terça-feira, julho 27

"Presidência Aberta" - 8

Na quinta-feira, dia 15 de Julho, véspera da partida, já Santana Lopes tinha mostrado a sua raça. O próprios defensores da decisão do PR devem ter ficado preocupados. A direita democrática mostrava, desde o início, reticências à "investidura" de Santana Lopes, como 1º Ministro, e as suas primeiras declarações confirmavam os piores receios.

Haja saúde! Mudemos de assunto. Enfim, surgiu a oferta de um jantar de mariscos em casa de um familiar. Os meus sobrinhos esmeraram-se. Tudo do bom e do melhor. Os mariscos, como tudo a vida, podem ser vulgares ou, em casos excepcionais, absolutamente divinais. Foi o caso.

As notícias amargas da política, entretanto, não perturbaram a leitura da semana de férias: "Os Cabelos de Beethoven", de Russell Martin. É uma história, muito bem contada, acerca dos destinos de uma madeixa dos cabelos de Beethoven cortados por um jovem músico quando, em 1827, Beethoven jazia no seu leito de morte.

Desta leitura retive uma pequena história a propósito do título da sua 3ª Sinfonia. Esta devia chamar-se Bonaparte "em honra do heróico esforço de Napoleão para moldar uma Europa livre e completamente nova".

Mas desde a data em que a 3ª Sinfonia foi esboçada e composta, em apenas 4 meses, no ano de 1803, a situação mudou aos olhos do compositor. De facto quando, em 1804, Beethoven soube que o general se tinha proclamado Imperador de França teve um acesso de raiva e rasgou o titulo Bonaparte, reintitulando a 3ª Sinfonia de Eroica.

Beethoven não tolerou que Napoleão, a seus olhos, se tenha transformado num tirano sendo-lhe atribuídas as seguintes palavras: "então também ele não passa de um homem vulgar....agora vai espezinhar todos os direitos humanos para satisfazer a sua própria ambição. Colocar-se-á acima de todos os outros e tornar-se-á um tirano."

Os grandes criadores têm a aguçada sensibilidade que, por norma, falta aos homens e aos políticos vulgares.