sexta-feira, setembro 16

"Panorama da Educação Nos Países da OCDE"


Serralves – Fotografia de Hélder Gonçalves

Foi divulgada a edição de 2005 do “Panorama da Educação nos países da OCDE”. Este “panorama” consiste, em síntese, num conjunto de indicadores, comparáveis e actualizados, acerca do desempenho do sistemas educativo em 30 países.

Comecemos por assinalar, por via dos equívocos, que os progressos realizados nos últimos anos em muitos países, incluindo Portugal, são assinaláveis. O interesse do relatório concentra-se, no entanto, na apreciação da posição relativa de cada país no que respeita ao desempenho da respectiva política educativa.

E, naturalmente, no enunciado dos indicadores nos quais Portugal surge, em termos comparativos, numa posição desvantajosa.

Eis um enunciado sintético de três desses indicadores que podem ser consultados, na íntegra, através do link que surge no final deste post.

- Portugal surge no último lugar no indicador de frequência do ensino formal, com 8,2 anos, considerando os cidadãos dos 25 aos 64 anos. Quer dizer que cada português adulto frequentou a escola, em média, 8,2 anos.

Nos últimos lugares, neste indicador, surgem também a Itália (10 anos), Turquia e México (menos de 10, mas mais de 8,2 anos). Os primeiros lugares são ocupados pelos EUA, Noruega, Dinamarca e Luxemburgo, com cerca de 14 anos.

Este indicador é, certamente, um dos mais objectivos e o reverso de outro tipo de indicadores, conhecidos, como o que se refere ao “abandono escolar precoce” em que Portugal ocupa o último lugar entre os países da UE.

- Nalguns países os professores (“a meio da carreira”) têm salários mais do que duas vezes superiores ao PIB per capita do respectivo país, casos da Coreia e do México, ocupando Portugal o lugar imediatamente a seguir, usufruindo os professores portugueses de salários semelhantes aos da Alemanha e da Suíça.

Mesmo considerando que os professores trabalham em contextos diferentes, integrados em processos organizacionais diversos, de país para país, este é um indicador bastante surpreendente que ainda mais se torna impressivo quando se lhe junta o indicador do tempo líquido, em “horas por ano”, passado pelos professores em actividades lectivas na escola.

- Neste indicador Portugal apresenta uma situação que indicia uma relativamente fraca permanência dos professores na escola com um valor ligeiramente superior às 600 horas/ano face à média do conjunto dos países que é de 701 horas/ano, sendo que este valor atinge mais de 1000 horas nos EUA e no México e um valor mínimo de 535 horas no Japão.

Os indicadores disponibilizados por este relatório da OCDE têm o valor que têm, mas, no seu conjunto, representam uma fotografia bastante negativa do estado da educação em Portugal.

A sua leitura por mais benévola que seja face a factores de diferenciação do “caso português” dão uma forte caução às medidas que o governo socialista tem vindo a aplicar na reforma do sistema, em particular, na promoção de um mais extenso e atento acompanhamento pelos professores das actividades lectivas dentro das escolas.

De facto a conjugação, em Portugal, de salários relativamente elevados dos professores com o tempo da sua permanência na escola, em actividades lectivas, abaixo da média do conjunto dos 30 países considerados, deve querer dizer alguma coisa, não é?

Veja aqui o “Panorama da Educação nos países da OCDE”.

Aqui uma notícia a propósito do mesmo assunto.

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