segunda-feira, janeiro 10

Afonso Duarte

“Agora, pouco importa. Caminho entre o povo, atrás do caixão de Afonso Duarte, o extraordinário gravador de lápides rústicas, e sinto que nem todas as colheitas se perdem, que as coisas se compensam umas às outras no seu obscuro equilíbrio natural.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 4 (1 de 2)

Árvore


Uma visão clara e desolada do nosso suave inverno. Continuando a experiência de publicação de imagens. Foto de Helder Gonçalves.

Desculpa lá, ó Zé Manel

"Burros reconhecidos em Bruxelas".

(notícia do "Expresso on line")

Mergulhos

Morais Sarmento foi a mergulhos.

Para uma maioria que pregou, desde o primeiro dia, a “moral e os bons costumes”, o “rigor” e a “austeridade”, que fustigou e fustiga os governos PS e os seus responsáveis pela “bancarrota”, os perseguiu, e persegue, por “despesismo” e por um interminável rol de “crimes” de lesa orçamento público, não está mal esta viagem de Morais Sarmento.

Por mais desculpas e justificações que se possam arranjar, de forma atrapalhada, está na cara que seria, no mínimo, uma manifestação de bem senso e pudor não embarcar para S. Tomé e Principe um ministro e comitiva (que comitiva?), num Falcom fretado, com sessões de mergulho, ...para assinar um protocolo mais meia dúzia de actos de rotina da cooperação.

Nada justifica esta viagem a não ser aproveitar o tempo que resta para gozar dos benefícios do poder. Até para Santana Lopes esta visita "É incómoda". Palavras...

domingo, janeiro 9

O Preço da Democracia

Não questiono que os cidadãos paguem os custos da democracia. Esses custos são sempre aceitáveis quando está em causa a escolha entre democracia e autocracia. Mas é preciso ter a coragem de reconhecer que cada vez mais cidadãos se interrogam se vale a pena pagar esses custos. Essa desconfiança assume a forma de uma simples pergunta que se ouve por todo o lugar: "vale a pena votar?".

É um sinal de desencanto com a qualidade do "produto" político que é oferecido aos cidadãos e um sinal de alarme que abre a porta à erosão da democracia e à urgência de uma reflexão acerca da reforma do regime.

Entretanto, a partir do início deste ano, com a entrada em vigor da nova
LEI DO FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS POLÍTICOS E DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
os deputados vão ficar mais caros aos cidadãos. Todos, em geral, e, em particular, os da Região Autónoma da Madeira.

A pergunta legítima que qualquer um de nós pode fazer é se a qualidade dos partidos e dos deputados corresponde e justifica o aumento do seu custo.

As inclusões e exclusões, os posicionamentos e os critérios adoptados, pelas direcções partidárias, nas escolhas dos candidatos a deputados para as próximas eleições legislativas dizem muito acerca dessa questão.

Normalmente não concordo com o radicalismo desencantado de António Barreto mas, desta vez, reconheço que ele tem razão quando responde negativamente a essa pergunta afirmando que
“Esta semana, o Parlamento foi nomeado”.

Gelnaa

“De Álvaro de Campos: “ó companheira que eu não tenho nem quero ter”. Olho para Gelnaa e não compreendo: tenho-a e quero tê-la. Mas ao mesmo tempo compreendo: não a devia ter a ela; ou não vale a pena tê-la; ou então dói-me a sua fragilidade, sombra dum arquétipo, eterno neste momento. Logo depois volto a não compreender: meu amor mortal, de carne e osso, tenho-te para sempre, agora. Coisas que se equivalem, na gramática relativa da vida. Não nos deram outra, Gelnaa. E mal acabo de pensar isto compreendo de novo: nenhuma companheira é possível e as solidões somadas pesam mais do que uma só. Etc.”

(Fragmento de um fragmento longo, de página e meia, do meu livro artesanal).

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 3 (1 de 1)

sábado, janeiro 8

Inauguração


Experiência de edição de imagem com uma fotografia de Helder Gonçalves.

Maioria e Maioria

PS com maioria absoluta nas próximas eleições

Faltam 42 dias para as legislativas de 20 de Fevereiro. Acerca do calendário ninguém tem dúvidas. A sondagem divulgada ontem confirma uma certeza já enraizada na opinião pública: o PS vai ganhar. Já não é nada pouco. Subsiste, no entanto, uma dúvida: qual a dimensão dessa vitória?
O fracasso do PS nestas eleições será a não obtenção da maioria absoluta: 116 deputados. Esta fasquia foi fixada pelo SG e assumida pelo PS. As consequências políticas desse fracasso são impressivas: enfraquecimento da posição do PR (em fim de mandato) e a necessidade do PS encontrar uma fórmula de acordo político envolvendo outra (s) força (s) partidária (s).
Em Portugal é difícil a esquerda ser pragmática, ao contrario da direita. Será que vai quebrar essa sua fraqueza no caso de não alcançar uma maioria absoluta? Subirá, então, ao primeiro plano do debate político a questão das alianças.
A sondagem merece-me um comentário/palpite: o PS obterá, certamente, um resultado à volta dos 46%, o PSD será mais penalizado do que indiciam os 33% previstos, o PP obterá uma expressão superior a 7%, o PCP inferior a este valor e o BE em torno dos previstos 4,5%.

Não se conhecem ainda os programas dos partidos mas o mais importante, neste “campeonato”, são os líderes e as expectativas para o futuro que criem no eleitorado. As vantagens estão todas do lado do PS. As desvantagens todas do lado do PSD. Pelo menos até 20 de Fevereiro se não ocorrer qualquer acontecimento imprevisto e anormal.
A partir de 21 de Fevereiro invertem-se as situações. Se o PS for governo, mesmo com maioria absoluta, vai gerir o caos e a penúria. É para criar esse cenário que a direita tem vindo a trabalhar na maior impunidade.

Carlos de Oliveira

Por vezes sentimos necessidade de explicar o que fazemos embora os nossos impulsos mais íntimos não se possam explicar senão através da arte.

A propósito da sequência de fragmentos de “O Aprendiz de Feiticeiro” de Carlos de Oliveira aqui deixo um belo texto de Gastão Cruz que explica muita coisa.

Que lhe diremos, mestre

“Numa noite do Verão de 1967 encontrei-me com Carlos de Oliveira na «pequena praça circular» a que ele se refere num texto do mesmo ano («Gás» O Aprendiz de Feiticeiro): «O arboricídio floresce (se me permitem a expressão). (...) De modo que descemos, Gelnaa e eu, do nosso sexto andar para assistir ao derrube das árvores na praça.»”

(“Gáz” é, aliás, o último fragmento de “O Aprendiz de Feiticeiro” que consta do meu livro artesanal).

sexta-feira, janeiro 7

Imaginação

“Aqui está como os grandes artistas estimulam a imaginação alheia.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 2 (7 de 7)

Um Compromisso Para a Educação

O artigo publicado hoje pelo “Semanário Económico”, com o título em epígrafe, pode ser lido aqui e ainda no IR AO FUNDO E VOLTAR onde encontrará também um conjunto resumido de indicadores acerca do estado da educação e formação na UE e em Portugal.

A LER

Manifesto anti-Lopes


quinta-feira, janeiro 6

O Fácil e o Difícil

Fazer propaganda é fácil, governar é difícil.

Colocar encartes nos jornais com propaganda do orçamento é fácil, ser desmacarado por ser mentira é difícil.

Desculpar-se por ser ministro há cinco meses é fácil, assumir a responsabilidade por ser governo há 3 anos é difícil.

Denunciar a pesada herança socialista por um deficit de 4,2 % (em 2001) foi fácil, justificar um deficit de 5% (em 2004) é difícil.

Dissimular e mentir é fácil, assumir as verdades e responsabilidades é difícil.

Condenar os outros e lavar as mãos é fácil, ir a votos é difícil.

É este o pesadelo do Dr. Bagão Félix.


Conversas e Água Benta

Ontem andei, a propósito de umas compras banais, a visitar lojas. Pequenas. De vários ramos. Puxei a conversa com os donos. O negócio anda pelas ruas da amargura. O Natal foi péssimo.

A memória quase não alcança outro igual. Os mais velhos falam em 1984! As minhas conversas confirmam as notícias, de hoje, que nos dizem que o “Clima económico em Portugal piora em Dezembro”.

Atenta a situação o Dr. Bagão Félix não vai a votos. Fugiu a sujeitar-se ao sufrágio popular. Não vai ter a oportunidade de ser encarado pelo povo nas ruas. E o povo não vai ter a oportunidade de o encarar. Nem será directamente julgado nas urnas. É uma pena.

Mas dá entrevistas. Vai aos cumprimentos de Ano Novo a Belém e troca sorrisos afectuosos nos salões. A democracia é uma maçada para os autocratas. Depois dos salões seguir-se-ão os negócios da banca e das seguradoras. E muita água benta.

Pouco edificante? Enojante!

Os portugueses não se podem queixar dos governantes que têm. Foram eles que os escolheram. Muitos portugueses até sentiram orgulho por um deles (o José Manuel) ter sido “escolhido” para n.º 1 da UE.
Mas os governantes que ainda temos preocupam-se mais com a sua barriga (ou umbigo), conforme o grau de formação intelectual, do que em cuidar da “coisa pública” na qual se incluem, curiosamente, os próprios cidadãos portugueses.
Este caso concreto passado com a Embaixada na Tailândia é só mais um dos muitos em que vão sair impunes os inaptos, os descuidados e os relapsos.

Lembram-se de um senhor chamado Martins da Cruz e das suas bazófias acerca da “diplomacia económica”? Nem diplomacia económica e muito menos diplomacia! Quanto mais diplomacia humanitária! É o que este caso mostra.

O Presidente vai partir para a China. Fazer o quê? Se na Tailândia Portugal não foi capaz de apoiar um pequeno grupo de portugueses em dificuldades? Cuidem o Presidente e o Governo de assegurar os básicos - o essencial, o banal, o curial - isso mesmo!
Aquilo que os portugueses pensam que está assegurado até que o destino lhes faz sair em sorte o que pensavam que nunca lhes poderia acontecer.

Não só na diplomacia...Vejam aqui e no Causa Nossa.

"SMS, saudades do Lopes"

"A linha editorial deste blog autoriza a ter pena do Lopes? É que nos últimos dias vejo o homem e choro, às vezes choro a rir, outras cai-me uma lágrima furtiva de compaixão. Sou um ser humano sensível, choro ao lado dos fracos, dos sós e dos pobres de espírito".
(segundo post de um por dia, até terça)
André Bonirre

In A Natureza do Mal


"Razões Irrelevantes Para Não Votar no PP"

Vale a pena ler. No Blogamemucho.

“As franjas intelectuais da direita estão a tornar-se temerárias. A direita portuguesa, historicamente envergonhada da decálage ideológica que a separava da esquerda moderada (sem que seja preciso invocar os mais radicais), subitamente descobriu uma forma engenhosa de fazer valer ideários menos liberais sem que os tenha de disfarçar de temas progressistas.

As doutrinas das liberdades individuais e da promoção da igualdade de direitos gastaram-se, de tão proclamadas, com o tempo. Na prática, isto pode significar que deixou de significar ser vanguardista defender causas que já contam umas boas décadas. Significa, também, que a defesa dos direitos humanos pode, perturbantemente, ser muito mais um comportamento trendy das últimas décadas do século passado do que o salto civilizacional seguro e definitivo que, até agora, pensámos que eram.”

quarta-feira, janeiro 5

O acabamento

"Apenas sucede que é difícil impedir o homem ou, em palavras mais exactas, o homem impedir-se de lamentar o próprio acabamento.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 2 (6 de 7)

Vergonha, precisa-se

Cavaco utilizou imagem de Sá Carneiro em campanha de 1985

O “Diário Digital”, na linha do inefável Delgado, kamikaze ao serviço de Santana, quer apresentar serviço. Sai asneira. Foi encontrar uma imagem da campanha eleitoral de 1985 em que surge Cavaco ao lado de Sá Carneiro.

Talvez dê para Santana aprender alguma coisa de propaganda. Descontando o efeito tempo a foto é mesmo boa.

O DD mostra, ao mesmo tempo, toda a sua ignorância: nas eleições de 1985 o PSD não obteve “maioria absoluta”. Só nas eleições de 1987 e, depois, em 1991.

Surreal

Recebemos cá em casa uma daquelas cartas de que fala hoje o Público.

A ameaça era pesada: penhora de bens por dívidas ao fisco. Data do aviso: 27 de Dezembro. A época é indicada para a contagem de prazos. Levantado ontem da caixa do correio. Prazo para pagar a putativa dívida: 10 dias. Acabava amanhã.

Há sempre a hipótese de algum pagamento ter ficado para trás. O cidadão sabe que pode falhar mesmo que seja diligente e cumpridor. Fiquei na dúvida. Lá fui hoje saber da coisa.

Da diligência surgiu uma dívida da contribuição autárquica de 1998 no montante de 88 euros que somadas todas as alcavalas se elevou a 260 e tal. Fiquei perplexo.

Aquela sensação, que o funcionário não desmentiu, de que se tratava de um desvio provocado pela transferência de uma base de dados antiga para a actual (questão interna do fisco). Ou de um engano no cálculo, feito à mão, do montante anteriormente pago (questão interna do fisco). Ou de uma dívida já prescrita (questão interna do fisco).

A ameaça era manifestamente desproporcionada. Mas paguei logo. Assumi a coisa como uma espécie de pagamento de uma promessa para o Dr. Bagão Félix se ir embora. Depressa. Fico à espera da próxima notificação. Dá para pensar na hipótese de começar a pagar os impostos no estrangeiro. Quiçá ir mesmo embora daqui.

Mas vamos aguentar até ao dia 20 de Fevereiro.