Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, março 1
À BEIRA DE UMA NOVA GUERRA MUNDIAL
Escrevo pela primeira vez de forma direta acerca da Guerra da Ucrânia (se assim se pode designar), após estes dias de ameaças, mentiras e, finalmente, da invasão militar pela Rússia da Ucrânia. Não vou enveredar pela retórica politico-jurídica mas simplesmente dizer, de forma breve, o que penso e sinto acerca da presente situação. Trata-se de um ato de guerra de agressão de um país soberano, a Ucrânia, por um país agressor, a Rússia, com prévia, premeditada e longa preparação. A liderança politica da Rússia prossegue um sonho imperial através da guerra, lançando-se na conquista de territórios, lançando mão de meios convencionais. Não creio que possa ser descartada a ameaça de utilização de outros meios, como o nuclear, dando inicio a uma guerra generalizada, com inimagináveis efeitos destruidores de regiões inteiras, senão da própria humanidade. Tudo deve ser considerado possível, questionado e colocado nos pratos da balança. Tenhamos esperança que uma réstia de bom senso prevaleça na comunidade internacional, entre os povos e as nações, para que os danos da guerra encetada possam ser ainda reparados e a paz seja imposta pela opinião pública que se manifesta por todo o mundo com toda a força da sua crença no valor inestimável da vida e da liberdade.
domingo, fevereiro 27
Guerra ou paz? Democracia ou tirania?
Escrito de 14 de junho de 2015:
Um dia após o 13 de junho numa época em que o simbolismo das datas sofre tratos de polé. As fronteiras externas da UE após a euforia do alargamento, e com a emergência da crise, são o epicentro de uma crise não já financeira, mas politica. Os sinais são bastante explícitos mesmo para um leigo em ciência politica. A criação da moeda única sem orçamento único (fosse qual fosse o calendário da sua implementação e o modelo de gestão), e o arrastamento consequente do debate acerca de soluções politicas, de feição federalista, tornaram as regiões de fronteira da UE, cada uma com suas especificidades, bombas ao retardador - Ucrânia, Grécia, Portugal, Espanha, Itália... Não se vislumbram sinais de convergência no sentido de conciliar as democracias representativas, e seu fortalecimento, e os interesses estratégicos das grandes potências. Não é possível, todo o tempo, subalternizar o resultado politico de eleições democráticas sem por em causa o próprio modelo democrático. Se os povos concluírem que de nada vale, através do voto, escolher os governos, e respectivas politicas, não é de admirar que seja o próprio sistema democrático a entrar em colapso. Está a aproximar-se um tempo de grandes escolhas que se podem sintetizar em poucas palavras: guerra ou paz? democracia ou tirania? O que até há pouco tempo parecia um cenário de equações improváveis e longínquas torna-se cada vez mais presente até nos discursos dos mais altos responsáveis pelos estados.
RÚSSIA-ALEMANHA
Escrito de 18 julho de 2014:
Pode acontecer, e espero que aconteça, não estarem reunidas as condições para a eclosão de uma guerra. Mas as fronteiras da Europa, as nacionalidadese (e correspondentes nacionalismos), as rotas comerciais e, no nosso tempo, os pipelines, o domínio de espaço, terra mar e ar, sempre foram, fonte de conflitos bélicos. A Rússia sente-se cercada pela consumação passo a passo da estratégia alemã de reconstruir o seu velho império enquanto potência continental. A Inglaterra, a outra verdadeira potência europeia (marítima) hesita, protesta, ameaça, mas não rompe com a estratégia alemã, ou seja, com a UE. Chegamos assim, por estes dias, a um enfrentamento entre as duas grandes potências continentais: Alemanha e Rússia. Não sabemos o que se passa no seio da diplomacia e qual a verdade dos fatos que, neste preciso momento, ameaçam a paz. Mas pelas aparências, à distância, somente por sensibilidade, nunca estivemos, nos últimos muitos anos, tão perto de uma confrontação militar. [No dia do aniversário do inicio da guerra civil de Espanha - 18 de julho de 1936.]
sábado, fevereiro 26
GUERRA AO LONGE
Os portugueses vêem a guerra como realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Não conhecemos ao vivo os horrores da guerra na nossa rua, bairro, escola, vila ou cidade. Não sofremos dos seus efeitos destruidores na nossa vida, de familiares e de amigos. Temos sido poupados à guerra dentro das nossas fronteiras e julgamos-nos imunes às suas terríveis consequências. Nem se conhecem manifestos que expressem posições colectivas de repúdio pela guerra que, aparentemente, não nos diz respeito. Assistimos resignados à devastação de comunidades, e à morte de inocentes, com palavras e sentimentos de tristeza mas com timidos gestos de solidariedade. Podemos dizer que sentimos, mas não expressamos, em sobressalto colectivo expressivo, a nossa indignação. Julgo não ser injusto se disser que reina entre os portugueses, perante uma real ameaça de generalização da guerra, um silêncio sepulcral. O mais que se comenta é o impacto económico como se estivessemos imunes a qualquer estilhaço da guerra ao vivo e ficamos-nos pacatamente pelo anúncio do cumprimentos dos nossos compromissos no seio da NATO. E aguardamos que nos caia no regaço alguma vantagem.
quinta-feira, fevereiro 24
NÓS E A GUERRA
“É sempre vão pretender quebrar um laço de solidariedade, apesar da estupidez e da crueldade dos outros. Não se pode dizer: “Ignoro-o”. Colabora-se ou combate-se. Nada é menos perdoável que a guerra e o apelo aos ódios nacionais. Mas uma vez surgida a guerra, é vão e cobarde querer afastar-se a pretexto de que se não é responsável. As torres de marfim acabaram. A benevolência é interdita. Por si própria e para os outros.
Julgar um acontecimento é impossível e imoral se se está de fora. É no seio dessa absurda desgraça que se mantém o direito de a desprezar.
A reacção de um indivíduo não tem qualquer importância. Pode servir para qualquer coisa mas nada a justifica. Pretender, por diletantismo, afastar-se e separar-se do seu ambiente, é dar prova da mais absurda das liberdades. Eis porque motivo era necessário que eu tentasse servir. E se não me quiserem, é igualmente necessário que eu aceite a posição do civil desprezado. Em ambos os casos estou no centro da guerra e tenho o direito de a julgar. De a julgar e de agir.”
Albert Camus, in Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Para que se compreenda a problemática deste fragmento que muito me influenciou. Em Setembro de 1939, Camus está pronto para partir para a Grécia quando eclode a 2ª guerra mundial. Camus não quer escapar à guerra e apresenta-se como voluntário mas não é aceite devido à sua tuberculose.)
terça-feira, fevereiro 22
JOSÉ AFONSO - que viva!
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal.
domingo, fevereiro 20
OS TRÊS ABSURDOS
“21 de Fevereiro de 1941.
Terminado Sisyphe. Os três Absurdos estão acabados.
Começos de liberdade.”
Albert Camus, in
Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Camus refere-se à primeira trilogia constituída pelas obras reunidas em torno do conceito do absurdo: o romance “O Estrangeiro”, o ensaio “O Mito de Sísifo” e o drama “Calígula”.
A BANCA - UM POÇO DE VIRTUDES
"Uma investigação feita por mais de 160 jornalistas em 39 países com base numa fuga de informação partilhada pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung mostra como, ao longo de anos, o Credit Suisse abriu e manteve contas secretas controladas por políticos corruptos, ditadores, traficantes de droga e outros criminosos" (In "Expresso")
sexta-feira, fevereiro 18
RECORDAR, AVIVAR A MEMÓRIA
«Rolão Preto, ao entrar no Palácio das Exposições, saudado romanamente pelos camisas azuis em guarda de honra». [18 de Fevereiro de 1933, fotografia a preto e branco - Revolução, n.º 292, Lisboa, Portugal - Fotografia publicada no Revolução - Diário Nacional-Sindicalista da Tarde (1932-1933), de segunda-feira, 20 de Fevereiro de 1933.]
O banquete de homenagem a Rolão Preto, de 18 de Fevereiro de 1933, comemorava o primeiro aniversário da publicação do diário Revolução, no início subintitulado Diário Académico Nacionalista da Tarde, cujo primeiro número tinha saído em 15 de Fevereiro de 1932. In “O Portal da História”
quinta-feira, fevereiro 17
NOVIDADE? ONDE ESTÁ A NOVIDADE?
"O Governo da Bélgica acordou esta terça-feira um novo pacote de reformas económicas. Entre as medidas aprovadas está a opção de os trabalhadores condensarem o horário de trabalho semanal em apenas quatro dias e o alargamento do direito a desligar ao setor privado." (In "Expresso").
terça-feira, fevereiro 15
AI AGUENTA, AGUENTA ...
"“Sou o principal e primeiro responsável de tudo o que o banco fez nas matérias em apreciação durante esse período. Sou a pessoa mais capacitada”. Fernando Ulrich, presidente do conselho de administração do Banco BPI desde abril de 2017 mas sem funções executivas, começou por dizê-lo na sua sessão desta terça-feira, 15 de fevereiro, enquanto representante do BPI no julgamento de bancos que a Autoridade da Concorrência considera que trocaram informações sensíveis e confidenciais entre si." (In "Expresso").
sábado, fevereiro 12
GENERAL HUMBERTO DELGADO - HONRA À SUA MEMÓRIA
Passam amanhã 57 anos sobre o dia em que o General Humberto Delgado foi, cobardemente, assassinado pela PIDE.
O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a ruptura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria.
Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da acção militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965.
Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá.
Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea anti-salazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e acções, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras.
O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco.
O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos.
Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspectos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites.
SINAIS DE GUERRA
O ambiente está povoado de sinais de guerra. Discursos e mensagens ameaçadoras afirmadas, e feitas divulgar, por lideres políticos, as potências militares mostram as garras, os povos ainda não se deram conta das danças de guerra nas quais participam sem convite nem convocatória. Pode ser somente a vozearia do medo, ou a cortina que esconde a fraqueza oriunda das interdependências entre os grandes do mundo. Acreditemos que assim seja. Caso contrário a guerra não poupará nada, nem ninguém. Os sinais, por mais que imaginemos a emergência de forças contemporizadoras, assinalam os perigo típicos dos tempos que antecedem as guerras.
quinta-feira, fevereiro 10
MACRON - ATIVO TÓXICO
Macron é um ativo tóxico perigoso para a Europa e o mundo. A existência da UE periga cada vez mais com o afastamento politico na questão do nuclear entre a Alemanha e a França. Não parece possível a médio prazo a persistência do eixo franco alemão com tão profundas divergências na questão geoestratégica da energia. Se romper esta aliança o que nos diz a história é que teremos guerra. O problema na verdade não é a Rússia...
"A aposta no nuclear será um dos pilares da estratégia com que a França espera atingir a neutralidade carbónica em 2050. Esta quinta-feira, o Presidente Emmanuel Macron anunciou a construção de até 14 novos reatores nucleares, num discurso realizado numa cidade industrial do leste do país" (In "Expresso")
quarta-feira, fevereiro 9
Apontamentos políticos pós eleições (7)
O PR fez algumas declarações acerca do PRR na receção dos campeões da Europa de futebol de salão. No dia seguinte declarou que não declarava mais até ao dia da posse do governo (23 fevereiro). Faz bem. Só para nós: as dificuldades de execução do PRR não serão devidas à inépcia de nenhum governo mas do volume de investimento a executar num tão curto periodo de tempo. Não há em toda a Europa nem capacidade de produção, nem mão de obra disponível, para não falar da inflação e correspondente subida dos preços, das dificuldades nas redes de distribuição, ameaças de guerra para cumprir o PRR de forma integral em tal prazo... 2026 é já amanhã...
"O primeiro-ministro considerou hoje que as mais recentes mensagens do Presidente da República sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) se destinam a alertar o conjunto do país sobre a importância da rápida execução do programa." (Dos jornais).
terça-feira, fevereiro 8
Os movimentos protofascistas estão aí
Os movimentos protofascistas estão aí, com ampla cobertura dos OCS, de fininho ou à descarada, com o seu objetivo de sempre: destruir a democracia tomando o poder usando-a a seu favor. Os alertas são mais que muitos, cuidados e caldos de galinha, muita pedagogia e não temer utilizar os mecanismos democráticos para lhes barrar o caminho, antes que o caldo se entorne... .
"O “comboio da liberdade”, que partiu para Ottawa a 23 de janeiro, é impulsionado por grupos neonazis, negacionistas e anti-vacinas, guiados pelas ideias de James Bauder, um defensor de teorias da conspiração que apoiou o movimento QAnon e que definiu a covid-19 como “o maior golpe político da História”, escreve o “The Guardian”." (In "Expresso".)
Apontamentos políticos pós eleições (6)
"O Estado social deve ser modernizado, tornado mais enxuto, menos parasitado e mais focado em objetivos e metas. Enfraquecer o Estado social com a teoria do Estado mínimo, como pretendem velhos e novos liberais por crença acrítica no mercado, é destruir equilíbrios e pactos sociais de quase um século. Há registo de como se alcançou o Estado social, mas desconhecem-se os efeitos do seu desmantelamento." (Correia de Campos, in "Público".)
domingo, fevereiro 6
Apontamentos políticos pós eleições (5)
Oh Minha Senhora, Oh Minha Senhora ...dois primeiros versos de poema erótico de Drummond, ... "apanhado de surpresa" ...
"Marcelo prepara vigilância ativa
Apanhado de surpresa, PR festejou estabilidade ao centro e encara a maioria absoluta como uma exigente oportunidade. Para os dois?" (In Expresso/Ângela Silva)
sábado, fevereiro 5
Apontamentos políticos pós eleições (4)
Clara Ferreira Alves, na sua coluna no Expresso, faz um "libelo acusatório" contra os velhos portugueses. É uma forma velhaca de explicar a vitória do PS repondo a metáfora da "peste grisalha". A memória coletiva tem uma força indestrutível. É essa mesma memória coletiva que levou os alemães a criarem um "cordão sanitário" que impede a extrema direita de aceder a altos cargos nas instituições do regime democrático. Assim se faça também em Portugal sem medo nem pruridos, em defesa da democracia contra os seus inimigos.
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