Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, abril 12
DEMOCRACIA
Decidi re-publicar a série de 16 posts sob o título “Citações” que escrevi, entre 27 de Junho e 23 de Julho de 2004, para a abébia vadia, agora em pousio absoluto.
A sua leitura tem que ser feita à luz dos acontecimentos da época, ou seja, no essencial, sob a tensão da (in)decisão política do PR acerca se convocava, ou não, eleições legislativas antecipadas.
Aqueles momentos estão prenhes de ensinamentos e as citações- todas de Camus – são, na sua maioria, pelo menos para mim, um conforto para todos os desencantos passados, presentes e futuros.
Cada um destes 16 posts será agora ilustrado com uma imagem, antecedido de um comentário e de um novo título. Este é o post "Citações 1", de 27 de Junho de 2004.
Nestas alturas de crise política que me afectam o estado de espírito, vá lá saber-se porquê, desde a juventude, ponho-me a ler Camus. Alguém disse que lemos sempre o mesmo livro mesmo quando lemos livros diferentes.
Leio quase sempre os "Cadernos" de Albert Camus mesmo quando leio outro livro qualquer. Nestes dias de descrença na capacidade dos homens para encontrarem as boas soluções de governo nada melhor do que estarmos atentos. Não podemos tomar as medidas que desejamos. Outros as tomarão por nós.
As ditaduras afastam os povos da responsabilidade da tomada das decisões. Lembro-me do discurso da falta de maturidade do povo para votar. Quanto menos for chamado a pronunciar-se acerca das grandes questões nacionais, em particular, as escolhas de governo, mais o povo se sentirá afastado dos desígnios da democracia.
Confiar? Desconfiar? O povo desconfia. Terá razão? O populismo espreita. Delegamos o poder através do voto. Será que nos vão devolver o poder, em tempo útil, para escolhermos de novo? Uma só partícula de poder a cada um de nós. Mas o suficiente para que nos sintamos reconfortados por termos influenciado as escolhas que comprometem toda a comunidade.
Não é o tempo oportuno? Mas se não escolhermos a participação popular, mesmo quando a mesma parece excessiva, estamos a abrir o caminho aos populistas. Os populistas fingem que usam o poder para servir o povo mas servem-se dele para alcançar os seus objectivos particulares.
Aqui estão as citações do dia. A continuar.
""Tudo o que não me mate torna-me mais forte." Sim, mas…E como é duro pensar na felicidade. O peso esmagador de tudo isso. O melhor é calarmo-nos para sempre e voltarmo-nos para o resto."
""Retz: "Com excepção da coragem, o senhor Duque de Orlèans tem tudo quanto é necessário a um homem honesto""
(Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 4 - Janeiro 1942/Setembro 1945 - Livros do Brasil)
Fotografia de Helder Gonçalves
Os Paraísos Artificais
Jorge de Sena
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários do 3º andar e papagaios do 5º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena
"Pedra Filosofal" (1950)
Incluído em Poesia I,
Moraes Editores2ª edição, 1977.
segunda-feira, abril 11
As Árvores e as Sombras
A natureza despe-se sem pudor apesar do olhar dos homens. Nasci com a escassez da água por entre os medos da seca e da fome. Mas a natureza não detém a sua marcha perante os receios do homem.
*
No sul o frio é suave e temperado pelo mar e pela vizinhança de África. A minha terra fica mais próxima de África do que de Lisboa. Sempre nos esquecemos disso quando pensamos nos espanhóis.
*
A sul a neve caiu de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Vi-a cair pela primeira vez debruçado de espanto da janela com vista para o meu mundo. A rua ficou branca e fiz bolas de jogar. Mas a neve na minha memória é quente.
*
A nespereira familiar da minha infância prepara-se para dar frutos. Imagino o seu lugar no quintal de onde nunca saiu e se apresenta sempre viçosa às gerações que passam. Ela renova-se e parece imortal.
*
A figueira do caminho do campo despida de folhas olha-me curiosa. O frio fê-la ficar nua e reparei que não se mexia nem tiritava nem sequer temia a sua morte anunciada. Ela sabe que no próximo verão ainda vai dar frutos suculentos.
*
As árvores são um mundo de vida e de afectos para os artistas. Poetas, pintores, músicos, cineastas, fotógrafos ... muitos dos grandes artistas cantaram a natureza através das árvores.
*
A sombra de cada árvore é diferente conforme a sua natureza. Cada sombra projectada por uma árvore tem vida própria e uma personalidade diferente conforme as espécies. As sombras das árvores são todas diferentes.
*
Ir para a sombra era uma obsessão da minha infância. No sul o sol impõe as suas regras. As árvores no verão eram o lugar da sombra antes de serem o lugar dos frutos e da subsistência.
Fotografia de amistad
Natércia Freire
CANÇÃO DO VERDADEIRO ABANDONO
Podem todos rir de mim,
podem correr-me à pedrada,
podem espreitar-me à janela
e ter a porta fechada.
Com palavras de ilusão
não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
não tem vislumbres de além.
Não sou irmã das estrelas,
nem das pombas, nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
de bicho que sofre as pedras
e se desloca de rastros.
De «Obra Poética», 1991-1995,
IN-CM, Lisboa
domingo, abril 10
POEMA EM LINHA RECTA
Retrato de Fernando Pessoa. [1954, óleo sobre tela, 2010 x 2010 mm - Museu da Cidade, Lisboa, Portugal - Quadro de Almada Negreiros (1893-1970), pintado para o restaurante Irmãos Unidos, de Lisboa, versão final de uma encomenda cujo projecto primitivo se intitulava «Lendo o Orpheu»] Imagem do portal da História
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe —todos eles príncipes— na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não uni pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ô príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semi-deuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos —mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa/Álvaro da Campos
In "Quinze Poetas Portugueses do Século XX"
Selecção e Prefácio de Gastão Cruz
Assírio & Alvim
sábado, abril 9
"Comissão Permanente para o Acolhimento e Inserção Social da Comunidade Timorense" - Para que não esqueça
A propósito de uma notícia que hoje veio a público, dando conta do apoio da República de Timor-leste à candidatura de António Guterres para “Alto-Comissário da ONU para os Refugiados” (ACNUR), lembrei-me de uma missão que desempenhei a partir de inícios de 1996: Presidente da “Comissão Permanente para o Acolhimento e Inserção Social da Comunidade Timorense”.
No IR AO FUNDO E VOLTAR deixo à disposição o teor da entrevista que, à época, concedi à Lusa (?), cuja última frase é bastante significativa: "Essa comunidade (timorense) vai ter um papel importante num país que um dia há-de ser independente e democrático", as condições em que desempenhei, a título gracioso, aquela função e alguns ensinamentos.
Esclareço que nunca visitei Timor nem a título oficial nem particular. Para que não esqueça.
No IR AO FUNDO E VOLTAR deixo à disposição o teor da entrevista que, à época, concedi à Lusa (?), cuja última frase é bastante significativa: "Essa comunidade (timorense) vai ter um papel importante num país que um dia há-de ser independente e democrático", as condições em que desempenhei, a título gracioso, aquela função e alguns ensinamentos.
Esclareço que nunca visitei Timor nem a título oficial nem particular. Para que não esqueça.
Saber Viver é Vender a Alma ao Diabo
Gosto dos que não sabem viver,
dos que se esquecem de comer a sopa
(Allez-vous bientôt manger votre soupe,
s... b... de marchand de nuages?")
e embarcam na primeira nuvem
para um reino sem pressa e sem dever.
Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, já rio no chão,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com árvores de papel.
Gosto de Ofélia ao sabor da corrente.
Contigo é que me entendo,
piquena que te matas por amor
a cada novo e infeliz amor
e um dia morres mesmo
em "grande parva, que ele há tanto homem!"
(Dá Veloso-o-Frecheiro um grande grito?..)
Gosto do Napoleão-dos-Manicómios,
da Julieta-das-Trapeiras,
do Tenório-dos-Bairros
que passa fomeca mas não perde proa e parlapié...
Passarinheiros, também gosto de vocês!
Será isso viver, vender canários
que mais parecem sabonetes de limão,
vender fuliginosos passarocos implumes?
Não é viver.
É arte, lazeira, briol, poesia pura!
Não faço (quem é parvo?) a apologia do mendigo;
não me bandeio (que eu já vi esse filme...)
com gerações perdidas.
Mas senta aqui, mendigo:
vamos fazer um esparguete dos teus atacadores
e comê-lo como as pessoas educadas,
que não levantam o esparguete acima da cabeça
nem o chupam como você, seu irrecuperável!
E tu, derradeira geração perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...
Por que não põem cifrões em vez de cruzes
nos túmulos desses rapazes desembarcados p'ra morrer?
Gosto deles assim, tão sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrrançais
e os politichiens si habiles, si rusés,
evitam mesmo a tempo a cornada fatal!
Les portugueux...
não pensam noutra coisa
senão no arame, nos carcanhóis, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no tojé, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no balúrdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles só porque não querem
apanhar as nozes...
Dize tu: - Já começou, porém, a racionalização do trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito será por muito tempo
o mais económico dos gestos!
*
Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...
Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981
Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda
sexta-feira, abril 8
Manuais Escolares
As notícias acerca do tema são manifestamente exageradas. O despacho acerca da “transmissão em cadeia” de manuais escolares, agora revogado, não chegou, na prática, a entrar em vigor.
O mês de Abril seria fatal não houvera a revogação agora concretizada. A Ministra da Educação do governo de direita, Maria do Carmo Seabra, não mediu o alcance do despacho que assinou, 5 dias antes das eleições legislativas, publicado a 9 de Março, muitos dias depois das mesmas.
A questão é simples: a viabilidade da aplicação daquele despacho – nos planos técnico e financeiro – não foi acautelada. A revogação pelo governo em funções do dito foi correcta, adequada e tomada em tempo oportuno.
Assim se evitou, com uma medida simples, males maiores para a gestão das escolas. Por razões éticas não devo aprofundar o tema. Mas as razões evocadas pelos detractores da revogação são fundadas na mais pura ignorância ou má fé.
Veja aqui o despacho de revogação bastante bem fundamentado.
E ainda algumas considerações judiciosas na Memória Flutuante
"Diário do Governo" - 9
Jornais de Todo o Mundo
Jornais de todo o mundo on-line
Se clicar sobre a bandeira do país que desejar, aparecerão os jornais desse país. Depois é só clicar no jornal de sua predilecção e abrirá a edição actualizada de cada um.
São 29 Países ao redor do mundo.
Se clicar sobre a bandeira do país que desejar, aparecerão os jornais desse país. Depois é só clicar no jornal de sua predilecção e abrirá a edição actualizada de cada um.
São 29 Países ao redor do mundo.
ABRIL
Foto de amistad
Abril
É um mês que me diz muito. Nele nasci lá mais para o fim. Nele nasce o sangue novo que a primavera desperta. Nele se reconquistou, em Portugal, a democracia e a liberdade.
Abril
Nele me dá vontade de ler e de escrever. Observar a natureza e os seres que se movem como que abandonados à sua sorte. As flores que desabrocham e os cheiros excitantes que, aqui e ali, irrompem do interior da cidade adormecida sobre si própria.
Abril
Da brisa matinal que o atlântico torna fresca e a tez das gentes adocica. Dos brados soltos de janela em janela nos bairros antigos dando a notícia ou o recado. Das crianças que saltam de euforia e dos velhos que se aliviam da triste solidão.
Abril
Das mulheres que mostram no corpo a sua jóia mais preciosa. Das músicas que ecoam suaves nas ruas e nos pátios em que se desenham janelas engalanadas de flores. Da luz que brilha refulgente, nos excita e cega os sentidos.
Abril
Da leitura juvenil dos Cadernos de Camus, ainda da sua época de Argel:
“Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros de conversa à espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento.”
quinta-feira, abril 7
Girassóis
"Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranqüilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza ...
À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.
Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis, sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranqüilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido."
Fernando Pessoa, como Ricardo Reis.
Imagem e Texto do Pentimento
quarta-feira, abril 6
JOÃO LÚCIO
Província onde nasci, amada do luar
E o sol ruidoso, ardente, imorredoiro …
Lírio fresco e azul deitado à beira-mar,
Com o cálix gentil a orvalhar-se em oiro …
Nesse canto imortal de todo o Universo,
De florestas, de sóis, mares e cordilheiras,
Tu és, unicamente, um perfumado verso,
Feito em luar dormente, azul e laranjeiras.
Lindo verso, porém, dessa lira suprema,
Com hinos triunfais, auroreais, fecundos,
Que abrange a Vida toda e faz o seu poema,
Rimando montes, céus, oceanos e mundos.
Tens o rir jovial e a bonomia calma,
O dulcíssimo aspecto ingénuo das crianças;
O sol doira-te o corpo; a fantasia a alma;
Fala-te o céu de amor; fala-te o mar d´esp´ranças.
Que este livro te diga, oh terra aventureira,
Como o meu coração a voz te sabe ouvir:
Ele é singelamente uma canção ligeira,
Que tu lhe tens cantado e tenta repetir.
Quando os astros de noite, errantes e dispersos,
Vierem mergulhar nas águas do teu mar,
Vai ler-lhes mansamente estes humildes versos
Pra que digam a Deus como te sei amar.
João Lúcio
O Meu Algarve - 1905
HAI-KAIS
Tem chovido bastante: insuportável tempo.
Na noite do quintal, o sapo canta.
*
Conversam como ao longe
não comigo,
Se comigo falavam
cansar-me-iam.
*
Por nuvens as montanhas não têm picos.
Mas, negras e escalvadas, cabeleira branca.
*
O mar se alonga ao longe tão sereno.
No temporal, há pouco, era mais curto.
*
O ano inteiro esta árvore
larga folhas mortas.
*
Roupa que se abre e cai:
surpresa; ou muito ou pouco.
*
No escuro cresce o amor
que só nocturno se ama.
*
Para encontrar-se o acaso
ai quanto caminhar!
*
Sentado, escreve e lembra
imagens que não viu.
Jorge de Sena
11-12/1/74
terça-feira, abril 5
Política
[Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 – 1610), Giuditta eOloferne (c. 1599), óleo sobre tela, 145 x 195 cm, Galleria Nazionale d’Arte Antica, Pal. Barberini, Roma]
“Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.”
Albert Camus, in Cadernos
Imagem de Educação Sentimental
Governadores Civis
O país é pequeno mas há outros países da UE mais pequenos. O país é pobre mas há poucos países mais pobres na UE. Nos últimos anos o PIB do país cresceu menos que a média do PIB dos países da EU. O país empobreceu. O mesmo vai acontecer em 2005 e 2006.
É urgente inverter esta situação de calamidade nacional. Entretanto o governo empossou os novos governadores civis. O que me apraz dizer é: nunca mais acabam os governadores civis!
O ministro António Costa, na posse dos ditos, disse, na presença do primeiro ministro, que devem dar prioridade à prevenção e combate aos incêndios e que não devem comportar-se como “minifundiários”.
Mas a função faz o cargo. O governo civil é mesmo, politicamente, um minifúndio. Não há nada a fazer. A não ser o emparcelamento: ou seja a extinção dos ditos. O governo perdeu uma oportunidade para dar ao país mais um sinal de mudança.
Desta vez o sinal foi de continuidade. “Mudança na Continuidade” ou “Continuidade na Mudança”?
“Diário do Governo” – 8
"Ir até ao fim ..."
Faro - Uma vista do lugar das minhas leituras de juventude de Camus em volta da doca
“Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir. Tenho necessidade de sentir a minha própria pessoa, na medida em que ela é o sentimento daquilo que me ultrapassa. Por vezes preciso de escrever coisas que em parte me escapam, mas que provam justamente o que em mim é mais forte do que eu”.
Albert Camus, in Cadernos
segunda-feira, abril 4
LUZ
Luz. Iluminar. Uma lâmpada que ilumine. A epígrafe de Jorge de Sena que abre o meu último artigo:
“Aprendemos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, uma lâmpada de sala que ilumine a todos."….
Lembrei-me de Isadora Duncan. Quando a vejo retratada na minha memória, pelas imagens que me encantaram no cinema, associo à sua imagem a palavra LUZ.
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