É difícil falar de política nacional na conjuntura actual, não por medo ou temperança intelectual, mas pela simples razão de ser praticamente ininteligível o discurso do principal partido da oposição. Sabendo o que representam os partidos da esquerda anti-poder a discussão politica só faria sentido tomando como alvo de análise, e critica, as propostas do PS e do PSD. Ora sendo conhecida a política do PS, identificáveis os seus efeitos, audíveis os descontentamentos e mensuráveis os apoios – pelo menos atendendo às sondagens – a outra face do jogo é preenchida por uma criatura estimável que, tendo acedido à liderança do PSD, apresenta propostas, e faz declarações, que ultrapassam o normal entendimento dos vulgares seres pensantes numa época que, todos o dizem, é a do regresso em força da política. Ora a minha percepção, decerto falível, é a de que o discurso político de Manuela Ferreira Leite é um apelo, embora ainda pouco estruturado, de regresso à autarcia. Um discurso eivado de ressonâncias salazaristas baseado no velho lema: “pobres mas honrados”. Custa a crer mas o tempo passa e parece que a estimável senhora não enxerga outra política senão a da “saída para trás” em oposição à da “saída para a frente”. Eu sei que ela espera que a crise financeira, à qual se estima se seguirá uma profunda crise económica e social, torne as suas arrecuas em valiosas e prudentes peças de um puzzle que credibilize uma nova ordem que nem ela, nem ninguém, sabe qual seja. Mas quer-me parecer que, ao contrário do que pensa, será ela a primeira a morrer às mãos dos seus, de que Sócrates a morrer às mãos da crise. Pois salvo qualquer volte face, que sempre pode ocorrer, é a natureza da crise e a passagem do tempo que, ao contrário de desgastarem o governo, desgastam a oposição. E só faltam 11 meses para as eleições legislativas!
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