quarta-feira, maio 18

PRAIA DAS MAÇÃS


Praia das Maçãs. [1918, óleo sobre madeira, 690 x 870 mm, Museu do Chiado, Lisboa - Portugal. Quadro de José Malhoa (1855-1933).] O pintor nasceu em 28 de Abril de 1854. In “O Portal da História”.

A arte, por vezes, retrata o lugar que se reconhece. Eis aqui um desses lugares. As minhas incursões pela poesia têm ganho maior expressão no absorto. É o resultado do meu profundo interesse pelo género e da minha desilusão pela política.

Guardemos o que resta da nossa esperança no futuro do homem pela fruição das artes. É o que me apetece dizer. Não é desprezo o que sinto pelos gestores da “coisa pública” que já fui um deles. É um afastamento tanto maior quanto não lhes encontro o fervor das convicções que pudessem fazer retornar a política ao seu lugar de “fábrica de sonhos”.

Se o político não for capaz de fazer sonhar o povo com o futuro, mesmo que dele não saiba adivinhar as exactas formas, seja pela fé, seja pelas realizações, seja pela pura discussão, não está cumprindo seu ideal. É o sonho que comanda a vida e a política é, somente, o instrumento privilegiado da sua concretização.

"Desconfiai daqueles que vos dizem: nada de discussões políticas que são estéreis; ocupemo-nos só dos melhoramentos materiais do país", dizia Alexandre Herculano.

Quer dizer que pelo pragmatismo, puro e duro, não vamos lá. É esse pragmatismo que antevejo no horizonte, apesar da mudança política. Pragmatismo sem alma que nos anuncia a emergência de um tempo de novas desilusões e desesperanças.

Que não faleça o regime democrático no turbilhão da austeridade que se aproxima é o mais a que posso, de verdade, aspirar. É pouco, convenhamos, para aqueles que, como eu, não aceitam a cultura pós-moderna e a volúpia exibicionista dos seus cultores.

2 comentários:

MMM disse...

Há muito que não temos políticos assim... dos que acreditam, dos que fazem sonhar e acontecer!...

Ultimamente então... é desesperante! São políticos fabricados pelos media... engana-se quem neles acredita!

Mas... o afastamento será a ultima coisa que se deve fazer quando a desilusão chega. Fica um espaço maior para a mediocridade... ou não? ;)

Falo assim... porque de certo modo me arrependo de ter feito em tempos o mesmo... com Sá Carneiro.

Um abraço,
MMM

Eduardo Graça disse...

MMM:
Os escritos, como este, são desabafos que, no fundo, só quem acredita é capaz de fazer. Temo, é isso, temo que se fique pelo meio do caminho, que não se governe convencendo e acreditando mas, antes, às arrecuas e ao sabor dos interesses do momento. Mas não abandono a crença antes antevejo a descrença. Pode ser que me engane mas não sinto a alma vibrante dos politicos, grandes desenhadores de futuro, necessários para as ocasiões difíceis. É capaz de ser uma incapacidade minha em apreciar os politicos, como pessoas normais, que se dedicam a uma profissão. Sou um "antigo" nestas coisas da política. problema meu ...Um abraço.