“SUBMÚLTIPLOS”
Na escala convencional
Me vou
microdividindo
Na velha base decimal.
Eis-me micro-eu
Nano-eu e
pico-eu
Fento-eu e atto-eu…
Depois… acabou-se a convenção
Os eus mais
pequenos
Já não têm nome…
Vou ver se lhes arranjo um pro-nome
Pois sim!
Serão:
Nileus
Embora apercebíveis
E, sempre, até mais ver,
Sempre
divisíveis.
Se nileus não é pronome
É lá com os gramáticos.
Mas, meus
Senhores!
Sejamos práticos!!
“Descompasso”,
Círculo de Poesia – Nova Série
Moraes Editores, Lisboa,
1986
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JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
(Lisboa, 1914 – 2000, Lisboa)
Licenciou-se em Ciências
Geológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo
trabalhado, como meteorologista, no Serviço Meteorológico Nacional. A carreira
científica levou-o de Lisboa às ilhas atlânticas (Açores, Madeira e Cabo Verde)
e dali a Angola e Moçambique.
Poeta, ensaísta, crítico literário e
musical, investigador. No campo da investigação científica, directamente
relacionada com a profissão, publicou vários estudos, nomeadamente a monografia
Introdução ao Estudo das Correntes de Jacto (1955). Como crítico musical,
colaborou em diversas publicações, e foi crítico literário na Emissora
Nacional.
Foi uma das figuras literárias portuguesas de mais vasta
cultura (em vários domínios) tendo sido adido cultural no Rio de Janeiro
(1973-78) e vice-presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa
(1978-82).
Mas foi sobretudo como poeta que a sua personalidade mais se
destacou. Foi fundador e co-director dos Cadernos de Poesia, em todas as séries,
entre 1940 e 1953, tendo publicado ali alguns dos seus mais importantes
poemas.
Estreou-se com o volume “Parva Naturalia” (1960, Prémio Fernando
Pessoa), a que se seguiram “O Espaço Prometido” (1960), “Anticrítico” (1960,
obra de reflexão ensaística), “Odes Pedestres” (1965, Prémio Casa da Imprensa),
“Descompasso” (1987) e “Enéadas (1989).
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