O problema dos nossos intelectuais críticos da governação, qualquer que seja, é não serem capazes de entender que a governação não se situa no terreno do ideal absoluto mas na capacidade de atender ao relativo possível. O problema dos nossos intelectuais de esquerda críticos da governação de (centro) esquerda, é não entenderem que a esquerda, à esquerda, fundada nos puros valores, herdados da revolução francesa, já se finou. [Ver um caso em chaga viva!] O problema da esquerda, face a face com o poder, é recorrente: compromisso ou radicalidade? A insistência na radicalidade, herdeira dos vários esquerdismos, é a via mais segura para entregar, numa bandeja de prata, o poder à direita. A esquerda da esquerda não acredita na democracia politica como um regime político virtuoso mas tão-somente como um regime transitório, a derrubar por dentro, em favor de uma democracia popular, de um poder popular, ou seja, o regresso a uma discussão estafada que desemboca numa esperança morta. Para pior já basta assim …
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5 comentários:
Muito bem observado. O que esta "esquerda irresponsável" diz querer ( e eu não acredito que aguentassem nem um dia desse paraíso que anunciam!), é a revolução "instantânea", pronta comer, sem mais delongas. O amanhã a cantar de véspera!
São apenas irresponsáveis s servir a direita trauliteira.
MFerrer
O problema da "esquerda" que está no poder em Portugal é não ser de esquerda. Por isso, a "direita", que está na oposição, não tem hipótese de governar. Se a "esquerda" já faz uma política de direita, não é preciso o PSD para nada. O "bloco central" de interesses está bem representado. Dito de outro modo: o Dias Loureiro está bem para o Jorge Coelho. Ambos respeitáveis "pessoas de bem" e, ainda por cima, compadres...
Somos todos parvos ou quê?
Caro Eduardo Graça,
O problema grave dessa tal esquerda é que não acredita na democracia, pelo contrário detestam-na. Para eles governar à esquerda é socorrer e satisfazer todo pedido ou reclamação de qualquer e toda necessidade pessoal do povo, no pressuposto(moral? oportunista?)que tem de ser assim a bem ou a mal.Daqui decorre imediatamente uma autoridade imposta à força a expensas da liberdade.A liberdade deixa de ser prioritária face à bondade das medidas socorristas e por conseguinte a democracia passa a força de bloqueio.
Sem liberdade,sem a luz criadora do conflito de ideias,seca a criação de riquezaa,sobrevem a miséria e com esta apenas para distribuir,necessáriamente, qualquer governo só se pode manter,face ao povo,pelo mais ferreo totalitarismo.
Os chefes dessa esquerda sabem isso, conhecem bem o esquema, mas que interessa a liberdade dos outros(do pagode)perante a sua liberdade total de poder que tomam, piedosamente,como bondade total? E desta suposta bondade e piedade social advem o culto de endeusamento do chefe.
Os chefes sabem isso de ginjeira, são democratas hipocritamente,os apanhados e arrastados pela conversa fiada são mesmo parvos.
Adolfo Contreiras
...et pourtant, Aubry é a senhora das 35 horas, eu diria pois, mais à esquerda... Não me parece que, pelo menos no caso francês, o radicalismo seja fundamentado em qualquer conceito neo ou vintage de esquerda. É mais um problema de natureza partidária, esse sim absolutamente universal. No início do século passado, Max Webber, visionário, alertava... sobre os perigos intrínsecos das organizações que aspiram ao poder e dos seus "funcionários políticos". No limite, esquecem a sua missão original que é estar ao serviço do povo.
P.S.: um jornalista Camus a referir a batalha de Solferino...
Só a esquerda tola pode ainda acreditar em pessoas como a Ségolène ou a Aubry. A primeira é uma "conasse" que só tem imagem e um discurso redondo que quer dizer tudo e o seu contrário;enquanto a segunda viu a sua política reformista ser chumbada pela realidade. Agora têm lá o Sarkozy que é para aprenderem!
O problema destes partidos do "arco do poder" é que, lá como cá, não conseguem estar fora do governo. Quando vão para a oposição puxam logo das facas e apunhalam-se uns aos outros. Daí ao descalabro vai o passo de um anão. O PS francês está condenado a fazer mais uma travessia do deserto, da mesma forma que o PS de Sócrates não tem viabilidade fora do governo. É um partido autofágico, sem ideologia e onde campeiam oportunistas, apenas preocupados com o poder e as mordomias daí advindas.
Uma vez este conquistado, esquecem as suas promessas e fazem tudo para se "aguentarem", mesmo que isso seja a mera traição dos seus ideais. Tudo em nome do pragmatismo e da "real politik". Entretanto o país continua a afundar-se e a culpa é sempre da conjuntura internacional. Mas, há ainda alguém que acredite nestes vendedores de banha da cobra?
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