quinta-feira, maio 19

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Solidário na Denúncia


"Vergonha (na estrada) nacional (Esta é a doer! E é também a primeira entrada comum a um blog -Dias sem árvores, há muito na forja- que pretende denunciar "casos" destes de todos os pontos do país! Se quiser colaborar é só dizer.)"

Veja a descrição no Dias sem Árvores.

DIA DO MAR NO AR


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas

Dia do mar no meu quarto – cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In Coral - 1950

quarta-feira, maio 18

Ganhar ou Perder, Perder ou Ganhar


Final da Taça UEFA: o Sporting acaba de perder por 3-1. Os Russos do CSKA ganharam. Numa final como esta só há dois resultados possíveis. Ganhar ou perder.

O futebol cínico dos russos venceu. O Sporting cometeu, na 2ª parte, alguns erros fatais. A ganhar optou por não defender o resultado. Deixou que o tempo corresse a favor da estratégia dos russos, foi ingénuo e perdeu.

O meu filho ficou triste mas interpretou racionalmente a situação. O Sporting numa semana perdeu a Liga e a taça UEFA. Podia ter sido campeão em tudo e não será campeão de nada. É assim o futebol.

Aqui fica a imagem do seu goleador, Liedson, que hoje ficou em branco. Uma homenagem à qualidade do futebol do Sporting que, afinal, não deu para ganhar nada. As ironias da vida...

SPORTING


Hoje é dia de futebol. Há quem não goste. Mas isso é outra discussão. O meu filho é sócio e adepto do Sporting. Lá vou com ele ao estádio torcer pela conquista de mais uma taça europeia para um clube português. O Sporting bem merece – porque joga muito e bem – ganhar a taça UEFA. Mas, em futebol, como em tantas coisas na vida, não basta merecer ... Depois do jogo falamos.

PRAIA DAS MAÇÃS


Praia das Maçãs. [1918, óleo sobre madeira, 690 x 870 mm, Museu do Chiado, Lisboa - Portugal. Quadro de José Malhoa (1855-1933).] O pintor nasceu em 28 de Abril de 1854. In “O Portal da História”.

A arte, por vezes, retrata o lugar que se reconhece. Eis aqui um desses lugares. As minhas incursões pela poesia têm ganho maior expressão no absorto. É o resultado do meu profundo interesse pelo género e da minha desilusão pela política.

Guardemos o que resta da nossa esperança no futuro do homem pela fruição das artes. É o que me apetece dizer. Não é desprezo o que sinto pelos gestores da “coisa pública” que já fui um deles. É um afastamento tanto maior quanto não lhes encontro o fervor das convicções que pudessem fazer retornar a política ao seu lugar de “fábrica de sonhos”.

Se o político não for capaz de fazer sonhar o povo com o futuro, mesmo que dele não saiba adivinhar as exactas formas, seja pela fé, seja pelas realizações, seja pela pura discussão, não está cumprindo seu ideal. É o sonho que comanda a vida e a política é, somente, o instrumento privilegiado da sua concretização.

"Desconfiai daqueles que vos dizem: nada de discussões políticas que são estéreis; ocupemo-nos só dos melhoramentos materiais do país", dizia Alexandre Herculano.

Quer dizer que pelo pragmatismo, puro e duro, não vamos lá. É esse pragmatismo que antevejo no horizonte, apesar da mudança política. Pragmatismo sem alma que nos anuncia a emergência de um tempo de novas desilusões e desesperanças.

Que não faleça o regime democrático no turbilhão da austeridade que se aproxima é o mais a que posso, de verdade, aspirar. É pouco, convenhamos, para aqueles que, como eu, não aceitam a cultura pós-moderna e a volúpia exibicionista dos seus cultores.

terça-feira, maio 17

MAIS QUE TUDO O MAR


Ilha Deserta, Ria Formosa - Faro (Foto Margarida Ramos)

Mais que tudo o mar
me fala dos homens
de ti,

Meteste o pé na água
molhaste o teu corpo

Mais que tudo o mar
de ti o arrepio a água
gelada,

E o teu olhar aflito me
toma desejado absorto

Mais que tudo o mar
o azul além do tempo
infinito,

O olhar breve fugaz
grita um grito aflito

Mais que tudo amar
Mais que tudo o mar
bendito,

Faro, 14 de Julho de 2004

DIFÍCIL SER FUNCIONÁRIO


João Cabral de Melo Neto

Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...

Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.

O poema acima, escrito em 29-09-1943, revela a decisiva influência de Carlos Drummond de Andrade nas primeiras produções do autor. Inédito, foi extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", nº. 01, publicado pelo Instituto Moreira Salles em Março de 1996, pág.60.

segunda-feira, maio 16

Margarida Delgado



Conhecer as fotos (e não só) de Margarida Delgado no Sabor a Sal

Parque de Ramalde - Solução à Vista?


O Dias com Árvores volta á questão do Parque de Ramalde. Aqui fica o meu renovado apoio a uma solução que o permita salvar da destruição.

"As últimas notícias nos jornais fazem-nos suspirar de alívio: tudo indica que vai imperar o bom senso e que há intenções sérias de impedir que se "rasgue" o Parque Desportivo do Inatel em Ramalde destruindo a maior parte do equipamento e ocupando um terço da sua área.

Parece que não vai ser necessário ninguém atravessar-se à frente das retroescavadoras (pelo menos é o que se dispunha a fazer uma das moradoras do bairro, segundo me informou o igualmente"activista" marido, e estou convencida que não seria a única."

Notícias:

Preservar o parque do Inatel ;
CDU quer rever PDM para poupar INATEL ;
CDU vai tentar consenso sobre PDM para evitar corte do estádio do Inatel ;

Anteriores:

Árvores do Parque do Inatel em Ramalde #1 ;
Árvores do Parque do Inatel em Ramalde #2 ;
Árvores do Parque do Inatel em Ramalde # 3

E DEPOIS DO ADEUS


“Foto de António José Alegria, do amistad”

A letra da canção "E Depois do Adeus", vencedora do Festival da Canção de 1974, que serviu de senha para o movimento militar do 25 de Abril de 1974 em Portugal. Acabei de a ouvir cantar.

Paulo de Carvalho : E depois do Adeus

Música: José Calvário

Letra: José Niza

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

domingo, maio 15

REGRESSO/SOFIA LOREN


Recorte de um postal de Agnes Vanda sobre a visita a Portugal de Sofia Loren em 1956. (Margarida Ramos)

Regresso

Hoje andei a visitar os meus mortos
mais antigos mas sempre presentes
e regresso

com a imagem deles presa à cabeça
o meu filho tomou nota dos nomes
e das datas

notou os seus rostos de camponeses
duros e conformados às vicissitudes
da espera

que crescesse a colheita ou morresse
à míngua de água ou de braços que a
tomassem

para si e lhes dessem de comer o pão
sem o qual se desespera ou se morre
enxuto

sempre à espera do tempo que havia
de lhes trazer aquela esperança eterna
já morta

Março de 2005

AS FARPAS


Ramalho Ortigão com a farda de sócio da Academia das Ciências [fotografia a preto e branco, publicada na Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 503, Lisboa, 11 de Outubro de 1915 -Fotografia da Casa Vidal & Fonseca, de A. Vidal e João Fonseca. Ramalho Ortigão nasceu em 24 de Outubro de 1836. In “O Portal da Historia”

Lembro-me, como se fosse hoje, da leitura de largos trechos das “Farpas” pelo Prof. Almodoval, sempre com a sua gabardina com um rasgão “pespontado”, nas aulas do Liceu. Era no tempo das turmas pequenas e dos professores fascinantes. Sempre podem haver professores fascinantes mas na escola elitista o seu peso era maior.
Aquelas leituras das “Farpas” eram uma bênção caída do céu. O tom irónico da crítica social assumia, no tempo da ditadura, uma espessura e intencionalidade política ("não dita") que era corrosiva e apaixonante. Sentia-se a subtil passagem de uma mensagem como que a dizer-nos: “não se deixem amordaçar”, “abram os olhos”, “tomem a realidade pelos cornos” … uma pedagogia da assumpção de uma cidadania antes do tempo da democracia.
Vi um dia o Prof. Almodoval, com um professor de “canto coral”, o Prof. Dores, num jogo de futebol no velho “Estádio Padinha”, em Olhão, e não mais me esqueci do sentimento de estranheza que me tomou acerca da sua presença ali. O que os teria levado ao futebol? Um gosto que eu não era capaz de colar aos seus gostos. Ignorância minha. Nunca conhecemos os homens pelas suas leituras mesmo quando pensamos que os conhecemos.
Desse professor, como de outros que me marcaram profundamente, nunca cheguei, de verdade, a conhecer nada. Somente a antever a sua cultura humanista e o seu prazer, comedido, em passar para os alunos o gosto por aprender, o estímulo à curiosidade e, no fundo, o apelo à insubmissão.
Comprei agora as “Farpas”, na edição preparada pela Filomena Mónica, para oferecer à minha mulher no dia do seu aniversário. Que gozo só de manusear o grosso volume e de sentir a argúcia, a subtileza e a actualidade da fina escrita de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. Este menos conhecido e divulgado do que aquele e do qual aqui deixo um retrato e o acesso uma biografia.

sábado, maio 14

Aborto e Hierarquia Católica

A Ler no Prozacland

"Matar uma criança no seio materno é mais violento que matar uma criança de cinco anos".
(Pe. Domingos Oliveira)

"Criar para chegar mais perto dos homens?"


“Foto de António José Alegria, do amistad”

A escola não servia só para aprender as primeiras letras e a tabuada mas, antes de tudo, para nos tornar homens disciplinados, fiéis ao ideal de servir o patrão e a Pátria, a grande patroa de todo a Nação.

A verdadeira sensibilidade formava-se como que num outro lugar: na terra batida das ruas despojadas, na luz reflectida pelas paredes brancas e na imagem e falajar das pessoas sem história que retive na memória e dos íntimos que me marcaram.

Para além do meu irmão Dimas, os meus primos camponeses, mais velhos, Ezequiel, morto prematuramente por uma doença ruim, e o Gervásio, agricultor resistente às adversidades, o Damião, empregado de meu pai, que tanto chorei quando partiu, rumo à Argentina, cumprindo o seu destino de emigrante agora morto também.

Eles foram os verdadeiros lugares da minha infância e o bálsamo para o caminho incerto do meu futuro. Aqui e ali despontava um olhar promissor de mil carícias que se consumavam mas o tempo e a busca do destino separam os homens.

“Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...” (*)

(*) Camus - “Cadernos”

REVOLTA – NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS (10 de 10)

CATEDRAL



Para conhecer a Catedral

França - pode ser que SIM

Referendo para a Constituição Europeia: o SIM ganha terreno

França, Sofres, 10 de Maio (último dia trabalho de campo)

Sim: 52%
Não: 48%

Ver no Margens de Erro

sexta-feira, maio 13

HORTELÃ



Para conhecer a Praça da República

DEFICIT=7%

Duas manchetes uma mesma realidade. “A Capital” antecipa o deficit que a “Comissão Constâncio” apurou. 7%. Em editorial Osório pergunta: “Não há responsabilidade criminal para os 7 por cento?” A resposta, defensiva, ao pré anúncio desta realidade está implícita na manchete exclusiva do “CM”: “Bagão Félix trava negócio da A7 e A11”.

“A Capital”

"Finanças Públicas - O défice real estimado pela Comissão Constâncio para 2005 ultrapassa as previsões do ministro das finanças, Campos e Cunha

Défice chega aos 7 por cento - Sócrates foi informado deste cenário no final da semana passada, tendo marcado uma reunião com o seu núcleo duro para analisar o assunto"

“Correio da Manhã”

"Bagão Félix trava negócio da A7 e A11"

Um santo homem, atento aos negócios de “última hora” do governo Santana Lopes, devoto à causa pública, poupado e seráfico, ministro pelo PP sem ser ministro do PP, político pelo PP sem ser político do PP, independente e indisponível para assumir as responsabilidades políticas.

Um Ministro das Finanças que, ao que parece, deixou um deficit de 7%. Tantas virtudes, para quê? Tudo se resume a ter “travado” o negócio da A7 e A11! É tudo muito evidente: a manchete exclusiva do "CM" tenta “tapar” a notícia dos 7% de deficit e as investigações em curso …

O que se seguirá na ardilosa estratégia, em falência, da direita e extrema direita?

Um Dia Nevou


Havia de fazer frio nalguns meses do ano. Mas desses meses não me lembro a não ser do dia 4 para 5 Fevereiro de 1954 em que nevou. Mas foi um dia excepcional. A memória perdeu esse dia no calendário que recuperei na leitura do “Aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira, uns anos depois.

Guardo essa memória como de um dia quente. Somente um pouco menos do que habitualmente. Não sei explicar porquê! As casa eram todas baixas com terraços dos quais se avistavam os quintais e os alegretes das casas vizinhas. Plenas de cheiro a limões e a flor de laranjeira na época do desabrochar da floração. Mesmo nos lugares públicos mais notáveis a cidade guardava espaços abertos ás vistas.

Os pobres ostentavam, desabrigadas, a sua pobreza agreste, por vezes, bela contrariando os critérios dos nossos dias. É certo que a única vantagem daquela pobreza é pertencer ao passado. A sua lembrança não orgulha as suas vitimas: o povo deserdado e carente de todo o conforto.

O que tem a luz desses lugares a ver com a revolta? Nada. Foram simplesmente os lugares dela. O labirinto das ruas ensolaradas era o lugar da libertação e a aspereza da mestre escola o espaço da revolta.

REVOLTA – NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS (9 de 10)