sexta-feira, abril 8

ABRIL


Foto de amistad

Abril
É um mês que me diz muito. Nele nasci lá mais para o fim. Nele nasce o sangue novo que a primavera desperta. Nele se reconquistou, em Portugal, a democracia e a liberdade.

Abril
Nele me dá vontade de ler e de escrever. Observar a natureza e os seres que se movem como que abandonados à sua sorte. As flores que desabrocham e os cheiros excitantes que, aqui e ali, irrompem do interior da cidade adormecida sobre si própria.

Abril
Da brisa matinal que o atlântico torna fresca e a tez das gentes adocica. Dos brados soltos de janela em janela nos bairros antigos dando a notícia ou o recado. Das crianças que saltam de euforia e dos velhos que se aliviam da triste solidão.

Abril
Das mulheres que mostram no corpo a sua jóia mais preciosa. Das músicas que ecoam suaves nas ruas e nos pátios em que se desenham janelas engalanadas de flores. Da luz que brilha refulgente, nos excita e cega os sentidos.

Abril
Da leitura juvenil dos Cadernos de Camus, ainda da sua época de Argel:

“Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros de conversa à espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento.”