segunda-feira, abril 11

Natércia Freire



CANÇÃO DO VERDADEIRO ABANDONO

Podem todos rir de mim,
podem correr-me à pedrada,
podem espreitar-me à janela
e ter a porta fechada.

Com palavras de ilusão
não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
não tem vislumbres de além.

Não sou irmã das estrelas,
nem das pombas, nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
de bicho que sofre as pedras
e se desloca de rastros.

De «Obra Poética», 1991-1995,
IN-CM, Lisboa

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