“Como é evidente, a revolta dos barões portucalenses não foi, de início, comandada por Afonso Henriques. Em 1122 ele era demasiado jovem para tomar uma decisão desse género. Resultou, portanto, de um movimento espontâneo da aristocracia portucalense, sem intervenção do príncipe. Como foi que ele resolveu tomar o seu comando?”
“Não é provável que se tivesse deixado envolver no movimento que, segundo a minha hipotética reconstrução, teria sido comandado por seu aio Ermígio Moniz. Mesmo que tenha sido este o seu aio e que vivesse com ele até aos 11 ou 12 anos, deixou, em 1120, de estar na sua dependência, porque, a partir de então, encontramos muitas vezes a sua subscrição nos documentos de D. Teresa. (…)
Até 1127, não se pode apontar nenhum indício seguro de qualquer conflito entre ele e a “rainha”. A evolução dos seus sentimentos deve ter ficado marcada pela cerimónia de investidura como cavaleiro, em 1125 ou 1126, mas as dúvidas acerca das circunstâncias em que esta se deu impedem-nos de estabelecer uma relação clara entre os factos.”
(…)
“Os autores modernos que adoptam uma interpretação voluntarista do papel do infante, e que lhe atribuem desde o princípio a chefia da revolta, como faz, implicitamente, o autor dos Anais, tendem, por isso, a colocar neste momento o início do afastamento do infante para com a sua mãe e fazem da cerimónia cavaleiresca um acto de rebeldia.”
(…)
“Se aceitarmos a veracidade da referencia ao lugar, (Zamora) teremos, logicamente, de admitir que a cerimónia se teria realizado com o acordo de D. Teresa, e, dadas as suas relações com Fernão Peres, também com o seu consentimento. Dir-se-ia que se tratava de assegurar os direitos de D. Afonso à sucessão, quem sabe se para apaziguar a oposição dos barões portucalenses ou para prevenir a concorrência de um eventual filho de Teresa e Fernão Peres aos direitos sucessórios do infante.”
(…)
“Todavia, se esta manobra se destinava também, na mente de D. Teresa e dos Travas, a apaziguar os protestos dos nobres portucalenses, não teve o efeito que desejavam. Em vez de esvaziar a sua oposição, teve o efeito contrário, a julgar pela nova vaga de deserções da corte, nesse mesmo ano de 1125, como já vimos.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”A investidura de Afonso Henriques como cavaleiro”, pgs. 38/39. (10)
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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, junho 9
sexta-feira, junho 8
POESIA
Dane Shitagi USA, b.1972
Poesia uma dança de palavras sem medo
volteando em torno do seu próprio silêncio
ora de oiro ora de prata
Poesia um tempo solitário assumido
no limite do espaço infindável da invenção
ora sonho ora nada
Poesia um caminho que se alarga crente
no tempo luminoso de uma vida irrepetível
ora livre ora escrava
Poesia uma plenitude nunca alcançada
o espaço da verdade dita ao ritmo da palavra
ora escrita ora apagada
Lisboa, 4 de Junho de 2007
[Inaugurando Caderno de Poesia que acolherá, a partir de hoje, a poesia, própria e alheia, que carecia, há muito, de um espaço autónomo no qual pudesse respirar.]
Poesia uma dança de palavras sem medo
volteando em torno do seu próprio silêncio
ora de oiro ora de prata
Poesia um tempo solitário assumido
no limite do espaço infindável da invenção
ora sonho ora nada
Poesia um caminho que se alarga crente
no tempo luminoso de uma vida irrepetível
ora livre ora escrava
Poesia uma plenitude nunca alcançada
o espaço da verdade dita ao ritmo da palavra
ora escrita ora apagada
Lisboa, 4 de Junho de 2007
[Inaugurando Caderno de Poesia que acolherá, a partir de hoje, a poesia, própria e alheia, que carecia, há muito, de um espaço autónomo no qual pudesse respirar.]
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quinta-feira, junho 7
quarta-feira, junho 6
JORNALISMO DE SARJETA
Simon Gris
Escutas comprometem António Costa
O jornalismo que nós temos permite que a edição on line do “Sol” apresente um estranho título na notícia acerca do presumível “Serial-killer” de Santa Comba Dão. Será incompetência da redacção ou pura sacanice? O que será?
Escutas comprometem António Costa
O jornalismo que nós temos permite que a edição on line do “Sol” apresente um estranho título na notícia acerca do presumível “Serial-killer” de Santa Comba Dão. Será incompetência da redacção ou pura sacanice? O que será?
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DENÚNCIAS ANÓNIMAS
Simon Gris
A maior parte das queixas anónimas vão ter como destino o caixote do lixo.
Não sou eu que o digo. É o DN no âmbito de uma notícia em que se anuncia que o
“Código de Processo Penal muda este ano”.
Eu disse isso mesmo numa entrevista que veio a público no dia 31 de Janeiro de 2003: A minha postura é que as cartas anónimas são para o caixote do lixo.
A maior parte das queixas anónimas vão ter como destino o caixote do lixo.
Não sou eu que o digo. É o DN no âmbito de uma notícia em que se anuncia que o
“Código de Processo Penal muda este ano”.
Eu disse isso mesmo numa entrevista que veio a público no dia 31 de Janeiro de 2003: A minha postura é que as cartas anónimas são para o caixote do lixo.
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CARMONA ARRANCA PARA O FEIINHO
Imagem daqui
A cena podia ser uma variante da “aldeia da roupa branca” em ambiente urbano. Carmona engasga-se comovido quando se refere a Fontão, Ruy de Carvalho, qual basbaque, parecia não saber ao que ia, Gabriela Seara ensaia a pose de uma personagem de Fellini, Toy arranca com o hino, género pimba contemporâneo, todos esboçam um movimento de lábios, é a confirmação da encenação do coitadinho. Até onde chegará esta reincarnação do populismo? Ao que tudo indica, pela amostra, vai dar para o feiinho!
A cena podia ser uma variante da “aldeia da roupa branca” em ambiente urbano. Carmona engasga-se comovido quando se refere a Fontão, Ruy de Carvalho, qual basbaque, parecia não saber ao que ia, Gabriela Seara ensaia a pose de uma personagem de Fellini, Toy arranca com o hino, género pimba contemporâneo, todos esboçam um movimento de lábios, é a confirmação da encenação do coitadinho. Até onde chegará esta reincarnação do populismo? Ao que tudo indica, pela amostra, vai dar para o feiinho!
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terça-feira, junho 5
segunda-feira, junho 4
SUFJAN STEVENS
Sufjan Stevens
O melhor vídeo de Maio foi sem dúvida The lakes of Canada de Sufjan Stevens, com muito vento, frio e um banjo. Gravado no telhado do Memorial Hall de Cincinnati a 28 de Maio, insere-se numa série de gravações improvisadas de lablogotheque, na rua, em corredores ou elevadores, porque qualquer sítio é um bom sítio para filmar.
In Auto-retrato
O melhor vídeo de Maio foi sem dúvida The lakes of Canada de Sufjan Stevens, com muito vento, frio e um banjo. Gravado no telhado do Memorial Hall de Cincinnati a 28 de Maio, insere-se numa série de gravações improvisadas de lablogotheque, na rua, em corredores ou elevadores, porque qualquer sítio é um bom sítio para filmar.
In Auto-retrato
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O PACTO DE TUI
Dou um salto cronológico para assinalar o “Pacto de Tui” assinado no dia 4 de Junho de 1137. Passam hoje, precisamente, 870 anos. Até à assinatura desse pacto Afonso Henriques não desistira de atacar a fronteira norte, ou seja, o território do reino da Galiza.
“…Afonso Henriques aproveitou a rebelião de Garcia de Navarra, como afirmam a História compostelana e a Crónica do Imperador para ocupar pela força os condados de Toroño e de Límia. Este ataque deve ter-se efectuado depois de 1136, quando o Infante fez uma importante doação ao mosteiro galego de Toujos Outos.”
(…)
“Fernão Peres de Trava e Rodrigo Veilaz, conde de Sárria, com outros nobres galegos, procuraram defender os direitos de Afonso VII, opondo-se pelas armas aos portugueses. Os dois exércitos encontraram-se em Cerneja, nas terras de Límia, e travaram uma batalha, tendo Afonso Henriques conseguido capturar Rodrigo Veilaz. Afonso VII estava nessa altura em Palência. Apesar da distância, mais de 300 quilómetros, marchando de dia e de noite, conseguiu chegar a Tui três dias depois e entrava na cidade sem combate.”
(…)
“Sem que haja, pois, notícia de qualquer combate, o facto é que o imperador se encontrou com seu primo (Afonso Henriques) na cidade de Tui, e aí firmou com ele um pacto de que existe ainda o texto (provavelmente parcial). Foi assinado por Afonso Henriques no dia 4 de Junho de 1137. A evidente submissão que este acto representa é surpreendente, face à anterior vitória de Cerneja. Tem-se procurado explicar a efectiva cedência de Afonso Henriques por ter sido obrigado a acorrer à fronteira sul para defender o território contra uma invasão muçulmana.”
(…)
“Afonso VII devia estar disposto a deixar seu primo tranquilo, contanto que este lhe respeitasse a supremacia, lhe guardasse lealdade e jurasse auxiliá-lo no caso de ser atacado por algum inimigo. (…) Afonso Henriques, por sua vez, pressionado, talvez, por alguma incursão serracena, pode ter assinado o compromisso sem se preocupar demasiado com o seu futuro cumprimento.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, 9.”A homenagem a Afonso VII” – "Nova conjuntura em Leão e Castela”, “O pacto de Tui” e “A opinião dos eruditos”, pgs. 100/103. (9)
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“…Afonso Henriques aproveitou a rebelião de Garcia de Navarra, como afirmam a História compostelana e a Crónica do Imperador para ocupar pela força os condados de Toroño e de Límia. Este ataque deve ter-se efectuado depois de 1136, quando o Infante fez uma importante doação ao mosteiro galego de Toujos Outos.”
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“Fernão Peres de Trava e Rodrigo Veilaz, conde de Sárria, com outros nobres galegos, procuraram defender os direitos de Afonso VII, opondo-se pelas armas aos portugueses. Os dois exércitos encontraram-se em Cerneja, nas terras de Límia, e travaram uma batalha, tendo Afonso Henriques conseguido capturar Rodrigo Veilaz. Afonso VII estava nessa altura em Palência. Apesar da distância, mais de 300 quilómetros, marchando de dia e de noite, conseguiu chegar a Tui três dias depois e entrava na cidade sem combate.”
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“Sem que haja, pois, notícia de qualquer combate, o facto é que o imperador se encontrou com seu primo (Afonso Henriques) na cidade de Tui, e aí firmou com ele um pacto de que existe ainda o texto (provavelmente parcial). Foi assinado por Afonso Henriques no dia 4 de Junho de 1137. A evidente submissão que este acto representa é surpreendente, face à anterior vitória de Cerneja. Tem-se procurado explicar a efectiva cedência de Afonso Henriques por ter sido obrigado a acorrer à fronteira sul para defender o território contra uma invasão muçulmana.”
(…)
“Afonso VII devia estar disposto a deixar seu primo tranquilo, contanto que este lhe respeitasse a supremacia, lhe guardasse lealdade e jurasse auxiliá-lo no caso de ser atacado por algum inimigo. (…) Afonso Henriques, por sua vez, pressionado, talvez, por alguma incursão serracena, pode ter assinado o compromisso sem se preocupar demasiado com o seu futuro cumprimento.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, 9.”A homenagem a Afonso VII” – "Nova conjuntura em Leão e Castela”, “O pacto de Tui” e “A opinião dos eruditos”, pgs. 100/103. (9)
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domingo, junho 3
PUTIN
Fotografia daqui
Primeiro Putin afirmou que a “Europa é um "barril de pólvora" e, de seguida, ameaçou a Europa com mísseis nucleares.
Não se conhecem reacções dos políticos portugueses a estas declarações do presidente da Rússia. Devem estar em reflexão. O que verdadeiramente os preocupa é a OTA e o perigo que Sócrates representa para a democracia. São uns brincalhões …
Logo, por coincidência, são dois políticos portugueses – Barroso e Sócrates – que vão estar na “cabeça do touro”, ou seja, enfrentando, na primeira linha, o recrudescimento da guerra-fria que se desenha, de forma aberta, com estas declarações de Putin.
Talvez fosse chegado o momento dos políticos portugueses, os lideres de opinião e os donos dos grandes “media”, darem um pouco mais de atenção aos temas internacionais que condicionam o futuro da Europa e, consequentemente, de Portugal. Ou pensam ser possível um regresso à autarcia?
Primeiro Putin afirmou que a “Europa é um "barril de pólvora" e, de seguida, ameaçou a Europa com mísseis nucleares.
Não se conhecem reacções dos políticos portugueses a estas declarações do presidente da Rússia. Devem estar em reflexão. O que verdadeiramente os preocupa é a OTA e o perigo que Sócrates representa para a democracia. São uns brincalhões …
Logo, por coincidência, são dois políticos portugueses – Barroso e Sócrates – que vão estar na “cabeça do touro”, ou seja, enfrentando, na primeira linha, o recrudescimento da guerra-fria que se desenha, de forma aberta, com estas declarações de Putin.
Talvez fosse chegado o momento dos políticos portugueses, os lideres de opinião e os donos dos grandes “media”, darem um pouco mais de atenção aos temas internacionais que condicionam o futuro da Europa e, consequentemente, de Portugal. Ou pensam ser possível um regresso à autarcia?
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sábado, junho 2
D. AFONSO HENRIQUES - RESPONSABILIDADES POLÍTICAS
Voltando à génese do conflito que opôs D. Teresa a seu filho Afonso Henriques de passagem para a segundo capítulo do livro de José Mattoso do qual temos vindo a transcrever alguns sublinhados da minha leitura pessoal.
“Ora, durante os seis anos que se seguiram à instalação de Fernão Peres de Trava (em Janeiro de 1121) na região de Coimbra e ao sancionamento da sua autoridade pela “rainha” D. Teresa, aqueles nobres, (a “aristocracia nortenha”) que até então confirmavam a maioria dos diplomas condais, deixaram de aparecer na corte.”
(…)
“Não conhecemos os pormenores da divergência que opôs os senhores portucalenses a D. Teresa e aos Travas, mas o mais verosímil é que Fernão Peres, uma vez adquirida a tenência de Coimbra, os excluísse de qualquer papel de chefia no combate contra o Islão e, por conseguinte, da glória inerente à participação destacada na guerra santa e das vantagens materiais e simbólicas que dai adviriam.”
(…)
“Os documentos de que hoje dispomos nada dizem acerca do que se passou então, no que concerne às relações entre os senhores revoltados e D. Teresa. Só sabemos que deixaram de confirmar documentos condais., o que quer dizer que abandonaram a corte.”
(…)
“Não temos meios de seguir os acontecimentos no terreno, mas o facto de, em 1125, se ter verificado uma segunda vaga de deserções da corte significa que, nesse ano, o movimento ganhou tal força que se tornou difícil contê-lo. Ignoramos se houve então algum episódio que provocou o alastramento da revolta, ao ponto de deixarem a rainha e os Travas quase completamente isolados.
(…)
“Como é evidente, a revolta dos barões portucalenses não foi, de início, comandada por Afonso Henriques. Em 1122 ele era demasiado jovem para tomar uma decisão desse género. Resultou, portanto, de um movimento espontâneo da aristocracia portucalense, sem intervenção do príncipe. Como foi que ele resolveu tomar o seu comando?”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “2. Responsabilidades políticas” – "A aristocracia nortenha e os condes galegos” e “A investidura de Afonso Henriques como cavaleiro”, pgs. 36/38. (8)
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“Ora, durante os seis anos que se seguiram à instalação de Fernão Peres de Trava (em Janeiro de 1121) na região de Coimbra e ao sancionamento da sua autoridade pela “rainha” D. Teresa, aqueles nobres, (a “aristocracia nortenha”) que até então confirmavam a maioria dos diplomas condais, deixaram de aparecer na corte.”
(…)
“Não conhecemos os pormenores da divergência que opôs os senhores portucalenses a D. Teresa e aos Travas, mas o mais verosímil é que Fernão Peres, uma vez adquirida a tenência de Coimbra, os excluísse de qualquer papel de chefia no combate contra o Islão e, por conseguinte, da glória inerente à participação destacada na guerra santa e das vantagens materiais e simbólicas que dai adviriam.”
(…)
“Os documentos de que hoje dispomos nada dizem acerca do que se passou então, no que concerne às relações entre os senhores revoltados e D. Teresa. Só sabemos que deixaram de confirmar documentos condais., o que quer dizer que abandonaram a corte.”
(…)
“Não temos meios de seguir os acontecimentos no terreno, mas o facto de, em 1125, se ter verificado uma segunda vaga de deserções da corte significa que, nesse ano, o movimento ganhou tal força que se tornou difícil contê-lo. Ignoramos se houve então algum episódio que provocou o alastramento da revolta, ao ponto de deixarem a rainha e os Travas quase completamente isolados.
(…)
“Como é evidente, a revolta dos barões portucalenses não foi, de início, comandada por Afonso Henriques. Em 1122 ele era demasiado jovem para tomar uma decisão desse género. Resultou, portanto, de um movimento espontâneo da aristocracia portucalense, sem intervenção do príncipe. Como foi que ele resolveu tomar o seu comando?”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “2. Responsabilidades políticas” – "A aristocracia nortenha e os condes galegos” e “A investidura de Afonso Henriques como cavaleiro”, pgs. 36/38. (8)
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AS VOZES
O meu irmão Dimas com Ezequiel, meu primo mais velho,
um honrado homem do campo. Já mortos. [Fotografia de família]
As vozes na noite quente
e os passos lá fora,
uma aragem corta o calor
intenso do verão ardente,
ouço o meu tempo passado
ao luar escoar-se
e lembro os rostos gretados
do sol, os braços nus
as veias e o suor salgado
a gotejar na terra seca,
ressequida, revolta
a golpes de enxada
As vozes na noite quente
estou nelas inteiro
e nelas ouço a minha gente.
Faro, 15 de Julho de 2004
(Um poema antigo na sequência
dos exercícios da Helena acerca
da textura do silêncio, e o mais,
correndo o risco de me repetir.
Mas não nos repetimos sempre?]
um honrado homem do campo. Já mortos. [Fotografia de família]
As vozes na noite quente
e os passos lá fora,
uma aragem corta o calor
intenso do verão ardente,
ouço o meu tempo passado
ao luar escoar-se
e lembro os rostos gretados
do sol, os braços nus
as veias e o suor salgado
a gotejar na terra seca,
ressequida, revolta
a golpes de enxada
As vozes na noite quente
estou nelas inteiro
e nelas ouço a minha gente.
Faro, 15 de Julho de 2004
(Um poema antigo na sequência
dos exercícios da Helena acerca
da textura do silêncio, e o mais,
correndo o risco de me repetir.
Mas não nos repetimos sempre?]
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