terça-feira, outubro 7

A REPÚBLICA


Por acaso, este ano, ouvi os discursos da cerimónia do 5 de outubro na íntegra. De viagem, em trabalho, a caminho do Algarve beneficiei dessa oportunidade. Este 5 de outubro, um domingo, foi muito curioso no plano da cenografia politica. A cerimónia oficial realizou-se, como sempre, na Câmara Municipal de Lisboa (Paços do Concelho) por ter sido à varanda do dito que foi proclamada a República nesse dia. O actual presidente da CML, António Costa, anfitrião habitual, havia sido escolhido no domingo anterior para liderar o PS, sob a capa de uma escolha para candidato a primeiro ministro. O outro protagonista da cerimónia foi, como sempre, o PR. Tudo decorreu conforme o protocolo e pelo menos através do som não deu para entender qualquer falha. Costa havia agendado para a tarde desse dia uma intervenção original no congresso do novo partido Livre. Dessa forma "tapou", no plano mediático, a apresentação agendada do novo partido de Marinho e Pinto. Marcação cerrada!  Dos discursos nada a assinalar de relevante a não ser o tom - como assinalou Marcelo na sua prédica dominical - pouco esperançoso do discurso do PR e o pré anúncio por Costa da reposição dos feriados de 5 de outubro e 1 de dezembro (subentende-se o resto!). Pela minha parte assinalo no discurso do PR as referências à República, cuja implantação se comemorava, exclusivamente assentes na sua faceta politica de instabilidade, sem uma referência à sua obra, em tantas áreas da maior relevância e que perdura até aos nossos dias. A combate ao analfabetismo brutal que herdou da Monarquia, a criação do registo civil, o impulso e generalização do ensino público, o apoio à criação de um forte movimento associativo (proliferaram a criação de associações, mutualidades, cooperativas de crédito, como o crédito agrícola, e tantas outras...), assinaláveis conquistas de direitos cívicos e políticos como, por exemplo, os direitos das mulheres ... Nem uma palavra para as conquistas esperançosas da 1ª República. Não é de admirar que a denúncia das fraquezas do nosso sistema democrático republicano, em risco de implosão,como disse o PR, (mais radical não poderia ser!) mais o desacredite quando se omitem, em absoluto, as suas virtudes no passado, relativizando-as no presente.

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