sexta-feira, novembro 14

MANOEL DE BARROS

O ROCEIRO


No clarear do dia vou para o roçado
A capinar.
Até de tarde eu tiro o meu eito.
Arranco inços, tranqueiras, juás e bosta de macaco
que não serve nem pra esterco.
Abro a terra e boto as sementes.
Deixo as sementes para a chuva enternecer.
Dou um tempo.
Retiro de novo as pragas, dejetos de anta,
adjectivos.
Retiro os adjectivos porque eles enfraquecem
as plantas.
E deixo o texto a germinar sobre o papel: em
pura masturbação com as pedras e rãs.


Manoel de Barros

Campo Grande (Brasil)

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