplesmente, ganharam as eleições. O PP obteve mais votos, mas perdeu a maioria absoluta, o PSOE manteve-se a uma curta distância alcançando uma representação relevante, (sómente os resultados do PP e do PSOE se podem comparar nas presentes eleições por terem apresentado candidaturas em todas as circunscrições ao contrário dos emergentes). A marca destas eleições é a recomposição do xadrez politico em Espanha, uma óbvia conclusão, pois o modelo bipartidário cedeu ao multipartidarismo, sendo visivel uma fragmentação em benefício das forças progressistas, quiçá de esquerda na nomenclatura tradicional, indo, porventura, mais além no desafio de buscar mudanças irreversíveis que, mesclando projetos de sociedade diversos, novas, ou renovadas ideologias e, certamente, novos personagens, são o inicio de uma reforma do modelo da democracia representativa que, na verdade, ninguém, no essencial, questionou. Em Portugal, como quase sempre, este processo, na sua expressão eleitoral, será mitigado pela ausência de partidos emergentes com vibração suficiente para retirar espaço relevante aos partidos criados pós 25 de abril (o Bloco de Esquerda é uma coligação de partidos criados no pós 25 de abril!). Mas as próximas eleições em Portugal são nacionais a todos os títulos (legislativas e presidenciais) e, no caso português, irão confrontar-se, em ambas, a direita e a esquerda tradicionais sejam quais forem os seus programas e os protagonistas em confronto. Quem for capaz de trazer mais inovação à disputa ganhará, mas é pequena a margem para a imaginação, e oxalá aconteça um milagre de ganhar não só quem tenha mais votos, mas quem irradie mais esperança!
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