sexta-feira, novembro 11

A Revolta do Corpo


Mónica Bellucci

"Ao fim de dois mil anos de cristianismo, a revolta do corpo. Foram precisos dois mil anos para que de novo surgisse a nudez nas praias. Consequentemente, o excesso. E o corpo reencontrou o seu lugar nos usos. Falta ainda dar-lhe de novo o seu lugar na filosofia e na metafísica. É um dos sentidos da convulsão moderna."

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

quinta-feira, novembro 10

RUY BELO


Descobri, por acaso, também um livro acerca de “Ruy Belo: “Coisas do Silêncio”, de Duarte Belo e Rute Figueiredo, editado pela Assírio e Alvim.

Nele além de fotografias, que “pressupõem a ligação da identidade do poeta à identidade dos lugares”, publicam-se excertos da sua poesia cujo formato se adequa, quase na perfeição, à sua divulgação num blogue. Uma forma de a conhecer sem facilidades torneando os excessos eruditos.

Como se diz no posfácio do livro “Os poemas ou excertos de poemas que integram este conjunto de fotografias, funcionam como o traçado de um processo criativo, ou um “mapa” de visita que nos permite descortinar a face de uma paisagem humana desenhada por gestos suspensos entre palavras.

“A minha amada chega no ar dos pinhais
cingida de resina vária como o cedro
e a maresia. Levanta-se lábil
e compromete solene o séquito da aurora
Ou vem sobre os rolos do mar
cheia de infância pequena de destino
(…)

"Condição da Terra"
Aquele Grande Rio Eufrates

quarta-feira, novembro 9

MÁRIO SOARES POR JÚLIO RESENDE


Por acaso descobri, perdido por aqui, um livro muito interessante de que já não me lembrava. Um catálogo de uma exposição, em tempos realizada, no "Museu do Chiado" da colecção particular de pintura de Mário Soares. Assim se redescobre o gosto pela arte de um político que, nesta época, vale a pena chamar à atenção.

Juntar a arte da política activa, ao gosto militante pela arte, não é vulgar e podem muitos estar esquecidos dessa faceta de Mário Soares na hora em que está na moda, entre os saudosistas da “verdadeira esquerda” e também, paradoxalmente, da “verdadeira direita”, atribuir esse predicado a Manuel Alegre, aliás, um produtor de um dos seus géneros, a poesia.

Sem demérito para o poeta, na disputa presidencial, prefiro Soares, o político amante da arte, a Alegre, o artista amante da política.

Naquele catálogo da colecção de Mário Soares, entre muitas obras, reparei em três peças que darei a conhecer a começar por este retrato do próprio Soares da autoria de Júlio Resende.

Imortalidade


Fotografia de Angèle

“Não nascemos para a liberdade. Mas o determinismo é também um erro.”

“Que poderia ser (Que é) a imortalidade para mim? Viver até que o último homem tenha desaparecido da terra. Nada mais.”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Sexto e sétimo fragmentos iniciais do Caderno nº 5 que transcrevi na íntegra respeitando a sua sequência. As transcrições de fragmentos dos Cadernos, a partir de agora, regressam ao formato habitual – sublinhados da releitura actual.)

terça-feira, novembro 8

Também já fui brasileiro


Fotografia de Angèle

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

De Alguma poesia (1930)

Carlos Drummond de Andrade

BOTICÁRIO AO FUNDO


PAULA REGO - THE VIVIAN GIRLS WITH WINDMILLS

O Dr. Cordeiro, “boticário mor do reino”, desta vez, está “entalado”. Deve estar na expectativa de que Cavaco, caso vença as presidenciais, venha em seu socorro. E quem sabe!...

Não esqueço a campanha miserável que desencadeou contra Ferro Rodrigues, aquando das eleições de 2002, a propósito da proposta de criação das farmácias sociais …

Ele lá sabia porquê. Agora parece que se aproxima do fim o privilégio do lobby das farmácias, em particular, essa faceta de onzeneiro* do Dr. Cordeiro que lhe foi outorgada no tempo dos governos do Prof. Cavaco Silva.

* ”Que é relativo à onzena, à usura, à cobrança de juros excessivos por dinheiro emprestado; …” (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa.)

Poema carismático


Margarida Delgado in sabor a sal

segunda-feira, novembro 7

TIME


Fotografia in new york on time

Os dias não mudam conforme a nossa vontade
O tempo deles foi marcado algures noutro lado

Os homens não alcançam o ponteiro das horas
O seu espaço é invisível e fora de suas glórias

Lisboa, 24 de Outubro de 2005

ÓDIOS


Hitler und Mussolini am 14. September 1945.

Os presentes acontecimentos de Paris fazem lembrar outros acontecimentos do passado. As revoltas são sempre diferentes conforme a época histórica.

A violência, seja qual for a sua natureza, conduz a dois discursos opostos: o discurso do apaziguamento que os amantes da ordem acusam de fazer o jogo dos revoltosos e o discurso da ordem que os amantes do apaziguamento acusam de acirrar os ódios.

A ordem é um valor estimado e respeitado se servir à maioria. O pior é quando a maioria, em nome da ordem, coloca o poder na mão de bandidos. Cuidado com a “ordem”! Principalmente em nome da ordem pela "ordem", do xenofobismo e do racismo!

Tem acontecido tantas vezes, na história recente, que não há desculpas para quem fraquejar no combate à violência em defesa da democracia. Sem apelos ao ódio e aos ressentimentos.

SOCORRO!


Fiquei assustado a primeira vez que vi este cartaz. Na verdade, não sei porquê, o cartaz é assustador. Não sei mas faz-me lembrar a propaganda de uma força totalitária. Desculpa lá, oh Louçã!

Eu avisei que ia deixar mal impressionados alguns amigos de esquerda com as minhas opiniões e sentimentos acerca das candidaturas presidenciais.

Mas não há paciência nem para o discurso, nem para a imagem, nem para a propaganda do Louçã. Enoja-me. Eu não quero ser olhado, "olhos nos olhos", pelo Louçã!

Como fazer para evitar ser olhado "olhos nos olhos" pelo Louçã? Socorro!

domingo, novembro 6

Razão ...Razões ...


Fotografia de Hélder Gonçalves - RIA DE AVEIRO II

“As pessoas julgam sempre que o suicídio é praticado em nome de uma razão. Mas pode muito bem ser praticado em nome de duas razões.”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Quinto fragmento integral dos primeiros seis deste Caderno nº 5.)

O gosto é livre, as posses não ...


Paula Rego – Galinhas bebés (série Ovos da Lua), 2005
[gravura e água-tinta, 20 x 21 cm]

Um dia destes esqueci-me dos óculos. Pedi uns emprestados a uma colega. Quase perfeitos na graduação. Mas óculos de mulher. Interessante fenómeno. O seu formato feminino na minha cara não escandalizou ninguém. Ou a minha cara não se deu por achada pelo formato feminino dos óculos.

A minha familiaridade com óculos, aros, hastes, lentes, graduações, dioptrias, miopias, vistas cansadas, bifocais, marcas, formatos e correcções é muito forte. Cresci a ver lidar, no quotidiano, com essa realidade. Um dia, ainda rapaz, atrevi-me a dar uma opinião a uma senhora, bem posta na vida, acerca de uns belos óculos de sol que ela se aprontava a comprar ao balcão por detrás do qual estava o meu pai. Recebi uma resposta seca do género: “meta-se na sua vida!”

E não é que os comprou mesmo. Era uma daquelas peças que, naquele tempo, se vendiam só a gente rica e eu pensava que a gente rica não comprava nada ao balcão. Mandava comprar. Ou que aqueles eram uns óculos apenas de figuração.

Fiquei a saber que não se devem dar conselhos acerca de questões de gosto a ninguém. O gosto é livre, as posses não...

sábado, novembro 5

PRESIDENTES, ELIS E OS EFEITOS COLATERIAS DA DITADURA


Elis Regina

Em Portugal, com respeito a Presidentes da República, excluindo a 1ª República (1910/1926), ninguém se queixa de terem sido demais. É interessante observar o sublime e recolhido regozijo dos portugueses perante a durabilidade dos mandatos presidenciais.

Descontados Gomes da Costa, que “comandou” a “revolução nacional”, em 1926, e de António de Spínola, que “comandou” a de 1974, tendo sido rapidamente descartados, Portugal contou, no exercício da função presidencial, no Estado Novo, desde 1926 a 1974, com três Presidentes da República: Óscar Fragoso Carmona, Craveiro Lopes e Américo Thomás (chefes militares respectivamente das forças de “Terra, Ar e Mar”) e, depois do 25 de Abril, com quatro: Costa Gomes, Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.

Verdadeiramente só os três últimos foram eleitos, pelo voto livre dos portugueses, preenchendo, em 2006, 30 anos de vivência democrática.

Curiosamente, desde o fim da 1ª República, até aos nossos dias, no decurso de oitenta anos (80) só dois Presidentes foram civis (Soares e Sampaio), ambos eleitos. Todos os outros foram altos chefes militares ou acabaram sendo altos chefes militares (caso de Eanes). Os seus mandatos, em média, foram longos.

Talvez se possa concluir que o progresso da Pátria não tem ganho grande coisa por estar associado ao autoritarismo que esses militares, em contextos diferentes, protagonizaram nem à durabilidade dos seus mandatos. Curioso, não é? Dá para pensar!

(A foto de Elis Regina, retirada do new york on time, nada tem a ver, aparentemente, com o assunto. É que me veio à memória uma cena que nunca mais esqueci e na qual participei. As ditaduras provocam estranhos fenómenos de cegueira, de distorção da realidade e de injustiça na apreciação do papel dos outros em cada momento. Então não é que um belo dia uma entidade ligada à ditadura se lembrou de promover um espectáculo, em Lisboa, com a Elis Regina e o Jair Rodrigues e o movimento estudantil, não sei porque carga de água, metido em brios de revolta, resolveu boicotá-lo. A Elis e o Jair não entendiam nada do que se estava a passar – via-se-lhes nos rostos espantados - mas o que é verdade é que não houve espectáculo. À Elis, lá onde se encontre, e ao Jair, pela parte que me toca, desculpem!)

REVOLTA


Fotografia de Bogdan Jarocki

“Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor …”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

sexta-feira, novembro 4

SCARLETT JOHANSSON


Scarlett Johansson, atrapada por Woody Allen - "El País"

La protagonista de 'Match point' participa también en el siguiente proyecto del director neoyorquino - BARBARA CELIS - Nueva York - EL PAÍS - 04-11-2005

Scarlett Johansson, el pasado mayo en el Festival de Cine de Cannes. (REUTERS) ampliar

VÍDEO Trailer de 'Match Point' - "Me considero una persona muy afortunada por vivir de lo que más amo"

Arquivado no IR AO FUNDO E VOLTAR

PARIS A ARDER


Paris a ferro e fogo. Procuram-se explicações. Abre-se um debate. Pacheco Pereira insurge-se contra as visões compassivas face aos insurgentes. A sociedade inclusiva falha quando os valores humanistas se afundam. De acordo.

Curioso que me faz lembrar o "discurso ultrapassado" de Soares … Por isso a necessidade de levantar a bandeira da luta pelos valores. Quais? Liberdade, justiça, tolerância, trabalho, paz, ordem democrática? … as imagens lembram-me – só pelo “cheiro” as do Maio de 68.

O presidente da República francesa – em exercício vai para 10 anos – é um homem de direita. O governo actual é um governo de direita … é verdade? Nada de importante! Detalhes …

No Libération : Une huitième nuit de violences dans les banlieues

Quelque 400 voitures brûlées, un dépôt de bus incendié, les voyageurs d'un RER dépouillés… • Côte-d'Or, Seine-Maritime et Bouches-du-Rhône ont également été touchées •

Ler ainda “Paris já está a arder”, de Clara Ferreira Alves

quinta-feira, novembro 3

"Política (continuação)."


Albert Camus

“Política (continuação). Tudo deriva do facto de aqueles que estão encarregados de falar em nome do povo não terem nunca a preocupação real da liberdade. Quando são sinceros, gabam-se mesmo do contrário. Ora a simples preocupação já bastaria …

Por conseguinte esses, raros, que vivem com tal escrúpulo devem perecer mais dia, menos dia (há muitas formas de morrer a este respeito). Se são orgulhosos, não tombarão sem luta. Mas como irão lutar contra irmãos, contra a própria justiça? Deixarão o seu testemunho, eis tudo. E, com dois milénios de intervalo, assistiremos ao sacrifício, várias vezes repetido, de Sócrates. Programa para amanhã: execução solene e significativa das testemunhas da liberdade.”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Terceiro fragmento, dos seis primeiros do Caderno nº5, que venho a reproduzir na íntegra. A referência a Sócrates – o filósofo - no seio deste fragmento não é mais do que uma irónica coincidência.)

COERÊNCIA, ESTABILIDADE E CORAGEM


Já está disponível no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo com o título em epígrafe, a publicar na sua edição em papel de amanhã, do qual reproduzo a entrada.

"Nas presidenciais escolhe-se, acima de tudo, uma personalidade. É a escolha política mais pura de todas as escolhas. Nas eleições presidencial a minha escolha é a mais politicamente incorrecta do momento. Aquela que, paradoxalmente, está contra a corrente e é disso que eu gosto: Mário Soares."

A DIREITA SABE AO QUE VEM


Mercúrio

Anda toda a gente à volta das questões mais importantes que estão em causa nestas eleições presidenciais. Mas poucos se atrevem a falar claro colocando os pontos nos ii.

A direita que apoiou os governos de Durão Barroso e de Santana Lopes – pois não há outra – é a mesma que apoia Cavaco Silva. O objectivo político da direita – muito legitimamente – é a conquista do poder. A candidatura de Cavaco é um instrumento dessa estratégia. A autonomia da sua candidatura, face ao PSD, é muito limitada. Vide o surgimento de Manuela Ferreira Leite e Dias Loureiro, com todo o destaque, na Comissão Política da candidatura.

O primeiro objectivo, em curso, é isolar Mário Soares. O segundo é ganhar à primeira volta para mostrar força. O terceiro é desgastar o governo socialista de Sócrates. O quarto é tomar o poder no PSD mudando a sua liderança. O quinto é reconstruir uma maioria política a partir dessa nova liderança com, ou sem, o CDS/PP. O sexto é ganhar as próximas eleições legislativas (antecipadas ou não) de preferência depois do governo PS ter saneado as finanças públicas ganhando em troca uma imensa impopularidade.

Em síntese: tornar um facto natural o advento de “Uma Maioria, Um Governo, Um Presidente”.

O reforço da componente presidencialista do regime, a seu tempo, se verá conforme os contornos da desejada maioria presidencial e a dimensão da adesão popular aos seus encantos messiânicos.

Os negócios em vista esses aguardam já impacientes numa interminável fila de espera.

quarta-feira, novembro 2

PIER PAOLO PASOLINI


Pasolini - Assassinado em 2 de Novembro de 1975


Súplica a minha mãe

É difícil com palavras de filho
aquilo a que intimamente bem pouco me pareço.

És a única no mundo que sabe o que esteve sempre
no meu coração, antes de qualquer outro amor.

Por isso tenho de dizer-te o que é horrível saber:
é na tua graça que nasce a minha angústia.

És insubstituível. Por isso está condenada
à solidão a vida que me deste.

E eu não quero estar só. Tenho uma fome infinita
de amor, do amor de corpos sem alma.

Porque a alma está em ti, és tu, mas tu
és minha mãe e o teu amor é a minha servidão:

vivi a infância como escravo desse sentimento
supremo, irremediável, de um fervor imenso.

Era a única maneira de sentir a vida,
a única cor, a única forma: agora terminou.

Sobrevivemos: e é o caos
de uma vida que renasce fora da razão.

Suplico-te, Ah, suplico-te: não queiras morrer.
Estou aqui, sozinho, contigo, num Abril futuro …

Pier Paolo Pasolini

In De “LA REALTÁ” - “Poesia in forma di rosa”, Ed Garzanti 1964
Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim


Supplica a mia madre
.
È difficile dire con parole di figlio
ciò a cui nel cuore ben poco assomiglio.

Tu sei la sola al mondo che sa, del mio cuore,
ciò che è stato sempre, prima d'ogni altro amore.

Per questo devo dirti ciò ch'è orrendo conoscere:
è dentro la tua grazia che nasce la mia angoscia.

Sei insostituibile. Per questo è dannata
alla solitudine la vita che mi hai data.

E non voglio esser solo. Ho un'infinita fame
d'amore, dell'amore di corpi senza anima.

Perché l'anima è in te, sei tu, ma tu
sei mia madre e il tuo amore è la mia schiavitù:

ho passato l'infanzia schiavo di questo senso
alto, irrimediabile, di un impegno immenso.

Era l'unico modo per sentire la vita,
l'unica tinta, l'unica forma: ora è finita.

Sopravviviamo: ed è la confusione
di una vita rinata fuori dalla ragione.

Ti supplico, ah, ti supplico: non voler morire.
Sono qui, solo, con te, in un futuro aprile...


Súplica a mi madre

Mis palabras de hijo dirán difícilmente
algo a un corazón de mí tan diferente.

Sólo tú en el mundo sabes de mi corazón
lo que siempre fue, antes de cualquier amor.

Por eso tengo que decirte lo que es horrible reconocer:
germina mi angustia en el seno de tu gracia.

Eres insustituible. Por eso está condenada
a la soledad la vida que me diste.

Y no quiero estar solo. Tengo un hambre infinita
de amor, del amor de cuerpos sin alma.

Porque el alma está en ti, eres tú, pero tú
eres mi madre y tu amor es mi esclavitud:

esclava fue mi infancia de este sentimiento
alto, irremediable, de inmenso compromiso.

Era la única manera de sentir la vida,
la única tinta, la única forma. Ahora se acabó.

Sobrevivimos: y es la confusión
de una vida recreada al margen de la razón.

Te lo suplico, ay, te lo suplico, no quieras morir.
Estoy aquí, solo contigo, en un futuro abril…

(Original em italiano – corrigido – e tradução em castelhano retirados daqui.)