Não há vida sem diálogo. Mas o diálogo foi, hoje, na maior
parte do mundo, substituído pela polémica. O século XX é o século da polémica e
do insulto. Eles ocupam, entre as nações e os indivíduos, e mesmo ao nível das disciplinas outrora
desinteressadas, o lugar que tradicionalmente cabia ao diálogo reflectido. Dia
e noite, milhares de vozes, empenhadas, cada uma por seu lado, num tumultuoso monólogo,
lançam sobre os povos uma torrente de palavras mistificadoras, de ataques, de
defesas, de exaltações. Mas qual é o mecanismo da polémica? Consiste em
considerar o adversário como inimigo, por conseguinte a simplificá-lo e a
recusar vê-lo. Aquele que insulto, já não sei de que cor são os seus olhos, ou
se acaso sorri, e como o faz. Tornados quase cegos por obra e graça da
polémica, já não vivemos entre os homens, mas num mundo de sombras.” (…)
Albert Camus – alocução feita na sala Pleyel em Novembro de
1948, in Actualidades - Contexto
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