"Legível, escrevível e para além disso
Em S/Z propõe-se uma oposição: legível/escrevível. É legível o texto que eu não poderia voltar a escrever (poderei eu hoje escrever como Balzac?); é escrevível o texto que leio com dificuldade (a menos que altere totalmente o meu regime de leitura). Imagino agora (como me sugerem certos textos que me são enviados) que talvez haja uma terceira entidade textual: ao lado do legível e do escrevível haveria algo como o recebível. O recebível seria o ilegível que se agarrra, o texto ardente, produzido permanentemente fora de qualquer verosimilhança e cuja função - visívelmente assumida pelo seu escritor - seria a de contestar o constrangimento mercantil do escrito; este texto, guiado, armado por um pensamento do impublicável, faria apelo à seguinte resposta: não posso ler nem escrever aquilo que você produz, mas recebo-o, como um fogo, uma droga, uma desorganização enigmática."Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 20
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Edição portuguesa - Edições 70