No dia da abertura do XX Congresso do PS retomo um texto que escrevi, e aqui publiquei, em 3 de julho de 2007, dirigido ao então Ministro da Solidariedade, José António Vieira da Silva.
Passaram muitos anos e tendo tropeçado com esse texto, salvo algumas expressões datadas, vejo que mantém atualidade. No fundo este XX Congresso do PS marca, simbolicamente, a consagração de um novo líder - António Costa. O tempo dirá até onde a nova liderança será capaz de conceber, e realizar, politicas diferentes daquelas que têm sido levadas a cabo pela atual maioria politica. Entre todas as políticas, a meu ver, aquela de que PS é depositário por tradição de responsabilidades acrescidas é a que respeita à questão social. As politicas sociais, em toda a sua amplitude e complexidade, são as que melhor permitem aferir na doutrina, e na prática, as diferenças, por vezes subtis, entre o centro direita e o centro esquerda. Qual a importância do papel atribuído pela nova liderança do PS às políticas orientadas para a valorização das pessoas, numa comunidade organizada, em regime democrático, no qual imperem os valores da justiça e da liberdade? A ver vamos!
Há pessoas que se entregam em plenitude a um projecto e depois a outro, e assim sucessivamente, uma vida inteira, ao serviço do público ou do privado, rentabilizando recursos materiais e imateriais, abarcando várias áreas do saber, exigindo muito mais que saberes formais, tornando-se depositários de experiências únicas e intransmissíveis, julgando-se úteis, assumindo a plenitude das suas capacidades e eis que, subitamente, surge o ditame de uma qualquer nomenclatura, um critério de selecção, uma norma imperceptível, um código de ética, uma teia de interesses, algo de ininteligível, e o sujeito é arrumado na penumbra, vê o tempo estreitar-se, adensar-se o silêncio, esfumar-se a auto estima, tornar-se um potencial “excedentário”, enquanto a esperança de vida aumenta e o discurso oficial é o de corrigir a retirada precoce da vida activa. Eu até estou de acordo com a filosofia minoritária, talvez utópica, herdada da tradição camponesa, do trabalho até ao fim da vida, ou seja, a aceitação natural do adiamento infinito da retirada da vida activa, mas desde que a sociedade honre essa inevitabilidade e os governos sejam consequentes no discurso e na prática pela salvaguarda da igualdade de tratamento de todos os cidadãos. Que a sociedade se não valoriza sem a experiência dos seus trabalhadores é discurso recorrente que carece de ser caucionado pela política dos governos e a prática das empresas. Mas não esqueçamos que o pensamento dominante é exactamente o contrário, ou seja, buscar todas as formas de antecipar a idade da reforma e lançar pela janela fora essa ideia da valorização da experiência individual. "As vítimas da fome", nas sociedades ditas desenvolvidas, são os novos deserdados que se auto excluem, ou são excluídos, da vida activa, na plenitude das suas capacidades, humanas e profissionais. Esses desocupados, a tempo inteiro, ou parcial, desempregados, despedidos, dispensados, sub empregados e reformados, sábios de experiência feita, novos e velhos, homens e mulheres, indígenas e imigrantes, são o rastilho de uma nova revolução. Não há estado que lhes valha nem mercado que os compreenda. Estão cercados e quando o seu número, e desespero, atingirem o ponto de ruptura teremos o confronto, não sabemos sob que forma, do qual surgirá um novo paradigma de estado social. Tantas perguntas para tão poucas respostas!
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