domingo, dezembro 21

EMBUSTES

Eve Arnold - USA. New York. Long Island. US actress Marilyn MONROE. 1955.

Escrevo à maneira antiga. Numa tábua em branco desenho a palavra testemunho da bruta realidade sem nada ceder aos seus horrores. Sem ser um espelho dela mas uma representação da realidade transfigurada. A poesia é a melhor enxada quando as palavras se deixam moldar. Canso-me, às vezes, de escrever à maneira antiga. Os mais hábeis para o negócio tornam as palavras num lugar habitual de convívio cosmopolita. Onde se estendem os braços e do outro lado em lugar da luxúria do gosto rendem as edições. As palavras alinhadas para o lucro não servem para nada senão para isso mesmo. Mais tarde se descobrirá o embuste - A pensar no José Rodrigues dos Santos e nos sites em inglês que promovem os seus romances nas Américas.[A propósito de ter visto uma notícia, a correr em rodapé, acerca da sua tradução em russo.]

[22/3/2008]
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sexta-feira, dezembro 19

Há um momento em que a juventude se perde ...


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IR ATÉ AO FIM

Da Maria do Rosário Fardilha: recebi o objecto-fruto maduro, híbrido, iluminado pela «esplendorosa ressonância de estar vivo» de Jorge de Sena e pelo lirismo que decorre do «êxtase na unidade homem-natureza» em Camus. Objecto-de-autor-sensível, atravessado pela maresia e o vento do Mediterrâneo. Objecto-poema pincelado de afecto, quente, no sufoco pelo ser feminino suave, pelo filho,… Lembrei-me: «Havia tanto amor e veneração nos seus olhos (...) que alguém nele - aquele que sabia – se revoltou» - o filho revoltou-se? … e os amigos: que não querem viver fora da beleza. Obrigada. Sinto-me fraca.
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Partilha:1. Sublinhei a traço grosso:«E, à noite, deitado, morto de cansaço, no silêncio do quarto onde a mãe dormia levemente, ainda ouvia uivar dentro dele o tumulto e o furor do vento que amaria ao longo de toda a vida.» - Albert Camus, O Primeiro Homem, Edição Livros do Brasil, 1994, pp. 219.
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CINCO ANOS, DEIXAR UMA MARCA.

Fotografia de Hélder Gonçalves

Passam hoje cinco anos sobre a criação deste blogue. Serve a efeméride para reafirmar o seu “programa”, ou o quiserem que seja, e para vos comunicar que ainda não acabou o tempo dele.

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
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quinta-feira, dezembro 18

“O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas”

Muitos dos nossos intelectuais habituaram-se a viver em ditadura dispondo à mão de uma causa nobre – a mais nobre das causas – pela qual lutar: a liberdade. Os que não viveram os tempos da tirania, ou por não terem dado por ela, ou por não terem idade para ter provado do seu fel, mostram muitas vezes um desejo de regresso ao passado dando como aval um desejo de regresso ao futuro. Cuidado, pois como dizia Camus: “O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas”.

terça-feira, dezembro 16

BREVE RESENHA HISTÓRICA DA IMPRENSA DO MES (I)


“Esquerda Socialista” jornal do Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.

Publicado nos Caminhos da Memória

O MES, como todos os partidos nascidos com o 25 de Abril, também criou a sua própria imprensa. Aquando da eclosão do 25 de Abril, somente o PCP dispunha de uma verdadeira imprensa própria, com tradição e enraizamento. Os diversos movimentos de base que haviam de confluir no MES produziam folhas volantes, opúsculos, boletins, mais ou menos ao sabor dos acontecimentos, e conforme as necessidades do momento. Salvo, claro está, as colaborações individuais de muitos dos seus fundadores em publicações marcantes da sociedade portuguesa dos anos 60.

Esta é uma breve resenha da história da imprensa do MES, como sempre, apoiada em documentação que tenho em minha posse e, não somente, em impressões subjectivas.

O grande entusiasta da criação de um jornal do MES foi César de Oliveira mas a própria natureza do Movimento, criado pela confluência de correntes surgidas de lutas sectoriais, tornou a tarefa mais difícil. A “Comissão de Imprensa” foi criada numa reunião da Comissão Politica realizada em 12/6/74 sendo encabeçada por Eduardo Ferro Rodrigues e César de Oliveira mas o Jornal só viria ser publicado em 11 de Setembro.

Ao contrário do que se poderia supor a primeira ideia formalizada para título do jornal do MES não foi “Esquerda Socialista” mas “A Luta Operária” e integra uma proposta subscrita por aquela “Comissão de Imprensa” titulada: “PROPOSTA – JORNAL DO MOVIMENTO DE ESQUERDA SOCIALISTA” – A apresentar à I Assembleia Nacional de Militantes do MES”. Trata-se de uma proposta detalhada que além do título propõe uma periodicidade semanal, o dia da publicação (5ª feira), o formato (tablóide), nº de páginas: 12 e subtítulos: “Órgão do Movimento de Esquerda Socialista” e “ O socialismo em Portugal será obra dos Trabalhadores Portugueses”.

Desta proposta inicial sobreviveu quase tudo, menos o título que havia de ser substituído por “Esquerda Socialista” já que o anterior, conforme consta num documento posterior, “não ganhou o suficiente apoio”. Mas não restam dúvidas que foi César de Oliveira o verdadeiro impulsionador da criação do Jornal do qual foi director interino dos 7 primeiros números da 1ºa fase, que decorreu entre Setembro de 1974 e o I Congressos de Dezembro desse ano, na qual foram publicados 11 números.

O número zero, já com César de Oliveira ao leme, foi publicado em 11 de Setembro de 1974, merecendo a megalómana tiragem de 100.000 exemplares e no seu editorial são apontados os 6 objectivos que devia prosseguir: “a) a informação e a análise das lutas; b) a informação e análise da realidade portuguesa; c) a promoção do debate político entre os militantes do MES; d) a divulgação das posições do MES à escala e regional; e) a divulgação e análise das experiências internacionais e f) contribuir para a elevação do nível de consciência das classes trabalhadoras …”. É claro que a avantajada tiragem também foi devidamente explicada mas não evitou, apesar das vendas estimadas entre 20 e 30.000 exemplares, ter sido, ainda antes da edição do nº1, acumulada uma dívida de 176 contos.

O nº 1, com o subtítulo “Órgão do Movimento de Esquerda Socialista” saiu a 16 de Outubro de 1974, com uma tiragem de 35.000 exemplares, e até ao I Congresso de Dezembro, saíram regularmente, sem falhas, 11 números. Parte da tiragem era então vendida ao preço de 2$50, com 12 páginas e a duas cores. César de Oliveira, em carta publicada no nº 7, demite-se de Director interino, justificando essa demissão por razões pessoais às quais se sobrepunham, certamente, a evolução e o teor do debate e as consequentes divergências que haviam de desembocar na primeira dissidência consumada aquando do I Congresso.

Entre o nº 7 e o nº 11 a Direcção do “Esquerda Socialista” foi assumida por Rogério de Jesus consumando, como se afirma num documento posterior, “a vitória duma “certa concepção obreirista que derrotou o intelectualismo dos “doutores” que vieram a dar origem ao GIS e à actual esquerda do PS”.

Não posso deixar de referir o papel marcante, nesta fase iniciar, entre os esquecidos criadores do movimento o designer Robin Fior, um estrangeiro em Lisboa por altura da eclosão do 25 de Abril. Foi ele que desenhou o símbolo do MES o único, adoptado pelos partidos portugueses, com uma declarada feição feminil; Robin foi também o autor da linha gráfica da primeira série do jornal "Esquerda Socialista" e concebeu um conjunto de cartazes surpreendentes pela sua ousada modernidade. Os materiais gráficos do MES, em particular, os da sua fase inicial, alcançaram uma rara qualidade que bem merecia uma cuidada recolha, estudo e divulgação pública.
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segunda-feira, dezembro 15

VALE A PENA SER DISCRETO?


Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena

Fernando Pessoa - Quadras


Não é todos os dias que um nosso interlocutor toma para si o risco de tornar pública a apreciação que de nós faz. Caminhe em que sentido caminhar a apreciação do outro faz-nos estranhar a nossa própria face, ouvir diferente a nossa própria voz, por um momento, faz-nos reflectir acerca dos gestos quotidianos de que é feita a nossa vida e, no caso, perguntarmo-nos o que é, afinal, isso de comunicação.

O amigo que me fala do outro lado do Atlântico, e que assina CATATAU, resolveu, hoje, escrever acerca de mim:

Recebi os Primeiros Poemas, livro de Eduardo Graça, cuidadosamente confeccionado, com trabalhos da artista portuguesa Isabel Espinheira.

Nosso amigo Absorto reuniu diversos poemas, boa parte deles escritos no "verão de 1980 quando, na praia dos sonhos que sempre ilumina, encontrei a Guida".

Sobre esse livro e o Graça, esbocei já diversos textos. Diria que o perfil de Eduardo Graça é muito interessante, admirador de Jorge de Sena, Kavafis e Camus (sempre presentes em seus veículos). Ainda, comentaria a respeito de sua paixão pela escrita, e apelaria a um caráter um tanto "abnegado", entrevisto em seu weblog, no sentido positivo de evocar uma ética do escrever, ao mesmo tempo em que a "popularidade" não faz parte das preocupações.

Em jogo, sempre a relação do leitor com o escritor. Porém não no mecanismo simples da mera autoridade. Eduardo não busca (enfim, é o que eu diria dele) um jogo de autor-autoridade, mas talvez um mecanismo mais complexo, no qual duas pessoas enredam-se na comunicação como pessoas - sem mediações "autorais" -, e a escrita se reveza como "meio" e como "fim". A escrita é meio para encontrar outras pessoas. Mas ao mesmo tempo, é fim em si mesma, implica o apreço por uma certa espécie de "arte" ou "culto à arte", tentativa de reportar o leitor apenas para a escrita, independente de questões autorais. No mesmo movimento, ela se reporta ao leitor, mas especialmente ao conteúdo, independente de qualquer leitor (ou talvez melhor se formule assim: para todos os leitores).

Mas no fim, não continuarei impressões que devem apenas a mim. Convido o leitor a tirar suas próprias impressões, visitando o Caderno de Poemas do Eduardo. Na lista, poemas de seus Primeiros, bem como atuais, e vários outros. Com o Absorto, o Caderno compõe um belo instrumento de interlocução, nos dois sentidos acima enumerados: um bom encontro, com bom conteúdo.

Obrigada, digo eu, cá deste lado!
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domingo, dezembro 14

SINDICATOS: "COISA VELHA"



O problema é que se Sócrates pensa que os sindicatos são "coisa velha”, tal como hoje afirmou Carvalho da Silva, Sócrates é bem capaz de ter razão. Em Março, deste ano, denunciei, num artigo de opinião, uma medida inominável que foi aprovada no último Congresso da CGTP com a qual, livrando-se dos dirigentes com passado, a CGTP mostrou, de facto, que é “coisa velha” e, com ela, os sindicatos que representa :
  • Enquanto Carvalho da Silva proferia o seu discurso “pronto-a-vestir” que assenta na perfeição a qualquer governo, seja qual for o estádio de desenvolvimento da sociedade e da economia, a CGTP criou, no âmbito do seu XI Congresso, uma regra que exclui da sua direcção os sindicalistas sexagenários. Estava dado o sinal à sociedade e, em particular, ao mundo laboral, de que a CGTP não é para velhos.
  • Esta não é uma questão menor, desde logo, porque confirma a intenção de eliminar a influência de dirigentes que, segundo todas as informações, defendem pontos de vista divergentes face à tendência política dominante naquela central sindical.
  • Jerónimo de Sousa, nascido em 13 de Abril de 1947, não poderia hoje, pela sua “provecta idade” (60 anos), ser dirigente da CGTP mas pode, por ironia, ser secretário-geral do PCP.
  • Mal se imaginava que a CGTP, confrontada com a implosão do mundo social que esteve na sua génese, enveredasse pelo caminho da “fobia gerontológica”. Quando se sabe que um dos lados mais dramáticos das sociedades do nosso tempo é o estigma da idade, a desvalorização da experiência, a distância entre as aspirações dos cidadãos comuns e os objectivos das grandes organizações, como pode o afastamento dos mais velhos do comando da CGTP arvorar-se em bandeira de renovação e modernidade?
  • A CGTP sabe que, em Portugal, “nos próximos 25 anos o número de idosos poderá mais do que duplicar o número de jovens” (INE) e que o “envelhecimento activo” é um dos grandes desafios do mundo ocidental e uma das primeiras prioridades da UE, no âmbito da “Estratégia de Lisboa”, que tem como objectivo atingir, até 2010, uma taxa de emprego de 50% para as pessoas do grupo etário dos 55 aos 64 anos.
  • A CGTP sabe, melhor do que ninguém, que o envelhecimento demográfico é inexorável colocando cada vez mais pressão sobre a sustentabilidade financeira do modelo de segurança social que ela própria defende. Ou seja a CGTP sabe que os mais velhos pesarão cada vez mais, quer nos indicadores demográficos, quer no financiamento do sistema previdencial, quer nas políticas de “envelhecimento activo”, quer no voto que, em democracia, serve para escolher os dirigentes das organizações e os governos.
  • A CGTP ao colocar fora dos seus órgãos dirigentes de topo os sindicalistas com mais de 60 anos, assim como os aposentados e pré-reformados, com menos de 60 anos, mesmo pondo de lado as teses conspirativas, mostrou ao país o seu desprezo pelas políticas sociais que incorporam a solidariedade inter-geracional.
  • Pois se o princípio de solidariedade inter-geracional que a CGTP assume, dentro de casa, é este, como pode, enquanto organização sindical que se reivindica das velhas bandeiras da luta pela igualdade e pela justiça social, defender os legítimos interesses de todos os trabalhadores e, em particular, os interesses dos reformados e dos aposentados, muitos deles no activo, que representarão, no futuro, um grupo cada vez mais numeroso e influente na sociedade?
  • Escrevi, faz um ano, nestas páginas, uma crónica intitulada “A luta de classes segue dentro de momentos …”, abordando o tema do sindicalismo. Nela me interrogava se não teria “chegado o momento de abrir caminho para a restituição dos sindicatos aos seus associados criando as bases de um sindicalismo moderno que constitua uma alternativa credível ao que muitos designam como o sindicalismo “de via reduzida” hoje dominante no nosso país?”
  • A CGTP-IN mostrou, neste Congresso, além da sua dependência partidária, com a consagração da ideia de que o sindicalismo não é para velhos, que persiste no caminho do sindicalismo de “via reduzida”, abdicando de uma leitura moderna dos valores fundadores do movimento associativo dos trabalhadores, ou seja, a sua vocação internacionalista, dialogante, solidária e inclusiva.

50 ANOS - VITÓRIA OU MORTE?


Mientras se preparan extensos dossiers sobre los cincuenta años de la Revolución Cubana, pocos se preguntan si lo celebrado es el cumpleaños de una criatura viva o sólo el aniversario de algo que ocurrió. Las revoluciones no duran medio siglo, les advierto a los que me preguntan. Terminan por devorarse a sí mismas y excretarse en autoritarismo, control e inmovilidad. Expiran siempre que intentan hacerse eternas. Fallecen por querer mantenerse sin cambiar.

Lo que comenzó aquel primero de enero lleva –según muchos– varios años bajo tierra. La discusión parece estar alrededor de la fecha en que ocurrió el funeral. Para Reinaldo, murió aquel agosto de 1968 cuando nuestro barbado líder aplaudió la entrada de los tanques a Praga. Mi madre vio agonizar la Revolución mientras dictaban la sentencia de muerte al general Arnaldo Ochoa. Marzo del 2003, con sus detenciones y juicios sumarios, fue el estertor final que escucharon algunos empecinados que la creían viva aún.

Yo la conocí cadáver, se los digo. Aquel año 1975 en el que nací, la sovietización había borrado toda la espontaneidad y nada quedaba de la rebeldía que evocaban los mayores. No había ya pelos largos ni euforia popular, sino purgas, doble moral y delación. Los escapularios con los que habían bajado de la montaña estaban ya proscritos y aquellos soldados de la Sierra Maestra, se habían vuelto adictos al poder.

El resto ha sido el prolongado velatorio de lo que pudo ser, los cirios encendidos de una ilusión que arrastró a tantos. Este enero la difunta cumple un nuevo aniversario, habrá flores, vivas y canciones, pero nada logrará sacarla del panteón, hacerla volver a la vida. Déjenla descansar en paz y comencemos pronto un nuevo ciclo: más breve, menos altisonante, más libre. [DAQUI]
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sábado, dezembro 13

NAMORAR À JANELA


A propósito do namoro entre intelectuais da “esquerda da esquerda”, em busca do tempo perdido, rebuscando nos escombros do MES, passam-me por debaixo dos olhos textos antigos que, apesar de tudo, me tranquilizam. Lembrei-me destas frases antigas de Camus:

"Regra lógica. O singular tem valor de universal.
- ilógica: o trágico é contraditório.
- prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros."

Albert Camus - Caderno nº 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937)
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TANTO MAR?

Capa do livro "Tanto Mar?", da autoria de Francisco Seixas da Costa, Embaixador de Portugal no Brasil, uma edição da Thesaurus Editora, de Brasília, que saiu do prelo no dia 8 de Dezembro. O livro coincide com as despedidas de Seixas da Costa do Brasil de partida para Paris. Boa sorte!
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quinta-feira, dezembro 11

CALÍGULA

Não chegou a tempo esta notícia: no dia 7 de Dezembro às 21.45, vamos apresentar em co-produção com o Grito a peça Calígula, de Albert Camus, inserida no Festival de Teatro do Seixal. É um acontecimento raro a representação do teatro de Camus em Portugal. A mesma peça foi representada, em 2001, pela Companhia de Teatro do Algarve.

Desta vez aconteceu na Sociedade Musical 5 de Outubro - Lg. D. Paio Peres Correia - ALDEIA DE PAIO PIRES - tel. 212 219 153 – no âmbito do FESTIVAL DE TEATRO DO SEIXAL QUE VIVA!
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CINISMO EM ESTADO PURO

Uma das primeiras medidas que o Presidente Obama tomará, adivinho que no próprio dia da sua tomada de posse (20 de Janeiro), ou poucos dias passados, será acerca de Guantánamo. O que fôr soará. O que pode causar perplexidade é a reclamação da Dra. Manuela Ferreira Leite por não ter sido informada da posição do governo português mostrando disponibilidade para acolher prisioneiros detidos naquela base/prisão. O que disse o ministro dos Negócios Estrangeiros Português no dia da celebração 60º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos? : "chegou a altura de a UE responder à chamada para encerrar o centro de detenção de Guantánamo". "Por uma questão de princípio e de coerência, devemos dar um sinal claro da nossa vontade de ajudar o governo dos EUA a resolver o problema, nomeadamente através do acolhimento dos detidos. No que respeita ao governo português, estaremos disponíveis para participar nesse esforço". A Dra. Manuela Ferreira Leite precisa de uma formalidade diplomática para exprimir a sua opinião acerca de uma tal questão?
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Aqui fica mais este incentivo à Dra. Manuela Ferreira Leite
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quarta-feira, dezembro 10

A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI

Uma singela homenagem aos lutadores pela liberdade em Cuba em contramão com uma parte da nossa “esquerda da esquerda” que conquistada a liberdade já se esqueceu, ou ainda não lhe chegou ao conhecimento, dos seus riscos, dores e verdadeiros heróis.

O CALENDÁRIO

A questão do calendário eleitoral do próximo ano, levantou polémica a partir de uma declaração de Santana Lopes, que ia no sentido de atribuir ao PS a condução de uma estratégia destinada a antecipar as eleições legislativas. Acerca do momentoso caso a posição do PS – no sentido de manter o calendário - consta nesta notícia de 5 Março deste ano. Como se pode verificar o tema não é novo. É claro que calendários leva-os o vento … mas se a ideia for prestigiar a democracia mais vale, salvo situação de força maior, manter o calendário e tratar, a sério, de outros assuntos.

segunda-feira, dezembro 8

POR MARES NUNCA ANTES NAVEGADOS


Estou a imaginar uma equipa de trabalho cuja missão é construir um petroleiro, um automóvel, um lustre, o que for, um produto mais ou menos complexo e exigente da concepção ao produto final. Nela trabalham pessoas utilizando os mais variados utensílios e técnicas, cronogramas e medidas, saberes e vontades. Existirão hierarquias, desde a administração ao pessoal operário, e dentro de cada departamento outras hierarquias e dentro de cada unidade mais pequena, cada vez mais especializada, existirão competências, mensuráveis por um processo de avaliação.

Se um membro de uma equipa de trabalho falhar no desempenho da sua tarefa pode pôr em causa o objectivo pré definido causando um prejuízo irreversível ao projecto e pondo em causa o seu posto de trabalho e o de todos os outros colaboradores da empresa ou instituição, ou mesmo, a sua sobrevivência.

Todas as equipas, e cada um dos seus membros, podem falhar mas têm que existir processos para identificar a origem do falhanço, apurar responsabilidades e encontrar o caminho para a correcção dos erros. A isto se chama, em qualquer modelo de organização, acompanhar, controlar e avaliar. Pressupondo, está bem de ver, que estão definidos objectivos e que os mesmos são partilhados por todos os membros da organização independentemente do seu lugar na hierarquia e das inevitáveis tensões da concorrência interna. O estaleiro para se manter no mercado tem que construir x unidades do produto por unidade de tempo.

Quando pensamos na escola pública como projecto podemos, igualmente, encontrar estruturas semelhantes, os mesmos problemas e dificuldades, apesar de ser uma realidade eminentemente social desde a concepção do modelo de gestão ao produto final. Estão lá os ingredientes todos mas, no caso, o dono do projecto é o estado. Entre a multidão de problemas com que se defronta a escola pública enumero seis.

O problema nº 1 da escola pública, por mais fervor que ponhamos na sua defesa, é o facto de estar fora do mercado, por mais desprestigiado que esteja o mercado (é a velha questão da liberdade de escolha, paradoxalmente, mesmo no seio da escola pública.);

O problema nº 2 é a escola pública, por razões históricas, ter crescido desmesuradamente, nos últimos 35 anos, obrigando o patrão (estado) a contratar trabalhadores sem ter tido a preocupação de os escolher, de forma cuidada, tomando como critério principal a competência (onde se inscreve a questão do recrutamento e avaliação do desempenho dos professores);

O problema nº 3 é o do atraso na criação de cursos profissionais nas escolas públicas, por responsabilidade dos sucessivos governos, segmentando a oferta, a meu gosto, de forma radical, pelo menos a partir do início do secundário (a partir do 9º ano);

O problema nº 4 é o da modernização e racionalização, em partilha com as autarquias, da rede de escolas públicas, criando menos escolas, mas melhores escolas (é a questão das instalações e equipamentos);

O problema nº 5 é o da chamada gestão democrática das escolas, ou seja, a velha questão de quem manda e, não tenhamos medo das palavras, ousando integrar no modelo democrático a figura de gestor que, podendo, ou não, ser professor, não pode ficar refém dos interesses particulares de qualquer corporação;

O problema nº6 é resultante do atraso na aplicação de todas as medidas correlacionadas com os pontos anteriores (e muitos outros) que conduziu o governo, em funções, face a uma situação originada por sucessivas políticas contraditórias, à adopção de uma política voluntarista de reformas em cascata destinadas a produzir resultados a médio, e longo prazo, mas que é avaliada, face ao calendário eleitoral, a curto prazo.

Pois se todos os partidos, há tanto tempo, proclamam a educação, em geral, como a prioridade das prioridades ninguém se deve espantar com as discussões, disputas e lutas a propósito de medidas que se destinam, de verdade, a promover a reforma da educação. Não é, pois, de admirar que a reforma da escola pública tenha sido tomada, pelo governo, como uma verdadeira prioridade política.

O que poderá causar admiração é a persistência do governo – em particular da ministra em funções - em levar avante a sua política, em véspera de eleições, quando sempre poderia, de forma habilidosa, fazer marcha atrás, tornando tudo ao princípio, ou seja, desistindo. Se assim não acontecer, salvo nos pormenores e ajustamentos que não sacrifiquem o essencial, nem a vontade negocial, o mais que se poderá dizer é que o governo se bate por cumprir com o seu programa.

Em última instância quem considere que votou no programa errado sempre poderá, em próximas eleições, corrigir a mão. Mais vale serem os cidadãos eleitores, através do voto, em eleições, decididas por sufrágio universal, directo e secreto, a escolher os governos do que a rua a defenestrá-los. É um caso prático de demonstração da diferença entre democracia e tirania.
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domingo, dezembro 7

QUE GUERRA É ESSA?

Frank Ward: Crossing Siberia

Há uma “literatura de opinião” e uma propaganda imensas acerca deste assunto e ontem esta frase esteve, todo o dia, fazendo manchete nos jornais on-line portugueses. O que me faz voltar ao assunto para perguntar: nos últimos tempos tem havido paz entre os sindicatos de professores e o governo? O que pretende o sindicalismo revolucionário ao desembainhar a linguagem da guerra? Conquistar a simpatia da opinião pública numa época de dificuldades económicas para a maioria das famílias e das empresas? Ameaçar com o encerramento das escolas aumentando as dificuldades do quotidiano das famílias ameaçando-as com o risco de ficarem sem saber o que fazer com o quotidiano dos seus filhos? Estão os professores porventura sob ameaça de perder o emprego como uma parte dessas famílias que ameaçam com as suas ameaças? Foi-lhes feita pelo governo alguma proposta mais gravosa que já não esteja em vigor na administração pública? É que está em vigor na administração pública um sistema de avaliação do desempenho. Talvez a maioria dos cidadãos não saibam mas, com seus defeitos, suas virtudes e perversidades está a vigorar, e a ser aplicado, à esmagadora maioria dos funcionários públicos, incluindo dirigentes, um sistema de avaliação de desempenho. É preciso que os professores sejam capazes de entender que as razões da sua luta são cada vez mais difíceis de entender. Não vale a pena abrir uma guerra que os dirigentes dos sindicatos de professores têm por obrigação de saber que já há muito está aberta. Se os dirigentes sindicais acham que a podem ganhar, que guerra é essa? E os professores sabem qual é a guerra dos dirigentes sindicais?
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sexta-feira, dezembro 5

ESTE NÃO É O TEMPO DOS TÍBIOS

Juro que estou longe de ser taradinho por sondagens. Mas com o tempo tenho-me rendido a elas ou, ao menos, a dar-lhes algum crédito. Ainda mais quanto permitem vislumbrar tendências de evolução coerente ao longo do tempo. Ora para ir directo ao assunto o que me parece é que todas as últimas sondagens mostram que o PS capitaliza com a crise e com a contestação às suas medidas anti-crise. A crise joga a favor de Sócrates permitindo-lhe apresentar-se como um político de “pulso” num país que, por tradição, gosta de políticos “de pulso”. A oposição do PSD é frágil pelo menos por duas razões: Manuela Ferreira Leite não tem perfil para criar uma expectativa de vitória eleitoral e, ao contrário de todas as aparências, é prejudicada pelo facto de a Presidência da República estar ocupada por Cavaco. A dupla social-democrata não multiplica as simpatias pelo PSD, antes as subtrai, e o PS de Sócrates ocupa, de forma cada vez mais consistente, o espaço político eleitoral do PSD. É uma estratégia inteligente concordemos ou não com ela. O reverso da medalha é o crescimento da “esquerda da esquerda” mas na hora da verdade, salvo qualquer hecatombe, se a tradição eleitoral portuguesa se mantiver, a maioria dos portugueses votará em quem lhes dê mais garantias de estabilidade política e de capacidade de resposta à crise. O que poderá evitar a vitória eleitoral do PS nas próximas eleições legislativas? : o afundamento da economia, muito para além das previsões actuais; um agravamento radical das relações institucionais entre Cavaco e Sócrates; o afundamento da UE com a queda de Durão Barroso ou um qualquer escândalo imprevisível. Mas falta muito pouco tempo para que todos os factores negativos, com incidência directa na credibilidade de Sócrates, se possam conjugar de forma letal para o PS. As oposições, ao contrário do que parece, estão na defensiva porque têm medo do poder. O poder, a nível de governo, queima os tíbios* e estes jamais confessarão, em público, a sua tibieza.

*Que é fraco, ténue, débil = FROUXO (Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa)
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