quarta-feira, junho 8

RUY CINATTI


VIGÍLIA

PARALELAMENTE sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua subreptìciamente
Com voz semelhante à minha. O melhor mundo
Está por descobrir. Não segue a lua
Nem o perfil da proa. Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado e oculto.

Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixes à tona de água
E precipitam asas nas esteiras de luz.
Da vida nada se leva, senão
A melhoria de um paraíso sonhado
E procurado
Com ternura, crueldade e espírito sereno.

Doçura luminosa de um olhar ameno,
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras.

Rui Cinatti

Atlântico, Agosto, 1950

In “Cadernos de Poesia”
II Série – Lisboa/1951

Cadernos de Poesia
Campo das Letras

3 comentários:

Anónimo disse...

é a primeira vez que visito este blogue e gostei. Trata temas variados de uma forma despretenciosa. parabéns.

hfm disse...

Como eu gosto de o reler!

Eduardo Graça disse...

E eu a si...