quinta-feira, maio 20

Fragmentos de Leituras

"A privadicidade

Com efeito, é quando divulgo a minha privadicidade que mais me exponho: não pelo risco de "escândalo" mas sim porque nesse momento apresento o meu imaginário com a sua consistência mais forte; e o imaginário é precisamente aquilo em que os outros têm vantagem; aquilo que não está protegido por nenhuma inversão, nenhum desmantelamento. Todavia, a "privadicidade" muda de acordo com a Doxa à qual nos dirigimos; se é uma doxa das direitas (burguesa ou pequeno-burguesa: instituições, leis, imprensa), é a privadicidade sexual que mais se expõe. Mas, se for uma doxa das esquerdas, a exposição do sexual não transgride nada: neste caso a "privadicidade" são as práticas fúteis, os vestígios de ideologia burguesa que o sujeito confidencia: quando me volto para essa doxa exponho-me menos ao declarar uma perversão do que ao enunciar uma preferência: a paixão, a amizade, a ternura, a sentimentalidade, o prazer de escrever, tornam-se então, por simples deslocamento estrutural, termos indizíveis: que contradizem o que pode ser dito, o que esperam que se diga, mas que precisamente - a própria voz do imaginário - se gostaria de poder dizer imediatamente (sem mediação)."

No meu "livro artesanal" que estou transcrevendo, por fragmentos, escrevi nesta página 6, certamente influenciado pela fase porque passava a minha vida no início dos anos 80: "o impulso de uma nova teia de relações atraentes mas amarradas ainda ao difícil passado dos "mais velhos" (de mim)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 11
(Fragmento 2 de 2, pag. 6)

Edição portuguesa: "Edições 70"

A Austrália e o petróleo de Timor

Volto ao assunto da demarcação da fronteira marítima entre Timor e a Austrália. O que está em causa é o petróleo, a principal riqueza de Timor.

A Austrália busca uma autêntica usurpação do território marítimo para se apropriar do petróleo de Timor. Ganha tempo pois o tempo joga em desfavor de Timor.

Uma boa causa para a diplomacia portuguesa. Mas é preciso combater ao lado dos fracos e não dos fortes! Não é?

Talvez encarregar o Dr. Martins da Cruz desta missão especial. Que acham?



Diários de Motocicleta

Foi apresentado no Festival de Cannes o filme brasileiro "Diários de Motocicleta" de Walter Salles

Tenho lido muitas referências positivas ao filme na blogosfera do Brasil. É uma obra baseada numa longa viagem, realizada em 1952, por Che Guevara, acompanhado por um amigo. A viagem foi iniciada a bordo de uma moto Norton.

Depois do "falecimento" da Norton foi continuada à boleia e em todos os meios de transporte imaginários. Atravessaram a América Latina. Vi, outro dia, um documentário na TV acerca desta aventura. Fiquei fascinado.

Além do mais o meu pai, por volta da mesma época, teve uma Norton, igualzinha, da qual guardo uma magnífica foto e muitas histórias contadas pelo próprio e por minha mãe. São diversos imaginários sobrepostos. Positivos.

CV - 5

SORVETE - "Eu não: quero é uma realidade inventada"

Esta ideia de dar a conhecer blogs do Brasil e depois de outras paragens, nunca se sabe, tem um fascínio muito especial. Colocar ao alcance de um clice realidades que estão do lado de fora do nosso quotidiano é algo que (me) nos reconcilia com o mundo.

A mim, pelo menos, diverte-me. Para gerar comunicação, por via da blogosfera, na qual sou um novato, temos, de alguma forma, de fracturar a linguagem oficial do blog. Sem nos darmos conta, ao gerir a realidade de um blog, criamos um estatuto formal (ia dizer oficial) de nós mesmos.

Nada de mais aborrecido, por vezes, mesmo desmotivador. A maior parte dos blogs - ou todos - não conseguem fugir a esta verdadeira fatalidade. É para contrariar este risco iminente, em cada palavra e imagem que se projecta, que sou levado a publicar, por exemplo, "textos antigos" como os de Roland Barthes e Albert Camus. Além da poesia que radica noutras motivações que não vêm ao caso.

Claro que os textos dos autores "clássicos" que publico me interessam e fascinam, em si mesmos, mas a sua linguagem não segue as regras da minha própria linguagem. É outra a linguagem deles pela via dos talentos autorais e/ou do tempo em que foram escritos.

Há naturalmente diversos processos que permitem perturbar o discurso dominante de um blog. Vou experimenta-los com o tempo. Se o tempo, claro, estiver de acordo com a minha vontade e me der tempo.

E em consequência aqui vai outro blog do Brasil. Este mais antigo e, talvez, mais convencional mas, a meu ver, interessante. É o sorvete. Ora vejam.


quarta-feira, maio 19

Imigração

100% de acordo.

Francisco Sarsfield Cabral escreve acerca dos imigrantes. Outro dia fiz-lhe uma crítica. Outros também escreveram mostrando desagrado pelo uso despropositado da palavra "poeta" que FSC utilizou numa crónica.

Mas FSC é um dos "10 grandes educadores da opinião pública portuguesa" que toda a gente respeita. Nessa mesma coluna do Diário de Nptícias, hoje, FSC anota que o Alentejo está a ser repovoado pelos imigrantes.

Afirma sem rodeios que a imigração é um factor de desenvolvimento do país. Tenho sustentado este ponto de vista. Estou 100% de acordo com o que diz FSC acerca deste tema. Afinal ele também tem alma de poeta.


Justiça - Uma Galeria de Horrores

Somos um país de gente medrosa, diz o Bastonário da Ordem dos Advogados. A Justiça é uma galeria de horrores.

Hoje tirei o dia para concordar. Estou 200% de acordo.

5 MESES DE ABSORTO

Neste dia em que o absorto faz 5 meses de vida aqui deixo o tributo ao grande poeta português Fernando Pessoa reproduzindo o poema "Tabacaria" do seu heterónimo Álvaro de Campos. Logo nos primeiros versos Pessoa se aproxima de uma reflexão intemporal que, paradoxalmente, ou talvez não, tem tudo a ver com a realidade do ser solitário face ao desconhecimento de nós próprios. "Tabacaria" é um exercício poético que tem muito a ver com a ideia de criação do "absorto". A edição que trago comigo é de bolso, modelo popular, da ITAU, foi-me oferecida e tem uma dedicatória: "23 de Maio 81 (Feira do Livro) Um beijão do bus."

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
...

15-01-1928

A versão integral de "Tabacaria" pode ser lida aqui


CV - 4

Pentimento

Continuando a digressão prometida, com ajuda da colombina, aqui está outro blog do Brasil: Pentimento - Segredos de liquidificador... Sem texto de entrada como o absorto. Para meu gosto, muito bom.

terça-feira, maio 18

O CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS

Logo após a edição do meu post "A fé na propaganda" no abébia vadia, como se fora uma ilustração, está disponível a publicação "IMAGENS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL".

Na 1ª Grande Guerra (1914/18), de facto, Portugal enviou para a Flandes 38.000 soldados e 1.551 oficiais. Dois mil mortos, cinco mil feridos e 6.000 prisioneiros. O horror da guerra fora de portas. O fotógrafo Arnaldo Rodrigues Garcez estava lá.

Fragmentos de Leituras

"Uma sociedade de emissores

Vivo numa sociedade de emissores (sendo eu um deles): cada pessoa que encontro, ou que me escreve, envia-me um livro, um texto, um apanhado, um prospecto, um convite para um espectáculo, para uma exposição, etc. O prazer de escrever, de produzir, aperta por todos os lados; mas, uma vez que o circuito é comercial, a produção livre permanece asfixiada, aflita e como desvairada: na maior parte das vezes, os textos, os espectáculos vão para onde não são solicitados; encontram, por seu mal, "relações", e não amigos e ainda menos parceiros; o que faz que essa espécie de ejaculação colectiva da escrita, na qual poderia ver-se a cena utópica duma sociedade livre (em que o prazer circulasse sem passar pelo dinheiro), tenda hoje para o apocalipse."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 10
(Fragmento 1 de 2, pag. 6)

Edição portuguesa: "Edições 70"

CV (3)

SONHO

O texto de apresentação deste blog de Ernesto Diniz é assim: "O que é sonho? Tudo que você pode tocar, cheirar, sentir, apenas e simplesmente parte de você e do (seu) mundo, está logo abaixo dos seus dedos e entre suas pernas, um pouco no coração, na alma, brincando de fazer difícil ou acontecer. É a ponta da lança, é o coração."

Vejam aqui Sonho um blog muito bem apresentado, e melhor escrito, da série que anunciei. Um passeio guiado por blogs do Brasil, com a ajuda de Colombina.

segunda-feira, maio 17

Vistas de Rua (3)

Lisboa, 9 da manhã. Na sexta-feira passada fiz um percurso singular. Tomei o Metro em Telheiras. Percorri toda a "linha verde" até ao Cais do Sodré. Tudo bem, sem demoras nem enchentes, apesar de ser "hora de ponta". Saí e caminhei a pé na direcção de Alcântara. Não é a primeira vez que faço este percurso.

Mas hoje reparei que a Avenida 24 de Julho é um corredor de transportes puro. Dispõe de uma via rodoviária com 4 "faixas de rodagem", duas em cada sentido, uma via para eléctricos e autocarros, uma em cada sentido, uma via para comboios, uma em cada sentido, uma outra via rodoviária, no interior, junto à ferrovia, duas em cada sentido (com variantes).

No percurso a pé de cerca de 20 minutos, não encontrei uma só pessoa a não ser mesmo no início, junto à estação do Cais do Sodré e, no fim, próximo do cruzamento com a Infante Santo. Um deserto de pessoas, de árvores dignas desse nome, de sombras, de vistas sobre o Tejo que corre ali tão perto .

Apesar de todas as iniciativas para "recuperar" o rio para a cidade a Avenida continua a ser um muro (quase) intransponível no acesso ao rio. No entanto à noite a avenida ressuscita. O rio indiferente continua, majestoso, a correr na direcção da foz.

Sequência Infernal

Era esta a sequência das notícias no Correio da Manhã online cerca do meio dia e meia de hoje:

"Assassinado dirigente político iraquiano"
"Greve na Maternidade Alfredo da Costa"
"Concordata Assinada" (na minha primeira leitura até li "assassinada"!)
"Greve Judicial Atrasa Julgamentos"
"Assassinada por Iraquiano" (manchete de primeira página na edição em papel)
"Benfiquista Baleado"
"Soldados matam Palestinianos" ...

Não há por onde escolher... a imprensa em geral, e os tablóides em particular, tem sede de sangue...sangue.... muito sangue. O populismo a galope...

C.V. s (2)

Ora vejam aqui a apresentação de um blog com uma notável qualidade literária e humana para o qual faço um link.

Você não perguntou, mas...

"Colombina por opção, comunicadora por vocação, comunicativa de berço. 24 anos muito bem vividos, solteira, louca por vodca e sushi. Cinema. Chuva e pipoca. Sol e cerveja. Anéis e brincos de prata. Um piercing. Sete tatuagens. Não me basto, preciso do mundo. Olhos nos olhos. Beijos lentos. Sensível. Sem frescura. Ruiva de alma. Orquídeas. Preto e vermelho. Chico Buarque, Los Hermanos, Jorge Ben, Fernanda Young e Clarice Lispector na veia. Sempre."CV

domingo, maio 16

Equilíbrios

Vamos fazer um mini balanço, a meus olhos e sentimentos, da época futebolística que acaba de terminar, salvo o Euro que aí vem. O Farense desceu para a III Divisão, lembro-me muito bem de outras épocas em que tal aconteceu. Fiquei triste, mas outros tempos virão. O Olhanense, eterno rival do Farense, subiu para a II Liga de Honra. Um caminhou para baixo o outro caminhou em sentido contrário.

O Benfica acaba de ganhar a Taça, após 8 anos sem ganhar qualquer título, dividindo os títulos nacionais mais importantes com o FCP. Era desnecessário Mourinho ter feito declarações injustas e deselegantes na hora de derrota. O seu mau perder vai dar-lhe muitos desgostos em Inglaterra. Além do mais o FCP pode ganhar, espero que ganhe, o mais importante troféu das competições de clubes na Europa - a Taça dos Campeões.

Em tudo há um equilíbrio. Uns ganham e outros perdem. Uns descem e outros sobem. No desporto como na vida não se pode ganhar sempre, nem sempre se perde.

Vistas de Rua (2)

A minha rua é a Prof. Simões Raposo, fundador do IPO (Instituto Português de Oncologia), em Telheiras. Poucos sabem quem é? O esquecimento é mais habitual do que devia.

Na minha rua faltava construir um lote. Estaleiro à porta. Para durar. A coisa é grande. Uns poucos anos atrás ainda passeávamos nesta antiga quinta a ver as vacas pastar. Agora os camiões alinham-se em fila e retiram os entulhos do fundo do buraco que se afunda. O verde do prado sumiu. É o progresso.

A minha rua vai deixar de ter paisagem. Só vultos revolvendo-se no interior dos apartamentos - à frente, ao lado, por todos os lados. A minha rua está cheia de carros, ora parados, ora em movimento.

É preciso ter cuidado para não ser atropelado. É assim a minha rua dez anos passados. A minha rua é um estaleiro. E a obra só agora começou. Não me queixo. Observo.

Fragmentos de Leituras

"Para que serve a utopia
..., mas já depois veio a lume, ainda que imprecisa e cheia de dificuldades, uma filosofia pluralista: hostil à massificação, voltada para a diferença, em suma fourierista; a utopia (sempre mantida) consiste então em imaginar uma sociedade infinitamente parcelada, cuja divisão já não seria social e que, portanto, deixaria de ser conflitual."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 10
(Fragmento 3 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

sexta-feira, maio 14

C.V. s (1)

Este é o texto de apresentação de um blog brasileiro. É o primeiro de uma série. Quem quiser que os procure. Não respondo pela sua idoneidade ideológica, nem me interessa.

GAROTA CAFEÍNA é uma moça de fino trato; made in the 80´s; blogueira incompetente; amiga dedicada; solteira-enrolada; ariana atípica; ruiva tingida; pseudo-intelectual; tímida-sociável; corintiana medíocre; roqueira enrustida; chocólatra convicta; ouvinte paciente; baladeira esporádica; internacionalista por formação; estudante indisciplinada; workholic assumida; são-bernardense orgulhosa; nada metódica; bastante impulsiva; tolerante ao extremo; pouco tradicionalista; quase racionalista; sempre perfumada; viciada em cafeína; louca por jogos de tabuleiro; frustrada por não ter um piercing na língua; nunca plantou uma árvore(só pezinhos de feijão); não é muito de contestar; não tem a menor pretensão de mudar o mundo, só seguir seu próprio caminho.
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TAP/95 - UMA PEÇA NOTÁVEL

Se fosse preciso reinventar a corrente artística que ficou conhecida como "teatro do absurdo" esta notícia podia servir como fonte de inspiração. Conclusão da notícia: na TAP, em 1995, houve corrupção, corruptores e corrompidos. Mas, está bem de ver, não houve corrupção, corruptores e corrompidos!

Mas faltam detalhes à notícia. Situá-la no tempo político! Caracterizar as personagens e as suas relações! Esta peça está muito mal contada. Surge no dia em que Santana Lopes é apresentado como desistente do "sonho presidencial". Terá esta peça algo a ver com as próximas eleições presidenciais?

quinta-feira, maio 13

Previsões pessimistas

A OCDE prevê que Portugal apresente, em 2004, a mais baixa taxa de crescimento dos países da OCDE. O déficit público poderá atingir os 3,8%, cerca de 1% acima da previsão do governo português.

A previsão de crescimento económico, para Portugal, em 2004, é revista de 1,5% para 0,8%, abaixo dos países que apresentam as mais baixas taxas de crescimento (Países Baixos e Itália, com 0,9%). A taxa de desemprego crescerá de 6,4, em 2003, para 6,6 este ano. A inflação descerá de 3,3% para 2%.

A OCDE recomenda o lançamento de "outras reformas", em particular, do regime de aposentações e recomenda uma política de moderação salarial. Salvo a evolução da inflação, como factor positivo, não são nada encorajadoras estas previsões da OCDE. A retoma é condicionada fortemente pela evolução da economia europeia. A retoma em Portugal depende da procura externa (exportações) já que a procura interna ficou fortemente abalada pelo enfraquecimento da confiança dos agentes económicos e, em geral, dos consumidores portugueses.

A este quadro devem acrescentar-se os sinais, dos últimos dias, da evolução do preço do petróleo (em alta) e de instabilidade política resultante do conflito no Iraque e, em geral, no Médio Oriente.

Hoje é 13 de Maio, dia do milagre de Fátima. Oremos para que não venham dias ainda piores.