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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, janeiro 10
DA CONTRADIÇÃO ...
Jenny Lynn
Retomar o processo relativo ao novo Aeroporto da Ota, redefinindo o respectivo calendário à luz dos dados actuais sobre o desenvolvimento expectável do tráfego e tendo em conta a disponibilidade de financiamento comunitário para a
programação do projecto; (…)
Em dois dias sucessivos duas decisões do governo que contrariam o seu programa. Transcrevo acima o que o programa do governo diz a respeito da localização do novo aeroporto (pag.105). É, convenhamos, um modelo de gestão das decisões e da comunicação inteligente: forte no tom e curto no tempo. Mas convinha que o governo explicasse, de forma detalhada e minuciosa, os fundamentos das mudanças. Resta saber se, no caso da localização do aeroporto, os protagonistas, quero dizer o ministro Mário Lino e a sua equipa, têm condições políticas para continuar a liderar o processo e a explicar seja o que for.
Se no caso do referendo não concordo mas compreendo, no caso da localização do novo aeroporto compreendo e sou capaz de concordar. O primeiro-ministro, contra o qual está no mercado da opinião pública uma campanha de fascista para cima, afinal é capaz de mudar de opinião, aceitar o contraditório e, finalmente, decidir contra o seu próprio programa e, ainda por cima, discutir, quinzenalmente, no parlamento, estas mudanças e tudo o mais. Para um candidato a ditador não está mal!
Mas a quebra de compromissos programáticos, em matérias desta importância, carece ser muito bem explicada. É o mínimo que se exige a um governo democrático e responsável.
No caso da localização do aeroporto a mudança da Ota para Alcochete prejudica interesses e expectativas criadas, desde há muitos anos, criando outras expectativas e beneficiando outros interesses. No fim de tudo se a decisão em favor da localização em Alcochete do novo aeroporto, como parece ser o caso, for benéfica para o país, aplaudo. Agora como diziam a propósito do Alqueva: construam-no … porra!
Retomar o processo relativo ao novo Aeroporto da Ota, redefinindo o respectivo calendário à luz dos dados actuais sobre o desenvolvimento expectável do tráfego e tendo em conta a disponibilidade de financiamento comunitário para a
programação do projecto; (…)
Em dois dias sucessivos duas decisões do governo que contrariam o seu programa. Transcrevo acima o que o programa do governo diz a respeito da localização do novo aeroporto (pag.105). É, convenhamos, um modelo de gestão das decisões e da comunicação inteligente: forte no tom e curto no tempo. Mas convinha que o governo explicasse, de forma detalhada e minuciosa, os fundamentos das mudanças. Resta saber se, no caso da localização do aeroporto, os protagonistas, quero dizer o ministro Mário Lino e a sua equipa, têm condições políticas para continuar a liderar o processo e a explicar seja o que for.
Se no caso do referendo não concordo mas compreendo, no caso da localização do novo aeroporto compreendo e sou capaz de concordar. O primeiro-ministro, contra o qual está no mercado da opinião pública uma campanha de fascista para cima, afinal é capaz de mudar de opinião, aceitar o contraditório e, finalmente, decidir contra o seu próprio programa e, ainda por cima, discutir, quinzenalmente, no parlamento, estas mudanças e tudo o mais. Para um candidato a ditador não está mal!
Mas a quebra de compromissos programáticos, em matérias desta importância, carece ser muito bem explicada. É o mínimo que se exige a um governo democrático e responsável.
No caso da localização do aeroporto a mudança da Ota para Alcochete prejudica interesses e expectativas criadas, desde há muitos anos, criando outras expectativas e beneficiando outros interesses. No fim de tudo se a decisão em favor da localização em Alcochete do novo aeroporto, como parece ser o caso, for benéfica para o país, aplaudo. Agora como diziam a propósito do Alqueva: construam-no … porra!
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"PROMISCUIDADES"
Nuno Santos “transferiu-se” da RTP, o canal público de televisão, para a SIC, um canal privado de televisão, concorrentes directos na mesma área de negócio. Nuno Santos, director de programas, deve saber todos os segredos da RTP e, naturalmente, leva-os consigo para a SIC. Ontem, por acaso, foi anunciada a “transferência” do "Gato Fedorento" da RTP para a SIC. É o mercado, estúpido! Não há motivo para alarme público. Numa área tão sensível para a formação da opinião pública, como é a televisão, esta “promiscuidade”, ao contrário do que aconteceu no caso da “transferência” do ex presidente da CGD para o BCP, não é notícia. É curioso, muito curioso!
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AUTOEUROPA
Uma notícia para desanuviar esperando que se não trate de uma interferência do governo na gestão de uma empresa privada: A Autoeuropa pretende atingir uma produção diária de 800 automóveis em 2010, duplicando a de 2007, e prevê um aumento de 2.000 postos de trabalho, anunciou hoje o director-geral da empresa, Jorn Reimers.
quarta-feira, janeiro 9
A PALAVRA PAI
Fotografia de Família – meu pai Dimas, abraçado a meu irmão, ladeado por sua mulher, mãe e irmã. Em baixo eu próprio. (Clique para ampliar)
Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia.
Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas.
Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE.
Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.
Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia.
Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas.
Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE.
Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.
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terça-feira, janeiro 8
RATIFICAÇÃO DO TRATADO DE LISBOA
Acabei de escrever um longo post acerca do assunto. Não o vou publicar. Seria maçador. Muito já se falou e muito mais se falará. A seu tempo tomei uma posição clara acerca do tema. Se o PS, e o governo, decidirem não referendar o Tratado de Lisboa a minha posição actual resume-se em poucas palavras: não concordo mas compreendo.
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segunda-feira, janeiro 7
"LIBERDADE E DEMOCRACIA ESTÃO EM PERIGO"
O mínimo que um cidadão, na posse de todas as suas faculdades mentais, deve fazer é reter esta declaração bem viva na sua memória. O mais tardar daqui a dois anos, não é só o governo que responderá pelas suas políticas. O PSD também responderá pela política de oposição ao governo. Se neste momento, ou algum dia, a liberdade e a democracia estiverem em perigo o Presidente da República terá que retirar dessa situação todas as consequências: convocar o Conselho de Estado, dissolver o Parlamento, e convocar eleições antecipadas. Caso estas acusações não tenham consequências políticas drásticas estamos na presença de uma brincadeira de mau gosto. Aconteça o que acontecer, pela parte que me toca, prometo voltar a elas, com regularidade, no próximo futuro.
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TÍTULO ASSASSINO
Casa Pia: Julgamento de Paulo Pedroso contra Estado português começa hoje
Deve ser este o título do dia, da semana, do mês, ou mesmo do ano, pois se fica a saber, em primeira mão, que, afinal, sempre vai haver o “julgamento de Paulo Pedroso” ... “contra o Estado português” e não o julgamento do Estado português na sequência de uma acção que lhe foi movido por Paulo Pedroso. Antecedendo a frase “julgamento de Paulo Pedroso” surge o selo da morte: “Casa Pia”. Assim se confirma a justeza do combate de António Barreto, Pacheco Pereira, Baptista Bastos e Cª pelas liberdades em perigo, contra a ditadura e o fascismo que estão a caminho.
Deve ser este o título do dia, da semana, do mês, ou mesmo do ano, pois se fica a saber, em primeira mão, que, afinal, sempre vai haver o “julgamento de Paulo Pedroso” ... “contra o Estado português” e não o julgamento do Estado português na sequência de uma acção que lhe foi movido por Paulo Pedroso. Antecedendo a frase “julgamento de Paulo Pedroso” surge o selo da morte: “Casa Pia”. Assim se confirma a justeza do combate de António Barreto, Pacheco Pereira, Baptista Bastos e Cª pelas liberdades em perigo, contra a ditadura e o fascismo que estão a caminho.
Para tirar dúvidas acerca de como fazer um título correcto para a notícia em questão ver o Expresso:
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domingo, janeiro 6
LUIZ PACHECO
O Luiz Pacheco morreu. Toda a gente, ou quase, entre ontem, hoje e amanhã, vai falar na morte do Luiz Pacheco. Até eu. Só ele é que não, o que é pena, pois havia de ter graça. Depois, muito depressa, será esquecido. Mas a sua obra não, que apesar de pequena, é marcante. Outros dela falarão.
Encontrei aqui à mão uma das suas obras talvez a maior de todas: COMUNIDADE. Da Contexto, edição de 1980, com desenhos da Teresa Dias Coelho, que acaba assim:
“Ora deixem-me que lhes diga: um cadáver não nunca tem terá razão, mesmo que a tivesse tido antes. Um estúpido um cobardola é para rir e chorar, porque a estupidez e o medo não têm medida. Um patareco, dá-se-lhe um pontapé no cu, um parasita esborracha-se por nojo e a um folião fazemos notar que não lhe achamos graça nenhuma. E fugi dos frustrados e falhados que é a malta mais tratante e castradora que existe. Mas um bebé! uma rapariga com o filho ao colo! os bambinos em volta! são os bichos mais exigentes e precisados de tudo. E há que lhes dar tudo. Eis, senhores, porque saúdo a manhã e faço gosto em a ver inda uma vez, eis porque a pardalada me incita. E no riso do meu Paulocas uma leve ironia contente me desperta, babada em leite e ternura. Somos puros. Sabemos e cumprimos. Bem-aventurados somos e vós, também,
Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis, se as praticardes.
[A ilustração é daqui]
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Umas vistas mais largas acerca da morte do Pacheco
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Encontrei aqui à mão uma das suas obras talvez a maior de todas: COMUNIDADE. Da Contexto, edição de 1980, com desenhos da Teresa Dias Coelho, que acaba assim:
“Ora deixem-me que lhes diga: um cadáver não nunca tem terá razão, mesmo que a tivesse tido antes. Um estúpido um cobardola é para rir e chorar, porque a estupidez e o medo não têm medida. Um patareco, dá-se-lhe um pontapé no cu, um parasita esborracha-se por nojo e a um folião fazemos notar que não lhe achamos graça nenhuma. E fugi dos frustrados e falhados que é a malta mais tratante e castradora que existe. Mas um bebé! uma rapariga com o filho ao colo! os bambinos em volta! são os bichos mais exigentes e precisados de tudo. E há que lhes dar tudo. Eis, senhores, porque saúdo a manhã e faço gosto em a ver inda uma vez, eis porque a pardalada me incita. E no riso do meu Paulocas uma leve ironia contente me desperta, babada em leite e ternura. Somos puros. Sabemos e cumprimos. Bem-aventurados somos e vós, também,
Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis, se as praticardes.
[A ilustração é daqui]
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Umas vistas mais largas acerca da morte do Pacheco
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sexta-feira, janeiro 4
Reflexão de Ano Novo
Keith Sharp
Chegou o novo ano. Para abrir voltemos ao défice público – situação em que as receitas do orçamento são inferiores às suas despesas, o contrário do superávite (caso de Espanha). O primeiro-ministro, na mensagem de Natal, apontou para uma previsão do défice, em 2007, inferior a 3%. [Artigo também disponível aqui.]
Voltando a um tema recorrente na discussão política em Portugal, e não só, nos últimos anos: o deficit público. Lembrando que para tomar posição acerca de um programa, texto, entrevista, seja o que for, é necessário tomar conhecimento, ver, ouvir, ler, de preferência na fonte, sob pena de cometer erros grosseiros de apreciação. Convém, no caso deste artigo, ler, por exemplo, a entrevista de Luís Filipe Menezes, concedida nas vésperas do Natal ao Expresso, os discursos de Natal e de Ano Novo, respectivamente do Primeiro Ministro e do Presidente da República e a entrevista de Ferro Rodrigues à revista Visão.
Chegou o novo ano. Para abrir voltemos ao défice público – situação em que as receitas do orçamento são inferiores às suas despesas, o contrário do superávite (caso de Espanha). O primeiro-ministro, na mensagem de Natal, apontou para uma previsão do défice, em 2007, inferior a 3%. [Artigo também disponível aqui.]
Voltando a um tema recorrente na discussão política em Portugal, e não só, nos últimos anos: o deficit público. Lembrando que para tomar posição acerca de um programa, texto, entrevista, seja o que for, é necessário tomar conhecimento, ver, ouvir, ler, de preferência na fonte, sob pena de cometer erros grosseiros de apreciação. Convém, no caso deste artigo, ler, por exemplo, a entrevista de Luís Filipe Menezes, concedida nas vésperas do Natal ao Expresso, os discursos de Natal e de Ano Novo, respectivamente do Primeiro Ministro e do Presidente da República e a entrevista de Ferro Rodrigues à revista Visão.
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quinta-feira, janeiro 3
FERRO RODRIGUES
Ferro Rodrigues
Um dia alguém perguntou ao Generalíssimo Franco, no leito de morte, se não se preocupava com os acontecimentos do 25 de Abril de 74, que corriam em Portugal, tendo obtido uma resposta seca: não, porque os portugueses são cobardes. Claro que há excepções mas quer-me parecer, como sói dizer-se, que as excepções confirmam a regra.
Vem esta lembrança a propósito da entrevista que Ferro Rodrigues concedeu hoje à Visão, após um longo silêncio, somente entrecortado pelo ruído do chamado “processo Casa Pia” no qual, por razões que a razão desconhece, foi envolvido. Acabei de ler a entrevista. Antes li e ouvi notícias acerca dela. Salvo raras excepções as notícias passam ao lado do essencial da mensagem de Ferro Rodrigues. Estranho que o porta-voz do PS – Vitalino Canas – tenha feito uma declaração que denota não a ter lido…
Pelo sim pelo não faço uma “declaração de interesse” na justa medida em que sou amigo do Ferro Rodrigues, desde os tempos da juventude, tendo trilhado um percurso cívico e político comum do qual, salvo algumas asneiras, não me arrependo.
A entrevista, no seu conjunto, é equilibrada, comedida e sensata; ousa a auto crítica e assume a grandeza de fazer as pazes com Jorge Sampaio; não ataca o governo, ao contrário do que parece fazer crer a manchete: “Quando se pede sacrifícios, não se deve ser arrogante”. Nada de mais verdadeiro mas empolado no contexto dos temas abordados entre os quais destaco como o mais impressivo, para mim, o que está contido na frase: “Não gosto de algumas das formas como o poder político, judicial e mediático se relacionam.”
Qualquer pessoa que guarde o siso e o bom senso entenderá, sem risco de errar, que Ferro Rodrigues é merecedor da gratidão dos socialistas, pelo combate político de 2002 no qual, após a “saída” de Guterres, cujas motivações não vêm ao caso, foi capaz de manter o PS à tona e, mais do que isso, num lugar cimeiro, como alternativa política de governo.
Ferro Rodrigues em nome de valores políticos em desuso, a chamada “ética republicana”, tornou-se um obstáculo, enquanto secretário-geral do PS, à ganância de interesses ilegítimos, na esfera pessoal e de grupo, pública e privada, nacional e internacional, que o tornaram em alvo político a abater custasse o que custasse.
Só a cobardia que domina muitos sectores da sociedade portuguesa, incluindo alguma esquerda, assim como um aviltante acomodamento cívico, tem permitido que o poder político e judicial, nas respectivas esferas de competência, omita a exigência do esclarecimento cabal da verdade acerca das infames denúncias que “colaram” o nome de Ferro Rodrigues ao processo “Casa Pia”.
Um dia saber-se-á toda a verdade, mas como diz Ferro, pode ser tarde demais …
Um dia alguém perguntou ao Generalíssimo Franco, no leito de morte, se não se preocupava com os acontecimentos do 25 de Abril de 74, que corriam em Portugal, tendo obtido uma resposta seca: não, porque os portugueses são cobardes. Claro que há excepções mas quer-me parecer, como sói dizer-se, que as excepções confirmam a regra.
Vem esta lembrança a propósito da entrevista que Ferro Rodrigues concedeu hoje à Visão, após um longo silêncio, somente entrecortado pelo ruído do chamado “processo Casa Pia” no qual, por razões que a razão desconhece, foi envolvido. Acabei de ler a entrevista. Antes li e ouvi notícias acerca dela. Salvo raras excepções as notícias passam ao lado do essencial da mensagem de Ferro Rodrigues. Estranho que o porta-voz do PS – Vitalino Canas – tenha feito uma declaração que denota não a ter lido…
Pelo sim pelo não faço uma “declaração de interesse” na justa medida em que sou amigo do Ferro Rodrigues, desde os tempos da juventude, tendo trilhado um percurso cívico e político comum do qual, salvo algumas asneiras, não me arrependo.
A entrevista, no seu conjunto, é equilibrada, comedida e sensata; ousa a auto crítica e assume a grandeza de fazer as pazes com Jorge Sampaio; não ataca o governo, ao contrário do que parece fazer crer a manchete: “Quando se pede sacrifícios, não se deve ser arrogante”. Nada de mais verdadeiro mas empolado no contexto dos temas abordados entre os quais destaco como o mais impressivo, para mim, o que está contido na frase: “Não gosto de algumas das formas como o poder político, judicial e mediático se relacionam.”
Qualquer pessoa que guarde o siso e o bom senso entenderá, sem risco de errar, que Ferro Rodrigues é merecedor da gratidão dos socialistas, pelo combate político de 2002 no qual, após a “saída” de Guterres, cujas motivações não vêm ao caso, foi capaz de manter o PS à tona e, mais do que isso, num lugar cimeiro, como alternativa política de governo.
Ferro Rodrigues em nome de valores políticos em desuso, a chamada “ética republicana”, tornou-se um obstáculo, enquanto secretário-geral do PS, à ganância de interesses ilegítimos, na esfera pessoal e de grupo, pública e privada, nacional e internacional, que o tornaram em alvo político a abater custasse o que custasse.
Só a cobardia que domina muitos sectores da sociedade portuguesa, incluindo alguma esquerda, assim como um aviltante acomodamento cívico, tem permitido que o poder político e judicial, nas respectivas esferas de competência, omita a exigência do esclarecimento cabal da verdade acerca das infames denúncias que “colaram” o nome de Ferro Rodrigues ao processo “Casa Pia”.
Um dia saber-se-á toda a verdade, mas como diz Ferro, pode ser tarde demais …
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OBAMA
Obama encabeza las encuestas para el 'caucus' demócrata en Iowa
Hoje tem início a corrida para a Casa Branca. Do lado dos democratas é tudo mais claro face aos republicanos. Obama parece partir na linha da frente mas ainda é cedo demais para qualquer candidato cantar vitória. Tudo aponta para que o candidato democrata que ganhar as primárias ganhe as presidenciais mas todos os vaticínios apressados podem sair furados. Lá para Fevereiro se saberá, quase de certeza, quais os candidatos presidenciais. No final do ano teremos novo presidente. Ufff…!
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Obama ganha o primeiro "assalto" ... e cresce a expectativa ...
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- Nos Democratas. Iowa acaba com Edwards. Agora é só entre Obama e Clinton. E se Obama ganha New Hampshire...Nas sondagens ainda está atrás de Clinton. Mas nos mercados electrónicos, que já estão a reagir a Iowa, já está à frente.
- Nos Republicanos, McCain, que parecia perdido, pode voltar à lista dos favoritos com New Hampshire. Romney sofre uma derrota muito grave e acaba se não ganhar New Hampshire, o que é cada vez mais provável. Thompson já acabou. Huckabee já não é uma curiosidade. Giuliani em suspenso. [Margens de erro]
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Ecos da derrota de Hillary Clinton
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quarta-feira, janeiro 2
LISBOA DAKAR
O Rally Lisboa Dakar é um acontecimento mediático com grande impacto mundial. Ele aí está, de novo, com partida de Portugal. Este rally, gostemos ou não, é um grande acontecimento que projecta a imagem de Portugal no mundo. Um investimento virtuoso. Veja aqui.
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terça-feira, janeiro 1
CAMUS - PRESENTE!
Para abrir o ano de 2008 cinco sublinhados da minha última leitura de “O Primeiro Homem”, de Albert Camus, com a lembrança da passagem do ano de ontem na companhia de amigos, em nome da fidelidade.
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“São raros aqueles que continuam a ser pródigos depois de terem adquirido os seus meios. Esses são os reis da vida, que se devem saudar com discrição.”
(…)
“ – a miséria é uma fortaleza sem ponte levadiça.”
(…)
“De resto, como fazer compreender que uma criança pobre pode por vezes ter vergonha sem nunca invejar coisa alguma?”
(…)
“E, à noite, deitado, morto de cansaço, no silêncio do quarto onde a mãe dormia levemente, ainda ouvia uivar dentro dele o tumulto e furor do vento que amaria ao longo de toda a vida.”
(…)
“ … a criança morrera naquele adolescente magro e vigoroso, de cabelos revoltos e olhar arrebatado, que trabalhara todo o Verão para levar um salário para casa e acabava de ser nomeado guarda-redes titular da equipa do liceu e, três dias antes, saboreara pela primeira vez, quase desfalecido, o contacto com a boca de uma jovem.”
(A partir da edição portuguesa em cuja primeira página escrevi uma dedicatória para o meu filho que este ano, pela primeira vez, celebrou a passagem do ano separado dos pais, e que termina assim: “Hino à vida, saudação àqueles que não têm voz activa, pensamento ligado à acção, defesa da justiça e da liberdade, alerta contra o fanatismo e o totalitarismo … 1994/11/02” – já passou tanto tempo!)
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domingo, dezembro 30
sexta-feira, dezembro 28
TABACO
Um dia, muitos anos atrás, como já uma vez relatei aqui, deixei de fumar. Parti de férias num 31 de Julho de um ano qualquer, durante o qual fumei dois maços por dia de SG Filtro, e, no dia seguinte, não fumei nem mais um cigarro. E nunca mais fumei “cigarros brancos”, em todos os dias seguintes, com excepção de umas cigarilhas de quando em vez. Fui fumador viciado durante dez anos.
Não integrei, no entanto, a partir daquela decisão drástica, o pelotão de fuzilamento que aponta as armas contra os fumadores, nem sequer pensei que fosse possível a um qualquer governo fazer aplicar uma lei anti-tabaco quer por razões egoístas – pois o tabaco rende receitas fiscais fabulosas – quer por razões de popularidade – pois os lobbys das tabaqueiras e o dos fumadores são poderosos na “formação da opinião pública”.
A partir do exemplo de outros países que aplicaram mesmo leis mais duras do que aquela que, entre nós, vai entrar em vigor, criou-se a ideia de que seria possível , em nome da saúde pública, criar um consenso social favorável a uma lei anti-tabaco que, para ser cumprida, exige auto disciplina e fiscalização. Faz-me lembrar, de alguma maneira, a legislação acerca da obrigatoriedade do cinto de segurança nos veiculos automóveis.
Devo confessar que, com o passar do tempo, o fumo dos cigarros dos outros me incomoda cada vez mais. É uma questão de natureza física e não de natureza moral. Alergias! Mas compreendo a lógica dos argumentos dos que defendem a liberdade de fumar, como compreendo todas as campanhas em defesa da liberdade individual, contra a intromissão do Estado e, em geral, dos “outros”, na vida privada de cada um.
Mas, neste caso, acredito que, após um período inicial de adaptação, todos os interesses em presença se ajustarão e que, quer os espaços públicos se adaptarão progressivamente ao cumprimento flexível da lei, quer fumadores e não fumadores encontrarão fórmulas de convívio pacífico para a salvaguarda dos seus prazeres e desprazeres. No fim da linha sempre restará a ASAE – a entidade fiscalizadora - como válvula de escape... e como já se tornou um “desporto nacional” falar mal da ASAE! …
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Hillary Clinton
Hillary Clinton
Estado da arte, em sondagens, a poucos dias do início da corrida para a escolha dos candidatos à eleição presidencial nos USA.
Hillary kicked off her "Real Challenges, Big Solutions: Time To Pick a President" Tour yesterday in Iowa. She was joined on the trail by her daughter Chelsea and President Clinton, with stops in Mt. Pleasant, Cumming, and Pella.
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UMA VISTA DE OLHOS PELO ANO ELEITORAL
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Estado da arte, em sondagens, a poucos dias do início da corrida para a escolha dos candidatos à eleição presidencial nos USA.
Hillary kicked off her "Real Challenges, Big Solutions: Time To Pick a President" Tour yesterday in Iowa. She was joined on the trail by her daughter Chelsea and President Clinton, with stops in Mt. Pleasant, Cumming, and Pella.
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UMA VISTA DE OLHOS PELO ANO ELEITORAL
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quinta-feira, dezembro 27
BENAZIR BHUTTO
Benazir Bhutto assassinada.
Aprofundam-se as condições para o alastramento da instabilidade política na região. O Paquistão é uma potência regional que dispõe de armas nucleares!
Mais notícias. As últimas imagens em público.
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O fotógrafo que captou as últimas imagens de Benazir
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No El Pais
Aprofundam-se as condições para o alastramento da instabilidade política na região. O Paquistão é uma potência regional que dispõe de armas nucleares!
Mais notícias. As últimas imagens em público.
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O fotógrafo que captou as últimas imagens de Benazir
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No El Pais
CGD/BCP
Umas notas mais acerca da saga BCP/CGD após ter lido e ouvido uma multidão de opiniões e notícias. Interessante a argumentação acerca da partilha dos lugares pelo chamado bloco central na lógica antiga inaugurada por Almeida Santos e Ângelo Correia, aquando do governo do ” bloco central”, nos idos dos anos 80. Dizem os defensores da partilha centrista – um modelo como outro qualquer de partilha do poder - que sempre que o governador do Banco de Portugal é socialista o presidente da CGD é social democrata.
O argumento é falacioso. Pois nem sequer é necessário recuar muito tempo para encontrar a situação oposta, ou seja, basta olhar para a situação que durou até ontem: o actual governador do Banco de Portugal – Constâncio – é socialista – até foi secretário-geral do PS – e o ex-Presidente da CGD - Santos Ferreira – também é socialista (ou próximo)!
O mais extraordinário fenómeno que surgiu nos meandros desta discussão pública – e ainda bem que há discussão pública – foi a intervenção de Luís Filipe Menezes exigindo a nomeação para a presidência da CGD de um social democrata, no caso referindo o nome de Miguel Cadilhe, quando, ao mesmo tempo, numa entrevista ao Expresso, anunciava a sua intenção programática, que é para levar a sério, de desmantelar o Estado, ou, para ser mais preciso, nas suas palavras: desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem na sociedade portuguesa e que oprime as pessoas [o link para a entrevista, como por milagre, desapareceu].
Como alguém dizia o que Menezes poderia argumentar, para manter o mínimo de coerência, era uma modalidade qualquer de privatização da CGD o que não seria sequer original no ideário recente do PSD.
No meio de tudo o argumento crítico mais forte contra o trânsito de Santos Ferreira da CGD para o BCP é o da carência de uma chamada “cláusula de rescisão” pois, na verdade, não é de admirar que os accionistas do BCP fiquem todos contentes em contratar um gestor que conhece por dentro o seu maior concorrente.
Além do mais com ele vão mais dois, ou seja, o núcleo duro dos futuros gestores do BCP - o maior banco privado português- vai ser constituido por uma tríade de gestores que levam consigo – sem beliscar a sua honestidade pessoal – todos os segredos da concorrência a que acresce ainda o ex-Director Geral dos Impostos – Paulo Macedo – que conhece todos os segredos da “máquina fiscal”.
Como diria o outro: não está nada mal, não senhor!
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quarta-feira, dezembro 26
BCP/CGD
Apontamentos acerca do folhetim do BCP: “(…) quando pensamos que o banco está a sair do estertor, a náusea regressa” e “Darth Vader andou pelo BCP”.
O BCP vai mudar de gerência, os accionistas lá saberão porquê. Hoje mesmo o presidente da CGD, em fim de mandato, vai selar a saída da Caixa a caminho da presidência do BCP. Trata-se de um gestor de créditos firmados. É, certamente, uma boa escolha. Só não se entende qual o papel do Vara, ou para bom entendedor …
A democracia vive com suas virtudes e seus defeitos. Vara representa aquela categoria de personagens que sobrevivem por obra e graça dos insondáveis mistérios da democracia como outros personagens sobreviveram graças aos insondáveis mistérios da ditadura. Assim seja …
Para a Presidência da CGD transitará um personagem da outra metade da esfera central do regime que permanece, por ora, na penumbra. O regime respirará de alívio se for encontrada uma solução a contento de todos menos de Luís Filipe Meneses que já deve ter percebido que o verdadeiro líder do PSD é, afinal, … Cavaco Silva.
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terça-feira, dezembro 25
Sarkozy y Carla
Isto é mesmo a sério mesmo que seja só um romance para fazer notícias pois a política é cada vez mais um encadeado de romances para fazer notícias.
Luís Filipe Menezes, além da “aposta radical (…) de, em meia dúzia de meses, desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem na sociedade portuguesa e que oprime as pessoas”, ainda está a tempo de aprender como se pode fazer sonhar as pessoas …
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Vivre avec Picasso
Uma primeira nota acerca das minhas prendas de Natal. A primeira de todas vai para: Vivre avec Picasso, de Françoise Gilot. Já contei, muito tempo atrás, a odisseia da edição em português deste livro [A minha vida com Picasso] que um dia perdi e recuperei, por acaso, num alfarrabista depois de já ter perdido as esperanças. É um daqueles livros “menores” que contribui para a felicidade dos leitores apaixonados por este género de literatura.
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sexta-feira, dezembro 21
quinta-feira, dezembro 20
ÁRVORES
Helder Gonçalves
(Clicar na fotografia para aumentar)
(Clicar na fotografia para aumentar)
Camponês, que plantaste estas árvores reais como pássaros vivos na verdura autêntica das ramagens, sabias bem que nada valem as suas asas fulvas e imaginárias nas florestas do tempo.
Tu sim, que concebeste todas estas folhas, flores e frutos, toda esta terra de harmomia – no tamanho duma semente mais pequena que o coração das aves.
“Terra de Harmonia” – Obras Completas – Círculo de Leitores
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quarta-feira, dezembro 19
ANIVERSÁRIO
Fotografia de Helder Gonçalves
(Clicar na Fotografia para ampliar)
Obrigada ao Luis Novaes Tito, da Barbearia, ao António Pais, do Fim de Semana Alucinante, à Addiragram, das Aguarelas de Turner, à Helena F. Monteiro, da Linha de Cabotagem, ao Nuno, de A Defesa de Faro, à Carminda Pinho, do Forum Cidadania, à Joana Lopes, do Entre as Brumas da Memória, ao Helder Gonçalves pela magnífica fotografia e aos que, por outros meios, até este momento, tiveram a gentileza de saudar o aniversário deste blogue que me permitiu ainda descobrir o Aniversário de Blogues.
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QUATRO ANOS
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,
atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,
observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,
louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,
guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,
incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,
ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,
admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
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terça-feira, dezembro 18
RETRATO DE SÓCRATES NO "LIBÉRATION"
José Sócrates. Blairiste et déterminé, le Premier ministre socialiste portugais, 50 ans, a été la cheville ouvrière du traité simplifié, signé jeudi à Lisbonne.
(…)
«Qu’est-ce qui différencie la gauche de la droite ? L’égalité. Mais pour moi la première valeur, celle qui l’emporte sur les autres, c’est la liberté. Je suis donc un démocrate socialiste.»
(…)
«Mon père, architecte, s’est arraché à la misère, rappelle-t-il. C’est vrai, je suis un provincial, je me suis fait sans demander la permission à personne. Je n’ai pas d’alliés parmi les maîtres à penser portugais et l’aristocratie de gauche.»
(…)
«Si la gauche considère que je mène une politique de droite, elle a tort : je remets sur pied l’Etat social. Les nations endettées ne sont pas libres. La gauche, ce n’est pas l’immobilisme, c’est le mouvement, l’évolution.»
(…)
S’il est en «plastique», c’est un plastique dur.
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«Qu’est-ce qui différencie la gauche de la droite ? L’égalité. Mais pour moi la première valeur, celle qui l’emporte sur les autres, c’est la liberté. Je suis donc un démocrate socialiste.»
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«Mon père, architecte, s’est arraché à la misère, rappelle-t-il. C’est vrai, je suis un provincial, je me suis fait sans demander la permission à personne. Je n’ai pas d’alliés parmi les maîtres à penser portugais et l’aristocratie de gauche.»
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«Si la gauche considère que je mène une politique de droite, elle a tort : je remets sur pied l’Etat social. Les nations endettées ne sont pas libres. La gauche, ce n’est pas l’immobilisme, c’est le mouvement, l’évolution.»
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S’il est en «plastique», c’est un plastique dur.
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