Fotografia de Hélder Gonçalves
Continuo a escrever aqui. Para mim é uma coisa normal. Mas passou muito tempo desde que comecei. Apetece-me escrever quando me recolho. É fascinante a página em branco. Nada me obriga. Oiço dizer em muitos lugares que escrever no espaço público é perigoso. Mas não tenho medo de me manifestar, através da opinião, do testemunhar, tomar partido. De forma mais serena e, naturalmente, mais ponderada do que ontem. Mas não ter medo, salvo raras excepções, não é um estado de espírito inato. Resulta de uma aprendizagem na qual as nossas relações com os outros e o mundo nos conformam o ser em construção. Por estes dias viajei pelo sul litoral. O meu olhar reteve uma paisagem natural extraordinariamente bela, o mar beijando a terra sob a lua de prata. A terra florescente nos seus contrastes fascina o olhar mais distraído. Mas a qualidade dos serviços prestados parece ter parado no tempo, senão mesmo regredido. Será uma injustiça generalizar mas parece-me notório que recrudesceu o amadorismo. A maior parte das nossas pequeníssimas empresas (que são quase a totalidade do nosso empresariado), parece à beira de sucumbir. Poupa-se na ração, o animal ameaça morrer.
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