Nas férias de verão, em finais dos anos 60, costumava ir à
boleia de Faro a Armação de Pêra. Era uma boleia certa. Ida e volta. Eu ia
namorar. Mas um dia a boleia de volta falhou. Fiquei pendurado no sítio
combinado. À beira da estrada. E nada. Fez-se noite e as minhas esperanças
desvaneceram-se. Sem dinheiro, que só havia pouco, regressei a pé, à vila.
A namorada já estava longe e perto. Em casa de seus pais e eu lá não ia.
Na época não havia telemóveis e na casa de meus pais nem telefone fixo. Só na
loja mas tinha encerrado. Não os pude avisar da minha ausência para o jantar.
Havia que tomar medidas de emergência. Encontrar alguém amigo, ou
conhecido, para pedir algum emprestado. A minha decisão, inevitável, tinha sido
a de pernoitar em Armação de Pêra. Por sorte, à primeira volta pela vila,
apareceu uma mão amiga. Procurei uma pensão. Havia quartos disponíveis apesar de
ser verão. Sei que estávamos em 1968 pois retenho na memória as imagens dos
Jogos Olímpicos, desse ano, que passavam na TV.
Dormi e de manhã
regressei ao ponto de encontro habitual na praia. O meu surgimento, cedo, foi
uma surpresa. Breves explicações e o resto foram as carícias de um verão
promissor. Águas límpidas e areias finas, beber a vida de um trago, a
reencarnação da própria beleza...
Nesse dia regressei a casa o mais
depressa possível e, desta vez, sujeito ao horário do autocarro. Os meus pais
não me pediram qualquer explicação, nem disseram uma palavra. Sofreram, em
silêncio, a minha ausência inesperada. Imagino os seus receios e medos.
Fiquei a admira-los ainda mais. A sua confiança em mim era
ilimitada. Nunca os esquecia e eles sempre me perdoavam.
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