segunda-feira, dezembro 27

Educação no Cinzento - Alerta

O DN publica um artigo importante acerca do tema “educação”. Não é a estatística que é importante são as prioridades que dela emanam.

A ver com atenção pelos responsáveis pela preparação dos programas dos partidos políticos para as eleições de 20 de Fevereiros.

“Portugal falha metas na formação de adultos

Para alcançar os objectivos estabelecidos pela União Europeia (UE) em matéria de educação e formação, Portugal teria de melhorar as qualificações de pelo menos 3,1 milhões de adultos até 2010. Uma meta que o Governo reconhece ser impossível, mas que seria necessária para o País estar à altura do compromisso - assumido há três anos pelo Conselho Europeu de Lisboa - de tornar a UE na «economia baseada no conhecimento mais competitiva do mundo». (...)

Contas feitas, há 4,3 milhões de portugueses sem as qualificações necessárias - e não poderia haver mais de 1,2 milhões.”

domingo, dezembro 26

Pior do que previsto

No verão passado escrevi a propósito de Santana Lopes:

“O primeiro ministro está a cumprir o terceiro período de férias num mês. Como se estivesse cansado de um exercício que ainda não começou. É uma evidência ostentada que o governo tarda em instalar-se. No plano físico e orgânico. A substância da sua acção é a propaganda. Contratam-se assessores para produzirem notícias vistosas. O reformismo vai desvanecer-se e, finalmente, transformar-se numa nota de rodapé na encenação dos “benefícios para todos”. As aparições do chefe vão ser encenada para dar seriedade à comédia. No final do ano todas os desempenhos vão sair abaixo das previsões. O país paralisado ficará mais pobre. Mas a “corte” ficará mais rica.”

A encenação não resistiu ao trágico desempenho dos protagonistas. A minha avaliação era pouco severa para os comparsas.

No final do ano só uma realidade ficou de pé: “a corte ficou mais rica”.

Natal Frio

Até no Algarve como foi frio este Natal.

sábado, dezembro 25

Dúvidas, quais dúvidas...

Estou a escrever numa posição incómoda. Igual à posição das(os) assessoras(es) de imprensa do governo. Querem esclarecer o quê acerca do Fundo de Pensões da CGD? Os passos dos protagonistas do caso? No dia de Natal? Ridículo! Já não restam dúvidas acerca do caso. Dúvidas, quais dúvidas...

“Governo esclarece notícias sobre Fundos da CGD

O Governo português quis hoje “dissipar quaisquer dúvidas que possam existir, em virtude de notícias objectivamente erradas ou incompletas” sobre a transferência do Fundo da Caixa Geral de Depósitos.”


sexta-feira, dezembro 24

Natal

Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira

in "Cancioneiro de Natal"

quinta-feira, dezembro 23

Só Para Rir

Não é a plataforma que dá vontade de rir. Plataformas tem o PSD já duas, um pré e outra pós eleitoral. Esta não tem importância nenhuma.

O tom empolgado e triunfal do anúncio da “plataforma” por Pedro Santana Lopes, que vi nas TVs, é que é pungente.

PSD estabelece "plataformas" com MPT e PPM

"Nas últimas eleições legislativas, de 17 de Março de 2002, e ganhas pelo PSD, o Partido da Terra recolheu 0,28 por cento dos votos, correspondentes a 15233 votos, e o Partido Popular Monárquico 0,23 por cento, correspondentes a 12494 votos."

Fundo ao Fundo

Os trabalhadores da CGD afirmaram, hoje, que o Ministro Bagão Félix é mentiroso. Quem sou eu para os desmentir.

A CGD tem um fundo de pensões. Outras empresas criaram fundos de pensões. A CGD é a maior empresa do sector financeiro português. Um fundo de pensões é um “mealheiro” no qual se acumulam fundos para prover aos encargos futuros com as reformas dos trabalhadores.

É uma fórmula de “contrato de empresa” em prol da estabilidade laboral e da paz social. Alivia o Estado. É uma solução, em regra, preconizada por todos os políticos e gestores de bom senso mas sempre foi reivindicada pela direita.

A direita no poder, ironia das ironias, acaba de “nacionalizar”, o fundo de pensões da CGD. Primeiro uma parte, agora outra fatia, depois se verá… tudo para “benefício dos trabalhadores”. Já tinha acontecido o mesmo a outros. É uma tentação que estava à vista de todos face ao fracasso da “venda do património”, à pressão do tempo e à ditadura do deficit.

Este processo de liquidação (ou enfraquecimento) dos fundos de pensões é uma política a que fica ligado o nome de Bagão Félix. Às arrecuas é a direita radical no seu melhor. A direita radical (ou extrema direita), em Portugal, não é liberal, é mansa, beata e dissimulada além de populista e socializante, como todas, em qualquer parte do mundo. Bagão Félix é, no governo, o seu expoente máximo.

Estamos sempre a aprender. Se pensam que já viram tudo estão bem enganados. E o melhor ainda está para vir.

Um Baile de Bêbedos

A acção do Governo na vertigem de se manter de pé trocando os passos. É uma tragicomédia que o país vai pagar caro.

O Caminho das Figueiras

As figueiras e as suas sombras quentes são um laço que me prende à vida pela memória. Descia o caminho de casa à estrada e passava por elas, umas castelhanas, outras vulgares, de copas grandes e arredondadas, baixas e rasteiras e a todas conhecia de cor.

A minha mãe me ensinou o caminho para lhes chegar. Na época de verão, aí por Julho, os figos eram, quase sempre, suculentos. Arrancava-os com cuidado para uma cesta, primeiro os mais acessíveis, às minhas mãos de menino, depois os das ramadas mais altas, em bicos de pés.

Alguns sempre ficavam inacessíveis. Não me importava com esses. Nunca me importei com o que é inacessível a minhas mãos que não a meus olhos. Leitosos escorriam seiva e, por vezes, ressequidos, abriam fissuras finas por onde se iniciava a retirada da pele. Depois comia-os com prazer.

A apanha, a meio da tarde, era dolorosa. Ia-mos muitas vezes pela força do calor, como lá se diz, e ficava doente. Ou pelo sol que me fazia ferver a cabeça ou pelos figos que me descosiam o intestino. Ainda hoje algumas dessas figueiras estão à beira do mesmo caminho. A mais frondosa resiste defronte do antigo poço, abandonado, mas que noutros tempos alimentava de água o monte.

O prazer da sombra das figueiras, do cheiro ao campo, embebido no ar quente, do sabor dos frutos, colhidos à mão, nunca me deixou por um só momento. Somente, por vezes, descanso dele. É esse prazer físico da memória que me faz amar aqueles que me amam. E resistir às adversidades.

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Inspirado no “Lied da Figueira”, de René Char, poema com uma génese completamente diferente e que reproduzo:

Gelou tanto que os ramos leitosos
Enfadaram a serra e nas mãos se partiram.
A primavera não viu verdejar os graciosos.
A figueira pediu ao dono do lugar
O arbusto de uma nova fé.
Mas o verdelhão, seu profeta,
Na alva quente do seu regresso,
Ao pousar sobre o desastre,
Em vez de fome, morreu de amor.


“Regresso a Montante”
in O Nu Perdido (1964-70)

René Char
“Este Fanático das Nuvens”
Cotovia

quarta-feira, dezembro 22

O Governo Apodreceu

"Luís Nobre Guedes pondera demitir-se

Santana Lopes cancelou conferência de imprensa do ministro do Ambiente

A SIC sabe que o ministro do Ambiente está a ponderar apresentar a demissão, depois do gabinete do primeiro-ministro ter mandado cancelar uma conferência de imprensa marcada por Nobre Guedes para o início da tarde."

É Fartar Vilanagem

Correm notícias, oriundas das mais diversas fontes, de que continuam a chover exonerações e nomeações de responsáveis da administração pública e organismos autónomos do Estado.

As conversas são tidas às abertas e deixam perceber que muitos dirigentes, nomeados por este governo, continuam a tomar medidas que ferem os mais elementares conceitos de decência.

E não cessam de planear tomar outras para os próximos meses…Janeiro, Fevereiro, Março…até onde der…

Estes 40 e tal dias úteis, até 20 de Fevereiro, e os que se seguem, até à data da tomada de posse do novo governo, vão ser de autêntica “carnificina” populista, uma orgia despesista sem paralelo na história recente da democracia portuguesa.

Hoje, por exemplo, os funcionários públicos ficaram a saber que terão férias nos dias 24 e 31 de Dezembro (duas sextas-feiras) e ainda, à livre decisão dos dirigentes dos serviços, um dia à escolha entre 27 de Dezembro e 3 de Janeiro.

Para uma maioria que defendeu, como bandeira, acabar com as “pontes” não está nada mal. Lembram-se ou já se esqueceram?



Máquina Nova

Neste fim de semana que passou o meu velho computador deu o último suspiro. Tinha sido "herdado" de minha mulher quando reequipou o escritório. Só eu era capaz de conhecer as suas manhas.

Tudo o que publiquei, a partir de sábado, está fora de uma programação que sempre trago na cabeça. E foi necessário adiar a estreia da imagem. Fica para o ano.

O defunto já foi substituído com enormes vantagens para o utilizador mas invisíveis para o receptor. A alternativa foi adoptada sob conselho técnico de quem sabe e a operação de compra expedita. Obrigado Fred.

Mas resta sorver da memória do antecedente uma multidão - uma multidão mesmo - de textos que ficaram inacessíveis. Lá chegaremos.

O Melhor Ainda Está Para Vir

Não vinha o suplemento com o meu jornal!

Notícia falsa? Má distribuição? Sabotagem? Quero um suplemento desses do Dr. Morais Sarmento!

"Ministro recusa acusações de propagandaOE: Morais Sarmento justifica suplemento em jornais com necessidade de informar"

Esperem que o melhor ainda está para vir!

Castelo Branco


O interesse não está nas pessoas em si mas na necessidade de afirmação de uma marcação partidária pessoal. Mas afinal quem é Morais Sarmento para ombrear com o Secretário-geral do PS? E quem é que o PS coloca à cabeça em Lisboa para ombrear com Santana Lopes?

Ao contrário do que pensam muitos cépticos, nestas eleições, o sentido do voto dos portugueses foi decidido com muita antecedência. Não são os quarenta e poucos dias úteis de pré campanha e campanha, até 20 de Fevereiro, que vão alterar alguma coisa de essencial. A não ser uma qualquer hecatombe.

Até já o PSD percebeu isso pois o PP percebeu mais cedo.

terça-feira, dezembro 21

Retornos

A ler no Tugir. Neste caso ainda para mais porque refere o meu companheiro da madrugada do 25 de Abril de 1974 António Cavalheiro Dias.

As Finanças e os Ministros

Um dos cavalos de batalha da direita e dos comentadores “bem pensantes” é exigir o nome do futuro ministro das finanças de um governo PS. Tem de ser credível, dizem eles. E com razão, digo eu.

Pergunta: e os ministros da finanças dos governos de direita têm sido credíveis? O ministro Bagão Félix é credível? Como se mede a credibilidade de um ministro das finanças?

Pela condução da política financeira e da gestão orçamental...e, finalmente, pelos resultados, não é?

A Banca e o PR não são responsáveis pela condução da política financeira e orçamental do Estado!Mas, para este governo, servem de bodes expiatórios dos fracassos dessas políticas.

Ver aqui uma descrição impediosa do último episódio.

Desejo de regresso à juventude

Na recepção do consultório médico uma senhora de canadianas acompanhada pelo marido:

Primeira consulta?
Sim!

Vamos preencher a ficha. Nome:
Fulana de tal...

Data de nascimento.
10 do tantos de 1963...
(Incredulidade geral)

Ela, por entre gargalhadas:
...1936!

Ficou reposta a normalidade cronológica.

segunda-feira, dezembro 20

Toada Em Louvor Dos Sacanas

Há no ar uma abundância de silêncios como se a vida tivesse parado
Há um imenso esquecimento de notar a própria ausência e passar ao lado
Há ânsia de sobreviver como se o adquirido desse para viver a vida inteira
Há vidas vividas sem outro sentido que não seja esquecer o já vivido
Há um nada querer que não me interessa mesmo que gritem e me chamem
Há um descrer sincero que se danem que se mordam de vazio e de nada
Há quantos anos lhes conheço as manhas de seus cérebros sem destino
Ah! Sei que estão nos gabinetes a fazer reuniões, pareceres e despachos
Há quanto tempo os desprezo como ratos que rastejam em busca de trigo
Há mãos que lhes enfiam na boca prebendas finas de mastigação obscena
Há traidores que vivem sempre no recato dos poderes que os acolhem
Há inertes geniais sem projectos nem ideais abençoados por Deus
Há até chefes desprezados pelos subordinados que os amam e odeiam
Há um momento qualquer em que o lugar fica extinto ou esvaziado
Há um dia em que saltam e zás-pás partem as pernas ao cair da cadeira
Há o sentido do dever que dá um estatuto a todos os sacanas nacionais
Há sacanas amigos conhecidos e inimigos iguais na espera de mais
Há os que estão de joelhos abandonados pensando que vão ser alguém
Há personalidades sem pedigree que são incomensuráveis e imortais
Há que as deixar todas apodrecer de vergonha no lugar a morrer de tédio
Para que não sejamos cúmplices do sofrimento das suas vitimas inocentes
E não tenhamos de perder tempo a verter uma lágrima ou sequer a fingir
Pena por termos sentidos alegria pela sua morte pois como bons sacanas
Nacionais nem sequer darão conta que morreram e não são precisos mais.

(Como é hoje o primeiro dia após o primeiro ano de vida do absorto, a título excepcional, aqui vos deixo mais um poema)

Pior é Impossível?

Todos os indícios apontam para que o governo não vai abrandar até 20 de Fevereiro.O que quero dizer?

Em menos de dois meses vão chover habilidades, provocações, nomeações, exonerações, lançamento de concursos, ajustes directos (muitos), celebração de contratos, adjudicações e todo um estendal de malfeitorias diversas que têm estado em banho- maria.

Aqueles que pensam que o pior já passou que se desiludam. Este governo ainda vai mostrar muito “trabalho”.

E não me refiro à campanha eleitoral propriamente dita.

Desequilibrios

Não estamos a falar da “pesada herança” do governo socialista! Lembram-se? Dois anos a zurzir na “gestão despesista” do governo PS, no descalabro da situação das contas do Estado, na iminência da bancarrota, no déficit excessivo (4,2% em 2001?)!

Soube-se agora que o Eurostat chumbou a proposta de“cedência temporária de edifícios públicos” destinada a “disfarçar” o déficit de 2004.

Saber-se-á, um dia, qual o déficit real de 2003 e 2004? Será de 5%, ou mais?

Os “hábitos de consumo dos portugueses” carregam com as culpas! Mas aos governos compete tomar iniciativas e gerir as expectativas, não é?

"Desequilíbrio Externo Dispara em 2004
DÉFICE COMERCIAL EM 8,6 POR CENTO DO PIB, O NÍVEL MAIS ELEVADO DESDE MARÇO DE 2002


Os hábitos de consumo dos portugueses totalmente dependentes da oferta vinda do exterior - casos dos computadores, dos televisores, dos vídeos, dos telemóveis, para já não falar dos automóveis e da generalidade dos electrodomésticos - estão na base de um novo disparo no desequilíbrio das trocas comerciais."