domingo, setembro 12

Discursos

Deixei passar o dia 9 de Setembro. Os dias 9 são pouco inspiradores. Neles ocorreram muitos acontecimentos pouco inspiradores do meu optimismo. Mas o PR não esqueceu. Nunca mais vai esquecer. Neste fim de semana voltou a referir-se à sua decisão política anunciada a 9 de Julho. Fez uns discursos. Justificações. Mas para quê? Entregou o governo a Santana Lopes. A maioria não mudou. Porque razão havia de convocar eleições? Assim ficaria assegurada a estabilidade. Mas, afinal, o governo mudou! Sem eleições. Tudo dentro da mais estrita legalidade. Cumprindo todas as formalidades. O problema é que era tudo uma questão política. O PR tinha que optar. Optou pela estabilidade. Por outras palavras para o PR a estabilidade=direita. A esquerda é, para o PR, um emblema para trazer à lapela. Estranhei. Mas pensando bem...Já me tinha parecido.

"Psicanálise e psicologia"

(Complacência com aquilo que tem pressão(?) sobre nós; assim, tinha eu no Liceu Louis-leGrand um professor de história que, precisando de vaias como de uma droga quotidiana, oferecia obtinadamente aos alunos uma infinidadede de oportunidades de fazerem burburinho: erros, ingenuidades, palavras de sentido duplo, posturas ambíguas, e até a tristeza com que revestia todas estas atitudes secretamente provocadoras; o que fazia que os alunos, tendo-o compreendido, se abstivessem, em certos dias, sadicamente, de o vaiar)."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 35
(pag. 14, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70


Propaganda

Na próxima 2ª feira vai começar o massacre. O plano elaborado pela "central de comunicação" começa com o humaníssimo Ministro Bagão Félix: "Comunicação ao País", seguida de "Entrevista", na RTP, na 5ª feira. Na mesma semana outras humaníssimas comunicações serão feitas por outros humaníssimos ministros.

Ontem (sábado) o Primeiro-ministro surgiu em Castelo de Vide a falar, em peças sucessivas, em todos os canais de TV, na qualidade de Primeiro-ministro misturada com a de líder do PSD. Já não há o cuidado, ao menos, de mudar de sítio, de camisa, de postura. É tão natural que até faz impressão. Os assuntos já não me lembro, mas também não tem importância nenhuma. É tudo para esquecer. Haja decência!

sexta-feira, setembro 10

Atropelar em Portugal

Não sei se há estatísticas internacionais. Portugal deve ser campeão do mundo em atropelamentos. De toda a natureza. Desde a aplicação da lei, e das regras básicas da convivência cívica, até às estradas. Ontem ouvi e vi o caso do atropelamento mortal de dois jovens que seguiam para a Praia de Faro de bicicleta. Hoje um campeão nacional de marcha é atropelado durante o treino. Todos esperamos uma conferência de imprensa do Ministro Portas ou do primeiro-ministro: Atropelar em Portugal. Mandem as tropas para a rua…

"Em estado grave
Campeão nacional júnior de marcha atlética e irmão atropelados
O campeão nacional júnior de marcha atlética, Gonçalo Bejinha, e um irmão foram atropelados enquanto treinavam, nos arredores de Moura, Beja. Ambos ficaram feridos com gravidade." (SIC)




25 (anos) de Abril!

A consciência que se ergueu
na fragilidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi à areca e ao bétel
para ler a história
no sono profundo
da sua alma…

E o pensamento que se exultou
na rusticidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi à carne e ao vinho
para ler a vida
no sono profundo
da sua alma…

O espírito que se iluminou
na inviolabilidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi ao knua e ao mato
para ler o sangue
no sono profundo
da sua alma…

E a linguagem que se agitou
na autenticidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi à pedra e ao solo
para ler a herança
no sono profundo
da sua alma…

E a Alma Maubere acordou…

correu planícies
voou montanhas
bebeu nascentes
respirou o ar

E a linguagem
ficou espírito
o pensamento
sua consciência!

Salemba, 6 de Abril de 1999

Xanana Gusmão

Cumprida a promessa. Poema escrito, a minha solicitação pessoal, enquanto Presidente do INATEL, por Xanana Gusmão para o projecto "A Poesia Está na Rua", nas celebrações do 25º Aniversário do 25 de Abril. Esta iniciativa decorreu de uma ideia de Manuela Espírito Santo e foi concretizada em parceria com a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.

quinta-feira, setembro 9

"Alocução aos Socialistas" (2)

Limpar o pó dos livros tem esta faceta extraordinária de nos fazer redescobrir livros, opúsculos, panfletos, e outros documentos, que estiveram dezenas de anos fora do nosso olhar.

A minha mulher é que é responsável por esta empreitada ao tomar a iniciativa de mandar pintar a casa toda. Foi assim que surgiu, entre outros, este opúsculo, muito bem conservado, contendo a "Alocução aos Socialistas", de António Sérgio. Editado pela "Editorial Inquérito" contém a seguinte anotação, a lápis, no cimo da primeira página: "60475=11/7/47=709 6$00".

Por coincidência está a decorrer a campanha para o Congresso do PS. Tenho ouvido, com atenção, Manuel Alegre. Sem menosprezo pelos outros candidatos ouço com prazer Manuel Alegre. Ele próprio explicou o porquê da importância da palavra.

Estou convicto que a diferença entre os candidatos não está tanto nos programas, mas nos protagonistas. Sem menosprezo pelos programas. Mas, convenhamos, que, na política, é muito mais fácil elaborar e apresentar um "bom programa" do que fazer emergir e afirmar, face à nação, um bom candidato, ou seja, um verdadeiro protagonista.

Manuel Alegre é um protagonista autêntico tanto quanto se pode ser autêntico na política. É um homem da palavra. Com espessura humana e intelectual. Veja aqui uma biografia sua.

E o blog da sua candidatura

Ainda a propósito da sua entrevista de ontem, à SIC- Notícias, aqui deixo uma nova transcrição da "Alocução aos Socialistas", proferida por António Sérgio, no 1º de Maio de 1947.

Nela surge a abrir, curiosamente, a frase que, em 1974, encimava a declaração de princípios do extinto MES (Movimento de Esquerda Socialista) cuja adopção deve ter resultado, certamente, da iniciativa de César de Oliveira.

""A emancipação dos trabalhadores" (escreveu ainda Antero naquele mesmo artigo - O Socialismo e a Moral) "deve ser obra do próprio esforço dos trabalhadores; por conseguinte, antes de tudo, e como primeira condição, da sua energia moral, da sua perseverança, da sua firme dignidade; numa palavra: não somente da agitação colectiva (muitas vezes superficial e inconsistente) mas da sólida virtude dos indivíduos".

Tal pensava o poeta: da sólida virtude dos indivíduos. E se assim sucedia naquele tempo dele, meus amigos; se era assim há sessenta anos, - com maioria de razão o devemos pensar neste nosso, quando a ideia socialista já tanto avançou no seu rumo, já tanto se impôs como ideia. Sim, já tanto se impôs como ideia: e, por isso, o importante, na nova fase em que estamos, é que se imponham os indivíduos em que tal ideia encarna, - pela sua firme dignidade, pela sua energia moral."

Petrogal - Guerras Intestinas

"Relatório do Ministério do Ambiente acusa empresa de incúria."

"Acidente na Petrogal: Governo passou "atestado de incompetência" ao ministro António Mexia
A comissão de trabalhadores da Petrogal classificou hoje o relatório da comissão que responsabiliza a Galp Energia pelo acidente no terminal de Leixões como "um atestado de incompetência" ao ex-presidente da empresa e actual ministro das Obras Públicas, António Mexia." (Público)

Esta parece ser mais uma batalha na guerra entre o PSD e o PP. É um jogo de parada e resposta. Aguardemos pelo próximo lanço. Cabe a vez ao Ministro Mexia.

"Alocução aos Socialistas"

Para o Manuel Alegre que acabei de ouvir na "SIC - Notícias"

"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, - sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."

"Aos nossos socialistas, quanto a mim, compete-lhes resistirem ao tradicional costume de se empregarem espertezas e competições de pessoas para apressar o momento em que há-de chegar ao poder…"

"Antes de tudo, buscai prestigiar-vos ante a nação inteira pelo timbre moral da vossa alma cívica; porque (como acreditais, creio eu) não é indispensável conquistar o poder para se influir de facto na orientação do estado."

"Não tenhais a ânsia de vos alcandorar no poleiro com prejuízo das qualidades a que se tem chamado "ingénuas". As habilidades dissipam-se; os caracteres mantêm-se."

"Não existam ciúmes e invejas recíprocas entre os vários componentes da vossa grei socialista: nem tampouco os ciúmes, nem tampouco as invejas, para com os homens que compõem as outras facções da esquerda. Seja vosso lema a unidade. Por mim, quero trabalhar pela unidade, pelo entendimento recíproco, pela existência de convivência amável entre os homens políticos de orientações discordes. Incorrigivelmente "ingénuo", fraterno, cordial."

António Sérgio, In "Alocução aos Socialistas", No Banquete do Primeiro de Maio de 1947".

Acerca de António Sérgio veja aqui e aqui.




O pó dos livros

Ao arrumar estantes surgem muitas surpresas. Livros que nos marcaram. Por diversas razões, em variadas épocas. De todos os géneros. O pó dos livros faz parte dos cheiros que nos marcam para sempre.

Alguns reencontros ao acaso:

"1968 - A Revolução Que tanto Amámos", Daniel Cohn-Bendit (D. Quixote -1988);

"Angústia Para o Jantar", Luís de Sttau Monteiro (Ática, 6ª Edição, 1970);
(No seu interior encontro uma prata, impecavelmente conservada, com um pai natal, em tons de vermelho vivo, daquelas que embrulham as sombrinhas de chocolate.);

"Memórias" - "Vale de Josafat", Volume III, Raul Brandão (Perspectivas e Realidades, sem data de edição);
(Ostenta uma nota que informa ter sido comprado na Feira do Livro de Lisboa, em 6 de Junho de 1984, 3 volumes - 500$00);

"Hiroxima - Antologia de Poemas", vários, (Nova Realidade, 1967);

"Cartas de Fuzilados"Edições "aov" - Colecção "Vitória", 2ª edição, sem data;
(O mais antigo destes livros, a carecer de restauro, certamente do período imediato à 2ª Guerra Mundial. Cartas de resistentes franceses antes de serem fuzilados. É um documento impressionante.);

"Comunidade" - Luiz Pacheco, Desenhos de Teresa Dias Coelho (Contexto-1980);
(6ª edição de "Comunidade" com os belos desenhos de T.D.C.);

"Dores" - Maria Velho da Costa e Teresa Dias Coelho; (D. Quixote, 1994).

quarta-feira, setembro 8

O pragmatismo fúnebre

Tenho observado as notícias, de forma fragmentada, como, aliás, todos tomamos conhecimento das notícias. Uns rumores, uma vista de olhos pelas manchetes (as do "24 Horas" são imprescindíveis), um comentário ouvido de soslaio, um assassinato de carácter (ou mesmo físico), uns desastres de viação, uns atrasos na colocação dos professores, uns aumentos dos preços dos combustíveis, umas discórdias (ou discussões) no PS, pois claro, o ambiente está laço, no estilo "deixa arder", que eu volto depois para comprar barato.

Leio muitas outras coisas e, algumas, sérias. Mas essas não são para aqui chamadas. Não vale a pena. O grupo dos que lêem essas coisas sérias se saírem à rua, e tomarem contacto com a vida real dos portugueses, terão a sensação daquele combatente japonês regressado à "civilização" após 40 anos "perdido" na selva coreana. Ou o sentimento que Van Gogh sentiu quando um patrão do colégio onde trabalhou, um dia, o enviou a fazer cobranças "difíceis" nos bairros miseráveis de Londres. Não foi capaz de cobrar um cêntimo e foi despedido.

O japonês pensará com os seus botões: "Que país demencial é este agora, gente miserável, jornais de trapaça, TVs de escândalo, degradação de linguagem, vestes sombrias, cidades destruídas, campos abandonados, poses pusilânimes, discursos grosseiros, senhoras e senhores ministros de cera …".

Salvo, claro está, digo eu, o Dr. Portas o único que ainda recorda qualquer coisa dos velhos tempos …no vestir austero, na pose severa, na firmeza do discurso…

Entretanto o senhor Primeiro-ministro, após as férias, viaja. Já deviam ter percebido o seu estilo arejado. Na visita oficial ao Brasil, a primeira, afirmou solenemente que ela (a visita) se tinha ficado a dever ao facto de se juntar "o útil ao agradável", ou melhor, "o agradável ao útil". Ele desejava muito a visita e surgiu o convite. Brilhante.

Mas as mais incríveis notícias não têm afinal importância nenhuma. São para entreter. O objectivo é banalizar o essencial para ganhar tempo. E como dizia o outro "tempo é dinheiro". Sempre se fazem uns negócios. Pela "surra". Nos interstícios do ruído promovido pelos assessores de imprensa. Ao mesmo tempo aparecerão umas medidas "sociais" para fazer ver ao povo crente que a estratégia do governo lhe dá importância.

Aliás o problema do governo, como sabem, não advem do conteúdo das medidas, mas da insuficiência da comunicação. Mas esse tempo já acabou. Os sociais-democratas deste governo vão comunicar com eficácia. Não estão verdadeiramente preocupados com as reformas de fundo do País e do Estado, nem com as reformas dos pobres e idosos, nem com o drama dos desempregados. O programa apresentado nas eleições legislativas de 2002 falava em "alhos" e este o governo fala em "bugalhos". Esta situação causa engulhos a muitos sociais-democratas. Mas os do governo estão pouco preocupados com isso.

Estão preocupados é com a comunicação que, noutros tempos, se apelidava de propaganda. E, antes de mais, com as grandes operações financeiras em torno do património do Estado, (a chamada "titularização"), das privatizações (as águas, por exemplo), da aquisição de armamentos para as FFAA … Entrou-se na era do pragmatismo fúnebre.

Lembram-se do celebrado verso de Gedeão: "Eles não sabem, nem sonham, /que o sonho comanda a vida." Mas para os mentores do pragmatismo fúnebre agora a música é outra: "Eles sabem que o negócio comanda a vida".Tudo o resto é para sobreviver, à míngua, ou para morrer. É urgente um sobressalto cívico contra esta estratégia fulminante de tomada do poder real pela direita não social-democrata. Mas é mesmo urgente!


terça-feira, setembro 7

Congratulações

O PP e o PSD, partidos da maioria governamental, congratularam-se por uma decisão de um tribunal. O PSD seguiu a reboque do PP. Esperemos para ver, no futuro, quais as suas tomadas de posição acerca de outras decisões dos tribunais. De qualquer maneira estas congratulações, ao contrário de um sinal de força, parecem um sinal de fraqueza.

segunda-feira, setembro 6

Ao arrumar as estantes

Ao arrumar as estantes os papéis sobejam. E saltitam os livros. Por todo o lado surgem surpresas. As decisões são difíceis. É pragmático lançar para o lixo todos os papéis que ostentem uma aparência inútil. E arrumar fora do alcance directo da mão os livros que se não esperam ler. Mesmo os nunca lidos.

Suspendem-se as decisões vezes sem conta. É uma tarefa de governo autêntica. Mesmo quando a biblioteca é pequena. Mas como definir a dimensão de uma biblioteca? Na casa dos meus avós (maternos), para além do "borda de água", havia um só livro. Tenho-o agora comigo. Era a Bíblia Sagrada. Uma edição antiga. Era uma grande biblioteca, a dos meus avós.

Hoje, ao arrumar as estantes, caiu de dentro da primeira edição de "O Canto e as Armas", de Manuel Alegre, (1967, Colecção Nova Realidade, Impresso na Tipografia do Carvalhido - Porto), um poema. Numa folha A5, muito bem dobrada e conservada, dactilografado à máquina, eis o poema, de qualidade discutível, mas cuja mensagem é o espelho de uma época de resistência à ditadura:

ENTENDER

Entender
mas sem falar,
é fundamental.
E em silêncio
há braços e mãos
que ajudam corpos
movem montanhas,
esperam p´los dias…

Sempre entendendo
sem falar,
tal e qual.

Assinado à mão: Carlos.


Por mais que puxe pela cabeça não sou capaz de identificar o autor. Por vezes a memória fixa os acontecimentos mas omite os protagonistas. A memória, salvo os Santos (e em Portugal não os há) e as multidões anónimas (e em Portugal só as há, por vezes, no futebol), é injusta para os homens que fazem a história.
.

Maria João Pires

Uma das maiores figuras da cultura portuguesa, a pianista Maria João Pires, está desiludida. Ao contrário de tantos outros optou por ficar em Portugal. Investiu as suas energias e prestígio num arrojado projecto cultural no interior.

No interior promovendo a verdadeira deslocalização, o combate, a sério, contra a desertificação humana, o equivalente a umas 20 Secretarias de Estado. Enfim o mais difícil. Ainda para mais os incêndios, deste verão, tocaram a Belgrais.

É que há territórios do interior que apoiam, através da sua própria existência física, ou dos rendimentos que geram, projectos culturais. É o caso de Belgrais, de Maria João Pires, como de um outro, que conheço melhor, o da "Fundação de Fronteira e Alorna", de Fernando Mascarenhas. O ano passado também ardeu uma grande área do montado de sobro, situado no Alentejo, que financia, em parte, as actividades desta Fundação.

Os projectos culturais destas entidades, sob o impulso de mulheres e homens verdadeiros defensores da cultura, sofrem também, em silêncio, com os incêndios.

No seu desabrimento Maria João Pires assume as dificuldades das iniciativas ousadas e, quantas vezes, a impotência dos seus mentores face à desconfiança, à inveja e à ignorância. Portugal deixa-se abandonar pelos seus melhores filhos ou exila-os na sua própria terra. Resta Espanha e o Atlântico, não é?

"Pianista Vai Dirigir Projecto Cultural em Salamanca"


Luis Nunes de Almeida

Acabo de ver a notícia da sua morte. Era Presidente do Tribunal Constitucional. Recordo-o como amigo, aberto, afável, cordial e íntegro. Conheci-o, de perto, nos tempos em que ambos militamos no MES (Movimento de Esquerda Socialista). Uma aventura a muitas vozes que, estou certo, nenhum de nós esqueceu. Sinto-me mais pobre.

domingo, setembro 5

LIBROS

Vuelvo a casa
una vez más
con siete libros.

Dirán que engullo el saber,
que todo es pose,
que nadie puede leer tanto, ni tan rápido;
que, como los otros, no disfruto
la lectura;
que esto es parte de mi furor numérico;
que para qué tanto, si no se me pone cara
de docto y circunspecto.

No sospechan, ni de lejos,
la verdad:
me gusta la chica de la librería.

DIEGO VALVERDE VILLENA
In Hartz

Informação e "conversas de café"

O artigo com o título em epígrafe, publicado, 6ª feira passada, no "Semanário Económico", está disponível na abébia vadia.

sábado, setembro 4

Notícias do meu país

As notícias da manhã deram para perceber algumas situações previsíveis. O governo reuniu em Évora - em mangas de camisa - para preparar a concretização do seu programa. Mas já passaram 50 dias. O programa, ao que se consta, é, no essencial, o mesmo do anterior governo. Ou seja do governo de José Manuel Barroso. Este é um governo de continuidade, não é? Devia ser fácil pôr o motor em marcha.

Ainda por cima o "Pacto de estabilidade e crescimento" (PEC) vai ser flexibilizado. Ou seja, vai deixar de ser inflexível. O Dr. Bagão Félix regozija-se. O PS tinha razão. O Estado, afinal, vai poder gastar mais. Aposto que o Dr. Bagão Félix vai fazer uma encenada comunicação ao país na véspera do Congresso do PS. Com uma forte vertente de "preocupação social". Pois o PS já não está no governo e os próximos anos são de eleições.

A pesada herança agora é da Dra. Manuela Ferreira Leite. A "Dama de Ferro" desceu às catacumbas e não se ouve da sua boca nem um suspiro. O que ontem era verdade hoje passou a ser mentira.

Um pormenor exemplar e delicioso: o Dr. Fontão de Carvalho vai assumir o pelouro das finanças da CML. Era ele mesmo o responsável por esse mesmo pelouro na gestão do Dr. João Soares. É para a gente se rir.

sexta-feira, setembro 3

Ilha da Barreta

Mais conhecida por Deserta a "Ilha da Barreta" é um paraíso que sobreviveu ao "assassínio" do Algarve. Fui lá hoje, de novo, com o meu filho que se dedica, com paixão, aos prazeres da pesca.

O dia estava "nuvrado" como dizia meu pai, que amanhã faria 94 anos, usando uma palavra antiga. Mas a paisagem da praia algarvia, sem sol escaldante, ganha um fulgor inusitado.

É o melhor do Algarve. As águas e as aves, o vento suave e fresco, o recorte da praia e o silêncio são, no conjunto, de uma beleza esplendorosa.

Sem nada a ganhar senão divulgar este paraíso aqui deixo o acesso à página electrónica da única entidade que presta serviços na "Ilha Deserta".

quinta-feira, setembro 2

Alegre e Sócrates

Vi que Alegre preconiza um programa político em que a ética republicana toma a dianteira. O problema desta atitude corajosa (nem outra coisa, dele, seria de esperar) é o de surgir de um candidato perdedor. Toda a campanha para a liderança socialista está condicionada pela "ideologia realista" da maioria dos dirigentes socialistas.

A candidatura de Alegre é uma candidatura de contra-poder. A candidatura de Alegre, nos últimos tempos, é uma novidade na política portuguesa. Ferro também o foi mas a direita não lhe perdoou a independência face aos poderes fácticos.

Alegre tem a vantagem de não aspirar, de facto, a ganhar o PS. Afinal o papel desempenhado por Alegre, no PS, está mais próximo do papel desempenhado, no PSD, por Santana, antes de Sampaio lhe ter oferecido, de bandeja, o poder. Ser uma voz crítica e incómoda num partido acomodado.

No país o problema de Alegre é ser penalizado pela opinião pública, ao mesmo tempo, pelo seu papel na "contra-revolução" (efeito esquecimento) e por preconizar, ou mostrar abertura, a uma aliança à esquerda (efeito medo).

No fim Alegre preconiza aquilo que Sócrates não é capaz de defender mas que é capaz de fazer. A fraqueza de Sócrates é a sua força: não tem passado para esquecer, nem futuro para temer.

quarta-feira, setembro 1

Carocho

Dedicado ao "Sempre-à-Coca" aqui reproduzo este post que já foi publicado na abébia vadia. Tal excepcional duplicação deve-se à decisão daquela juíza de turno que aproveitou o ensejo para mandar "prender toda a gente". O que comprova, como poderão verificar mais à frente, que o "Carocho" me faz cada vez mais falta.

O meu amigo Sempre-á-Coca, na sua deriva "citadora", actividade nobre que tem andado pelas horas da morte com a intelectualidade toda a bater no Sócrates, lembrou-me uma fase de "desfasamento" na minha vida.

Ando com a leitura dos clássicos, da "estação estúpida", atrasada uma semana. Ainda não li o Salvado mas já li o Sócrates.

O que é verdade é que as minhas verdadeiras preocupações, aquelas mesmo que me preocupam, estão desfasadas das manchetes dos tablóides, incluindo o Expresso.

Isto preocupa-me. Pois só aconteceu, a sério, uma vez na minha vida e, na época em que aconteceu, não haviam tablóides. É que eu quando era adolescente lia, quase todos os dias, os jornais todos.

Era na pequena biblioteca de uma "Sociedade" da cidade de Faro e eu "papava", de fio a pavio, sem preconceitos ideológicos, desde o "Diário da Manhã", ao "Novidades" a acabar no "República". Nessa altura andava desfasado.

Tinha, à época, um amigo, muito chegado, que o Sempre-à-Coca é capaz de conhecer, que era o "Carocho" - um homem de todas as vidas. Não é gato, não. É mesmo homem.

O "Carocho" sabia tudo. Tinha todas as informações possíveis e imaginárias. E eu, nada. Ele descrevia, com requinte, os factos, das fontes dele, e eu ficava com cara de parvo. Desde os "Ballets Roses" até aos escândalos da terra, ele sabia tudo.

E eu desfasado. Eu só sabia das informações que vinham na comunicação social que, como é sabido, não correspondiam nada à realidade. É claro que havia a censura.

Mas eu acreditava que, mesmo assim, devia andar a par das notícias. De tal maneira me actualizava que andava sempre ao lado da realidade verdadeira. É mais ou menos como agora. Não há censura. Mas o resultado é o mesmo.

A diferença é que agora são as autoridades que não acreditam nas notícias. De que elas próprias são as fontes. O lápis azul foi substituído pelo "não se pode perturbar o inquérito" ou "não se pode descredibilizar a investigação".

Porra que falta me faz o meu amigo "Carocho". Ele também era indiferente às notícias que vinham na comunicação social mas era porque tinha acesso às verdadeiras. E não era do CM nem da PIDE.

Faço daqui um apelo a quem souber do paradeiro do "Carocho" que lhe dê os meus azimutes. Ele que entre em contacto urgente comigo. Volta "Carocho".