quarta-feira, outubro 12

EUSÉBIO


Eusébio no Mundial de 1966 em Inglaterra

Eusébio da Silva Ferreira é o maior jogador do futebol português de sempre.

É ele o detentor do record de golos marcados ao serviço da selecção nacional de futebol.

Curiosamente hoje Portugal disputa, contra a Letónia, no Porto, o último jogo da fase de apuramento para o Campeonato do Mundo a realizar na Alemanha no próximo ano e Pauleta, neste jogo, pode igualar ou ultrapassar o record de 41 golos marcados por Eusébio.

Por outro lado o próximo campeonato do mundo realiza-se, exactamente, 40 anos após o de 1966, em Inglaterra, em que Eusébio alcançou o máximo de notoriedade e do qual ficou célebre a fotografia que escolhi para este post.

Faço, assim, questão de assinalar a data em que a selecção nacional de futebol se qualifica para a fase final do mundial de futebol. Porque é um acontecimento relevante para o desporto nacional e também para a projecção da imagem de Portugal no mundo.

Eusébio bem merece assistir a este feito e, mais do que isso, deveria a Federação Portuguesa de Futebol encontrar uma fórmula de associar Eusébio à campanha que decorre deste este dia até à final do Campeonato do Mundo no qual Portugal pode aspirar a alcançar um lugar cimeiro.

terça-feira, outubro 11

"MORREU DOM FUAS, ..."


Fotografia daqui

Morreu Dom Fuas, gato meu sete anos,
pomposo, realengo, solene, quase inacessível,
na sua elegância desdenhosa de angorá gigante,
cendrado e branco, de opulento pêlo,
e cauda com pluma de elmo legendário.

Contudo, às suas horas, e quando acontecia
que parava em casa mais que por comer
ou visitar-nos condescentemente como
a duquesa de Guermantes recebendo Swann,
tinha instantes de ternura toda abraços,
que logo interrompia retornando
aos seus paços de império, ao seu olhar ducal.

Nunca reconheceu nenhuma outra existência
de gato que não ele nesta casa. Os mais
todos se retiravam para que ele passasse
ou para que ele comesse, eles ficando
ao longe contemplando a majestade
que jamais miou para pedir que fosse.

Andava adoentado, encrenca sobre encrenca,
e via-se no corpo e no opulento pêlo,
como no ar da cabeça quanta humilhação
o sofrimento impunha a tanto orgulho imenso.
Por fim, foi internado americanamente,
no hospital do veterinário. E lá,
por notícia telefónica, sozinho, solitário,
como qualquer humano aqui, sabemos que morreu.

A única diferença, e é melhor assim,
em tão terror ambiente de ser-se o animal que morre
foi não vê-lo mais. Porque ou nós morremos,
como dantes se morria em público,
a família toda, ou toda a corte à volta, ou
é melhor que se não veja no rosto de qualquer
- mesmo ou sobretudo no de um gato que era tão orgulho em vida -
não só a marca desse morrer sozinho de que se morre sempre
mesmo que o mundo inteiro faça companhia,
mas de outra solidão tecnocrata, higiénica
que nos suprime transformados em
amável voz profissional de uma secretária solícita.

Dom Fuas, tu morreste. Não direi
que a terra te seja leve, porque é mais que certo
não teres sequer ter tido o privilégio
de dormir para sempre na terra que escavavas
com arte cuidadosa para nela pôres
as fezes de existir que tão bem tapavas,
como gato educado e nobre natural.
Nestes anos de tanta morte à minha volta,
também a tua conta. Nenhum mais
terá o teu nome como outros tantos gatos
antes de ti foram já Dom Fuas.

18/12/77

Jorge de Sena

X – Dois “Poemas Só Pessoais” (1977-1978)
in “40 Anos de Servidão”, (2ª edição revista)
Morais Editores

sabor a sal


Fragmento de uma obra-prima de Margarida Delgado em sabor a sal

segunda-feira, outubro 10

Autárquicas - uma manipulação e uma "vitória moral"


“Trás os Montes” - Fotografia de Hélder Gonçalves

A SIC continua a passar a informação de que, nestas eleições autárquicas, “o PS sofreu a pior derrota dos últimos vinte anos”. O rodapé na “SIC Notícias” faz gala desta afirmação e esta ideia foi passada diversas vezes, ontem, dizendo-se que o PS, nestas eleições, tinha regredido ao nível dos resultados das autárquicas de 1985.

Eis uma manipulação grosseira da verdade com a finalidade de valorizar o resultado do PSD e humilhar publicamente o resultado do PS. Pretende-se dar a imagem de uma vitória esmagadora da direita que, de facto, não corresponde à verdade dos números.

É uma manipulação que medra no esquecimento e que permite passar mentiras descaradas por verdades incontestadas. Nem dá para entender como os dirigentes do PS não desmontaram logo na hora tais notícias.

Em 1985 o PS obteve 1.330.388 votos, correspondendo a 27,4%, tendo conquistado 79 Presidências de Câmara. O PSD, nesse ano, obteve 1.649.560 votos, 34%, correspondendo a 149 Presidências. O CDS, 471.838 votos, 9,7%, 27 Presidências e o PCP 942.197 votos, 19,4%, 47 Presidências.

É óbvio que a situação política é, hoje, muito diferente daquela que ocorria vinte anos atrás mas é notório que o PS, nestas eleições, obteve resultados muito superiores aos de 1985. Logo não podem as eleições de 1985 servir como baliza para contar os tais 20 anos. Senão vejamos.

Nas presentes eleições de 2005, o PS obterá entre 108 e 109 Presidências de Câmaras e o PSD, sozinho e em coligação com o CSDS/PP, obterá entre 159 e 160 Presidências (faltando apurar o resultado em um só concelho).

Em 1985, o somatório do PSD e do CDS valeu a estes partidos 176 Presidências de Câmara, ou seja, um número bastante superior aquele que obterão nas presentes eleições.

Se quiséssemos fazer comparações, entre 1985 e 2005, o PS obtém hoje mais Presidências e a direita (PSD+CDS) menos, comparativamente com as eleições de há vinte anos, pelo que a direita sai a perder no cotejo com o PS (sempre sozinho pois, em 85, não havia sequer a coligação de esquerda na Câmara de Lisboa).

Quanto muito poder-se-iam tomar como referência as eleições de 1989 em que o PS ganhou 116 Presidências de Câmara e o conjunto do PSD e do CDS, 133. Então os tais 20 anos ficavam reduzidos a 16.

Mas o mais honesto é fazer a comparação com os resultados das eleições autárquicas de 2001 e tomados estes verificar-se-á um ligeiro recuo do PS (108 a 109 Presidências, em 2005, para 111 em 2001) e, da mesma forma, um ligeiro recuo do número de Presidências para o PSD/PP (159 a 160, em 2005, para 162 em 2001).

Ora vejam como o avanço da direita é nulo nestas eleições autárquicas, face aos resultados de 2001, o que transforma a sua vitória numa verdadeira “vitória moral”. Os grandes números, reais, falam por si … as expectativas são outra coisa.

(Dados Oficiais do STAPE)

A Última Ceia


Uma paródia à vida política nacional em época de eleições!
(Clique em cima da imagem para ampliar).

O sol nas noites e o luar nos dias


Salvador Dalí (1904 - 1989) - Figura en la Ventana 1925
Por sugestão de um comentário de Aguarelas de Turner

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia

Poesia Completa
Publicações Dom Quixote -1999

Autárquicas - 2005


Faro - "Arco da Vila"

Os resultados conhecidos, a esta hora, das eleições autárquicas confirmam o que era previsível.

O PSD ganhou, como seria de esperar, consolidando, no essencial, as posições conquistadas em 2001, tendo ganho ainda algumas autarquias relevantes, que estavam nas mãos do PS, como é o caso de Aveiro.

O PS, no governo, com as despesas de uma política de austeridade, nunca poderia recuperar terreno face à derrota de 2001. Poderia aspirar, quanto muito, a não perder muitas posições. A sua política de "gestão de danos" foi bem sucedida.

Os chamados independentes “arguidos”, com excepção de Amarante, ganharam. Pela minha parte recuso-me a aceitar que a vitória destes candidatos “rebeldes” seja uma derrota da democracia pois nenhum deles, salvo o que perdeu, está condenado pela justiça e nada os poderia impedir de se candidatarem e, como aconteceu em três casos, serem eleitos.

O PCP ganhou posições, em votos, Câmaras e mandatos capitalizando o descontentamento face à política de austeridade do governo. O BE, na mesma onda, ganhou pelo efeito conjugado da maior cobertura nacional das candidaturas apresentadas e pelo crescimento eleitoral nos grandes centros urbanos.

E, já agora, confirmou-se a vitória do PS em Faro para contentamento do meu bairrismo. Daí a ilustração deste post.

Seja qual for o resultado final global, a esta hora ainda não conhecido, o mais importante é que haja respeito pela decisão dos eleitores e que cada directório partidário retire do veredicto das urnas as devidas lições. Com perspicácia, pertinência e proporcionalidade.

Quanto à atitude política a tomar face a eleições democráticas remeto para o que escrevi em “Reflexão Final”.

domingo, outubro 9

Mais que tudo o mar


Sofia Areal Sem Título/2002 [Mixed on Canvas]

Mais que tudo o mar
me fala dos homens
de ti,

Meteste o pé na água
molhaste o teu corpo

Mais que tudo o mar
que te arrepia a pele
eu vi,

E o teu olhar aflito me
toma desejado absorto

Mais que tudo o mar
o azul além do tempo
infinito,

O olhar breve fugaz
grita um grito aflito

Mais que tudo amar
Mais que tudo o mar
bendito,


Faro, 14 de Julho de 2004

FREEDOM


Freedom Fotografia de Zoe Wiseman in XUPACABRAS

Veja aqui as últimas sondagens, referentes às eleições autárquicas, em Faro, Oeiras, Sintra, Porto e Lisboa e os respectivos comentários.

A única certeza é a vitória do PS em Faro. Tanto quanto podem haver certezas a partir de sondagens. A normalidade deverá voltar à minha cidade. Ficarei feliz se assim for.

Aqui pode seguir a evolução dos resultados do escrutínio real destas eleições a partir da hora do fecho das urnas.

sábado, outubro 8

"Curioso ideal..."


Imagem In ph&-no

“Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

ANTIGA DOR


Paula Rego - A Janela (Looking Out) - 1997

O subtil, o reflexo, o vago, o indefinido,
Tudo o que o nosso olhar só vê por um momento,
Tudo o que fica na Distância diluído,
Como num coração a voz do sentimento.
Tudo o que vive no lugar onde termina
Um amor, uma luz, uma canção, um grito,
A última onda duma fonte cristalina,
A última nebulosa etérea do Infinito...
Esse país aonde tudo principia
A ser névoa, a ser sombra ou vaga claridade,
Onde a noite se muda em clara luz do dia,
Onde o amor começa a ser uma saudade;
O longínquo lugar aonde o que é real
Principia a ser sonho, esperança, ilusão;
O lugar onde nasce a aurora do Ideal
E aonde a luz começa a ser escuridão...
A última fronteira, o último horizonte,
Onde a Essência aparece e a Forma terminou...
O sítio onde se muda a natureza inteira
Nessa infinita Luz que a mim me deslumbrou!...
O indefinido, a sombra, a nuvem, o apagado,
O limite da luz, o termo dum amor
Tornou o meu olhar saudoso e magoado,
Na minha vida foi minha primeira dor...
Mas hoje, que o segredo oculto da Existência,
Num momento de luz, o soube desvendar,
Depois que pude ver das Cousas a essência
E a sua eterna luz chegou ao meu olhar,
Meu infinito amor é a Alma universal,
Essa nuvem primeira, essa sombra d’outrora...
O Bem que tenho hoje é o meu antigo Mal,
A minha antiga noite é hoje a minha aurora!...

Teixeira de Pascoais

sexta-feira, outubro 7

Reflexão Final


Fotografia de Bogdan Jarocki

O meu tio Ventura, noutros tempos, foi regedor. Lembro-me de discutir política com ele. No tempo da ditadura. As minhas ideias deviam soar-lhe a utopias sem raízes na terra seca que cultivava. As dele soavam-me ao velho mundo que, para mim, estava para sucumbir. Não sabia a data, nem o modo, mas estava para acabar. Eu, na verdade, não sabia nada da vida. Mas tinha convicções fortes e ele gostava de me ouvir. Eu, pelo meu lado, gostava de o ouvir a ele.

Mesmo hoje, nos seus mais de 90 anos, gosto do seu discurso enérgico. Com ele compreendi que somos, sempre, ao mesmo tempo, derrotados e vencedores. Nunca definitivamente derrotados, nem nunca definitivamente vencedores. Aprendi que é possível um radicalismo tolerante. Ou uma tolerância radical. Ser-mos absolutamente contra, aceitando as diferenças. Exigir aos outros que nos aceitem e exigir, a nós próprios, a aceitação dos outros. Sempre, toda a vida, sem quebras nem desfalecimentos.

Por isso compreendo que, nas eleições democráticas, todos os concorrentes se declarem vencedores mesmo que tenham sido vencidos. Todos compreendemos que é um jogo. Com ele os homens evitam degladiar-se através da violência física. As eleições democráticas são um ritual de tolerância mesmo quando as vozes se elevam mais alto e estalam as recriminações. Mesmo quando são eleitos aqueles que julgamos desmerecer do voto popular.

Apesar de ter votado tantas vezes (todas) sinto orgulho na democracia portuguesa e um prazer especial no dia das eleições e no acto de votar. Sinto-me constrangido ao ler tanta abjecção intelectual, tanta intolerância, face às imperfeições do homem – candidatos e eleitores – que se revelam, abertamente, na disputa democrática. Os críticos, descrentes, abstinentes, ausentes e presentes, não se observam a si próprios?

Eu sempre votei como se fosse colocar uma flor aos pés de um corpo perfeito de mulher.

"God told me to invade Iraq"


“The Independent” on line revela que ele falou com Deus. O mundo está, de facto, nas mãos de um fanático religioso que se chama George Bush. Pode ser tudo uma montagem para mostrar um louco ao comando da única super potência e, assim, desacreditar a sua política. Mas são demasiadas coincidências …

"Bush: God told me to invade Iraq - President 'revealed reasons for war in private meeting'

President George Bush has claimed he was told by God to invade Iraq and attack Osama bin Laden's stronghold of Afghanistan as part of a divine mission to bring peace to the Middle East, security for Israel, and a state for the Palestinians.


The President made the assertion during his first meeting with Palestinian leaders in June 2003, according to a BBC series which will be broadcast this month."

Bem vistas as coisas ...


Fotografia in “on Namah Shivaya”

”Bem vistas as coisas, se fizermos uma análise sincera da contestação social às medidas anunciadas, e concretizadas, pelo governo socialista, muitas corporações sentir-se-iam bem mais confortáveis com um governo de direita.”

Já está disponível no site do “Semanário Económico” o artigo que subscrevo com os título e "entrada" em epígrafe.

quinta-feira, outubro 6

Lisboa e Porto/Últimas Sondagens


Fotografia de José Marafona

As sondagens mais recentes, para as eleições autárquicas, em Lisboa e Porto, dão vantagem à direita. Com algumas curiosidades. No Porto, tomando sempre como referência as sondagens da U. Católica (para mim, as mais credíveis), a coligação PSD/PP desce 12 pontos entre Julho e Outubro e o PS sobe 7 pontos, no mesmo período. A diferença, na sondagem mais recente, cifra-se em 7 pontos. Vejam os comentários... .

Em Lisboa a diferença, entre PSD e PS, cifra-se nos 5 pontos, favoráveis ao PSD. Aqui, entre Julho e Outubro, o PSD mantém a mesma pontuação (36) e o PS desce 10 pontos. Mas é necessário levar em conta, em qualquer caso, o enorme peso dos indecisos.

A minha expectativa é que, no Porto, o PS se vai aproximar do PSD, até ao fim, podendo acontecer uma surpresa. Em Lisboa, apesar da diferença actual, entre PSD e PS, ser menor do que no Porto, será mais difícil ao PS captar o voto dos indecisos.

Em qualquer caso ninguém deve contar com vitórias antecipadas. Em Lisboa e Porto a direita tem mais hipóteses de ganhar mas o PS pode “marcar no último minuto”. Ninguém vai ficar de pernas cruzadas …

Actualização - as mais recentes sondagens da Intercampos (presenciais) mostram uma subida do PS em Lisboa e no Porto. Se os seus resultados colassem á realidade, o que duvido, significaria um volte face, ou seja, aquele golo do PS no último minuto.

Ver no Margens de erro.

O Poeta em Lisboa


BB - 1956

Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.

Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.

Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.

Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.

Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.

Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.

Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.

Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.

Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos.
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.

António José Forte

Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda.

Judith and Holofernes


Francesco Furini - Judith and Holofernes -1636 [Oil on canvas, 116 x 151 cm Galleria Nazionale d'Arte Antica, Rome]

Obra que me ocorre divulgar após passar, por breves instantes, pelos debates televisivos entre candidatos às eleições autárquicas, sem prejuízo da beleza intrínseca da pintura que muito aprecio.

Nos debates está a avaliar-se o quê? A obra realizada? Como? Quais os critérios e os termos de comparação para afirmar que este candidato é mais capaz do que aquele. E a propaganda: os cartazes, as palavras de ordem, os formatos, a imagem física dos candidatos, os suportes utilizados? (após um circuito pela zona rural do concelho de Sintra).

Nas campanhas eleitorais não se exigem prodígios na arte de debater no lugar do puro confronto, nem exposições de arte no lugar da propaganda. Mas que diabo, um pouco mais de decência e de bom gosto sempre ajudavam a prestigiar a nobre arte da política.

quarta-feira, outubro 5

UMA LÁGRIMA


Lágrima de Cláudia Perenzalez

uma lágrima
não minha
mas dela
caída
no recado
da despedida

as mãos
me escaparam
de seu corpo
distante
que esquecera
e procurara
tarde de mais

a lágrima secara

In “ Ir pela sua mão”
Editora Ausência - 2003

REPÚBLICA


Imagem e texto in “O Portal da História”

A CONSTITUIÇÃO DE 1911

Texto constitucional aprovado, após largo debate, em 21 de Agosto de 1911, pela Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio directo, em consequência da revolução republicana de Outubro de 1910.

A República foi proclamada em Lisboa em 5 de Outubro de 1910. Desse mesmo dia data a organização do Governo Provisório, que, dispondo dos mais largos poderes, se ocupou da administração do País e foi presidida por Teófilo Braga. A Assembleia Constituinte reuniu-se, pela primeira vez, em 19 de Junho de 1911; sancionou a revolução republicana, e veio a eleger uma comissão encarregada de elaborar o projecto-base do novo texto constitucional.

Foram apresentados à Assembleia textos como o de Teófilo Braga. Basílio Teles publicou também umas bases de Constituição. A discussão que precedeu a aprovação da Constituição foi, bastante larga, incidindo principalmente sobre o problema do presidencialismo, orientação que foi rejeitada, e sobre a questão da existência de uma ou duas Câmaras.

Veja aqui uma breve história da República (1910 a 1926)

"O que ilumina o mundo ..."


EXPO (Lisboa) - Fotografia de “Sombra de Prata”
in Olhares

“O que ilumina o mundo e o torna suportável é o habitual sentimento que temos dos nossos laços com ele – mais particularmente do que nos liga aos seres. As relações com os seres ajudam-nos sempre a continuar porque pressupõem desenvolvimentos, um futuro – e também porque vivemos como se a nossa única tarefa fosse precisamente o manter relações com os seres.

Mas nos dias em que nos tornamos conscientes de que não é a nossa única tarefa, sobretudo nos dias em que compreendemos que só a nossa vontade conserva esses seres ligados a nós – deixem de escrever ou de falar, isolem-se e verão como eles fundem em vosso redor – verão como a maioria está na realidade de costas voltadas (não por malícia, mas por indiferença) e que o resto conserva sempre a possibilidade de se interessar por outra coisa, quando imaginamos desta forma tudo quanto entra de contingente, de jogo das circunstâncias no que costuma chamar-se um amor ou uma amizade, então o mundo regressa à sua noite e nós a esse grande frio de que a ternura humana por um momento nos tinha afastado.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

EMPATES


Isaltino e Seara à frente, respectivamente, em Oeiras e Sintra, em todas as sondagens mas por diferenças mínimas. Sendo assim estamos perante empates técnicos nas disputas eleitorais entre Isaltino Morais e Teresa Zambujo e Fernando Seara e João Soares. Tudo pode acontecer!

terça-feira, outubro 4

JANIS


JANIS JOPLIN - 19 de Janeiro de 1943 - 4 de Outubro de 1970.

"O Dia do Tempo"


“Correrias da minha infância” – Fotografia de Hélder Gonçalves

O meu filho (14 anos) acabou de ler ontem, quase de um só fôlego, as 800 páginas de “Eldest”, de Christopher Paolini. Boa leitura? Má leitura? Foi escolha dele, leitura dele, prazer dele. Cada um toma as leituras que quer. As leituras não se medem aos palmos mas eu nunca li, de um só fôlego, (ou quase), um livro de 800 páginas.

O mais extraordinário é que ele lê nos intervalos de uma parafernália tremenda de mensagens, imagens e sons. É interessante como a leitura exige, como sempre, recolhimento. Os saberes estratificam-se no silêncio e, ao mesmo tempo, na trepidação de uma cascata de interesses contraditórios.

Nesta estrada, repleta de encruzilhadas, as leituras impostas pela escola são uma espécie de violentação da liberdade de escolha: ele nunca escolheria Camões (“Os Lusíadas”) ou Gil Vicente (“O Auto da Barca do Inferno” e o “O Auto da Índia”). São as leituras “chatas” que, no caso de Gil Vicente, quase sei de cor. Sorte dele.

Os desejos e as obrigações exigem um balanceamento difícil das nossas disponibilidades. Em todas as idades e condições. Na maioria dos casos um balanceamento impossível. É essa a raiz de um dos dramas maiores da nossa sociedade: e escola e suas taxas avassaladoras de insucesso e abandono escolar.

É preciso tempo (em todos os sentidos) para ganhar disponibilidade e nunca há tempo para nada mesmo quando não se tem nada para fazer. É esta uma marca terrível do nosso tempo. Devia ser criado o “dia do tempo”.

Desconhecida


Marilyn Monroe

“Agora que sabe o seu preço, sente-se frustrado. A condição da posse é a ignorância. Até mesmo na ordem física: só possuímos bem a desconhecida.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

segunda-feira, outubro 3

ALGO DE PODRE NO REINO DE GEORGE W. (2)


Continue a acompanhar no NEW YORK ON TIME "Algo de Podre no Reino de George W. (2)".

O QUE EU QUERIA


Teresa Dias Coelho - CLOUDS 2000 [Oil on canvas 46 x 73 cm]

O que eu queria não posso pedir que escapa
À sem razão de não obter o que eu queria era
Neste dia assim aberto um olhar liso e claro
Na direcção do meu sorriso que espera longo.
Aguento, aguento-o, dia após dia, abro e fecho
A mão e agarro o que eu queria num momento
Mas no outro se me cava a ruga funda no meio
Da testa e se me enche o fundo da pele de suor.
O que eu queria não posso dizer senão talvez
A alguém que és tu que já o sabes bem melhor
Do que eu quando digo que não falo mais nisso.
O que eu queria me desses neste dia maduro
Era o teu sorriso vibrante fixado para sempre
Na vida para além de mim e do que eu queria.

22/9/81

(Um dos primeiros poemas que escrevi, com intencionalidade,
dedicado à G.)

domingo, outubro 2

LUIZ PACHECO


Acabei de ler o “Diário Remendado (1971-1975)” de Luiz Pacheco, da D. Quixote. Uma diário autobiográfico, ou algo que se aproxima do género. Não se trata, certamente, de uma obra-prima mas é leitura muito interessante para aqueles que se interessam pelo percurso de alguns dos chamados escritores portugueses malditos do nosso tempo.

Ao que consta do posfácio de João Pedro George, “biógrafo improvável” de Pacheco, segundo as palavras do próprio, este texto “é um fragmento de um diário muito mais vasto”. O que supõe que outros diários possam vir a surgir no futuro.

Retenho duas curiosidades que me tocaram pessoalmente: a descrição dos acontecimentos do dia 25 de Abril de 1974, por Pacheco, que termina com estas duas frases esplêndidas: “Foi bonito e foi rápido. Já posso morrer mais descansadinho.”

Ainda a revelação de que Aldina, uma “pintora com biografia”, mulher de António José Forte, segundo Pacheco, votou no MES nas eleições para a Assembleia Constituinte de 25 de Abril de 1975. Uma boa companhia.

Veja aqui uma parte da obra de Luiz Pacheco.

ALL-STARS


Uma relíquia: as primeiras All-Stars de meu filho.

sábado, outubro 1

ALGO DE PODRE NO REINO DE GEORGE W.


Leia no NEW YORK ON TIME Algo de podre no reino de George W.

Agora que tanto se fala de corrupção em Portugal, para não falar do Brasil, vale a pena conhecer os mais recentes escândalos de corrupção no "reino de Bush" ou, de como “o exemplo vem de cima”.

O PAÍS DO AMOR


Fotografia de Delphine Le Berre Apresentando Xupacabras

“O desejo físico brutal é fácil. Mas o desejo ao mesmo tempo que a ternura exige tempo. É preciso atravessar todo o país do amor antes de encontrar a chama do desejo. Será por isso que, ao princípio, desejamos tão dificilmente o que amamos?”

Albert Camus


Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

Sei-os de cor


E deus criou a mulher

Sei-os de cor (em quatro andamentos e um poema) - Desculpem lá qualquer coisinha mas este é um post absolutamente extraordinário

FARO - O PS VAI GANHAR?


Faro - Cidade Velha

O desenlaçe das eleições autárquicas em Faro interessam-me muito, além do mais, por ser a minha cidade.

A última sondagem conhecida da universidade católica, bastante credível, pela sua metodologia, fazem crer que o PS pode mesmo ganhar.

Ver em Margens de erro

sexta-feira, setembro 30

AI!


Sabor – Fotografia de Hélder Gonçalves

O grito deixa no vento
Uma sombra de cipreste.

(Deixai-me neste campo
chorando.)

Tudo se perdeu no mundo.
Não ficou mais que silêncio.

(Deixai-me neste campo
chorando.)

O horizonte sem luz
está mordido de fogueiras.

(Já vos disse que me deixeis
neste campo
chorando.)

Federico Garcia Lorca
Traduzido por Eugénio de Andrade

AY!

El grito deja en el viento
una somba de ciprés.

(Dejadme en este campo
llorando.)

Todo se ha roto en el mundo.
No queda más que el silencio.

(Dejadme en este campo
llorando.)

El horizonte sin luz
está mordido de hogueras.

(Ya os he dicho que me dejéis
en este campo
llorando.)

DEMOCRACIA


La Nueva Democracia (1945)David Siqueiros

Muita gente é execrável. É a nossa observação que torna execráveis muitas personagens. Para nós são execráveis. No entanto, para outros, são possuidores de excelsas virtudes.

A democracia é podermos rejeitar livremente os que nos repugnam na vida pública. É o exercício individual da livre escolha que encerra, em si mesma, extraordinárias vantagens. Porque do outro lado permanecem livres aqueles que rejeitam os que nós escolhemos.

É nesse jogo múltiplo de rejeição e escolha, sem censura, que reside a vantagem da democracia. Ela permite corrigir os seus próprios erros embora com um cortejo enorme de jogos no seu seio.

Não perder de vista esta vantagem pois, além do mais, resulta do sacrifício da vida e liberdade de gerações inteiras.

Mais vale a angústia de vermos escolhido, em eleições livres, alguém que julgamos execrável do que suportar o peso do silêncio sepulcral da tirania.

O BELO E O AZUL


Imagem daqui

“O belo diz Nietzche depois de Stendhal, é uma promessa de felicidade. Mas se ele próprio não é a felicidade, que poderá afinal prometer?”

*

“...Foi quando tudo ficou coberto de neve que reparei que as portas e as janelas eram azuis.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

quinta-feira, setembro 29

Portugal no Global Competitiveness Report


NO ANO DE EINSTEIN- Fotografia de Hélder Gonçalves

Portugal ocupa a 22ª posição no ranking do Global Competitiveness Report tendo subido dois lugares face a 2004. Olhando para desagregação dos indicadores verificam-se alguns dados surpreendentes face à tradicional maledicência nacional. Imaginem que me senti recompensado.

Afinal sempre vale a pena trabalhar para a modernização do país contra ventos e marés. E, apesar de todos os pontos fracos, Portugal sempre é melhor do que os portugueses o pintam. Haja deus!

Veja o quadro com a classificação dos países (Comparação 2004/2005)

O SILÊNCIO


Fotografia de Hélder Gonçalves

Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales,
e que inclina a fronte
para o chão.

Federico Garcia Lorca
Traduzido por Eugénio de Andrade

El silencio

Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.

quarta-feira, setembro 28

Os Eleitores São Todos Iguais


Fotografia daqui

Um dos acontecimentos mais notáveis desta campanha eleitoral para as autarquias é o surgimento de candidatos independentes que concorrem "contra" os respectivos partidos. São candidatos que estão a ser alvo de investigação e que, por via disso, são arguidos.

Um deles foi mesmo condenado (tendo recorrido) e o(a) outro(a) fugiu para o Brasil para se subtrair à chamada “prisão preventiva”. Aliás nasceu no Brasil e, ao que suponho, goza de dupla nacionalidade. A campanha eleitoral, não fora um debate televisivo que se resumiu a um não aperto de mão, está concentrada nestes quatro (4) candidatos independentes.

Nada de mais. O que surpreende é o facto de inúmeros comentadores e politólogos (policromos, dá-me aqui o corrector …) terem desatado a defender a tese do “mau eleitorado”. A tese é velha e encaixa na perfeição nas teorias, mais ou menos encapotadas, dos hodiernos detractores da democracia. Estão enganados.

Não existem eleitores maus e eleitores bons! Eleitores bestas e eleitores bestiais! Existem simplesmente eleitores. O que distingue a democracia de um qualquer arremedo dela é o princípio de os eleitores serem todos iguais. Pobres, ricos, brancos, pretos, cristãos, muçulmanos, homens, mulheres, direita, esquerda, centro, intelectuais, analfabetos, patrões, empregados, velhos, jovens, presos, doentes, entrevados, drogados, comparsas, tolos … Uma cabeça, um voto!

Ou seja toda a minha gente é livre de votar. O voto, em Portugal, não é obrigatório mas é secreto e universal. Algo em que a modernidade pegou de estaca. Algo em que somos desenvolvidos, modernos e exemplares.

Os eleitores são todos iguais. Os candidatos é que são todos diferentes. Os eleitores escolhem, não são escolhidos. Os candidatos, se a lei lhes dá a faculdade de concorrer, concorrem, são votados e correm o risco de ser eleitos. É a verdadeira soberania popular. Ponto final.

Não estraguem o mais importante da nossa vida colectiva. A liberdade de escolher e ser escolhido. Desculpem lá a maçada destas banalidades.

"...o domingo para um homem pobre que trabalha."


O Grito – Edvard Munch (1863-1944)

“Saint-Étienne.

Sei o que é o domingo para um homem pobre que trabalha. Sei sobretudo o que é o domingo à noite e se eu pudesse dar um sentido e uma figura ao que sei, poderia fazer de um domingo pobre uma obra de humanidade.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

terça-feira, setembro 27

As Contas ... dos Grandes!


As contas referentes à execução orçamental de 2004, apresentadas por Portugal em Bruxelas, carecem de rectificações. Suscitaram dúvidas ao Eurostat.

As contas dos anos de 2002 e 2003, todas sob gestão dos governos da direita (PSD/PP), também não estarão certas. Conspiração de Bruxelas contra a direita portuguesa? Conspiração superiormente dirigida por um ex-primeiro responsável supremo pelo menos pelas contas de 2002 e 2003?

Acontece aos melhores! Diz o nosso povo: “Em casa de ferreiro espeto de pau”. A Dra. Manuela Ferreira Leite e o Dr. Bagão Félix, afivelando uma máscara de severidade e competência, não param de nos surpreender!

“A Comissão Europeia pediu ao Governo português explicações sobre as operações referentes às dotações de capital dos hospitais SA, constituídas em 2002, e sobre a venda ao Citigroup de dívidas fiscais realizada em 2003. Em causa estão as contas orçamentais da ex-ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite.

Para além disso, o Eurostat não validou as contas públicas portuguesas de 2004 - da responsabilidade do então ministro das Finanças, Bagão Félix - alegando também dúvidas em relação à contabilização de um dividendo pago ao Estado pela Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), no montante de 0,03% do produto interno bruto (PIB).

O Governo português já se disponibilizou a investigar a "natureza" deste dividendo. Caso essa verba seja retirada, o défice ficará em 3,03% do PIB, sendo convicção das Finanças que não viola o limite de 3%. Bruxelas não aceitou ainda validar as contas da Grécia e República Checa. Para este grupo de países, incluindo Portugal, a Comissão Europeia diz que tem "reservas" sobre a "qualidade dos dados" fornecidos.”

JANIS JOPLIN


Janis Joplin (1967)

Janis Joplin morreu em 4 de Outubro de 1970. Antes que se faça tarde deixo o meu tributo a um ídolo maior da minha alta juventude. A sua voz, na rádio, dava-me um prazer infinito acompanhando-me em jornadas de estudo sem fim.

O FIM DO VERÃO


“Mar, Mar, há tanto mar no meu país” - Fotografia de Hélder Gonçalves

O fim do verão o cansaço do fim do descanso
O descanso do fim do cansaço o fim do verão
O fim do verão é onde estou sentado em cima
O ar do fim do mar que se torna na fotografia
O fim do dia no fim do verão não esquece não

Lisboa, 26 de Setembro de 2005

segunda-feira, setembro 26

É TARDE, MUITO TARDE DA NOITE ..."


Paul Gauguin (1848-1903)

É tarde, muito tarde da noite,
trabalhei hoje muito, tive de sair, falei com vária gente,
voltei, ouço música, estou terrivelmente cansado.
Exactamente terrivelmente com a sua banalidade
é o que pode dar a medida do meu cansaço.
Como estou cansado. De ter trabalhado muito,
ter feito um grande esforço para depois
interessar-me por outras pessoas
quando estou cansado demais para me interessarem as pessoas.
E é tarde, devia ter-me deitado mais cedo,
há muito que devera estar a dormir.
Mas estou acordado com o meu cansaço
e a ouvir música. Desfeito de cansaço,
incapaz de pensar, incapaz de olhar,
totalmente incapaz até de repousar à força de
cansaço. Um cansaço terrível
da vida, das pessoas, de mim, de tudo.
E fumo cigarro após cigarro no desespero
de estar tão cansado. E ouço música
(por sinal a sonata para violino e piano
de César Franck, e depois os Wesendonck Lieder)
num puro cansaço de dissolver-me
como Brunhilda ou como Isolda
no que não aceitarei nunca,
l' amor che muove il sole e l' altre stelle.
Nada há de comum entre esse amor de que estou cansado,
e o outro que não ama, apenas queima e passa , e de cuja
dissolução no espaço e no tempo em que vivo
estou mais cansado ainda. Dissolvam-se essas damas
que eram princesas ou valquírias, se preferem, no eterno.

Eu estou cansado de não me dissolver
continuamente em cada instante da vida,
ou das pessoas, ou de mim, ou de tudo.
Qu' ai-je à faire de l' eternel? I live here.
Non abbiamo confusion. E aqui é que
morrerei danado de cansaço, como hoje estou
tão terrivelmente cansado.

Jorge de Sena

Dez. 22/70

In “Visão Perpétua” [1982]

ALAIN DELON


1962 - Monica Vitti e Alain Delon, In "L'Eclipse"

A entrevista com Alain Delon ao “Paris Match”, referida pelo “Expresso”, foi a única leitura que me comoveu no fim-de-semana. Veja aqui uma síntese.

domingo, setembro 25

Presidenciais, Quarteto à Esquerda e So(u)lista à Direita?


“Heróis do mar …” – Fotografia de Hélder Gonçalves

Sempre estive convencido que, descartadas as hipóteses Ferro Rodrigues, Medeiros Ferreira e outras, cada uma por sua razão, o candidato apoiado pelo PS seria Manuel Alegre. A candidatura de Mário Soares era uma hipótese aventada, à laia de provocação, mas não suscitava mais do que sorrisos complacentes.

Finalmente o mercado dos candidatos fechou ontem, à esquerda, com quatro – quatro – candidatos: Mário Soares (apoiado formalmente pela direcção do PS); Manuel Alegre (apoiado, certamente, por independentes de esquerda, dirigentes intermédios e militantes do PS); Jerónimo de Sousa (PCP) e Francisco Louçã (BE).

Paradoxalmente, a esta hora, não há nenhum candidato credível que represente o campo da direita pois Cavaco Silva não declarou formalmente a sua candidatura.

Mas nada nos diz que não possa haver uma surpresa neste campo. Como muito bem reflecte o TUGIR parecem estar criadas as condições para o surgimento da candidatura de Santana Lopes que poderia aglutinar à sua volta uma multidão de descontentes e inimigos ferozes de Cavaco, até hoje em silêncio, no campo do PSD e, em particular, no do PP. Lembremo-nos, a título de exemplo, de Alberto João Jardim e Paulo Portas. Não há fome que não dê em fartura.

Acerca da minha opção política ela já foi anteriormente expressa. Apoio Mário Soares por razões de fidelidade, pois sempre nele votei, enquanto candidato presidencial (em todas as voltas de todas as eleições) e por razões políticas na medida em que confio na sua capacidade para o exercício da função presidencial.

A história do percurso político que me leva até aqui fica para depois mas pode ser interessante para refrescar algumas memórias mais preguiçosas.

JAMES DEAN


James Dean, simplesmente

Outubro


"Estrada do Poço do Inferno..." - Fotografia de José Branco In Olhares

“Outubro

Os grandes bosques vermelhos sob a chuva, os prados cobertos de folhas amarelecidas, o cheiro dos cogumelos que secam, as fogueiras (as pinhas reduzidas a brasas luzem como diamantes do inferno), o vento que geme em redor da casa, onde encontraríamos um Outono tão convencional? Os camponeses marcham agora um pouco inclinados para a frente – contra o vento e a chuva.

Na floresta de Outono, as faias criam nódoas de um amarelo-ouro onde se isolam na orla dos bosques como que grandes ninhos gotejantes de um mel loiro.”

Albert Camus


Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

FICAR


Fotografia de Margarida Delgado in sabor a sal

O que gostas de mim, o que mais desejas
Que me sintas por perto, que me protejas

Desejas adivinhar donde venho ao chegar
De que forma se forma o prazer de gostar

O que mais desejas, o que gostas de mim
Saberás o que não sei, deixa-te estar aqui

Preciso de uma mão aberta na minha face
Ler suas linhas e deixar o corpo ficar laço

É certo que nada ficou igual com o tempo
Deixa-te ficar comigo, espera o momento

Em que somente as nossas vozes ecoem
No ar e nossas memórias no tempo voem

Lisboa, 12 de Julho de 2005

sábado, setembro 24

CAVACO


Fotografia de a mega fauna

“Parece que os portugueses preferem ter como “chefe no trabalho” Mário Soares e como “professor do filho” Cavaco Silva, …”

Pacheco Pereira, tradicional apoiante do Dr. Soares nas suas anteriores candidaturas presidenciais, sem esquecer que na segunda Soares foi apoiado também por Cavaco (esse mesmo …), reflecte e inflecte, com decência e clarividência, no sentido do seu apoio à próxima candidatura de Cavaco.

Queria aproveitar para dar o meu testemunho pessoal acerca da preferência dos portugueses em ter como “ professor do filho” Cavaco Silva. É que eu já fui aluno dele.

Cavaco Silva é um péssimo professor, daquele género autoritário e dogmático … pouco atreito a aceitar a palavra dos outros e muito menos a crítica. Suporta mal os conflitos, é rígido, “vai-se abaixo” quando carece de lidar com situações de afrontamento mais duras …

Não me venham com essa história do bom professor e muito menos com a sua capacidade para lidar com os conflitos ao mais alto nível da magistratura política.

É tudo mentira. (A desenvolver).