terça-feira, agosto 31

Reencontros imediatos

Reencontrei, ao descarregar duas estantes de livros, algumas peças interessantes entre as quais o poema que Xanana Gusmão escreveu, a meu pedido, para o projecto "A poesia está na Rua", integrado nas celebrações do 25º Aniversário do 25 de Abril. A iniciativa foi promovida pelo INATEL e pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. O poema intitula-se "25 (anos) de Abril!" e é datado de Salema, 6 de Abril de 1999. A pomessa da sua publicação será cumprida num dos próximos dias.

"O discurso previsível

Ontem à noite, depois de ter escrito isto: no restaurante, na mesa vizinha, dois indivíduos conversam, em voz não elevada mas bem marcada, bem treinada, bem timbrada, como se se tivessem preparado numa escola de dicção para se fazerem ouvir pelos vizinhos nos locais públicos: tudo quanto dizem, frase por frase(sobre alguns nomes de amigos, sobre o último filme de Pasolini), tudo está perfeitamente conforme o previsto: nem uma só falha no sistema endoxal. Concordância desta voz, que não escolhe pessoa, com a Doxa inexorável : é a jactância!"

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 34
(pag. 14, 1 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70


segunda-feira, agosto 30

"O barco do aborto"

A questão que o barco em questão coloca é conhecida e polémica. Não a vou abordar agora. O que é mais interessante, neste caso, é a reacção do dr. Portas. Ainda bem que, de quando em vez, surgem uns "barcos" destes. Caso contrário o Dr. Portas não teria oportunidade de mostrar a sua raça. Nem o governo de mostrar as suas divisões internas. Algumas perguntas que todos se põem: quanto custa ao orçamento de estado a vigilância pela marinha de guerra ao "barco do aborto"? Qual o enquadramento legal da abordagem e "revista" aos barcos que naveguem, aparentemente, para se aproximarem do referido "barco do aborto"? A liberdade no mar é diferente da liberdade em terra? O tiranete brinca aos governos com a República e com o mais alto magistrado da nação?

sábado, agosto 28

Uma visita a Allende

Um dia, de visita a Santiago do Chile, cumpri um dos meus sonhos. Visitei a campa de Salvador Allende, prestando-lhe uma homenagem, pessoal e íntima, que sempre desejei desde a sua morte trágica em 11 de Setembro de 1973.

Era manhã cedo e acompanhado pelo meu companheiro de viagem e pelo motorista chileno, que fez questão de nos fazer companhia, lá fomos ao cemitério central da capital chilena. Antes de entrar compramos um ramo de cravos vermelhos. Fazia um frio de rachar.

O cemitério é monumental e a caminhada até ao nosso destino foi longa e solitária. Naquela hora o cemitério estava quase deserto de visitantes.

À entrada do cemitério entreguei o ramo de cravos nas mãos do motorista chileno para atenuar a sua comoção. Ele nunca tinha visitado a campa de Allende mas percebemos que chorava. Depositamos os cravos e recolhemo-nos uns breves instantes. Senti intensamente o frio mas o meu coração ficou reconfortado como se tivesse cumprido um dever de honra.

Uma notícia e uma reportagem recentes fizeram-me lembrar a visita à campa de Allende. Chamaram-me a atenção para o Chile e a sua história recente. A notícia diz-nos que "O Supremo Tribunal do Chile anunciou ter decidido hoje levantar a imunidade do general Augusto Pinochet, no âmbito da investigação sobre o Plano Condor." (Expresso on line).

A Reportagem, de Marion Van Renterghem, publicada no Público, é dedicada a uma heroína anónima, Carmen Yañez, vítima da repressão sanguinária de Pinochet. É bom não esquecer




"O texto político

O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obtinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico."

Escrevi nesta pagina: "visitam-se lugares e acontecimentos mas, de facto, visitamo-nos a nós próprios apertando os contactos entre os "viajantes". Quando assim não sucede a viagem reduz-se à excursão."


Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 33
(pag. 13, 4 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

sexta-feira, agosto 27

Congresso do PS

No PS a situação é desconcertante. Os apoiantes de Sócrates não acreditam na fidelidade do seu candidato a uma linha de rumo coerente com os princípios fundadores do socialismo democrático - é a questão, de fundo, que se esconde por detrás da frase "socialismo moderno".

Os apoiantes de Sócrates preferiam, do coração, Jorge Coelho.

Os apoiantes de Alegre acreditam na fidelidade de Alegre aqueles princípios mas não acreditam na sua vitória - é a questão, de fundo, que se esconde por detrás da diabolização do "aparelho".

Os apoiantes de Alegre preferiam, do coração, Ferro.

O único que prossegue a "luta da sua vida" é Ferro. Processa Salvado e surge, regularmente a pontuar a campanha interna do PS, com iniciativas coerentes com as suas convicções.

Demasiado defensivo? A ver vamos...

quinta-feira, agosto 26

Sonetos VII

Oh! Como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
Perde-se-me um remédio que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo, a ver se inda parece
Da vista se me perde e da esperança.

Luís de Camões

Sonetos - Edição de Lobo Soropita, de 1595
Lírica - Círculo de Leitores

"Efeito benéfico de uma frase

X. contou-me certo dia que decidiu "exonerar da sua vida os amores infelizes" e que esta frase lhe pareceu tão bem feita que isso quase bastou para compensar os fracassos que a tinham motivado; então comprometeu-se (e comprometeu-me) a aproveitar melhor essa reserva de ironia que está na linguagem (estética)."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 32
(pag. 13, 3 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

"Um país paralisado"

Um dos artigos de fundo da última edição do Expresso titulava: "Um país paralisado". Não é, na essência, uma questão de férias. É uma questão de conceito de acção.

O primeiro ministro está a cumprir o terceiro período de férias num mês. Como se estivesse cansado de um exercício que ainda não começou. É uma evidência ostentada que o governo tarda em instalar-se. No plano físico e orgânico.

A substância da sua acção é a propaganda. Contratam-se assessores para produzirem notícias vistosas. O reformismo vai desvanecer-se e, finalmente, transformar-se numa nota de rodapé na encenação dos "benefícios para todos".

As aparições do chefe vão ser encenada para dar seriedade à comédia. No final do ano todas os indicadores de desempenho do país vão ficar abaixo das previsões.

O país paralisado ficará mais pobre. Mas a "corte" ficará mais rica.

quarta-feira, agosto 25

2ª Guerra Mundial

É bom avivar a memória. Hoje celebra-se o sexagésimo aniversário da libertação de Paris. O Público evoca a data.

Eis a cronologia dos acontecimentos, dia a dia, do mês de Setembro de 1944.

1. Em França, o exército britânico entra em Arras, os canadianos ocupam Dieppe e Rouen, e os americanos tomam Verdun.
- Em Itália, o 8.º exército britânico atravessa a Linha "Gótica" ao atravessar a posição de Montegridolfo.
3. O 2.º exército britânico liberta Bruxelas, ao mesmo tempo que as forças francesas desembarcadas no Sul de França libertam Lyon.
4. Antuérpia é libertada.
5. O marechal de campo Rundstedt é nomeado comandante-chefe no Oeste.
6. A instrução de guerra da "Home Guard" britânica é suspensa.
- Forças canadianas atacam Calais.
8. O exército russo invade a Bulgária não encontrando oposição. A Bulgária declara a guerra à Alemanha.
- O 5.º exército americano começa uma ofensiva em larga escala contra a linha de defesa alemã no Norte de Itália, a Linha "Gótica".
9. Primeiro ataque com bombas V-2 a Londres. O foguete cai em Chiswick.
10. Os russos ocupam Praga, capital da antiga Checoslováquia.
11. A segunda Conferência do Quebeque tem início.
- Uma patrulha do 1.º exército do Estados Unidos atravessa a fronteira alemã perto de Stalzenburg.
12. A guarnição alemã do porto do Havre, na foz do rio Sena, rende-se.
14. O Exército Vermelha chega aos arredores de Varsóvia.
15. O 1.º exército atravessa a linha "Siegfried".
- Forças de "Marines" americanos ocupam Peleliu em Palaus, no Pacífico.
- A RAF (força aérea britânica) ataca o couraçado alemão Tirpitz, ancorado na Noruega.
16. A Conferência do Quebeque termina.
17. O 1.º exército aerotransportado aliado é largado na Holanda, entre Eindhoven e Arnhem.


- Os canadianos começam o ataque a Boulogne, que durará 6 dias.
18. Os alemães contra-atacam em Arnhem.
- Brest capitula.
19. Forças americanas e britânicas encontram-se em Nijmegen, na Holanda.
20. A Finlândia e a União Soviética assinam um tratado de paz provisório.
- As tropas aliadas tomam as pontes de Nijmegen.
21. A brigada pára-quedista polaca é largada na área de Arnhem.
23. O canal Dortmun-Ems é rompido por um ataque nocturno da RAF.
25. Começa a evacuação de pára-quedistas sobreviventes de Arnhen.
- Hitler ordena a organização do "Volksturm", tentativa de criação de uma milícia popular na Alemanha.
26. O 8.º exército britânico atravessa o Rubicão, mas de Sul para Norte.
30. A guarnição alemã de Calais rende-se.


Fonte principal:
Peter Young (editor)
World War II,
Londres, Orbis, 1974 (ed.original, 1966)
António Augusto Simões Rodrigues,
História comparada. Portugal, Europa e o Mundo: Uma visão cronológica,
Lisboa, Temas & Debates, 1997

"A pessoa dividida ?

Como é que você explica, como é que tolera essas contradições? Filosoficamente, parece ser materialista (se é que esta palavra não soa muito a velho); eticamente, você divide-se: quanto ao corpo, é edonista; quanto à violência, talvez seja antes budista ! Não gosta da fé mas sente uma certa nostalgia dos ritos, etc. Você é uma miscelânea de reacções: haverá em si alguma coisa primeira ?

Qualquer classificação que você leia dá-lhe logo vontade de se encaixar nela: onde é o seu lugar? Julga primeiro que o encontrou: mas pouco a pouco, como uma estátua que se desagrega, ou um relevo que se desgasta, se estira e perde a forma, ou melhor ainda, como Harpo Marx ao perder a barba postiça por acção da água que está beber, deixa de ser classificável, não por excesso de personalidade mas, pelo contrário, porque percorre todas as faixas do espectro: reúne em si traços pretensamente distintivos, que portanto já nada distinguem; descobre que é ao mesmo tempo (ou alternadamente) obsessivo, histérico, paranóico e além disso perverso (sem falar das psicoses amorosas), ou que adiciona todas as filosofias decadentes: o epicurismo, o eudemonismo, o asianismo, o maniqueísmo, o pirronismo.

"Tudo se fez em nós porque nós somos nós, sempre nós e nem por um minuto os mesmos" (Diderot, Refutação de Hevetius.)"

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 31
(pag. 13, 2 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

Caos

A administração pública está ao mais baixo nível de que há memória. Não há palavras para descrever a situação. Os relatos, os comentários, os casos conhecidos são arrepiantes. O caos. As férias revelam melhor os horrores. O governo vai continuar a poupar. O problema, no entanto, não está na poupança. Está na incapacidade para organizar os recursos, em particular, os humanos. Os "humanos", aí está o problema. Um pouco mais de atenção, por favor... mas a verdade é que não são capazes.

terça-feira, agosto 24

Sonetos - VI

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís de Camões

Sonetos - Edição de Lobo Soropita, de 1595
Lírica - Círculo de Leitores

"A cor

A opinião corrente quer sempre que a sexualidade seja agressiva. Por isso não se encontra em nenhum escrito a ideia de uma sexualidade feliz, doce, sensual, jubilatória. Então, onde lê-a? Na pintura, ou melhor ainda: na cor. Se eu fosse pintor só pintaria cores: este campo parece-me igualmente liberto da Lei (nenhuma Imitação, nenhuma Analogia) e da Natureza (pois não provirão todas as cores, em suma, da Natureza dos pintores?)."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 30
(pag. 13, 1 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

Vencimentos..

Esta é uma conversa muito velha. As remunerações na Administração Pública (directa e indirecta) são uma trapalhada.

O chefe de gabinete de Rui Rio é um, entre muitos, que aufere um vencimento escandaloso...no quadro actual. Tudo indica que, a começar no Director Geral de Impostos, existem inúmeras situações de verdadeiro escândalo.

Faça-se uma auditoria geral. Tem a palavra o Senhor Ministro das Finanças.

Mas que alguém tenha a coragem de rever, de alto a baixo, as remunerações dos dirigentes da Administração Pública, a começar no PR. Uma verdadeira reforma de fundo...

"O Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara Municipal do Porto, Manuel Teixeira, tem um vencimento que é mais do dobro do que está legalmente previsto para o cargo, sendo até superior ao do Presidente da República e praticamente o dobro do ordenado base do próprio presidente da autarquia, o social-democrata Rui Rio."

"Deslocalizações"

Li um dia destes que a "deslocalizada" Secretaria de Estado da Cultura (agora com a designação de S.E. dos Bens Culturais) vai ser instalada num edificio, em Évora, que é a sede da Delegação Distrital do INATEL.

Com excepção das despesas, inerentes à celebrada "deslocalização", nada de especial. O edifício é central, nobre, embora austero, espaçoso e em bom estado de uso. O que me chamou a atenção foram os termos utilizados pelo Sr. Secretário de Estado para se referir ao facto. Afirmou algo como: "um Palácio onde também funciona o INATEL". Ou se trata de ignorância ou de má fé.

O edificio em questão é propriedade do INATEL e foi adquirido, anos atrás, para nele instalar a delegação distrital daquele Instituto. Espero que o Ministério da Cultura, por contágio, comece a dar mais importância à designada cultura popular, à qual nunca deu importância nenhuma. E que a cedência das instalações em referência não represente um prejuízo patrimonial para o INATEL.

Será, aliás, interessante para os associados do INATEL e para os Sindicatos conhecerem os termos do contrato que, obrigatóriamente, deve ser celebrado e da forma como foram salvaguardados os interesses do INATEL.

A propósito aqui deixo o intessante artigo"Olha Quem Fala!", de Augusto M. Seabra, , publicado no Público.

Parafraseando a abertura de "Dune" de David Lynch, "the return can be a very delicate time". Muita água passou por este rio, tanto mais que os tempos são subsequentes a um vendaval inimaginado. Só que cá estamos afinal. E lendo o PÚBLICO de sexta-feira, dou-me conta que estou em falta, o que não é curial. Imagine-se então quem me haveria me fazer retornar ao estado das coisas? José Amaral Lopes, eminente servidor do Estado, do estado-patrão, do estado-partido, agora Secretário do Estado dos Bens Culturais, com guia de marcha para Évora, mas entretanto, suponho (já que não há notícias da mudança), ainda apalaçado na Ajuda, o que calha melhor a quem é, ao que leio, presidente da secção do PSD de Algés, ali mesmo ao lado.

segunda-feira, agosto 23

Sem título

"...o verdadeiro jogo não consiste em mascarar o assunto mas sim em mascarar o próprio jogo."

Nesta página escrevi uma, aparentemente, estranha frase: "também não deixar cair as viagens no vazio do sentido excursionista."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 29
(pag. 12, 3 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

"Falar/beijar

Segundo uma hipótese de Leroi-Gourhan, terá sido depois de libertar os seus membros anteriores da marcha (e portanto a boca da predação) que o homem terá podido falar. Eu acrescento: e beijar. Pois o aparelho fonador é também o aparelho oscular. Ao passar á posição de pé, o homem ficou livre para inventar a linguagem e o amor: talvez tenha sido o nascimento antropológico duma dupla perversão concomitante: a palavra e o beijo. De acordo com isso, quanto mais os homens se sentiram livres (pela boca) tanto mais falaram e beijaram; e, logicamente, quando, através do progresso, os homens ficarem libertos de todas as tarefas manuais, não farão outra coisa senão discorrer e beijar-se.
Imaginemos para esta dupla função, localizada no mesmo sítio, uma transgressão única, que nasceria duma utilização simultânea da palavra e do beijo: falar beijando, beijar falando. Teremos de acreditar que esta volúpia existe uma vez que os amantes não param de "beber as palavras nos lábios amados". Aquilo que assim experimentam é, na luta amorosa, o jogo do sentido que irrompe e se interrompe: a função que se perturba, numa palavra: o corpo balbuciante."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 28
(pag. 12, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Francis Obikwelu

Na corrida mais mediática e celebrada do atletismo e dos JO, Obikwelu deu uma medalha de prata a Portugal. Além do mais, nos 100 metros, alcançou um dos melhores desempenhos mundiais de sempre. Negro e imigrante. À atenção dos nossos aspirantes a tiranos, xenófebos e racistas, que, mansamente, incentivam o povo a desprezar o trabalho e o talento dos brasileiros, africanos, ucranianos e de outros imigrantes que por cá trabalham mas não nasceram neste pobre Portugal. Espero para ver as homenagens que lhe vão prestar.

domingo, agosto 22

A pesada herança de Manuela

Eu bem dizia que, em matéria de deficit, haveria "cenas de próximos capitulos". A política de Bagão Felix, seja qual fora área da sua actuação, é sempre a mesma: culpar os antecessores, sejam adversários (caso de Manuela F. Leite) ou inimigos (caso do PS), dramatizar a herança, abrindo caminho para as clientelas e, no plano social, transformar uma esmola irrelevante num grandioso benefício.

É a política que Pacheco Pereira caracterizou,certeiramente, desta forma :

"Existe em certos sectores da direita e da esquerda intelectual portuguesa a ilusão que um governo Santana Lopes será um governo que prosseguirá políticas liberais, ou, como pejorativamente agora se diz, “neo-liberais”. Enganam-se completamente. Se há coisa que em Portugal sofrerá com o populismo é o discurso genuinamente liberal. O populismo é nacionalista, defensor da closed shop, “social” e clientelar. O populismo será alicerçado em duas coisas muito próximas na vida política portuguesa: um discurso social, que pode mesmo chegar a ser socializante, e na gestão de clientelas. É uma fórmula muito eficaz em Portugal, potenciada agora pela forma como actuam os media. (..)" (post de 8/7/2004, no abrupto)

O Expresso anuncia já esse caminho que vai ser "martelado", pela propaganda do governo, até às eleições de Outubro de 2006.

"BAGÃO Félix vai fazer uma comunicação ao país depois das férias para evidenciar o mau estado das contas públicas. Numa estratégia concertada com o 1º-ministro - e sem querer criticar o Governo anterior - Bagão prepara-se para dramatizar perante os portugueses o desequilíbrio orçamental. Enquanto isto, Santana Lopes tentará na frente externa sensibilizar a nova Comissão Europeia para a necessidade de tornar mais flexíveis os critérios de avaliação das contas." Expresso on line