domingo, julho 25

"Presidência Aberta" -7

O ambiente político ameaçava não desanuviar. As visitas, os passeios, os almoços e jantares, as conversas e olhares continuavam carregados.

Na quarta feira, 14 de Julho, o programa tinha que prosseguir. Uma visita à "barrinha". Estamos situados no extremo sul de Portugal. A natureza é muito diversificada nas envolventes de Faro. A norte da cidade são as "hortas" e a sul a "ria". A "Ilha de Faro" é uma duna que separa o Atlântico de uma vasta área, de águas calmas, que é parte da "Ria Formosa".

Uma reserva ecológica que é alvo dos mais desmedidos apetites especulativos. A "barrinha" é o canal que, no extremo este da "ilha de Faro", liga a ria ao mar. O caminho, para lá chegar, é feito por uma moderna passadeira de madeira. São 20/30 minutos a pé. Caminhando junto à costa o tempo e as dificuldades aumentam.

Há muito que não fazia este pecurso. Uns anos atrás a extensão de areia e a vegetação eram incomensurávelmente maiores. A cidade branca, vista de longe, tinha um perfil mourisco. Agora cresceu em altura e o branco desbotou. Os cheiros intensos da vegetação rasteira, que cobria as dunas, perdeu-se.

As construções, fora do núcleo central da ilha, medraram ocupando espaços proibidos. Para meu espanto vejo obras de saneamento - novas canalizações de água potável e iluminação pública - ao longo da passadeira. Aquelas casas (muitas) nunca mais sairão dali.

O Presidente da Câmara descobriu o valor daquela mão cheia de votos para a sua reeleição. A natureza, e a sua beleza deslumbrante, não vale um voto. Os votos premeiam a decisão de manter um amontoado de habitações, anexos, quintais, galinheiros... típicos dos subúrbios.

O mar límpido, no fim do caminho, compensa o caminhante. E a pesca também. A preservação da natureza é um slogan. Faltam aos políticos a coragem e a radicalidade necessárias para dar substância ao chamado desenvolvimento sustentável.

Presidências Abertas, para quê?

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