sexta-feira, junho 17

Bicicleta ao Sol Nascente em Fuzhou


Junho de 2005. Fotografia de M.R.

A bicicleta ao sol nascente. De manhã cedo – 6,30 h. - ouve-se a música. Depois do pequeno almoço o passeio em torno do lago. As pessoas juntam-se e, em comunhão com a natureza, preparam-se para exercitar o corpo e o espírito antes de mais um dia de trabalho.

(A minha mulher, M.R., é a autora da série de fotografias que, a partir de hoje, vou postar. A sua visão da China não é a de uma turista mas a visão de alguém que trabalha em contacto directo com a sociedade e a produção, a chamada “China real” ).

quinta-feira, junho 16

Introdução à Inglaterra


A ler no Dias com Àrvores

(…)

“Em Portugal, é diferente: tudo se perde, e nada se transforma. Aqui, perto de mim, nesta aldeia do Buckinghamshire de onde escrevo(*), para além destas árvores magníficas onde há pássaros e passeiam esquilos, está o velho cemitério acerca do qual Gray escreveu um dos mais belos poemas do século XVIII (**). Toda a gente aqui sabe disto, e é difícil distinguir quem está em dívida, se o velho cemitério à volta da igrejinha, se o sábio e catedrático Gray.»

Jorge de Sena, Sobre Literatura e Cultura Britânicas (ed. Relógio D'Água, 2005)(*)

Stoke Poges(**)

Elegy Written in a Country Church-Yard de Thomas Gray (1716-71)

FUNERAL DE ÁLVARO CUNHAL


Foto da Catedral

“Há uma única fatalidade que é a morte e fora da qual não há fatalidade. No espaço de tempo que vai do nascimento à morte, nada está fixado: pode alterar-se tudo e mesmo suspender a guerra e mesmo manter a paz, se o desejamos verdadeiramente, muito e durante muito tempo.”

Camus, in “Cadernos”

Red Roof Cottage


Red Roof Cottage [ oil on canvas 36 x 36 in]

Huang Duo Ling was born in 1950 China. In 1976, she graduated from Tianjing Academy of Fine Arts with B.A. degree on oil painting. In 1988, she graduated from Brooklyn College, The City University of New York. She lives and works in New York.

(Série - Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

quarta-feira, junho 15

ACDC e CHE


A mochila do meu filho no fim do ano lectivo. Mais importante que ela – quase destruída – talvez sejam os símbolos que ostenta. As imagens dos ACDC e do Che.

A juventude, o inconformismo e o espírito de aventura de hoje buscam imagens que julgaríamos perdidas no saudosismo do passado.

Como, por vezes, nos enganamos ao julgar os nossos próprios símbolos!

A JOVEM Y


In Sabor a Sal

Um dia recebi uma carta de alguém que não conhecia mas que desejava apresentar uma questão que me interessou. Era alguém familiar de uma jovem licenciada que tinha sido atingida por uma doença grave.

O CV não deixava dúvidas acerca do valor da jovem Y e não foi difícil decidir pela sua admissão para um estágio. Foi o que comuniquei, pessoalmente, à pessoa que me procurou. Não mais esquecerei as suas palavras, lágrimas nos olhos, à despedida: “Não sabe o bem que acaba de fazer”. A integração foi difícil mas o mais importante estava feito. A jovem Y trabalhou, criou amizades e casou.

Com a integração da jovem Y a administração pública ficou mais pobre ou mais rica? Não interessa pois nada de verdadeiramente relevante é contabilizado pela administração pública. Os afectos, as dedicações e as competências estão lá mas pouco contam. O que conta é a passagem do tempo de serviço e pouco mais.

A jovem Y, para a administração pública, não contava para nada mas para mim contou para muito. Não mais a esqueci.

segunda-feira, junho 13

SHOE


Shoe [oil on canvas - 18 x 24 in]

Wang Yi Qi was born in 1958, China and graduated from Tianjing Academy of Fine Arts with B.A. degree at 1983. In 1986, he graduated from advance class of oil painting , Central Academy of Fine Arts. Now he lives and works in New York.

(Série - Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

EUGÉNIO DE ANDRADE (II)


Foto "Público" - (post escrito um ano atrás com dois poemas).

Ouvi dizer, e é público, que o Eugénio de Andrade está muito doente. Não serve de nada glosar as doenças nem chorar a morte dos poetas. Eles quando são verdadeiros ficam sempre vivos. Quando são grandes tornam-se imortais. Não sei se Portugal segue esta regra universal. Aqui somos mais dados à inveja e ao esquecimento. Quanto mais obra e obra mais aprimorada, sem vénias, nem costas curvadas, pior para o protagonista.

Não são palavras amargas, suficientemente amargas, as que digo. São o menos que se pode dizer de um país que inverte em tudo a hierarquia da importância das coisas. E da importância dos homens. Por isso não te admires se fores votado ao esquecimento. A tua glória já dura há muito tempo. És, graças a Deus, admirado em vida. Admirado por aqueles que merecem admirar-te. Não interessa nada admirar-te na doença. Muito menos na morte.

Tenho aqui na minha frente uns quantos poemas dedicados a heróis e amigos mortos: Guillaume Apollinaire, Augusto Gomes, Vicente Aleixandre, Kavafis, Che Guevara, José Dias Coelho, Casais Monteiro, Pier Paolo Pasolini, Jorge de Sena, Ruy Belo, Carlos Oliveira, Vitorino Nemésio e tantos mais. Teus heróis e amigos. Um poema destes vale mais que todas as homenagens da praxe com regresso garantido ao baú das memórias. Ainda para mais quando sabemos que estão na fila de espera um ror de poetas vivos, e de saúde, para ser condecorados.

A CASAIS MONTEIRO,
PODENDO SERVIR DE EPITÁFIO


O que dói não é um álamo.
Não é a neve nem a raiz
da alegria apodrecendo nas colinas.
O que dói


não é sequer o brilho de um pulso
ter cessado,
e a música, que trazia
às vezes um suspiro, outras um barco.


O que dói é saber.
O que dói
é a pátria, que nos divide e mata
antes de se morrer.


Setembro, 72

A JORGE DE SENA,
NO CHÃO DA CALIFÓRNIA


É por orgulho que já não sobes
as escadas? Terás adivinhado
que não gostei desse ajuste de contas
que foi a tua agonia?
É só por isso que não vieste
este verão bater-me à porta?
Não sabes já
que entre mim e ti
há só a noite e nunca haverá morte?


Não te faltou orgulho, eu sei;
orgulho de ergueres dia a dia
com mãos trementes
a vida à tua altura
-mas a outra face quem a suspeitou?
Quem amou em ti
o rapazito frágil, inseguro,
a irmã gentil que não tivemos?


Escreveste como o sangue canta:
de-ses-pe-ra-da-men-te.
e mostraste como não é fácil
neste país exíguo ser-se breve.
Talvez o tempo te faltasse
para pesar com mão feliz o ar
onde sobrou
um juvenil ardor até ao fim.


No que nos deixaste há de tudo,
desde o copo de água fresca
ao uivo de lobos acossados.
Há quem prefira ler-te os versos,
outros a prosa, alguns ainda
preferem o que sobre a liberdade
de ser homem
foste deixando por aí
em prosa ou verso, e tangível
brilha
onde antes parecia morta.


Às vezes orgulhavas-te
de ter, em vez de uma, duas pátrias;
pobre de ti: não tiveste nenhuma;
ou tiveste apenas essa
que te roía o coração
fiel às palavras da tribo.


Andaste por muito lado a ver se o mundo
era maior que tu – concluíste que não.
Tiveste mulher e filhos portuguesmente
repartidos pela terra,
e alguns amigos,
entre os quais me conto.
E se conta o vento.


Agosto, 1978

(Post publicado, cerca de um ano atrás, quando soube, ao certo, da doença que atingira o poeta. Ao poema dedicado a Casais Monteiro, aquando da sua morte, junto outro que Eugénio de Andrade escreveu quando teve conhecimento da morte de Jorge de Sena).

ÁLVARO CUNHAL E NERUDA


La Lámpara Marina (Ver aqui a versão integral com os desenhos de Álvaro Cunhal)

Pablo Neruda

El Puerto Color de Cielo

I

Cuando tú desembarcas
en Lisboa,
cielo celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
las ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.
Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

EUGÉNIO DE ANDRADE

Tenho lá em casa um livro recente com uma dedicatória que lhe pediu a Manuela. Muitas vezes lhe pego, folheio e releio. Sei do peso das palavras mesmo quando as palavras na sua voz se tornam leves. Aprendi a fúria dos silêncios e a doçura das ausências. A amar quem nos ama e a fingir que se esquece quem nunca se esquece. Li há pouco os poemas que dedicou aos amigos mortos. Nunca desesperados, como que pacientes ralhetes, tão belos, sem rancores nem invejas. Eugénio de Andrade morreu. É a lei da vida. Vejo o mar desta janela. Toldado por nuvens ameaçadoras de chuva. O que me apetece dizer quando morrem em catadupa as velhas glórias do passado de todas as lutas mesmo que delas não partilhemos o sentido é o silêncio. Mas Eugénio de Andrade libertou as palavras das grilhetas que as prendiam, deixou que elas dissessem tudo o que entendessem, disse-nos, pacientemente, que as palavras não se querem aprisionadas pelo silêncio. Que viva!

INATEL - 70 ANOS

Celebra-se hoje o 70º Aniversário do INATEL. Presidi aos destinos desta prestigiada organização 7 anos. Devo ser, pois, o cidadão português, vivo, que durante mais tempo exerceu aquelas funções.

Tomei conhecimento que o Senhor Presidente da República , neste 10 de Junho (Dia de Portugal) atribuiu ao INATEL uma condecoração pelos méritos no desempenho das missões que o Estado lhe tem conferido, desde 1935, primeiro com a designação de FNAT e posteriormente ao advento da liberdade e democracia como INATEL.

Não tenho duvidas acerca do merecimento desta distinção. A este propósito poder-se-á afirmar que nunca é tarde demais, mas sempre prefiro tomar, para meu descanso de alma, o sábio ensinamento que Camões nos deixou nos seus límpidos versos:

Porque essas honras vãas, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão à gente,
Melhor é merecê-los, sem os ter
Que possuí-los sem os merecer....

No que respeita à minha contribuição (e de todos os que me acompanharam) para os méritos da acção do INATEL acompanho Tomaz Kim quando sintetiza o conceito de Tradição: “é um conceito dinâmico que envolve um lúcido sentido histórico aliado à força criadora dos que a perpetuam, rejuvenescendo-a, por se saberem integrados num património universal e vivo”.

Assim soubessem todos os governantes que, no passado recente, assumiram a tutela política do INATEL ser fiéis e honestos guardiões deste conceito dinâmico da Tradição honrando a memória dos mortos e defendendo a honra dos vivos.

domingo, junho 12

CAMÕES

E, num passo único na literatura universal, descreveu ele [Camões] inegualávelmente, como já o fizera em “Sobolos rios” para os “cantares de amor profano por versos de amor divino”, o drama da hesitação fáustica, peculiar a todos os poetas que foram grandes por uma consciência genial da estruturação dialéctica da representação do universo –

Ah falso pensamento, que me enganas!
Fazes-me por a boca onde não devo,
Com palavras de doudo, e quase insanas!
Como alçar-te tão alto assi me atrevo?
Tais asas dou-tas eu, ou tu mas dás?
Levas-me tu a mim, ou eu te levo?
Não poderei eu ir onde tu vás?
Porém, pois ir não posso onde tu fores,
Quando fores, não tornes onde estás.


Jorge de Sena

Excerto de “A Poesia de Camões” – Ensaio de Revelação da Dialéctica Camoneana (Conferência lida no Clube Fenianos Portuenses, em 12 de Junho de 1948).

In “Cadernos de Poesia” – Fascículo Sete – Segunda SérieLisboa, Junho de 1951

sexta-feira, junho 10

A POESIA DE CAMÕES


“Foto de António José Alegria, do amistad”

"A Poesia de Camões" por Jorge de Sena (excerto)

(...)

“E de facto, para a popularidade, a narração amplificada e amplificadora das glórias nacionais valeu e vale no poema, [“Os Lusíadas”] por contraste, e porque, a cada passo, surgem aqueles trechos candentes de juízo final, como este:

No mais Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada, e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda, e endurecida:
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a pátria, não, que esta metida,
no gosto da cubiça, e na rudeza,
Dhua austera, apagada, e vil tristeza, (*)

Ou este:

E ponde na cobiça hum freio duro,
E na ambiçam também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente:
Porque essas honras vãas, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão à gente,
Melhor é merecê-los, sem os ter
Que possuí-los sem os merecer.

(…)

- trechos bem pouco épicos, bem pouco adequados à cantoria que a retórica balofa se esforça por extrair dos Lusíadas mas, apesar de tudo, épicos por contradição, na medida em que a pessoal revolta se desprende dos seus próprios problemas e se arroga o direito, não de julgar e condenar, o que seria pouco e amarrado ao tempo, mas de desmascarar a situação colectiva.

É neste mesmo sentido que a longa e célebre fala do Velho do Restelo, em que se tem querido ver o Portugal da terra contra o Portugal dos mares, ou ainda, o espírito de prudência contra o espírito de aventura, é, principalmente, a expressão – “com saber só d´experiencias feito” – da “misera sorte, estranha condição”: a originalíssima irrupção, no plano da criação épica, do valor intrínseco e precário da vida humana como tal afirmado por um homem que, numa canção, enlevado na angústia perene da sua meditação afirma –

Não cuide o pensamento
Que pode achar na morte
O que não pode achar tão longa vida

(*) Todas as citações do épico são feitas do fascimile da 1ª edição de "Os Lusíadas” pois que aí se entende tudo o que os gramáticos tem conseguido que não seja entendido.”

Jorge de Sena

Excerto de “A Poesia de Camões” – Ensaio de Revelação da Dialéctica Camoneana (Conferência lida no Clube Fenianos Portuenses, em 12 de Junho de 1948).

In “Cadernos de Poesia” – Fascículo Sete – Segunda Série
Lisboa, Junho de 1951

quinta-feira, junho 9

DIA DE PORTUGAL


In “O Portal da História”

Luís de Camões. [Gravura do frontispício da edição dos Lusíadas do Morgado de Mateus.]

Os Lusíadas, Poema Épico, Paris, Na Oficina Typographica de Firmin Didot, 1817 - Gravura aberta por F. Lignon, sobre um desenho de F. Gérard e enquadramento de L. Visconti, para a edição de Os Lusíadas, realizada em Paris para D. José Maria de Sousa Botelho, conhecido por Morgado de Mateus.

Luís de Camões morreu em 10 de Junho de 1580. O dia tornou-se em 1924 o Dia da Raça e assim será comemorado durante o resto da República e no Estado Novo e, em 2 de Março de 1978, passou a ser o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.


Arriba España


Zapatero vuelve a ‘pronosticar’ buenos datos del paro, en una España que va "más que bien”

ELPAIS.es - Economía - 09-06-2005


El presidente del Gobierno ha vuelto a vaticinar que, después de los datos positivos del empleo en el mes de mayo, en junio se mantendrá esa tendencia tanto en la creación de puestos de trabajo como en la afiliación a la Seguridad Social.

José Luis Rodríguez Zapatero aseguró que la economía española marcha “más que bien”. "Nuestro crecimiento se acelera, invertimos en bienes de equipo, creamos empleo con intensidad, disminuimos el paro, fortalecemos la Seguridad Social y convergemos con Europa", añadió el presidente en su intervención ante el Foro que celebran en Madrid las Cajas de Ahorro.

Zapatero, que ya fue criticado por adelantar la semana pasada, en la apertura del 39 Congreso Confederal de UGT, los datos de creación de empleo y afiliaciones a la Seguridad Social, ha vuelto a hacer un ‘pronóstico’ de los datos que se deberán conocer el próximo mes.

Sólo es un pronóstico


El presidente aseguró que nadie le puede acusar ahora de "jugar con ventaja" si a día de hoy, 9 de junio, hace un pronóstico sobre la evolución del empleo y la afiliación a la Seguridad Social correspondiente al mes en curso.


"Preveo que los datos de empleo y de Seguridad Social serán también este mes muy positivos, y estoy seguro -añadió- de que este pronóstico alegrará a la mayoría de los agentes económicos que ven con optimismo el futuro de nuestra economía y de nuestro país".

quarta-feira, junho 8

RUY CINATTI


VIGÍLIA

PARALELAMENTE sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua subreptìciamente
Com voz semelhante à minha. O melhor mundo
Está por descobrir. Não segue a lua
Nem o perfil da proa. Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado e oculto.

Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixes à tona de água
E precipitam asas nas esteiras de luz.
Da vida nada se leva, senão
A melhoria de um paraíso sonhado
E procurado
Com ternura, crueldade e espírito sereno.

Doçura luminosa de um olhar ameno,
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras.

Rui Cinatti

Atlântico, Agosto, 1950

In “Cadernos de Poesia”
II Série – Lisboa/1951

Cadernos de Poesia
Campo das Letras

Yuan Zuo


Blue Hill Has A Lots of Pine Tree
[oil on canvas - 40 x 30 in]

Yuan Zuo - 1981, The Central Academy of Fine Art. Beijing, China. 1982. University of Wisconsin. Milwaukee, Wi. 1985, B.F.A. Massachusetts College of Art. Boston, Ma. 1985, M.F.A. Massachusetts College of Art. Boston, Ma.

(Série - Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

FIM DAS SUBVENÇÕES VITALÍCIAS

Aqui está uma proposta que se julgaria, uns tempos atrás, quase impossível de formular.

Os detractores do governo socialista (incluindo muitos socialistas) vão-lhe achar defeitos sem conta. Mas quem quiser ser honesto terá que reconhecer que é uma proposta corajosa pois os políticos limitarem os seus próprios privilégios está muito para além do que a opinião esperaria deles.

Fixem bem o significado desta medida ainda mais quando alguns ministros que beneficiam da lei, actualmente em vigor, aceitarem perder regalias continuando em funções sujeitos às regras da nova lei.

Então dir-se-á que deveriam não aceitar perder regalias! Que algum outro benefício se esconde por detrás desta decisão! Mas se a lei for aprovada no parlamento, sem desvirtuamentos, terá sido dado um passo significativo para dignificar a democracia, as suas instituições e a classe política.

"Governo aprovou fim das subvenções vitalícias
O Governo aprovou esta quarta-feira, em Conselho de Ministros, a proposta que prevê o fim das subvenções vitalícias para titulares de cargos políticos, incluindo o chefe do Governo. Ficam de fora o Presidente da República e os presidentes das regiões autónomas."

Incêndios

Tenham paciência. Não sei nada de meios aéreos. Nem sequer sei se são muito importantes para o combate aos incêndios. São certamente um bom negócio. Ao contrário da prevenção que não deve ser negócio nenhum de jeito pois nunca dá origem a declarações na TV de empresários com ar muito senhores de si.

Dou de barato a questão da complexidade técnica e da delicadeza política das opções a tomar a respeito da contratação dos meios aéreos de combate aos incêndios. Em pouco tempo o governo terá sido obrigado a analisar procedimentos já lançados e avaliar da sua bondade legal e financeira.

Mas estava escrito nas estrelas que, este ano, os incêndios iam começar cedo. A seca severa não deixava margem para dúvidas. Toda a gente o dizia pelas esquinas e nem seria necessário conhecer a avaliação dos especialistas, aliás todos eles, membros dos chamados “corpos especiais” da administração pública!.

O governo sabe, a propósito dos incêndios e de tudo o resto, que é fraco o argumento de lançar as culpas dos atrasos e da inépcia para o governo anterior. No caso do combate aos incêndios havia que legislar de emergência para fazer face a uma - mais que previsível - situação de emergência. Não sei se foi isso que o governo fez. Mas se foi não parece.

Canalhice

A funcionária X, um dia, suicidou-se. Na véspera alguém lhe tinha proibido o acesso à casa de banho do andar da administração. O mais certo é ter sido uma coincidência mas a dúvida persistiu. A prepotência deprime as pessoas de boa vontade e gera a revolta. Praticada pelos grandes é a antecâmara da tirania; praticada pelos pequenos é a vingança dos humilhados sobre a sua má sorte.

A prepotência é sempre, em qualquer circunstância, uma canalhice sem nome. Nunca mais esqueci o rosto e a figura da funcionária X . Bailam na minha memória.

terça-feira, junho 7

Ma Lin


The Floating Cloud [oil on canvas - 100 x 90 in]

Ma Lin was born in 1964, China, and graduated from Tianjin Academy of Fine Arts in 1993. Later he graduated from Central Academy of Fine Arts, advanced class with oil painting. He lives and teaches in China, who paints with great detail, also has solid realist skills. He painted surrealistically, interpreting anxiety unease, and frightened moods. His people and horses were put in that moment just before a storm arrives.

(Série “Artistas Chineses”)

in Tao Water Art Gallery

O MENINO IMAGINOSO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Já não tenho o meu livro azul
e olho obstinadamente
aquela janela sempre fechada
que dá para a rua estreita,
onde à noite,
cirandam mulheres que parecem sombras
e sombras
que parecem mulheres.
Os meus,
arriscam feijões ao lôto
e beberricam licor de tangerina,
naquela maneira sisuda,
com que afrontam
todas as coisas da vida.
E das minhas tristezas …
fingem nada saber.

Já não tenho, o meu livro azul …
onde vinha a história
do limpa-chaminés,
que espalhou uma mão cheia
de bagas vermelhas
nos cabelos anelados
e cantava canções,
que ninguém mais sabia.
E a história do sapateiro
que se fez pescador de sereias,

e corria os mares
do cabo do mundo,
a tocar
na concha dum búzio!
E mais a história
do estudante desatinado,
que andava com os cabelos
ao léu,
atirava pedras aos velhos
e fazia caretas às virgens.
E na rua pior afamada
dum bairro mal freqüentado,
deixou fugir a vida
por sete golpes de navalha!

Já não tenho, o meu livro azul …
onde tudo era insensato,
- no dizer da tia Joaquina,
que anda de mal com a vida
porque tem um cancro
num sítio.
Era o pescador
tão pobre, tão pobre,
que nunca tinha em casa
um dia de sossêgo,
mas uma vez achou um tesouro
e foi esbanjá-lo todo,
em lençois de linho.
E era o capitão que veiu da guerra,
com muitas estrêlas ao peito!
Mas tinha mêdo
de dormir sozinho,
no quarto grande
e só cantava de galo,
quando olhava o sol.
E era a história do menino-que-tudo-sabia,
mas perdeu uma vida inteira
com mêdo de sair à rua.
E mais a história engraçada
daquele senhor de bôas-maneiras,
que tinha geitos de palhaço,
e um dia foi com os saltimbancos
pelas feiras de todo o mundo,
a fazer rir tôda a gente!

Já não tenho, o meu livro azul …
e eu bem sei
como o perdi.
-Naquêle serão alto,
meu pai admirou-se de ser noite velha
e começou de esfregar nos joelhos,
com aquele geito
que sempre me assustou.
“Quinze anos em Janeiro,
estás um homenzinho!
passado domingo …
vais para a loja do tio António,
aprender …
a ser um homem!”
E quando lhe pedi
- sua bênção, paizinho,
já me não deu o beijo de tôdas as noites,
mas tocou-me no ombro
uma palmada mansinha,
Minha mãe,
afastou a costura e afagou-me os cabelos,
com a mão em concha.
Sem saber porquê,
senti que ia chorar …
Quando o ôvo de pau lhe saltou do colo
e se pôz a correr pela casa,
como coisa doida!

Já não tenho, o meu livro azul …
e passado domingo …
lá vou para a loja do tio António.
O tio António …
Que mal topa espelho,
deita logo de fora
uma língua grossa e branca,
como eu nunca vi outra.
Eu bem conheço,
a loja do tio António,
onde está um rapaz com sardas na cara
e mais um manequim,
com um olho vasado.
É lá no canto escuso
daquela praça larga,
onde há pombos, que não fogem da gente!

Manuel Ribeiro de Pavia

“Cadernos de Poesia – 3”
Lisboa/1940


In Cadernos de Poesia
Campo das letras

A quem interessa a guerra?

Domingo passado, numa entrevista ao Público, Attali fez um alerta para os perigos de uma nova guerra mundial: “As três primeiras mundializações acabaram com guerras; a quarta corre o mesmo risco”.

Ontem José M. Fernandes, em editorial, no mesmo jornal, volta ao tema. Um ministro italiano, depois outro, em poucos dias, falam do abandono do euro e do retorno à lira.

As notícias más propagam-se como fogo em floresta ressequída. Os governos dos países, nos quais se deveriam realizar referendos ao Tratado Constitucional, sob a chantagem dos riscos de vitórias do “não”, ponderam (e consumam) o adiamento da consulta popular. A Inglaterra já seguiu esse caminho.

A Europa está numa encruzilhada. A quem interessa o fim da UE? A quem interessa a guerra? Eis duas perguntas cada vez mais sérias e menos esotéricas!

"Maluco"

Ainda nesta série acerca da administração pública. Encontrei o velho amigo B. numa pastelaria do bairro com a sua jovem mulher e o rebento. Sempre o tenho visto, ao longo dos anos, nas mais diversas situações do quotidiano. Cruzamos-nos nos mesmos espaços. É um alto quadro da administração fiscal.

Desta vez deu para falar. Mostrou-me uma carta, que agora trás sempre carteira, onde lhe comunicam as razões pelas quais não pode aceder ao lugar para o qual se classificou. A razão essencial traduz-se numa palavra simples: “maluco”. No caso pareceu-me o paradigma do bem estar: “o maluco feliz”. O mais interessante é que fiquei a saber quem, segundo ele, manda, de facto, na administração fiscal. Surpreendente.

segunda-feira, junho 6

Labirinto


Foto de uma por rolo

A administração pública é um labirinto [Houaiss: “lugar com muitas passagens entrecruzadas que dificultam encontrar a saída.”]. A experiência diz-me que das duas uma: ou sobrevivem os piores, aqueles que desistem de encontrar a saída, ou os “espertos”, aqueles que sempre fazem crer que encontraram a saída certa. Cavaco Silva nos tempos áureos do seu consulado governativo definiu a “solução final” para a administração de uma forma pouco subtil: reforma-se deixando morrer os sobreviventes.

O labirinto tem regras próprias que raramente são as regras que a comunidade/estado atribui à administração pública. O labirinto exige uma administração dentro da administração. Quem administra o labirinto está, por norma, condicionado, pela clientela dos sobreviventes que se alimentam do próprio labirinto.

Mal daquele que afronte o poder dos sobreviventes que se funda nos chamados “direitos adquiridos”. Daqui resulta que o trabalho da administração sendo, quantas vezes, desprezível para a comunidade é uma preciosidade para os sobreviventes. Que são muitos e, a mor das vezes, estimáveis.

Nunca mais esquecerei o caso do Sr. L. que não aceitou nunca ser promovido. O Sr. L. , além de não se sentir merecedor de reconhecimento, não queria correr o risco que lhe fosse, em qualquer circunstância, pedido para deixar de entrar e sair às horas certas pois tinha que tratar dos pais.

A excepção e a regra

A propósito das medidas e notícias acerca da administração pública nos últimos dias. A revelação mais notável: na administração pública a excepção é a regra. Quem obedece à regra torna-se numa verdadeira excepção. É o caso de alguns (poucos) entre os quais me incluo. Pode tornar-se perigoso jogar o jogo como se a regra fosse a regra e não a excepção.

domingo, junho 5

IDEIAS



Honra : Brio : Dignidade :
Onde estais? Quem vos présa?
- Não posso viver pobre. – A frialdade
Que me dá toda a pobreza!

Lembram-me bichos, carochas, centopeias,
Musgo, parêdes úmidas, bolôres,
Ao pensar na pobreza! – Ideias.
E causam-me suores.

Afonso Duarte

“Cadernos de Poesia” – 4
Lisboa/1941

Cesário Verde por Fialho de Almeida

A Ler no Miniscente: “A arte da descrição no seu melhor”

(Retrato de Cesário Verde escrito por Fialho de Almeida)

CHINA BELA (de novo)

Retomo o post CHINA BELA com um link que nos leva ao sítio certo.

Manifesto Anti-Jardim

A ler o Manifesto Anti-Jardim em "Erotismo na Cidade".

Coragem

Publico um dos comentários que recebi a propósito do artigo "Os socialistas, o Deficit e a Reforma do Estado Providência" publicado, sexta-feira passada, no SE e disponível, assim como outro texto posterior, no IRAOFUNDOEVOLTAR.

Devo esclarecer, a propósito, que o artigo em questão foi enviado para o SE uma semana antes da sua publicação pelo que não podia incorporar uma reflexão acerca dos desenvolvimentos suscitados pelas notícias acerca da acumulação de remunerações e pensões auferidas por detentores de cargos políticos.

Mas esta polémica não acrescenta nada de essencial à questão de fundo, tratada no artigo, qual seja, a necessidade urgente de reformar o “Estado Social” na sua configuração actual.

“Li o artigo. Preocupam-me, sinceramente, as "peripécias" que estão, no entanto, a despontar; e, tanto quanto me quer parecer, a "procissão ainda vai no adro"... Ou há coragem politica e o Socrates leva TUDO até às ultimas consequências ou o Povo Português não irá, de certeza, compreender e aceitar os sacrificios que lhe são, mais uma vez, pedidos. Pela minha parte, não me chega não ser ÉTICAMENTE CORRECTO. As leis que dão corpo a estas "benesses" têm autores materiais. Importa, agora, saber se há Vontade e Autoridade para as "minorar".”
CS

O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

*

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos

Alexandre O'Neill

In ”Tempo de Fantasmas”
“Cadernos de Poesia” – Fascículo Onze - Segunda Série
Novembro de 1951

sábado, junho 4

Miao Girl


Miao Girl - Foto seleccionada por Marg. Ramos

Há uma espécie de beleza que é imune à passagem do tempo. É o que, de forma abreviada, se poderá chamar de beleza clássica?

Há uma espécie de destino trágico dos impérios que os chineses caracterizam numa frase, citada por Camus: “os impérios que estão à beira da ruína têm numerosas leis.”

As lutas do nosso tempo

Pode ter acesso aqui ao “Programa de Estabilidade e Crescimento – 2005/2009”.

“As lutas do nosso tempo: a propósito do desabrochar de uma campanha violenta contra as medidas do governo socialista”. Novas notas de reflexão acerca das medidas do governo no IR AO FUNDO E VOLTAR.

sexta-feira, junho 3

Gente


Sardoal, uma tarde de primavera: andei pelas ruas do Sardoal uma tarde inteira. parei em tascas, meti conversa, entrei em casa de desconhecidos, sorrimos, falámos, brindámos: tentei captar mais almas

Para conhecer PELA LENTE

Vivam os Cabos!

A notícia veio a lume no “Público”, de hoje, e é espantosa. É um retrato impedioso, “á la minute”, da governação de direita à portuguesa (e não só!).

O título:
Comando da GNR processado por cabos que se sentem prejudicados na carreira

Como não tenho acesso à versão electrónica aqui vão dois excertos da notícia:

“O Comando geral da Guarda Nacional Republicana (GNR) foi processado por um grupo de cabos desta força militarizada que se sentem discriminados e prejudicados por um despacho do comandante-geral. A decisão, tomada em Outubro de 2002, fez com que 6000 soldados tivessem passado automaticamente à categoria de cabo” (…)

“As promoções “decretadas” geraram ainda uma situação classificada de “caricata”, já que a lógica da pirâmide hierárquica foi subvertida – passou-se de 4.711 para 10.711 cabos e de 18.664 para 12.664 soldados – fazendo com que os novos cabos continuassem a exercer as funções de soldados (“porque não há quem desempenhe as suas funções primitivas”), muitas vezes comandados por aqueles que agora auferem vencimentos inferiores” (Os sublinhados são meus).

Perceberam? A notícia não associa a data do despacho ao governo em funções à época. Mas para os mais esquecidos sempre se pode recordar que era 1º ministro Durão Barroso, ministra das finanças Manuela Ferreira Leite e ministro da administração interna Figueiredo Lopes.

Eram os tempos áureos da “tanga”, da austeridade, com congelamento de aumentos salariais e de admissões de pessoal na administração pública. Lembro-me bem dessa época! Lembram-se?

Um Testemunho

O “Semanário Económico” publica, hoje, o meu artigo sob o título “Os Socialistas, o Deficit e a Reforma do Estado Providência” do qual aqui deixo a epígrafe e os dois últimos parágrafos.

Trata-se de um testemunho claro de apoio ao governo socialista que resulta das minhas próprias convicções e que o momento político actual, no meu ponto de vista, reclama e exige.

"Desconfiai daqueles que vos dizem: nada de discussões políticas que são estéreis; ocupemo-nos só dos melhoramentos materiais do país".

Alexandre Herculano

(...)

“Por razões económicas e, primordialmente, como afirmava Herculano, atribuindo prioridade à política, mais vale que sejam os democratas e, em particular, os socialistas a promover, de uma vez por todas, a empresa de dobrar o “cabo bojador “ do saneamento das finanças públicas.

Aqui fica o meu apoio, no essencial, às primeiras medidas anunciadas pelo governo que espero se não deixe aprisionar pelos interesses particulares das corporações, à direita e à esquerda, que sempre proclamam a eminente falência do estado social, opondo-se à sua modernização, para que o possam usar à medida dos seus interesses particulares, abrindo caminho para a sua ilegítima apropriação.

Os exemplos do passado recente são muitos e estão à vista de todos.”

O mesmo pode ser lido, na íntegra, no IRAOFUNDOEVOLTAR ou no site daquele semanário.

quinta-feira, junho 2

APENAS O AMOR


E já agora a imagem de Aldina Duarte e o título do CD em lançamento - "apenas o amor".

Foto retirada do Apenas o Amor

ALDINA DUARTE


Aldina Duarte - entrevista (na TSF) com uma grande fadista portuguesa, em particular, para as amigas e amigos do Brasil. Com alguns fados à mistura. Aldina Durate é um caso à parte quer como mulher, quer como poeta, quer como intérprete - OUÇA AQUI.

EM PLENO AZUL


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Com horror mal disfarçado
sincero desgosto (sim!)
lágrima azul aflita
mão crispada de piedade
vêem-me passar cantando
calamidades desastres
impossíveis de evitar
as mães
as minhas a tua
as que estropiam ternamente os filhos
para monótono e prudente
avanço da família

E quando paro e faço a propaganda
dos lugares mais comuns da poesia
há um terror quase obsceno
nos seus olhos maternais

Então prometo congressos
em pleno azul

Prometo uma solução
em pleno azul

Prometo não fazer nada
em pleno azul

sem consultar o «bureau»
em pleno azul

Visìvelmente sossegadas
é a hora de não cumprir
de recomeçar cantando
calamidades desastres
ruínas por decifrar

*

Se eu não estivesse a dormir
perguntaria aos poetas
A que horas desejam que vos acorde

Vamos decifrar ruínas
identificar os mortos
dormir com mulheres reais
denunciar os traidores
e atraiçoar a poesia
envenenada nas palavras
que respiram ausência podre

vamos dizer sem maiúsculas
o amor a vida e a morte

*

E as mães
onde estão elas?

As mães rezam as mães
cosem farrapos de dor
as mães gritam
choram
uivam
no espesso rio de um sono
já quase só animal

Alexandre O´Neill

In “Tempo de Fantasmas”
“Cadernos de Poesia” – Fascículo Onze – Segunda Série
Novembro de 1951

quarta-feira, junho 1

BALANCE


Balance de Kuang Jian (Recolha de Marg. Ramos) - Uma imagem da China diferente do paradigma ocidental.

A economia chinesa cresce a uma velocidade estonteante. Em 4 anos (2000/2004) o índice médio anual de crescimento do PIB chinês foi de 8,6%.

A Europa cresce à velocidade do caracol . O Banco Central Europeu anunciou, recentemente, a revisão em baixa da sua previsão de crescimento para a Zona Euro, em 2005, para os 1,4% contra os previstos 1,6%.

O BCE reviu, de igual modo, as suas previsões de crescimento para 2006, de 2,1% para os 2% e para 2007, de 2,3% para os 2,2%.

Por outro lado os EUA rejubilam com os resultados do referendo em França e na Holanda. Dividir para reinar.

No Causa Nossa Ana Gomes analisa a situação acertando no alvo.

António Ramos Rosa


António Ramos Rosa

CHINA


Garantir a disciplina [Uma criança chinesa vestida com um uniforme militar espera a sua vez de entrar em cena numa cerimónia que comemora o Dia Mundial da Criança na Cidade Proibida, em Pequim.] As autoridades chinesas aproveitam as férias nesta altura do ano para mostrar às crianças os seus programas na esperança de garantir um “desenvolvimento correcto” da juventude. Foto: Elizabeth Dalziel/AP

Uma imagem, cuidada e tradicional, da China militarista de uniforme e pose militar. É a imagem que o Ocidente se habituou a consumir da China. Imagem perigosa pois esconde uma outra China, a da criação, iniciativa e produção que suga os investimentos do ocidente e invade os seus mercados.

Que ninguém pense que a regulação das relações da China com o ocidente possa ser realizada pela via da guerra. Nunca ninguém, algum dia, ganhará pela guerra, uma disputa com a China. Nunca ninguém ganhou.

Solução: compreender a realidade da China, em todas as suas vertentes; negociar pacientemente tudo o que houver para negociar e alcançar um acordo global e duradoiro.

Foto e legenda em destaque no “Publico” on line de hoje.

terça-feira, maio 31

POEMA DUM FUNCIONÁRIO CANSADO


Foto de Fabiola Narváez

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediàvelmente perdido no meu cansaço

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma só noite comprida
num quarto só.

António Ramos Rosa

Cadernos de Poesia – Fascículo Nove – Segunda Série
Setembro de 1951

(Curiosamente a edição fac-simile da qual foi retirado este celebrado poema de um dos maiores poetas contemporâneo portugueses, por sinal, nado na minha cidade de Faro, reproduz os exemplares dos “Cadernos de Poesia” pertencentes ao poeta Albano Martins autor do poema que, neste blog, antes dei à estampa.)

Frutos


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Quando a amada oferece
o seu corpo, ela sabe
que dos frutos apenas
se colhe o sabor.
É então
que os dedos
separam as películas,
que a lâmina desce e a água
e o fogo se misturam.
E é então que a vida
e a morte convivem
sob o mesmo tecto.

Albano Martins

Escrito a vermelho

segunda-feira, maio 30

Margarida Delgado (3)


v o u
m e r g u l h a r
n o
a z u l . . .

In Sabor a Sal

Deficit, qual deficit? Europa, qual Europa?


«Rolão Preto, ao entrar no Palácio das Exposições, saudado romanamente pelos camisas azuis em guarda de honra». [18 de Fevereiro de 1933, fotografia a preto e branco - Revolução, n.º 292, Lisboa, Portugal - Fotografia publicada no Revolução - Diário Nacional-Sindicalista da Tarde (1932-1933), de segunda-feira, 20 de Fevereiro de 1933.]

O banquete de homenagem a Rolão Preto, de 18 de Fevereiro de 1933, comemorava o primeiro aniversário da publicação do diário Revolução, no início subintitulado Diário Académico Nacionalista da Tarde, cujo primeiro número tinha saído em 15 de Fevereiro de 1932. In “O Portal da História”

As corporações só conhecem a linguagem da força. Não vale a pena escrever lindas palavras em barras de sabão. É preciso esculpi-las no granito afrontando a dureza das pedras endurecidas pelo tempo. Os homens perdem a capacidade de se libertar da servidão quando nela nasceram e foram educados para obedecer. Ou quando já se esqueceram da servidão no que ela tem de mais abjecto. É o caso de Portugal e da maioria das democracias da Europa Ocidental.
O exercício da liberdade não dispensa a inteligência e a emoção de escolher - aceitar ou contestar, falar ou calar - em cada momento e em todo o lugar. O exercício da liberdade é o mais difícil de todos aqueles a que o homem é chamado a responder. Por isso valeu bem o sacrifício de milhões de homens e mulheres em duas guerras sangrentas na Europa em pleno século XX. As vantagens da liberdade são incomensuráveis para a humanidade mas nunca estão definitivamente garantidas. É uma ilusão perigosa pensar o contrário.
Falo a propósito das discussões acerca das medidas do governo socialista para fazer face ao deficit. Deficit, qual deficit? parecem perguntar muitos portugueses, comunistas e não só! Mas caso se não equilibrem as contas públicas ficam abertas as portas aos arautos da “ordem” (que ilustro, numa versão portuguesa de 1933), ou seja, da tirania que, na versão moderna, poderá assumir as mais surpreendentes fórmulas.
Penso nos resultados do referendo em França. Europa, qual Europa? Parecem perguntar as extremas direita e esquerda, parte dos socialistas e parte da direita tradicional francesa! Mas se a Europa não se mantiver unida, no essencial, ficam abertas as portas à guerra. Tirania e guerra marcham sempre a par na história.
As escolhas resultantes do voto popular são para respeitar. Quem, em Portugal, não percebeu que os socialistas são a única força capaz de realizar uma política de salvação nacional, não percebeu nada! Por isso lhe foi outorgada, em eleições livres, uma maioria absoluta.
Quem, na Europa (em França e não só!) não percebeu que o que está em jogo é o enfrentamento com o poder dos EUA (e da China), a nível global, preservando a paz na Europa e o “modelo social europeu”, não percebeu nada! Podem discutir-se os métodos e os ritmos mas o essencial está aí.
Portugal é uma ínfima parcela desta realidade. As corporações, em Portugal, por razões históricas, só conhecem a linguagem da força. Mas os democratas e os amantes da liberdade, dão privilégio à força da inteligência (razão) e da persuasão (diálogo).
Será suficiente? Uma velha conversa porventura mais actual do que muitos possam pensar!

CEREJAS


Do Dias com Árvores

domingo, maio 29

França: Change? Não!


“Foto de António José Alegria, do amistad”

A propósito de uma pequena digressão/pesquisa que fiz, com outra finalidade, fixei a citação que adianto reproduzo.

As primeiras sondagens divulgadas apontam para a vitória do Não no referendo, realizado em França, à chamada “Constituição Europeia”.

Sejam quais forem as consequências políticas imediatas deste resultado é assinalável a participação estimada de 80% do eleitorado francês. Aí está, para os democratas, uma vitória. A vitória da liberdade.

Se o Não ganhou o medo venceu; o nacionalismo venceu; a memória das guerras na Europa perdeu; o proteccionismo venceu; o internacionalismo perdeu; a Europa na disputa com os EUA perdeu; o cepticismo e o pessimismo venceram. Que persista a democracia e a paz que tudo se há-de arranjar!

“O único problema contemporâneo: poderá transformar-se o mundo sem se acreditar no poder absoluto da razão? Apesar das ilusões racionalistas, mesmo marxistas, toda a história do mundo é a história da liberdade. Como poderiam ser determinados os caminhos da liberdade? É decerto falso dizer que o que é determinado, é o que já não vive. Mas só é determinado o que já se viveu. O próprio Deus, se existisse, não poderia modificar o passado. Mas o futuro não lhe pertence nem mais nem menos do que ao homem.”

Camus – Cadernos (Caderno nº5 – Setembro 1945/Abril 1948).

Não, Sim?

Agora mesmo a poucos minutos de se saberem – publicamente - as projecções dos resultados do referendo em França. Ontem o Margens de Erro deixava pairar a dúvida. Não, Sim?

Fifty fifty, finalmente

Dois Livros


Imagem do Pentimento

Abriu a Feira do Livro. Ainda lá não fui. Como alguém diz é um lugar de culto. Sempre lá vou, pelo menos uma vez. É o equivalente às feiras tradicionais da nossa meninice. Escrevo, habitualmente, notas a lápis nos livros que lá compro. Poucos mas bons, para mim. Livros com um significado especial pois ficam colados às diversas fases da minha vida e as datas permitem mais tarde encontrar o seu lugar na memória. Muito mais tarde não interessarão a ninguém. Mas o que interessa isso? Estamos a cuidar simplesmente da liberdade de escolher o que nos dá prazer. De escolher aquilo de que se gosta. Mais nada.

Entretanto comprei dois livros fora da feira onde ainda não fui. Uma pequena traição.

- “Por Amor a Che”, de Ana Menéndez, da Civilização Editora (muito interessante!);

- “Cadernos de Poesia”, de Luís Adriano Carlos e Joana Matos Frias, da “Campo das Letras”.

Este último contém a reprodução fac-similada dos “Cadernos de Poesia” que, logo na introdução, os autores caracterizam através de uma referência a Jorge de Sena que, mais tarde, também viria a fazer parte do grupo: “Em 1958, nas páginas do Diário Popular, Jorge de Sena, traduziu de forma desconcertante o espírito de independência dos Cadernos de Poesia, fundados em 1940 por José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti e Tomaz Kim: “aos chamados poetas dos cadernos nada os irmana, absolutamente nada do que habitualmente aglutina um grupo. Tudo os separa”.”

São umas centenas de páginas de poemas (e estudos acerca de poesia) de variados autores, grande parte dos quais desapareceram de circulação, decerto das antologias e, muitas vezes, das publicações dos próprios autores. Publicarei aqui, ao longo do tempo, alguns desses poemas.

Como por exemplo este de Alexandre O´Neill.

A CENTRAL DAS FRASES

Já te disse que são os do primeiro
e afinal não podemos telefonar
ai nem queiras saber o engenheiro
se me dão licença eu vou contar

penses nisso era só o que faltava
não as outras duas é que são as tais
mas o senhor presidente autorizava
na avenida centenas de pardais

de facto muito inteligente
o´ filha por aqui fazes favor
que veio ontem p´ra falar co´a gente
é mesmo lá ao fim do corredor

In “Tempo de Fantasmas” – Cadernos de Poesia
Fascículo Onze * Segunda Série
Novembro de 1951

Fabiola Narváez


Apresentando Fabiola Narváez

sexta-feira, maio 27

DANÇANDO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Dançando. A imagem faz-me lembrar a dança do debate político, da direita para a esquerda; da esquerda para a direita ... Estive umas horas largas a digerir o conteúdo das medidas anunciadas na 4ª feira passada por José Sócrates.

É sempre necessário conhecer a matéria antes de perorar acerca dela. Não é? Podemos até não ser especialistas mas, caso haja decência e bom senso, dá para perceber de que lado está a razão. Já digeri. As medidas de combate ao deficit apontam para mais longe.

É inevitável, por exemplo, mexer na idade de reforma, no modelo de protecção social da função pública, cortar privilégios da classe política e dirigente de topo ... só para começar! Se queremos manter o essencial do chamado “estado social português” é preciso cuidar de garantir a sua viabilidade.

Uma vez mais têm que ser os socialistas a tomar as medidas difíceis. Já tinha acontecido o mesmo nos anos 80. Com Mário Soares foram tomadas as medidas de austeridade que prepararam a adesão à UE de 1985 e deram de mão beijada o governo a um Cavaco que resmungava contra a própria adesão. Época de vacas magras. Lembram-se?

Depois vieram os fundos comunitários sempre com a direita no governo. Entre 1985 e 1995 o governo foi dirigido por Cavaco. Vacas gordas. A direita parece que, em Portugal, se coloca sempre no lugar dos vícios que atribui à esquerda.

A direita ideológica é um grupúsculo sem expressão política. A direita política é uma excrescência do Estado Novo que, em 30 anos, nunca ganhou autonomia face à direita dos interesses. Em Portugal a direita que manda, que põe e dispõe, no estado ou na sociedade, no governo central ou local, nas corporações ou colectividades, é a direita dos interesses. Para esta direita o Estado é o altar da celebração dos negócios e ... pouco mais. Dançando!

A minha posição é de apoio às medidas do governo. A desenvolver ao longo da próxima semana.

quarta-feira, maio 25

Almocreve das Petas - deficit



A ler os “Ecos do défice ou a moléstia da "coisa””, no Almocreve das Petas, que vale a pena.

MERGULHO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Escrevo pouco depois do anúncio das medidas de combate ao deficit sem conhecer ainda os seus detalhes. O deficit é, em termos simples, o “gap” entre as despesas e as receitas do Estado. É um clássico das finanças públicas e, em Portugal, um tema antigo.

Em 1928 num célebre discurso de tomada de posse, como ministro das finanças, Salazar já abordava o tema do deficit anunciando, em plena ditadura militar, a ditadura das finanças, prenunciando a ditadura que havia de perdurar até ao 25 de Abril de 74. Salazar dispôs de 46 anos (!) para, em ditadura, consolidar as contas públicas.

Hoje vivemos em democracia integrando o espaço da União Europeia. O anúncio das medidas de combate ao deficit não podem deixar de levar em conta essa realidade e são, aliás, um resultado do cumprimento de regras ditadas por essa mesma UE.

Sócrates dispõe, na prática, de 3 anos para reduzir o défice em 3,83%, ou seja, cerca de 1,27% por ano. É um esforço brutal, mas inevitável, para um país que quer pertencer a uma comunidade de nações democráticas como a UE.

Outra questão é o modo de promover, planear e executar as medidas de redução do deficit, ou seja, a questão política propriamente dita. Aqui é que vale a pena fazer incidir a nossa atenção.
Em democracia os sacrifícios que se pedem aos cidadãos, para serem exequíveis, carecem de ser assumidos pela maioria como necessários e inevitáveis. Todos os que conhecem um pouco de história sabem que é assim.

O Presidente Roosevelt, por exemplo, demorou anos a preparar a opinião pública americana antes de tomar a decisão, que sabia inevitável, de fazer os Estados Unidos entrar na Segunda Guerra Mundial.

Aliás a história da liderança da América por Roosevelt, após 1932 até à sua morte, imagine-se (!) em 1945, é notável.

As decisões que exigem sacrifícios aos povos têm que ser assumidas colectivamente, serem concentradas no tempo, comunicadas de forma determinada e convincente, não perderem de vista a equidade e tocarem a corda sensível de um valor, um pouco em desuso, que se chama patriotismo.

Vamos ver se as políticas que vão ser anunciadas apontarão no caminho certo, ou seja, se os sacrifícios exigidos à comunidade serão assumidos por todos e por todos suportados.

DÉFICIT

Ainda em busca na net de notícias acerca das medidas anunciada pelo PM - que tardam em aparecer mesmo na Lusa - deparo com este extraordinário post no INCURSÕES.

"Seisvirgulaoitentaetrês

Acompanhei esta manhã a visita do Senhor Ministro da Justiça a um dos centros de reeducação de menores, geridos pelo IRS (...não, é o outro, o Instituto de Reinserção Social).

O Centro conta com modelares instalações, nas quais não faltam piscina e picadeiro e estábulo com vários cavalos, para aulas de equitação. Nele trabalham 31 funcionários administrativos, de todas as categorias, desde director e sub-director a tratador de cavalos. Para além destes 31 administrativos, conta ainda com a indispensável colaboração de 9 professores, médico e até um sacerdote, embora estes últimos não trabalhem ali a tempo integral.

Ao todo são mais de 50 (cinquenta) funcionários e prestadores de serviços que, diariamente, ali labutam de forma esforçada, em prol da reinserção social de jovens que, por uma razão ou por outra, se desviaram das normas sociais estabelecidas ou, como dirá o sacerdote, que pecaram.

Um último pormenor: estão internados neste centro 9 (nove) jovens."

terça-feira, maio 24

ANTÓNIO GUTERRES


Escultura no Aeroporto de Faro - Foto de Marg. Ramos

Eh pá! O Guterres já lá vai! para “Alto-comissário da ONU para os refugiados”

Este é o site do ACNUR em português. No site do ACNUR, em inglês, já é dada a notícia da escolha de Guterres. Veja aqui.

Com que então Freitas do Amaral seria um mau Ministro dos Negócios Estrangeiros? Blá, blá, blá ... Então esta não é também uma vitória da diplomacia portuguesa?

HOPPER


Hopper para conhecer o desfio

CHINA BELA


"Blue" Kuang Jian 2000 [Oil on canvas 56" x 42"]

Kuang Jian was born in 1961 in Hefei City, Anhui province. He began studying art privately in 1974 and in 1979 was accepted into the Academy of Arts of the People's Liberation Army, Beijing. Since his graduation in 1983 he has been an art director for the Army Day Movie Studio, Beijing. He was awarded the Bronze prize at the Seventh National Exhibition in 1989 and has participated in shows in Australia, Hong Kong, Taiwan, Japan and Germany. He currently resides in Beijing.

Ver Aqui

(Das andanças de Marg. Ramos pela China)

6,83%

Há muito tempo que existia a convicção de que, em Portugal, o orçamento de estado para 2005 era, de facto, uma fraude. Há muito tempo que algumas pessoas vinham avisando para o embuste da orientação política de Santana Lopes, Paulo Portas e Bagão Félix.

Apuradas as contas, com verdade e competência, pela Comissão Constâncio, ainda sem considerar as autarquias e as regiões autónomas, o deficit apurado, para 2005, atinge 6,83 %. O mais alto de todos os países da UE e mais do dobro daquele que foi apresentado pelo ex-ministro das finanças Bagão Félix.

Talvez agora alguns altos responsáveis políticos, assim como influentes fazedores de opinião, disponham de dados suficientes para avaliar da seriedade e competência políticas de Bagão Félix. E possam compreender o verdadeira alcance de alguns episódios do seu magistério político nos governos que integrou. Ou ainda não é suficiente?

Vejam só esta pequena amostra que o DN hoje apresenta.

“No orçamento apresentado por Bagão Félix faltava dinheiro para pagar salários dos funcionários públicos, pensões dos reformados, subsídios de desemprego, facturas com a saúde...

(…)

Nas pensões, as verbas destinadas aos aumentos anunciados pelo Governo de Santana Lopes não estavam orçamentadas, "em virtude de não ter sido considerada a actualização das pensões", explica o relatório Constâncio.

Veja-se o que se passa nas contas da Segurança Social, onde as receitas e as despesas são irreais. Para pagar reformas e subsídios de desemprego, faltam 598,8 milhões de euros. Ou seja, grosso modo, falta metade da verba anual para pagar aos desempregados.

As receitas da Segurança Social foram de tal maneira empoladas que existe um excedente de 189 milhões de euros, no OE para 2005 e assinado por Bagão Félix. Pois bem, agora a Comissão Constâncio corrigiu, apurando um défice de 598 milhões de euros. Na frente dos cuidados sociais, não é tudo.

Na Caixa Geral de Aposentações (CGA), a segurança social dos funcionários públicos, faltam 228,3 milhões de euros.

(…)

Na Saúde, a hemorragia orçamental é difícil de estancar o défice atinge uma profundidade de 1,772 mil milhões de euros, o suficiente para ordenar a construção de uma outra ponte sobre o Tejo. Bagão Félix tinha previsto um défice de 259,7 milhões de euros, mas agora a Comissão Constâncio refez as contas e apurou que afinal o Governo necessita de mais 1,51 mil milhões de euros.”

segunda-feira, maio 23

CANÇÃO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Pelos ramos do loureiro
vão duas pombas escuras.
Uma era o sol,
a outra, a lua.
Vizinhas, disse-lhes,
onde está minha sepultura?
Em minha cauda, disse o sol.
Em minha garganta, disse a lua.
E eu que estava caminhando
com terra pela cintura
vi duas águias de mármore
e uma rapariga desnuda.
Uma era a outra
e a rapariga era nenhuma.
Aguiazinhas, disse-lhes,
onde está minha sepultura?
Em minha cauda, disse o sol.
Em minha garganta, disse a lua.
Pelos ramos da cerejeira
vi duas pombas desnudas,
uma era a outra,
e as duas eram nenhuma.

Federico García Lorca

“Primeiras Canções” – 1922

In Obra Poética Completa
Martins Fontes – São Paulo
Tradução de William Agel de Mello

SARDOAL


Sardoal, 2005 Mai 15

Apresentando uma por rolo que vale a pena.

domingo, maio 22

BENFICA E TRAPATTONI

No dia 6 de Julho de 2004 escrevi um post a propósito da contratação de Trapattoni pelo Benfica. Hoje o Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol. Para além de todas as razões que no futebol, por vezes, a razão desconhece, esta é uma vitória que se deve, no essencial, ao treinador italiano do Benfica.

"Trapattoni
Digam o que disserem a grande notícia do dia é a contratação de Trapattoni para treinador do Benfica. Por ser o Benfica e por ser Trapattoni. Para quem tenha dúvidas acerca do significado desta contratação para o futebol português e para Portugal leia o artigo "O omnipresente". É um extraordinário texto da jornalista Andreia Schianchi, da "La Gazzeta Dello Sport",
publicado hoje no Público." 6/7/2004

(O link já não "encontra" o texto referido mas nele, de forma brilhante, era descrita a áurea de Trapattoni que prenunciava o seu sucesso em Portugal).

JORGE DE SENA


Jorge de Sena é um dos maiores poetas e escritores da língua portuguesa de todos os tempos. Não há que ter medo das palavras. Sena ombreia com os grandes Luís de Camões e Fernando Pessoa.

Polémico e insubmisso. Exigente com a sua Pátria que nunca renegou. Morreu nos Estados Unidos e lá ficou sepultado. É uma vergonha que, apesar de todas as dificuldades, o Estado português não assegure as condições do seu regresso a Portugal. Todas as diligências deviam ser realizadas para alcançar esse objectivo.

Vejo que o assunto é, mais vez, lembrado aqui.

O Julgamento de Nuremberg


Para encerrar a série de posts acerca do 60º Aniversário do fim da 2ª Guerra Mundial

Les accusés :
Premier rang, de gauche à droite : Hermann Göring , Rudolf Hess , Joachim von Ribbentrop , Wilhelm Keitel , Ernst Kaltenbrunner , Alfred Rosenberg , Hans Frank , Wilhelm Frick , Julius Streicher , Walther Funk , Hjalmar Schacht . Deuxième rang, de gauche à droite : Karl Dönitz , Erich Raeder , Baldur von Schirach , Fritz Sauckel , Alfred Jodl , Franz von Papen , Arthur Seyss-Inquart , Albert Speer , Konstantin van Neurath , Hans Fritzsche .

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sexta-feira, maio 20

O ANJO


Foto de Graça Seligman O Caixote

O anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.

Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que, feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse,
Como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In “Dia do Mar” - 1947

Salazar e a Questão das Finanças do Estado


SALAZAR EXPLICA AS CONDIÇÕES DA REFORMA FINANCEIRA. [Discurso proferido na sala do Conselho de Estado, em 27 de Abril de 1928, no acto da posse de Ministro das Finanças, segundo as notas do jornal Novidades.] In "O Portal da História"

O discurso que surge, paradoxalmente, pleno de pontos comuns com os que preenchem a nossa actualidade política e noticiosa, está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Discurso de Salazar no momento de entrar definitivamente para o governo como Ministro das Finanças, lugar que só abandonou em 1940. A sua participação na política tinha sido até aí escassa. Convidado, em 1918, por Sidónio Pais para secretário no Ministério das Finanças, recusara. Em 1921 fora eleito deputado, mas segundo parece só se apresentou no Palácio de São Bento uma única vez. Em 1926 fora escolhido, pela primeira vez, para Ministro das Finanças, mas um desentendimento com o primeiro-ministro da altura fez com que se demitisse.

Salazar foi chamado novamente em 1928, devido ao falhanço das negociações de um empréstimo de 12 milhões de libras, devido à não aceitação pelo governo português das condições draconianas impostas pela Sociedade das Nações para aprovar o empréstimo.

Neste discurso Salazar explicita claramente quais foram as suas exigências para aceitar regressar ao governo, e que não é mais do que a instauração de uma Ditadura das finanças, acabando proferindo a célebre frase: "sei muito bem o que quero e para onde vou."

Em 5 de Julho de 1932 foi nomeado Chefe do Governo, lugar que manteve até 6 de Setembro de 1968.