sexta-feira, janeiro 20

20 DE JANEIRO

Hoje é dia 20 de janeiro que assinala o final de um quadriénio presidencial americano e o inicio de mandato de um novo inquilino da "Casa Branca". Ao contrário dos últimos 8 anos, correspondentes a dois mandatos presidenciais nos USA, com inicio em 20 de janeiro de 2009, pouco tenho para dizer, quase nada me apetece dizer. Deixai falar o silêncio. Lembro-me de leituras antigas a cujos ensinamentos, com mais ou menos vigor, e lucidez, me mantive fiel ao longo do tempo. Nada, nem ninguém, me fará desesperançar no futuro do homem e na sua capacidade de resistir às ameaças à liberdade, à democracia, à paz e concórdia entre os povos e as nações. Com respeito aos valores fundamentais em que assentam as nossas sociedades democráticas, com seus vícios e virtudes, nada está definitivamente assegurado, mas também nada está definitivamente perdido. Existe pelo meio o tempo e o espaço nos quais se movem os mais mesquinhos interesses, e seus coros de guerra, mas também as forças do espirito da liberdade, da cultura e da paz que, no caso da Europa do pós guerra, durante mais de 70 anos foram capazes de resistir às tentações totalitárias. Estou convicto que continuaremos, atentos e vigilantes, a mantermo-nos fiéis, no próximo futuro, a essas extraordinárias conquistas alcançadas com o sacrifício de milhões de vidas de cidadãos do mundo.

segunda-feira, janeiro 16

A SAÚDE

Saindo da última curva das dores do corpo dou-lhe algum merecido repouso, a conselho, sentindo o inicio da revolta contra o marasmo da ação. Um problema que me acompanha a vida toda, qual seja, a de não dominar de forma adequada, a vertigem pelo movimento. Uma vez mais pude testemunhar a complexidade das atividades na área da saúde, a maturidade na gestão de equipas diversas e complementares, a qualidade técnica e humana dos seus profissionais (deverá haver, certamente, exceções) no cuidar de uma multidão de cidadãos aflitos por uma miríade de maleitas. O sistema português de saúde é um puzzle onde se encaixam vários subsistemas, complementando-se e concorrendo. Nada sei, de ciência certa, acerca das suas virtualidades a não ser da experiência de escassas frequências pessoais dos seus interstícios. Mas o que sei dá para perceber que, desde que o SNS não seja desmantelado, com mais ou menos recursos públicos afetos às restantes ofertas (privada e da economia social), os cuidados de saúde prestados aos portugueses ainda poderão melhorar. É um desígnio e um desejo. Haja saúde!

sexta-feira, janeiro 13

O CORPO

O corpo faz exigências que vergam as tarefas do quotidiano à sua pequenez. O corpo pode exigir descanso para recuperar do cansaço,tratamento para o curar da doença,relaxamento para beneficiar da preguiça. O pior de tudo é a doença. Daí a saudação tradicional, "haja saúde", sempre associada ao maior dos bens que pudemos possuir. Desde a passada 3ªfeira estou a recuperar de uma intervenção necessária para me devolver a qualidade de vida. Nada de grave e com expetativa positiva de rápida recuperação. Nos últimos 15 anos nunca havia adoecido (salvo pequenos achaques) nem faltado ao trabalho. Nem eu próprio tinha a noção exata deste longo período de tempo de vida saudável atravessando um período de vicissitudes da vida nem sempre fáceis de ultrapassar. Tudo para dizer que se aprende a apreciar o trabalho dos profissionais da saúde em todo o tipo de estabelecimentos - públicos, privados e da economia social - a nossa resistência à dor e a atenção dos nossos familiares e amigos. Adiante.

sexta-feira, janeiro 6

Passam os anos ....


Passam os anos e damo-nos conta que o nosso corpo muda, de forma desigual, cada vez mais exposto à erosão, ou desgaste, dos materiais de que é feito. Nada de novo. É a lei da vida que as estatísticas demográficas demonstram na sociedade inteira e os nossos corpos revelam na intimidade do nosso quotidiano. Para dizer que na próxima semana serei sujeito a uma cirurgia, que replica outra (única) realizada 15 anos atrás. Nada de grave salvo a ansiedade que antecede estes momentos em que a nossa resistência, física e psicológica, é posta à prova. Porque razão escrevo acerca deste acontecimento banal? Para que os meus amigos fieis na leitura deste blogue fiquem a saber. Nada de mais.
(A fotografia destina-se a comprovar visualmente o antes dito...)

quarta-feira, janeiro 4

Pelo 57º aniversário da morte de Camus

A última carta de René Char a Albert Camus é datada de uma segunda-feira de Dezembro de 1959. Char manifesta interesse em passar, ao menos, um dia com Camus, e família: (...) “Ne vous inquiétez pas. Je me ferai transporter en auto à Lourmarin* dans la matinée du jour fixé. Embrassez Catherine et Jean pour moi. Affection à Francine. De tout cœur à vous toujours. René Char.»

*Deux jours avant le départ d’Albert Camus, René Char vint, en compagnie de Tina Jolas, passer une journée avec lui. Au moment de se quitter, Albert Camus lui dit, en parlant de La Postérité du soleil : « René, quoi qu’il arrive, faites que notre livre existe !»

Char foi a última pessoa a visitar Camus antes da sua morte, na viagem de regresso a Paris, no dia 4 de Janeiro de 1960.

segunda-feira, janeiro 2

Marcelo 2017 - segundo dia

Ainda à entrada do ano novo umas palavras acerca do Presidente Marcelo no qual, enquanto candidato, não votei. Desde o inicio a sua notoriedade pessoal era tamanha que lhe permitiu conduzir uma campanha sem os constrangimentos do propagandismo tradicional. Uma vantagem que se casou bem com a sua personalidade permitindo-lhe surgir aos olhos do povo como um cidadão igual aos outros - sendo tão diferente! Nos tempos que correm, propensos às mais variadas derivas populistas, eis que Marcelo inventa um discurso politico, e uma postura cidadã, apropriáveis pelo maior número, até ao presente, passando ao lado do populismo tendencialmente anti democrático. Ser popular não é ser populista. Qual o segredo? Ser capaz de manter um ritmo na ação muito além da que resulta da vulgar postura institucional/burocrática; dispor de sensibilidade para entender quão importante se torna, nos nossos dias, encurtar a distância entre os políticos e os cidadãos; manter viva a inteligência para não desprezar o valor do tempo, na vida e na politica, apesar de tudo parecer nele excessivamente rápido; ser capaz de prevenir nas relações institucionais para não ter que intervir; ser autêntico na busca de acordos, equilíbrios, diálogos e, se possível, consensos entre forças e tendências aparentemente inconciliáveis; entender a dimensão e o peso, no contexto internacional, do país (pequeno e muito dependente) redimensionando a esfera da ação externa a todos os níveis. É pouco, é muito? É circunstancial, é permanente? É tático, é estratégico? Nunca se sabe ao certo numa época tão excessiva em disrupções e ameaças estruturais em cada estado nação e na esfera supra nacional. Mas já lá vai o tempo em que era aceitável mantermo-nos impávidos, e serenos, nas nossas certezas para não aceitarmos olhar e ouvir, atentamente, as certezas dos nossos adversários. Na politica, como na vida, mais vale a abertura critica à mudança, que corre em todos os sentidos, do que o silêncio das certezas mortas .

domingo, janeiro 1

1 de janeiro 2017

1 de janeiro. Faz frio em Lisboa, embora temperado; mudámos de ano civil mas não mudámos de vida. A guerra (fria? quente?) continua, embora Guterres, na sua primeira mensagem como SG da ONU, apele à paz. Este apelo à paz era expetável, embora não feito por ele. A eleição de Guterres é, para Portugal, o acontecimento mais relevante das últimas décadas. Um pequeno país, em dimensão física e demográfica, cuja afirmação no mundo só pode ser alcançada pela ousadia das iniciativas que promovam a sua projeção externa com visão estratégica. A União Europeia existe mas é vista pelas grandes potências globais, e regionais, como um projeto falhado (logo veremos!)que valorizam, cada vez mais, cada um dos países que a integram. Sem cair na armadilha do populismo, do nacionalismo exacerbado, é urgente entender que de fora nos olham pelo que valemos. E que valeremos, enquanto país, tanto mais quanto mais nos soubermos valorizar aos olhos dos outros.

sexta-feira, dezembro 30

ANO NOVO

Fim do ano, ano novo. Não há balanços, mas há balanços. Prefiro o ano novo ao ano velho. Revejo-me mais no futuro do que no passado. O futuro abre a porta a novos desafios. É uma porta de entrada no desconhecido, confirma expetativas ou contraria-as. O tempo fascina-me, o espaço conforma-me. Espero, tenho esperança, que o futuro nos surpreenda desdizendo os justificados receios dos arautos da desgraça. O medo é o pior inimigo da paz. Comecemos por nós próprios, nossos familiares e amigos.Busquemos em nós a força da esperança num futuro de paz e concórdia entre os povos e as nações. Bom ano de 2017.

segunda-feira, dezembro 26

NATAL 2016

O Natal de 2016 já passou, como se diria nas "praças financeiras", e em todas as praças, misto. Coisas boas e más se misturam o que, aliás, sempre acontece todos os anos. Além dos desastres que são próprios da natureza e, com mais intensidade, no nosso tempo, de ações terroristas (quantas, consumadas ou não,nunca se chegam a conhecer?) cada um de nós carrega as suas pena fazendo sofrer indiretamente os outros, em particular, os que nos são mais próximos. O espirito natalício, seja o que for o espirito natalício, não é remédio para os males do mundo e do homem, quanto muito uma trégua, um alivio, que não liberta a humanidade das suas insidias e lutas insanas. Mesmo os mais distraídos se apercebem que vivemos uma crise profunda ameaçando valores e princípios que, em todas as latitudes, conforme os credos e crenças, haviam sido dado como adquiridos. Acumulam-se as ameaças à paz enquanto se avoluma o medo. Como diria o outro: isto anda tudo ligado e não vale a pena fugir para parte incerta que, nos dias da chamada globalização, não há ínfima parcela da terra que possa ser dada por segura. Só há uma solução como, em desespero, proclamam os mais preclaros pregadores: que cada um de nós pratique todos os pequenos gestos de tolerância, e boa vontade, que estejam ao seu alcance, perante todos os outros.

sexta-feira, dezembro 23

Anteontem foi solstício de inverno

Anteontem foi solstício de inverno, o dia mais pequeno do ano, inicio do inverno, verão nas antípodas, e tudo nas nossas vidas ficou na mesma, salvo o que resulta do efeito do tempo. Sempre aprendemos com nossas experiência, e as dos outros, ao longo do tempo que é o nosso, irrepetível, e como seria estimulante que o aproveitássemos em pleno. Fui um dia destes obrigado a frequentar, como utente, uma urgência de um hospital público durante uma madrugada inteira. Observei com atenção o que se passava à minha volta, nem era uma daquelas noites de intensa procura daqueles serviços (foi o que me disse a enfermeira), e na austeridade dos espaços, entre o sofrimento contido dos doentes, havia humanidade nos serviços prestados, razoável presteza e atenção ao sofrimento alheio. O serviço funcionava com um padrão de qualidade que aos olhos de um cidadão atento é mais que suficiente. Com queixas, é certo, dos prestadores dos cuidados, certamente, comuns a todos os servidores públicos. Mas não encontro razões para me queixar do serviço que me foi prestado, e que vi prestar, na qualidade de utente do SNS. Que haja capacidade politica, humana, técnica e financeira para o manter e melhorar. Os dias vão tornar-se maiores todos os próximos dias. Em breve chegará a primavera e a luz que nos ilumina mudará de tonalidade mas nós, no essencial, manter-nos-emos fieis às nossas crenças e aos nossos medos.

domingo, dezembro 18

13 ANOS

Fotografia enviada pela minha prima Conceição. No ambiente rural de inicio dos anos 50 do século passado os meus avós maternos, meus pais, irmão, tios e outros familiares, na "casa do campo" em Santo Estevão - Tavira - que, hoje, é de minha pertença. Um dia destes hei-de começar a tratar dela como merece.

Amanhã este blog faz 13 anos de vida. Como sempre acontece com altos e baixos, mais ou menos intensidade e diversidade, mas mantendo a maior regularidade possível num meio que, aparentemente, passou de moda. Mas nunca se sabe o futuro.
Aqui deixo as primeiras palavras publicadas na tarde do dia 19 de dezembro de 2003:

Estreia absoluta. Um lugar de comunicação. Experiência para a primeira impressão dos outros. Uma primeira audição para inicio de trabalho.

sábado, dezembro 17

PAPA FRANCISCO - pelos seus 80 anos

240. O cuidado e a promoção do bem comum da sociedade compete ao Estado. Este, com base nos princípios de subsidiariedade e solidariedade e com um grande esforço de diálogo político e criação de consensos, desempenha um papel fundamental – que não pode ser delegado – na busca do desenvolvimento integral de todos. Este papel exige, nas circunstâncias atuais, uma profunda humildade social.

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO

24 de novembro de 2013

quarta-feira, dezembro 14

MÁRIO SOARES


Mário Soares por Júlio Resende

Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.

Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.

O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi.
No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora.

Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.

Hoje o que me interessa assinalar é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Que viva!

segunda-feira, dezembro 12

ANTÓNIO GUTERRES - NO TOPO

António Guterres faz juramento como secretário geral da ONU após uma eleição improvável.

terça-feira, novembro 29

Fazer durar o tempo ...

Muitos portugueses ainda se interrogam - uns menos crispados, outros menos eufóricos - como foi possível chegar até à aprovação do 2º OE por uma maioria de esquerda apoiando um governo minoritário do PS. Não analisei a fundo a natureza politica dos governos europeus em funções, nem antecipo resultados de próximas eleições e referendos. Dizem as vozes da opinião publicada que a Europa está madura para ser governada à direita imoderada, não liberal, levando a cabo uma barrela fazendo desaparecer da face dela os infiéis de todas as estirpes. O processo pode ter começado a leste da Europa - Hungria, Polónia ... - caminhando para o centro - Áustria, Holanda - eventualmente mais para sul - Itália, França - com o Reino Unido em fase de rutura com a UE, via referendo. Pode ser um falso alarme, um exagero, mas convém não subestimar a realidade que vem anunciando ventos de inesperada(?)intolerância soprados dos USA. No entanto na fronteira mais a ocidente da Europa foi aprovado o OE/2017 por força de um acordo politico à esquerda. O teste da sua robustez ou fragilidade vai começar no próximo domingo quando se souberem os resultados do referendo na Itália e das eleições presidenciais na Áustria. Na frente interna as notícias dos indicadores não serão más, antes pelo contrário, podendo consolidar a prova da viabilidade de soluções de governo mais para além da rotatividade dos partidos do sistema. Se não faltar a clarividência, e coragem, aos partidos que apoiam o governo em funções escapando à defesa pura e dura do seu próprio espaço de sobrevivência politica eleitoral pode ser que seja possível fazer durar o tempo ...

sábado, novembro 26

Morreu Fidel Castro

Visitei Cuba no verão de 1976 (com Víctor Wengorovius e Francisco Farrica - uma delegação do MES). Levava uma carta de Otelo (candidato presidencial) para Fidel. Não nos encontrámos com Fidel, nem chegámos a conhecer o teor da mensagem, por vontade própria, nem Fidel, por razões indecifráveis. No dia em que o mundo conhece a notícia da morte de Fidel Castro, sinto o olhar nostálgico e caloroso dos cubanos, sua sede de futuro e de liberdade. Mas a lenda do Fidel revolucionário, carismático na sua presença e oratória fascinantes, persistirá para sempre.

sexta-feira, novembro 25

UM ANO DE GOVERNO NOVO

Passado um ano sobre o "achado" do governo socialista apoiado por uma maioria de esquerda o que há dizer que não digam todos? Uma nova solução politica, como dizia dias atrás Correia de Campos, que bloqueia a emergência do populismo de esquerda, um passo no processo de refundação da esquerda caso as lideranças resistam às pulsões partidaristas das bases, a apresentação de um caso de estudo não só para exercícios académicos de cientistas da politica, mas também, e principalmente, para os eurocratas ao serviço ou capturados pelo capital financeiro, uma plataforma politica transitória destinada a preparar a emergência de novos equilíbrios na relação capital/trabalho, centros/periferias, ... não certamente um mundo novo, mas uma nova esperança na superioridade do papel da politica sobre a economia, abrindo espaço para a afirmação de uma nova geração de dirigentes políticos com um brilhozinho nos olhos e uma luz bruxuleante no coração. É o meu desejo e a minha esperança.

sexta-feira, novembro 18

GUERRA E PAZ

Ana Hatherly
Voltando a um tema que, de súbito, entrou na agenda. Não é uma minudência mas, tão somente, o magno tema da guerra e da paz. Do silêncio dos salões, e subtilezas de comentadores da politica e da "coisa pública", ao debate aberto em todos os meios foi um instante. Não é por acaso que emergem por todo o lado sinais de intolerância através de protagonistas que julgávamos irremediavelmente afastados do centro da decisão politica, ainda para mais na maior potência militar conhecida no mundo. As ameaças à paz mundial deixaram de ser uma longínqua inquietação de seres enredados em rebuscados pensamentos, os pessimistas da razão. Elas são expostas e propaladas aos quatro ventos, como noutros tempos de sinistra memória, como se anunciassem o melhor dos mundos. Em guarda!

segunda-feira, novembro 14

FUTURO? Sim, acredito!

Tantas pessoas diferentes, estamos rodeados de uma multidão de pessoas diferentes. O progresso da nossa sociedade ocidental e, em geral, de todas as sociedades fez com que as diferenças - de religião, crença, cor de pele, ideologia, orientação sexual .... - não fossem razão, ao fim de muitos séculos, em cada vez mais larga escala, na ordem jurídica e social, de discriminação e perseguição. Sou obrigado a reconhecer que pairam fortes ameaças sobre conquistas que, quase sempre, fomos tentados a acreditar terem sido aquisições civilizacionais definitivas. Afinal os sinais dos últimos tempos, que os últimos dias acentuaram, obrigam-nos a pensar o contrário. Mas havemos de encontrar o caminho da liberdade sem negar a justiça, o caminho da justiça em liberdade. Futuro? Sim, acredito!

sexta-feira, novembro 11

Que ninguém diga que não foi avisado

Que ninguém diga, no tempo que é o nosso, que não foi avisado desde há muito tempo:

“Eu moro no bairro judeu, ou o que assim se chamava até ao momento em que os nossos irmãos hitlerianos limparam tudo. Que barrela! Setenta e cinco mil judeus deportados e assassinados, é a limpeza pelo vácuo. Admiro esta aplicação, esta paciência metódica! Quando não se tem carácter, é preciso ter método.”

Albert Camus, in "A Queda"

LEONARD COHEN LIVE IN LONDON | Democracy | PBS

segunda-feira, novembro 7

MES - Pelo 35º aniversário do jantar de extinção

7 de novembro de 1981- Jantar de extinção do MES

É notável como, invariavelmente, os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário.

Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos?

Como disse Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”

(Fotografias de António Pais.)

Albert Camus - pelo aniversário da seu nascimento


Albert Camus nasceu em 7 de novembro de 1913, na Argélia, e morreu num acidente de viação, a caminho de Paris, em 4 de janeiro de 1960.

Camus publicou, em vida, dezanove obras, de 1937 a 1959, entre as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro (“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948, “Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937, “Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand” em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”.

Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de 1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”; o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean Grenier.

sexta-feira, novembro 4

Coisas curiosas da politica

Escrevi, através do telemóvel, um breve post no facebook: "O orçamento de estado para 2017 foi aprovado na generalidade. Uma realidade curiosamente julgada impossível por muitos faz pouco tempo. Antes de julgar talvez pensar das razões." O que aconteceu hoje na AR, com a aprovação do OE, já é quase considerado um desfecho normal, previsível, dado como certo pela maioria dos comentadores. É uma situação curiosa pois pelo fim de 2015, após as eleições de 4 de outubro desse ano (ainda se lembram?), poucos eram aqueles que anteviam a atual solução governativa e ainda menos os que nela acreditavam. Mas a politica voltou por momentos ao posto de comando e tornou possível, entre outros eventos notáveis, que seja estimável que no final do presente ano de 2016 um governo do PS, apoiado pelos partidos que se convencionou considerar à sua esquerda, o chamado deficit possa ser o mais baixo dos últimos 42 anos. Ora se é verdade que os governos de esquerda (ou de centro esquerda) valorizam o fator trabalho na politica de rendimentos, em desfavor do fator capital, menos expetável será que alicercem a sua politica orçamental na busca do equilíbrio orçamental... e o alcancem. Sem entrar em detalhes, se tal vier a acontecer, será a esquerda a alcançar objetivos que a direita não desdenharia e que, em democracia, nunca alcançou. Curioso e desarmante ...

domingo, outubro 30

CUIDADO


Fotografia de Hélder Gonçalves

Esta semana, e a próxima, serão marcadas pelas eleições nos USA. O seu resultado será mais do que um indício, a medida quase final da força do populismo no mundo. A medida do grau de ameaça ao modelo da democracia representativa, nas suas diversas formulações, por esse mundo fora. Tudo aponta para que estejamos a viver uma época com as características próprias daquelas que antecederam as grandes confrontações conhecidas do século XX. As expetativas para as eleições municipais no Brasil, hoje, são terríveis com a mais que certa ascensão das forças politicas mais retrógradas que algum dia ganharam parcelas do poder; os acampamentos de refugiados em Paris são um símbolo da impotência da Europa em lidar com a crise que ajudaram a criar com o apoio às chamadas "primaveras árabes"; a renúncia politica da esquerda democrática em Espanha aponta para a erosão do peso politico do PSOE em favor dos partidos radicais de esquerda e de direita. Começa a ser estreita a margem para o campo democrático se afirmar através de politicas ativas que defendam, com apoio popular, os valores da democracia e da liberdade. Ao virar da esquina, para espanto de muitos, podemos dar de caras com a tirania. Cuidado!

quinta-feira, outubro 27

Pelo aniversário do meu filho Manuel


Fazer o caminho caminhando. Ser inteiro e probo. Olhar em frente. Não renegar as nossas origens nem abdicar das nossas convicções. Longe ou perto, cedo ou tarde, nos veremos sempre.

domingo, outubro 23

Eduardo Ferro Rodrigues, Presidente da AR

No primeiro aniversário da eleição do Eduardo para a presidência da Assembleia da República republico, e reafirmo, o que escrevi a 24 de outubro de 2015:

Mais de 40 anos depois do 25 de abril de 1974, como resultado de eleições livres e democráticas, por sobre as mais diversas vicissitudes, incluindo um histórico de tentativas de assassinato de carácter, Ferro Rodrigues foi eleito Presidente da Assembleia da República. O contexto e as circunstâncias politicas desta eleição são dissecadas, em todos os sentidos, pró e contra, pelos políticos e pela comunicação social. Nada a acrescentar. O que me leva a escrever estas linhas é a necessidade de assinalar que, pela via democrática, esta eleição coloca no lugar da segunda figura do Estado um cidadão impoluto, livre, justo e incorruptível. Para o exercício destas funções são, certamente, necessários os votos e não é indiferente a cor politica e ideológica do eleito. Mas o mais relevante é o seu perfil pessoal e a confiança de que, em circunstância alguma, deixará de honrar os princípios da ética republicana. Não que a anterior presidente da AR e outros que a antecederam, desde Henrique de Barros, Presidente da Assembleia Constituinte, não tenham honrado os compromissos próprios da função. Mas a eleição de Ferro Rodrigues, no inicio de uma nova época politica, com redobradas exigências de equilíbrio entre as instituições e firmeza na defesa da democracia, são uma garantia de abertura, diálogo e busca incessante de consenso apesar de toda a crispação deste início de mandato.
Haja saúde!

quinta-feira, outubro 20

TEMPOS SOMBRIOS


Fotografia de Hélder Gonçalves

Não vi o último grande debate das presidenciais americanas, era tarde demais para quem trabalha cedo. Mas vi excertos que confirmam o que está à vista de todos. Trump não se resigna à derrota anunciada e, poucas horas depois, num comício afirmou que aceita o resultada das eleições se ganhar, mas que não os aceita se perder. Os seus apoiantes em sua defesa recorrem ao caso de Gore que, em eleições passadas, contestou o resultado em tribunal. Mas fê-lo após conhecerem-se os resultados e não ainda antes do voto. Sombrio tem sido o tom da campanha presidencial americana confirmando o declínio do prestigio da democracia representativa nas suas diversas expressões por esse mundo fora. Os povos descreem, e desconfiam, dos políticos com redobradas razões que eles próprios oferecem através de atitudes e discursos que, vezes demais, proclamam o primado do cinismo, da mentira e do ódio. Vivemos numa época em que mais do que nunca é preciso valorizar as virtudes da democracia e da liberdade e dos seus verdadeiros, e autênticos, defensores. Cabe a cada um de nós, democratas, manter o discernimento nas escolhas e a firmeza nas convicções. Coisas simples.

sábado, outubro 15

ORÇAMENTO 2

A proposta de orçamento de estado para 2017 foi entregue pelo governo, no prazo, ao Presidente da AR. O ruído é imenso resultando de dois fatores que se associam e sobrepõem: o debate entre os partidos que apoiam o governo que extravasa a mera discussão técnica para se transformar numa luta pela afirmação politica de ganhos de causa para cada um deles, nem sempre coincidentes e por vezes concorrentes; e o cada vez mais desafinado coro dos cronistas, e opinadores, da oposição à presente solução governativa, mais ou menos incomodados, ou mesmo desesperados, com a inesperada capacidade de alcançar acordos políticos à esquerda até há pouco tempo julgados impossíveis, mera ficção, ou provisórios, e periclitantes, exercícios de sobrevivência de lideres e mesmo dos próprios partidos. Pois, ao que parece, a solução politica engendrada por António Costa, com o apoio convicto, ao que suponho, de meia dúzia de crentes nos consensos à esquerda, "proibidos" desde há muito (na verdade desde sempre!), a nível de governo central, em beneficio do sacrossanto "bloco central" (formal ou informal), parece ter-se tornado realista no plano técnico e viável no plano politico. Numa série estatística longa, tipo 50 anos, as alterações de fundo resultantes das medidas preconizadas por este governo, através dos seus instrumentos de gestão, em muitas questões centrais, não serão significativas como, por exemplo, no que respeita a mudanças na distribuição dos rendimentos, mas na Europa da UE, dominada pelas correntes politico-ideológicas liberais, um governo socialista, com apoio dos comunistas e dos apelidados radicais do BE, ou pela "extrema esquerda" (assim apelidada, nesta fórmula portuguesa, por muitos que não sabem do que falam quando falam de extrema-esquerda), é mais do que um episódio momentâneo para se tornar num caso exemplar de que é possível conciliar o que aparentemente é inconciliável. Ora aí está a politica, como diria o outro, no posto de comando. E amanhã são as eleições nos Açores. Adiante ...

quarta-feira, outubro 12

ORÇAMENTO

Passam os dias nas vésperas da apresentação do OE(Orçamento de Estado)pelo governo na AR, ou seja, em condições de calendário normal, até ao dia 15 de outubro. Será, certamente, aprovado pelo governo e apresentado no prazo. O que é mais interessante no espetáculo mediático é, acerca do assunto, não surgir a imagem, e a palavra, do ministro das finanças, o 1º ministro encontrar-se de visita oficial à China e ser o PR a usar da palavra para explicar, por experiência própria, das dificuldades de elaborar um orçamento e, mais do que isso, quando se torna imperioso conjugar as posições de diversos partidos. Vai haver, certamente, um acordo em torno da proposta de orçamento mas somente o mais tarde possível. A razão é simples: são tais e tão fortes os problemas com que se defronta a governação ( com a banca à cabeça) que não lembra a ninguém carregar aos ombros o ónus de uma crise politica sem estar desenhada no horizonte alternativa politica credível à atual maioria que apoia no parlamento o governo socialista. E assim vamos ...

quinta-feira, outubro 6

GUTERRES

No dia do aniversário da implantação da República soube-me, pela certa, que António Guterres seria escolhido para SG da ONU. Portugal saía assim, mais uma vez, para o pedestal da notoriedade politica a nível global. Nada que já não tenha acontecido no passado recente ou longínquo. Um pequeno país europeu com uma longa história erguida por homens e mulheres, com seus defeitos e virtudes, que, em regra, se subestima. Os portugueses, mais ou menos ilustres, publicamente reconhecidos, ou anónimos, perante os desafios, as dificuldades e a emergência da necessidade da lutar pela sobrevivência, são tão capazes de se superar como todos os povos. Não caiamos na tentação de elevar aos céus, seja quem for, pelos seus méritos individuais, denegrindo as virtudes coletivas do povo de onde emergem. O mundo sempre foi, pelo menos desde o século XV, o espaço de afirmação dos portugueses. O sucesso de Guterres não é mais do que uma manifestação contemporânea dessa capacidade de afirmação a nível global com a marca do individual inscrita no coletivo que transcende as fronteiras físicas do Portugal europeu.

sábado, outubro 1

DIA MUNDIAL DA MÚSICA


A catástrofe

Parece ao comum dos mortais que anda confuso o nosso tempo, repleto de sinais de incerteza em que avultam as magnas questões de paz e da democracia politica. Quando nos palcos da grande politica emergem, às escâncaras, gestos, e vozes, proclamando soluções próprias das tiranias é sinal de que multidões descreem dos valores humanistas em que assenta a organização da sociedade ocidental desde a ultima guerra mundial. Nem vale a pena enunciar exemplos, basta ouvir a rua. O caso da candidatura a Secretário geral da ONU é sintomático desta situação geral. A liderança da assembleia magna mundial das nações é disputada a golpe sem decoro, nem vergonha, à maneira de tantos negócios especulativos que vivem dos tráfegos, e das guerras, onde pululam os mais qualificados crápulas que alguma vez as sociedades admitiram para as administrar. É o clássico fenómeno da banalização do mal que conduz à catástrofe. Como evitá-la já poucos sabem.

segunda-feira, setembro 26

JOÃO CRAVINHO - pelos seus 80 anos

Decorreu o fim de semana passado um almoço de homenagem ao Eng.º João Cravinho ao qual, por razões pessoais, não pude comparecer. Nessa homenagem devem ter coexistido diversos grupos de pertença que resultam da mundo vivência do homenageado.

O Eng. º João Cravinho é uma personalidade do mais alto gabarito, no plano humano e moral, possuindo uma qualificação técnico-científica do mais alto nível. O Eng.º João Cravinho, com o qual já tive a honra de trabalhar, pertence ao escol dos homens públicos portugueses.

Aqui deixo a minha homenagem pessoal a um cidadão do mundo, de parte inteira, a que todos nós, os que trabalharam ou com ele conviveram, muito devemos na nossa formação pessoal e profissional, de democratas e homens livres. Haja saúde!

(Na fotografia, tirada por António Pais no almoço de "extinção do MES", realizado em 7 de outubro de 1981, surgem José Manuel Galvão Teles, Francisco Soares, César de Oliveira e João Cravinho.)

sábado, setembro 17

IMPOSTOS


Os estados só podem lançar impostos diretos sobre os rendimentos do trabalho e os do capital. Ambos assumem formas e hierarquias diversas, desde o rendimento dos sem trabalho, em regra igual a 0, aos rendimentos dos CEO das grandes multinacionais que atingem altos valores, inimagináveis para o cidadão comum, aos lucros das empresas e aos rendimentos de bens imobiliários e mobiliários. O assunto da desigualdade social, no qual a fiscalidade desempenha um papel central, está estudado ao detalhe em obras publicadas por insignes académicos e investigadores e, recentemente, li uma delas: "O Capital no Século XXI", de Thomas Piketty. Para dizer que só em séries longas são percetíveis mudanças significativas no efeito das politicas fiscais, ou seja, salvo em momentos de rutura (como aquando da eclosão de uma guerra), de um ano para o outro as mudanças na fiscalidade serão sempre de impacto reduzido. Mas existem tendências que associam os governos de esquerda a politicas de alívio relativo da taxação do rendimento do trabalho (salvo os rendimentos mais elevados)e a taxarem mais os rendimentos do capital, caminhando os governos de direita, tendencialmente, no sentido inverso. Mas convém assegurar coerência, sejam os governos de direita ou de esquerda, não poupando parte dos rendimentos do capital em favor de outra parte, nem poupando os rendimentos do trabalho dos percentis mais elevados. Em suma, a arte da politica nesta matéria, como em todas, é a de encontrar os equilíbrios que não tornem a justiça fiscal numa frase vazia escondendo o esbulho da propriedade, obtida por meios honrados, nem impedindo a justa remuneração do trabalho, em termos líquidos. Caso contrário, ou seja, sem a justa ponderação e equilíbrio no desenho e aplicação das politicas fiscais, ficaremos todos mais pobres.

sábado, setembro 10

Recato e prudência

A sensação que, por vezes, sinto de se apertar o cerco em torno dos valores nos quais fui educado. Não que esses valores sejam puros, e intocáveis, mas por permitirem, sem guerras, mostrar a superioridade da vida democrática, preservando a liberdade e a paz. Vem isto a propósito de discursos públicos proclamando virtudes que deveriam manter-se privadas e de mortes das mais sortidas qualidades que, de diversas formas, me tocam fundo. As instituições que zelam, em democracia, pelo cumprimento da lei devem guardar o seu prestígio e honorabilidade defendendo-se dos seus protagonistas quando estes rompem os deveres do recato e da prudência através da divulgação pública do teor de suas tarefas, mesmo de forma subliminar, ou dos seus estados de alma. Pois como se sentirão os cidadãos defendidos se se tornar dominante a ideia de que a justiça assentou arraiais nas televisões, nas redes sociais e nas páginas dos jornais?

sexta-feira, setembro 2

ESPANHA

Hoje a Espanha, a 4ª potência da UE, a par da Itália, viu goradas as expetativas da formação de um governo saído das últimas eleições. Pode acontecer ainda o milagre de uma alternativa para a qual será necessário uma, nunca antes vista, capacidade negocial da liderança do PSOE. Em Portugal a liderança de António Costa, é reconhecido por quase todos, foi capaz de criar uma solução de governo que um ano atrás ninguém julgaria viável. Pois como não há homens divinos pode acontecer que em Espanha ainda seja possível uma solução sem novas eleições legislativas, que seriam as terceiras em menos de um ano. Para dizer que, salvaguardas as diferenças gritantes entre Portugal e Espanha, é essencial acreditar que, em democracia, sempre existem soluções no quadro do funcionamento do regime e, em última instância, a realização de eleições que, no caso, seria vantajoso evitar. Pode ser que aconteça o milagre ...

domingo, agosto 28

Notícias

Todos sabemos que as notícias chovem às catadupas e que quem quiser dispor de alguma sanidade mental, em particular, no exercício de funções dirigentes, tem que relativizar o teor da esmagadora maioria delas. Pela minha parte, desde há alguns anos, reduzi drasticamente o consumo de notícias e o acesso aos respetivos suportes. Para confirmar estas minhas antigas reservas de vez em quando dou uma olhadela pela edição online da "Folha de São Paulo". É um caso de horror absoluto que distorce, de forma brutal, a vida politica e social do Brasil. É bem possível que a minha visão do mundo dos homens seja romântica e a sua realidade, em muitos casos, seja bem pior do que os relatos dela na galopante tabloidização dos OCS. Adiante. Venho aqui somente para dizer que o assunto dos "estágios profissionais" acerca do qual têm saído, recentemente, notícias bem merece um aprofundamento pois pode indiciar - e receio que se confirme - uma fraude de considerável dimensão e profundo significado acerca do estado da nação, desde a ética dos empregadores à captura da liberdade dos jovens em inicio de vida ativa, enquanto profissionais. Neste tipo de matérias as notícias, e seus autores, não deveriam envergonhar-se de cumprir o seu papel.

quarta-feira, agosto 24

CGD

Está em curso de solução a questão da CGD, no contexto da crise da banca portuguesa. Este governo está em funções desde o início do presente ano de 2016, caindo-lhe no regaço uma cascata de problemas graves da banca. Os governos não caem do céu, resultam do voto popular, mas os problemas com que se defrontam os governos não nascem com a sua entrada em funções. Isto para dizer que o que mais me espanta, no caso da crise da banca, é o papel desempenhado pela chamada troika, no período que decorreu entre 2011 e as vésperas da "saída limpa". A atuação da troika, num setor nevrálgico da sua missão, o financeiro, foi o que se pode chamar, no mínimo, um trabalho em beneficio do infrator. Como se entende o sentido da célebre frase de um banqueiro: "ai, aguenta, aguenta...", a propósito dos sacrifícios impostos aos cidadãos/contribuintes!

quarta-feira, agosto 17

JOGOS OLIMPICOS

Primeiros dois dias de trabalho pós férias (15 dias) passadas na terra (Algarve)e um cansaço enorme. Nada de mais. Decorrem os jogos olímpicos e venho aqui para escrever que, nas modalidades individuais, chegar a uma final é um resultado de excelência. Alcançar na final uma medalha, um seja, ser um dos 3 primeiros, resulta de um conjunto de circunstâncias incontroláveis pelos atletas e equipas técnicas. Salvo na maratona feminina que foi polémica, desde a seleção das participantes até às desistências na prova, o desempenho da delegação portuguesa tem sido bastante capaz, a meu ver, nada dececionante e ainda faltam algumas provas.

segunda-feira, agosto 8

Verão 2016 - agosto

Nada de novo a ocidente. Decorrem os jogos olímpicos no Rio de Janeiro enquanto chovem notícias acerca das habituais trivialidades de verão. A politica está aparentemente de férias mas, na verdade, decorre a elaboração do orçamento de estado com prazos a decorrer no mês de agosto. Nada de excecional num ano sem eleições. A nível nacional emergiram, apesar de tudo, duas questões relevantes: o IMI e as viagens de governantes (para simplificar). Qualquer dos temas dá pano para mangas. Deixo dois apontamentos: seria interessante saber que entidades, públicas, privadas e da sociedade civil, estão isentas de pagar IMI e qual o impacto de quebrar essas isenções no montante global cobrado e, em geral, na gestão do mesmo; quanto a viagens só existem duas modalidades de viagens de titulares de cargos em funções públicas: oficiais e particulares, as primeiras são pagas pelo estado as segundas pelos próprios. É claro que em tudo existem nuances e interpretações as mais diversas mas isso é assunto para analistas que não sou.

domingo, julho 31

FÉRIAS 2016

Na véspera de um período de férias no tempo certo, pelo calendário, fora do tempo certo por outras razões, incluindo profissionais. Mas o cansaço exige descanso, afastamento das rotinas, cumprindo rituais diferentes noutros lugares, com outra métrica do tempo. Levo para ler, com prioridade, "Conquistadores", de Roger Crowley, e a expetativa de visitar, uma a uma, as "ilhas barreira" da Ria Formosa, a começar pela "Deserta". As minhas férias são as mais modestas das férias que se possam imaginar: "ir para a terra", no caso, demandar o Algarve.

segunda-feira, julho 25

Turquia - 25 de julho

Faz-se sentir um calor de arrasar, coisas da natureza, que se tolera com dificuldade, mas o pior são as notícias da guerra. Assim falo sem receio algum de exagerar que, por cá, não sabemos, desde algumas gerações, o que é a guerra na soleira da nossa porta, ver trespassado por uma bala assassina um familiar ou um amigo. A nossa guerra é de palavras suaves, imagens de longe, penas constrangidas e vagas condenações. Bastariam as notícias do que se está a passar na Turquia para nos levar à revolta e à mais veemente condenação das prisões em massa e ao silenciamento da imprensa. A Europa civilizada, democrática e de bons costumes, parece mais cúmplice com os atropelos aos direitos e liberdades civis na Turquia, do que disposta a por cobro a tais desmandos. Suponho que a coberto dos acordos celebrados antes do falhado golpe a UE, ou seja, todos e cada um de nós, está pagar a instauração de uma tirania. É o cúmulo da insanidade cívica e politica da UE que é necessário, por todos os meios, denunciar. Não há meias democracias, nem meias liberdades, seja de imprensa, seja de organização ou de expressão. Não há, nesta magna questão da liberdade e da democracia, lugar para assistir sem a mais forte condenação, ao avanço das ditaduras que se alimentam sempre da desistência dos políticos democratas em assumir em plenitude as suas responsabilidades. Um dia destes pode ser tarde e a guerra destruirá, de forma cruel, a nossa própria indiferença.