Hoje na véspera da tomada de posse de Chávez, após ter ganho as eleições, sabemos que o acto não terá lugar. Chávez, a crer nos seus próprios correligionários, não está em condições de comparecer por razões de saúde. Neste contexto veio-me à memória o que escrevi em setembro de 2007 e que a presente situação, de forma dramática, confirma:
Não vale a pena ter contemplações com este tipo de
projecto de poder. Não há ditaduras a prazo. Não há
ditaduras democráticas. O que Chávez quer toda a gente entende muito bem. Quer o
bem dos pobres. Todos os ditadores querem o bem dos pobres. É um caminho
conhecido que acaba sempre mal. Ainda pior quando os ditadores são levados ao
poder através de eleições. Um dia destes Chávez deu-se ao luxo de apresentar o
seu projecto de poder comparando-o com o das democracias liberais nas quais,
para ele, os políticos também se perpetuam no poder. Pura aldrabice! Salvo o
caso das monarquias nas quais o poder do monarca é simbólico, ou de
representação, todos os regimes democrático, nos países da UE, e não só,
integram mecanismos que inviabilizam a perpetuação no exercício do poder de
qualquer partido ou personalidade. Os modelos são diversos mas o princípio é o
da livre escolha, através de eleições democráticas, regulares, dos presidentes e
dos governos. Existe até, nalguns casos, limitação do número de mandatos. É o
caso do presidente da República, em Portugal, que não pode exercer o cargo por
mais do que dois mandatos seguidos. É claro que sempre nos podemos colocar
naquela posição de pessimismo absoluto, à beira do niilismo, de considerar todos
os regimes políticos e respectivos protagonistas desprezíveis. “São todos
iguais!” diz o povo amiudadas vezes. Os seres pensantes têm por obrigação
contrariar este populismo de pacotilha. Essa é mesmo uma condição essencial para
que os que pensam da democracia o pior possível possam continuar a dispor da
liberdade de dizer mal dela. Um pequeno detalhe na fronteira entre a liberdade e
a tirania.
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