sábado, maio 14

"Criar para chegar mais perto dos homens?"


“Foto de António José Alegria, do amistad”

A escola não servia só para aprender as primeiras letras e a tabuada mas, antes de tudo, para nos tornar homens disciplinados, fiéis ao ideal de servir o patrão e a Pátria, a grande patroa de todo a Nação.

A verdadeira sensibilidade formava-se como que num outro lugar: na terra batida das ruas despojadas, na luz reflectida pelas paredes brancas e na imagem e falajar das pessoas sem história que retive na memória e dos íntimos que me marcaram.

Para além do meu irmão Dimas, os meus primos camponeses, mais velhos, Ezequiel, morto prematuramente por uma doença ruim, e o Gervásio, agricultor resistente às adversidades, o Damião, empregado de meu pai, que tanto chorei quando partiu, rumo à Argentina, cumprindo o seu destino de emigrante agora morto também.

Eles foram os verdadeiros lugares da minha infância e o bálsamo para o caminho incerto do meu futuro. Aqui e ali despontava um olhar promissor de mil carícias que se consumavam mas o tempo e a busca do destino separam os homens.

“Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...” (*)

(*) Camus - “Cadernos”

REVOLTA – NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS (10 de 10)

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