segunda-feira, agosto 7

FUTEBOL

Os negócios do futebol profissional ressoam a sujidade, opacidade, enriquecimento ilícito. Tanto que gosto jogo, nada da envolvente do jogo.

quinta-feira, agosto 3

FRANCISCO

As notícias estão submersas, como seria de esperar, pelas jornadas da juventude e nelas pela figura do Papa Francisco. A sua presença e discurso transmitem uma energia de vida inesperada para os incautos e uma poderosa mensagem de abertura à diferença desde que, sem preconceitos, lhe prestemos atenção. Não é por acaso que os partidos de extrema direita, populistas, se afastam o mais possível, neste caso, do palco das jornadas e, em geral,do Papa Francisco. Ele é a mais forte personalidade a nível global na defesa da paz e da concórdia entre as nações, do respeito pelo outro e pelas diferenças entre cada um de nós. Dá para entender quando lança o grito de TODOS, TODOS...?

segunda-feira, julho 31

IGREJA CATÓLICA

Como seria de esperar só dá Jornadas da Juventude... É constrangedor ver como há gente, incluindo gente ilustre, que não entende a natureza do peso e papel da igreja católica. Podemos ser contra como sempre aconteceu ao longo do tempo com os laicos de todas as qualidades, nos quais me incluo. Mas há instituições que estão para além das circunstâncias e conjunturas pois fazem parte do bojo das comunidades, são fator de pertença, profunda e permanente. É o caso da igreja católica no nosso país pelo que o mais inteligente é aceitar mantendo o sentido critico. Tal como as forças armadas para os pacifistas, ou o movimento associativo para os estatistas, a igreja católica tem que ser no mínimo tolerada pelos laicos.

segunda-feira, julho 24

ESPANHA

"La resistencia del PSOE y Sumar frustra la mayoría del PP y Vox y deja abiertas todas las posibilidades". In El Pais. Uma noite agradável com os ventos de Espanha. As forças democráticas ganharam as eleições legislativas. Ao contrário das expetativas criadas, por ora, a Espanha não resvalou para a direita pura e dura. Nada mal...

quinta-feira, julho 20

EXTREMOS

Há um partido politico que tem muitos casos com a justiça - pelo que se sabe das notícias - mas a comunicação social não faz manchetes muito menos investiga. Outro do chamado arco do poder sendo de forma espetacular investigado, caiu nas bocas do mundo. Estranho?

sábado, julho 15

AMOR FIALHO - RIP

VERÃO QUENTE

A polícia saiu à rua num dia assim. Tabloidização integral da comunicação. Daqui a uma semana correm eleições em Espanha. Guerra na Europa e ameaças de alastramento. Os jovens vão sofrer o futuro. As JMJ são uma oportunidade para a paz. É aproveitar!

sexta-feira, julho 14

FERNANDO PESSOA - CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (Excerto)

Autobiografia? Carta a Adolfo Casais Monteiro (…) Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 in de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É, um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre. Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso.) Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.(*) Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo. Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é facto – que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.(**) Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa. Abraça-o o camarada que muito o estima e admira. Fernando Pessoa 14/1/1935

terça-feira, julho 11

S4Dias

"Paulo Macedo lamenta falta de mão-de-obra e é contra discussão de semana de quatro dias". In "Expresso". Ainda bem que a semana de 5 dias ganhou honras de cidade antes de Paulo Macedo ter tempo de antena.
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segunda-feira, julho 10

CORREIA DE CAMPOS

Acabada a leitura do 1º volume de Memórias, de António Correia de Campos. Uma viagem pelo mundo da economia da saúde, área na qual Campos se especializou. Deveria ser lido pelos responsáveis e profissonais da saúde para que conhecessem melhor a história desta área. O livro, no entanto, tem laivos de obra prima na sua primeira parte dedicada à familia e aos lugares. O afeto ganha nessas páginas iniciais na disputa com a digressão, com feição de reportagem, na parte da vida profissional do autor. Como amigo de Campos deixo uma mensagem de apreço e admiração pela sua carreira mais bem sucedida na vertente profissional do que na de político, carreira de que poucos se podem orgulhar.

sexta-feira, julho 7

CORPORAÇÕES

A vozearia que embrulha a luta das corporações por manter previlégios, vai para 150 anos sempre persistente, encerra hoje uma singular curiosidade. O senhor PR pressiona, de forma aberta, o governo para ceder aos sindicatos de professores na contagem do tempo de serviço. Não me lembro de tal ter antes acontecido, ou seja, o PR alinhar publicamente na defesa de uma corporação. Imagino no privado ...

quarta-feira, julho 5

PRAIA DE FARO

A imagem da esplanada é-me familiar. Passei lá muitas horas e lá sonhei muitos sonhos. Tinha ao fundo, junto ao balcão, uma caixa de discos daquelas de moeda. Tocava os êxitos da época, música francesa, Sylvie Vartan, Françoise Hardy, talvez Ray Charles … O charme dela era o ambiente. Juntávamo-nos na esplanada da praia para trocar roupas, olhares e afectos. Olhando a sua imagem compreendo a razão do seu desaparecimento: era uma estrutura leve que não sobreviveu à selvajaria do betão.(Praia de Faro, esplanada demolida e José Afonso com amigos, nela. À esquerda na foto parece-me ser o Bernardo Santareno)

terça-feira, julho 4

VERÃO

Nas férias de verão, em finais dos anos 60, costumava ir à boleia de Faro a Armação de Pêra. Era uma boleia certa. Ida e volta. Eu ia namorar. Mas um dia a boleia de volta falhou. Fiquei pendurado no sítio combinado. À beira da estrada. E nada. Fez-se noite e as minhas esperanças desvaneceram-se. Sem dinheiro, que só havia pouco, regressei a pé, à vila. A namorada já estava longe e perto. Em casa de seus pais e eu lá não ia. Na época não havia telemóveis e na casa de meus pais nem telefone fixo. Só na loja mas tinha encerrado. Não os pude avisar da minha ausência para o jantar. Havia que tomar medidas de emergência. Encontrar alguém amigo, ou conhecido, para pedir algum emprestado. A minha decisão, inevitável, tinha sido a de pernoitar em Armação de Pêra. Por sorte, à primeira volta pela vila, apareceu uma mão amiga. Procurei uma pensão. Havia quartos disponíveis apesar de ser verão. Sei que estávamos em 1968 pois retenho na memória as imagens dos Jogos Olímpicos, desse ano, que passavam na TV. Dormi e de manhã regressei ao ponto de encontro habitual na praia. O meu surgimento, cedo, foi uma surpresa. Breves explicações e o resto foram as carícias de um verão promissor. Águas límpidas e areias finas, beber a vida de um trago, a reencarnação da própria beleza... Nesse dia regressei a casa o mais depressa possível e, desta vez, sujeito ao horário do autocarro. Os meus pais não me pediram qualquer explicação, nem disseram uma palavra. Sofreram, em silêncio, a minha ausência inesperada. Imagino os seus receios e medos. Fiquei a admira-los ainda mais. A sua confiança em mim era ilimitada. Nunca os esquecia e eles sempre me perdoavam. (Fotografia: o meu pai Dimas.)