quarta-feira, abril 11

O POETA

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Trabalha agora na importação e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias. Podia ser um trabalhador por conta própria,]
um desses que preenche cadernos de folha azul com números
de deve e haver. De facto, o que deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol e exportar as nuvens. Poderia ser
um trabalhador do tempo. Mas, de certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um escultor do movimento. Fere,
com a pedra do instante, o que passa a caminho da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu; e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o azul, a sábia interrupção da morte.

Nuno Júdice
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VOANDO SOBRE A PERFÍDIA

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Na nossa sociedade, porventura em todas as sociedades, pairam no ar bandos de abutres tristes. O que mais os excita é o sangue que vislumbram no chão da vida com suas miras telescópicas. Os abutres crentes em Deus, acreditando na vida para além da morte, estão em vantagem. Os que acreditam acima de tudo na vida humana, eivada de suas vicissitudes terrenas, preocupam-se com as pedras. O título de um poema que publiquei dias atrás – “Fidelidade à Terra” – contém todo um programa que organiza a filosofia de vida daqueles que, como eu, acreditam num mundo sem Deus mas que não abdica do Sagrado.

O que mais impressiona na nossa vida pública é a capacidade de persuasão dos “media”, oráculos da verdade indesmentível sobreposta à realidade dos factos e, ainda mais, ver desfilar as legiões silenciosas dos crentes na representação da verdade falsificada. Como se a vida pública fosse uma cenografia pela qual desfila um imenso elenco de actores – primeiras figuras e figurantes – dos quais se espera que representem os papéis que os poderes mediáticos lhes impõem e destinam.

Todo o enredo foi escrito algures por alguém que aparece a público, com o rosto encoberto, sob anonimato, travestido de outrem, podendo mesmo ser assumido amigo companheiro e camarada, vertendo, gota a gota, no ar a insídia na qual se respira a trama que elimina a confiança e torna inânime a autoridade até à sua destruição final. Os abutres tristes de ontem correm sérios riscos de morrer às mãos dos abutres tristes de hoje.

Só há uma profilaxia radical para a perfídia na vida pública que todos os clássicos descrevem, com apurada argúcia e fino detalhe, – Nicolau Maquiavel – é afastarmo-nos dela sem desprezo pela coragem dos homens públicos que, afrontando os horrores da voracidade dos abutres tristes, tentam mudar a vida dos povos e das nações e que, por norma, são devorados pelas suas próprias obras e ambição. Mas, ao menos, que sejam capazes de dar aos cidadãos de boa vontade exemplos de sublime humildade ou de sábia abdicação.

(Com uma dedicatória ao Eduardo Ferro Rodrigues.)
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TERROR EM ARGEL

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terça-feira, abril 10

SEM TÍTULO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

No verão, por vezes, o vento Leste invade
a urbe. O vento da meseta – que o povo
diz não trazer nada de bom -, seca tudo
na sua frente. Também a cidade
está cheia de pessoas que secam tudo
na sua frente. Só conhecem pássaros
em gaiolas, árvores em toros
para crepitarem nas lareiras. O vento
cai, os insectos que arrastou
adubam os canteiros. As pessoas
duram todo o ano, estão sempre
vigilantes nas suas teias. De quem
falo – perguntas –. Ignoro! Abri
o computador a pensar num poema
e o texto foi invadido por um vento
cálido que não sei
para onde se dirige. Esperarei
Setembro, outra atmosfera, poderei
sair de casa, ir até ao correio,
escrever mensagens em que as aves
chilreiem, façam ninhos primaveris,
e pensar a cidade como se eu fosse
um forasteiro, com olhos de espanto:
carregar a memória com o crepúsculo,
coleccionar metáforas para,
no regresso, depositar
sob o teu olhar, avançar a mão
para a floresta, galopar intra-muros,
ouvir depois o boletim meteorológico
para saber onde iremos amanhã.

Egito Gonçalves
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GOSTOS NÃO SE DISCUTEM!

A NATUREZA DO MAL

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segunda-feira, abril 9

PERDIDO NA MULTIDÃO

(Clicar para ampliar)
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Adeptos do Farense assitindo a um jogo de futebol algures (Estádio do Jamor?) fora de Faro. Podem observar-se diversas figuras típicas de Faro, como o "Gaiana". Mas o mais curioso foi ter-me descoberto, a mim próprio, no meio da turba.
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A POESIA ESTÁ NA RUA

Posted by PicasaImagem daqui

A Poesia Está Na Rua” na recta final. Descobri agora, no site de Daniel Faria, a imagem que foi criada para o projecto da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e do INATEL, em 1999, pelo 25º Aniversário do 25 de Abril.

Por triste ironia do destino Daniel Faria havia de morrer pouco tempo depois da concretização deste projecto.

O exercício de juntar uma das 94 fotografias, que o Hélder Gonçalves me disponibilizou, a cada um dos poemas que constam daquela colecção, torna-se cada vez mais difícil.

A partir de hoje o ritmo de publicação vai passar a ser quase diário culminando, salvo qualquer imprevisto, no próprio dia 25 de Abril.
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Charles Baudelaire

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domingo, abril 8

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Para que nasças no mês anterior
Para que nasças muito antes de chegares

Para que amanheças já aberta e recortada
No tempo anterior à tua vinda
Para que amanheças
Ó rosa anterior

Para que venhas
Mesmo antes de seres compreendida. Ainda
Antes da terra te poder gerar. Ó rosa
Já florida

Daniel Faria
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Dietrich Bonhoeffer

Posted by PicasaDietrich Bonhoeffer

A propósito da leitura do capítulo intitulado “Le “sans dieu” chez Camus et Bonhoeffer” do livro de Arnaud Corbic: “Camus et l’homme sans Dieu”, confrontei-me com a biografia de Dietrich Bonhoeffer.

Por agora assinalo que a 9 de Abril de 1945, três semanas antes da capitulação nazi, Bonhoeffer foi enforcado por ordem expressa de Hitler após ter sido implicado no “putsch” de 20 de Julho de 1944 contra o ditador alemão.

Dietrich Bonhoeffer fez parte dos protestantes alemães que resistiram ao nazismo e deu a vida pela liberdade.
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sábado, abril 7

FIDELIDADE À TERRA

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Regresso ao céu
da minha inocência
Aprendi tudo olhando
além da imensa luz
Na terra sagrada dos meus
o voo das gaivotas outra vez
Rasga no claro da manhã
o traço em que renasço

7/4/2007
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quinta-feira, abril 5

POESIA EUROPEIA NOS USA

Aplaudo de pé esta iniciativa. Só não entendo, sem prejuízo do mérito dos 5 poetas portugueses escolhidos, a razão da selecção de Manuel Alegre. Acho que, atendendo à natureza da iniciativa, e ao número restrito de poetas por país (5), Portugal devia ter seguido o exemplo de Espanha que não escolheu qualquer poeta vivo. Quem terá feito a selecção? Qual a razão da exclusão de Jorge de Sena? É um dos maiores poetas portugueses de sempre, está morto e, ainda por cima, viveu, trabalhou e está sepultado nos USA. Porquê Alegre e não Sena? Sem rancor! Faz pena!

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Um esclarecimento acerca da origem da selecção dos poetas portugueses.
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JESSICA BIEL

Posted by PicasaJessica Biel Tops Sexy Poll

O pessoal da CGTP que me desculpe mas esta mudança tem o maior significado.

Mesmo nas coisas fúteis há mudanças. Como diz o poeta: “O mundo é feito de mudança …”.

A Scarlett Johansson, coitada, moça muito discreta e possuidora de cérebro (digo-o, de fonte segura, pois não tenho o prazer de a conhecer) foi destronada pela Jessica Biel.

Acho que todos ficamos a perder mas alguém terá ficado a ganhar.

O PROBLEMA CLÁSSICO DOS GOVERNOS PORTUGUESES

Posted by PicasaFotografia de Sophie Thouverin

O artigo, com o título em epígrafe, versa, mais uma vez, o problema do deficit. Integro no corpo do artigo, a propósito do tema, o discurso de tomada de posse de Salazar como Ministro das Finanças, proferido em 27 de Abril de 1928, véspera do seu 39º aniversário.

Salazar foi Ministro das Finanças durante mais de quatro anos, entre Abril de 1928 e Julho de 1932 tendo, posteriormente, durante um largo período, até Agosto de1940, acumulado as funções de Primeiro-ministro com a pasta das finanças.

A abordagem do tema nada tem a ver com as recentes alegorias ao tema, a propósito de um concurso televisivo, pois já anteriormente tinha publicado, separadamente, aquele discurso, e me interessa, apesar de não ser historiador, o papel de Salazar no período da chamada “ditadura nacional”.

Neste caso o assunto veio à baila despertado por um artigo de opinião de Vasco Pulido Valente no qual se desvaloriza a política de redução do deficit do actual governo afirmando que este é o “problema clássico dos governos portugueses” com excepção dos governos de Salazar.

Apesar do tema ser controverso há razões para acreditar que o problema do deficit foi, como o próprio discurso de Salazar demonstra, o primeiro e mais importante problema com que este se defrontou quando assumiu a pasta das finanças em 1928. E não deixa de ser significativo que só a partir de 1940 Salazar tenha deixado de ser Ministro das Finanças em acumulação, desde 1932, com as funções de presidente do Conselho.

Ler, na íntegra, aqui e aqui.

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[Suprimi no texto original, que é publicado no “SE”, uma palavra que prejudicava o entendimento da frase na qual se integra e ilustro com uma fotografia que, como muitas vezes me apetece fazer nada tem a ver, aparentemente, com o tema do post/artigo respectivo…
mistérios!]
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NANI

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O meu filho, no outro dia, foi à bola ver o Sporting – Beira-Mar. Depois do empate no Benfica – Porto a disputa era decisiva para que os sportinguistas pudessem continuar a sonhar com o título. Em boa verdade, nas últimas décadas, têm passado a maior parte do tempo a sonhar. Ele já sabe o que isso é.

Mas ao regressar do jogo, no qual o Sporting saiu vitorioso, vinha indignado. Os adeptos do Sporting fartaram-se de zurzir o Nani e até o assobiaram: “Tá mal! O Nani cruza e não é capaz de recolher o esférico”. "Tá mal! E depois quer aumento de ordenado!”

Tá mal! O Nani não é capaz de estar, ao mesmo tempo, em dois lugares! O povo exige que o Nani, numa só jogada recupere o esférico, execute o passe certeiro, receba o seu próprio passe, remate ao ângulo e faça golo de bandeira! Puxa!

É que o povo do futebol vai à bola aspirando ver milagres que a vida lhe nega e o meu filho está a descobrir como é difícil conviver com o fanatismo que mata a verdadeira racionalidade.

Aqui só para nós, amantes do futebol, o Nani é um diamante!
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