quarta-feira, setembro 1

Carocho

Dedicado ao "Sempre-à-Coca" aqui reproduzo este post que já foi publicado na abébia vadia. Tal excepcional duplicação deve-se à decisão daquela juíza de turno que aproveitou o ensejo para mandar "prender toda a gente". O que comprova, como poderão verificar mais à frente, que o "Carocho" me faz cada vez mais falta.

O meu amigo Sempre-á-Coca, na sua deriva "citadora", actividade nobre que tem andado pelas horas da morte com a intelectualidade toda a bater no Sócrates, lembrou-me uma fase de "desfasamento" na minha vida.

Ando com a leitura dos clássicos, da "estação estúpida", atrasada uma semana. Ainda não li o Salvado mas já li o Sócrates.

O que é verdade é que as minhas verdadeiras preocupações, aquelas mesmo que me preocupam, estão desfasadas das manchetes dos tablóides, incluindo o Expresso.

Isto preocupa-me. Pois só aconteceu, a sério, uma vez na minha vida e, na época em que aconteceu, não haviam tablóides. É que eu quando era adolescente lia, quase todos os dias, os jornais todos.

Era na pequena biblioteca de uma "Sociedade" da cidade de Faro e eu "papava", de fio a pavio, sem preconceitos ideológicos, desde o "Diário da Manhã", ao "Novidades" a acabar no "República". Nessa altura andava desfasado.

Tinha, à época, um amigo, muito chegado, que o Sempre-à-Coca é capaz de conhecer, que era o "Carocho" - um homem de todas as vidas. Não é gato, não. É mesmo homem.

O "Carocho" sabia tudo. Tinha todas as informações possíveis e imaginárias. E eu, nada. Ele descrevia, com requinte, os factos, das fontes dele, e eu ficava com cara de parvo. Desde os "Ballets Roses" até aos escândalos da terra, ele sabia tudo.

E eu desfasado. Eu só sabia das informações que vinham na comunicação social que, como é sabido, não correspondiam nada à realidade. É claro que havia a censura.

Mas eu acreditava que, mesmo assim, devia andar a par das notícias. De tal maneira me actualizava que andava sempre ao lado da realidade verdadeira. É mais ou menos como agora. Não há censura. Mas o resultado é o mesmo.

A diferença é que agora são as autoridades que não acreditam nas notícias. De que elas próprias são as fontes. O lápis azul foi substituído pelo "não se pode perturbar o inquérito" ou "não se pode descredibilizar a investigação".

Porra que falta me faz o meu amigo "Carocho". Ele também era indiferente às notícias que vinham na comunicação social mas era porque tinha acesso às verdadeiras. E não era do CM nem da PIDE.

Faço daqui um apelo a quem souber do paradeiro do "Carocho" que lhe dê os meus azimutes. Ele que entre em contacto urgente comigo. Volta "Carocho".

2 comentários:

MMM disse...

:) Pois... Precisamos mesmo dum "Carocho" descomprometido com uns e outros e que conte só a verdade... Já não peço mais!
Um abraço.

JPN disse...

Eduardo, inspiradissimo. Este texto está muito, muito bom. O Carocho se o ler decerto que volta.