sexta-feira, julho 11

CAMINHOS DA MEMÓRIA

Pano de fundo do I Congresso do MES (Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa)

Hoje nos Caminhos da Memória: I Congresso do MES - algumas reflexões tardias
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O ESTADO DA NAÇÃO


Li, atentamente, o discurso que o primeiro-ministro proferiu hoje no Parlamento porque atribuo relevância ao debate político em geral e, em particular, quando se trava nos momentos em que os governos enfrentam crises graves. Para o que me havia de dar! Para falar, ou escrever, concordar ou criticar, é necessário conhecer minimamente as matérias sobre as quais se fala ou se escreve. Parece elementar, mas não é!

O discurso do primeiro-ministro está bem construído. Defende os aspectos centrais da política do governo, como seria de esperar, reconhece a crise mundial, com forte incidência nacional, que se pode sintetizar como “3º choque petrolífero”, é determinado e corajoso, quanto baste, e apresenta, de forma clara e perceptível para o comum dos cidadãos, medidas de natureza social que se resumem numa frase quase no final do discurso:

Não seria de esperar que o primeiro-ministro, num debate deste tipo, se arriscasse a tocar todas as matérias do arco da governação mas parece-me que ficou aquém das expectativas quanto, pelo menos, à abordagem das matérias da economia, com um desejável enfoque nas pequenas e médias empresas, assim como na reforma da justiça cuja “marcha lenta” condiciona, de forma brutal, o “ambiente envolvente” do desenvolvimento socioeconómico do país.

Mas o mais relevante na minha apreciação do “estado da nação”, certo que apreciei de forma positiva o discurso, é a distância entre as intenções anunciadas e a capacidade para as concretizar de forma adequada à realidade concreta da nossa sociedade.

O governo não se resume à figura do primeiro-ministro, nem as políticas dos governos se resumem a discursos e anúncios. Há uma miríade de dirigentes intermédios, a todos os níveis da administração, e uma multiplicidade de decisões e processos de trabalho, altamente exigentes, cuja qualidade de execução tem estado muito aquém das boas ideias, intenções e propostas do primeiro-ministro.

Um comandante determinado pode não ser suficiente para levar à vitória, ainda para mais numa conjuntura adversa, um exército pejado de oficiais incompetentes, que se comprazem em dar tiros nos pés ou se atropelam no afã de apresentar trabalho, assegurando lugares e prebendas, sem cuidar de administrar as políticas com a parcimónia, ousadia e eficácia que o “estado da nação” exige.

[Uma nota de rodapé para o novo líder do PSD em cujas inflexões discursivas se insinuam, sem desprimor, ecos da inconfundível e melíflua voz de Salazar.]
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quinta-feira, julho 10

A (IN) JUSTIÇA FISCAL

Miguel Rio Branco

A injustiça fiscal – que consiste numa administração fraca para com os fortes e forte para com os fracos – vai contribuir para o afundamento do governo socialista e da sua liderança. Pelo que conheço não há volta a dar! As iniquidades são mais do que muitas e flagrantes! A falta de sentido de justiça e a desproporcionalidade das sanções – na área fiscal – aplicadas a muitos milhares de cidadãos honestos e a empresas no limiar da sobrevivência – ou que já nem sequer existem – é, ao que parece, irreversível. O governo socialista assume-se, cada vez mais, nas questões que tocam a vida quotidiana dos cidadãos e das empresas, como uma espécie de produto “marca branca”. E em política, como em tudo, a perda de identidade, em particular nas questões de justiça, paga-se cara. A ver vamos como dizia o cego!
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GUERRILHEIRO SENTIMENTAL

Vi, de longe, Eurico de Figueiredo, um exilado, na verdadeira acepção da palavra e também da política contemporânea (como o compreendo!) numa visita a Cuba, faz agora um ano. Viajamos em grupos diferentes e não nos chegámos a falar. Encontrei-o mais tarde numa exposição de pintura e mostrou-me o seu desencanto com o que havia visto e sentido naquela viagem. No tempo de todos os desencantos é um bálsamo ser confrontado com este título: “Guerrilheiro Sentimental”. [A partir daqui.]

quarta-feira, julho 9

fazer tudo o que se exige a um homem fazer.


Não posso deixar mais tempo esta folha em branco por assinalar com um rabisco qualquer, o desejo de participar, estar presente, testemunhar, o medo da folha em branco, por esquecimento de nela assinar a palavra, uma palavra, qualquer palavra, o desejo de pertencer a um espaço, comunidade, lugar, escrever depressa, sem errar, sem entrar no trilho da escrita automática de que tenho ouvido falar e da qual às vezes sinto que passo mesmo a rasar, como agora, cansado, ao fim da noite, com a cabeça a tombar no teclado, num último estertor de energia, no fim do dia, cansado, como o meu pai se devia sentir cansado no fim do seu tempo, MANTENDO A VONTADE DE SE MOSTRAR DIGNO, RECOLHENDO-SE, REZANDO, REGRESSANDO AO TEMPO DAS ÁRVORES DE FRUTOS EM CUJA SOMBRA DESFRUTAVA DE TODO O TEMPO DO MUNDO, PARA PENSAR COMO FUGIR À MISÉRIA E CRIAR FAMÍLIA, QUE CRIOU, como tantos homens e mulheres do seu tempo que aprendi a admirar, DEIXANDO-ME A MIM QUASE PARA O FIM, como me sinto ligado a todas as tradições que os meus em mim depositaram sem saber e interrogo-me se serei capaz de legar a mesmo doce áurea de uma vida impoluta de fazer tudo o que se exige a um homem fazer. 8/7/2008

[Transcrito do Diário]
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O AUTOMÓVEL ELÉCTRICO

A construção do automóvel 100% eléctrico vai mesmo avançar. Em Portugal foi hoje formalmente apresentado o projecto da parceria Nissan-Renault, após a Dinamarca (o primeiro país da UE que entrou em recessão técnica) e Israel. Resta saber onde será construído o carro eléctrico: talvez em Marrocos (mais certo no Japão). Sócrates tenta colocar Portugal na linha da frente das soluções energéticas do futuro. Perguntará atónita a Dra. Manuela: haverá dinheiro para um investimento destes? E estudos custo/benefício? É um novo mundo que se abre à nossa frente e, sem prejuízo dos mesmos, há mais vida para além dos estudos!
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terça-feira, julho 8

LETRA DE FORMA

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OS CALORES DO VERÃO



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SEDES: NOVIDADE=0

Sophie Thouvenin

Depois de ler as notícias que anteciparam o mais recente documento da SEDES pensei que se tratasse de uma tomada de posição política arrasadora da acção do governo. Assim uma espécie de manifesto da oposição contra as políticas dos governos de Salazar e Caetano com as tonalidades próprias de um combate pela mudança de regime. Alguma coisa verdadeiramente estimulante. Afinal não! Esperei para ler o documento na íntegra e o que dele transparece são comentários razoáveis ao “estado da nação” apontando desvios em cada uma das áreas abordadas à medida das orientações ideológicas dos autores. Trata-se, pois, mais de um conjunto de recados dirigidos ao governo e, em particular, ao ministro A ou B do que uma crítica estruturada à acção do governo que para tal seria necessário pegar no seu programa e escalpelizá-lo. A SEDES não envereda por esse caminho e fica-se, com mérito, pelo comentário político permitindo, por demérito comunicacional, que a opinião pública não se sinta absolutamente nada chocada com a denúncia de um abrandamento da densidade das reformas promovidas pelo governo porque vêm aí eleições. Estavam à espera que o governo, em véspera de eleições, desencadeasse uma “guerra civil”?
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FIDEL: PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE POLÍTICA QUE O PCP NÃO APREENDE

Rene Burri

A sua imagen no diploma escolar é uma surpreendente faceta do culto da personalidade que o regime cubano, apesar de todos os disfarces, presta a Fidel Castro. Mas acerca da Colômbia, Fidel, no fim da vida activa, dá uma elementar lição de política aos dirigentes do PCP que estes não apreendem. Vale a pena ler o artigo “La paz romana” na íntegra.

Expresé con claridad nuestra posición en favor de la paz en Colombia, pero no estamos a favor de la intervención militar extranjera ni con la política de fuerza que Estados Unidos pretende imponer a toda costa y a cualquier precio a ese sufrido y laborioso pueblo.

Critiqué con energía y franqueza los métodos objetivamente crueles del secuestro y la retención de prisioneros en las condiciones de la selva. Pero no estoy sugiriendo a nadie que deponga las armas, si en los últimos 50 años los que lo hicieron no sobrevivieron a la paz. Si algo me atrevo a sugerir a los guerrilleros de las FARC es simplemente que declaren por cualquier vía a la Cruz Roja Internacional la disposición de poner en libertad a los secuestrados y prisioneros que aún estén en su poder, sin condición alguna. No pretendo que se me escuche; cumplo el deber de expresar lo que pienso. Cualquier otra conducta serviría sólo para premiar la deslealtad y la traición. [Sublinhado meu.]
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segunda-feira, julho 7

CULTO DA PERSONALIDADE

Un diploma y mucha confusión, ou seja, o diploma de 7º ano do filho de Yoani Sanchez
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TGV

Martine Franck
The new train at the station "L'Homme de Fer."

Esta direita cujos interesses o PSD acolhe, centrifugando dirigentes a uma velocidade estonteante, consegue deixar de cara à banda qualquer vulgar cidadão. Eu não me queria meter por estes atalhos pois negócios são negócios e o TGV não está à margem dos interesses que se movem à ilharga e por dentro da política.

Mas, se bem entendo, aqueles que hoje são contra o TGV são os mesmos que antes o defendiam, com mais linhas, entre linhas e encargos. (através daqui).

Não se sabe, é certo, se Manuela Ferreira Leite é contra o TGV. O que ela diz é que não há dinheiro para nada e Cavaco parece que começou a mostrar o seu jogo ensaiando jogar o jogo dela, ou vice-versa.

O mais certo é que esta direita ultramontana, dos costumes às realizações materiais, nacional paternalista, clame contra a construção de uma estrada de ferro moderna que nos ligue à Europa, necessária por razões de integração no espaço geoestratégico que é o nosso, por razões de ecologia, por razões de economia, por todas as razões que a direita também conhece mas que, no lugar da oposição, desdenha.

Face a esta deriva, ao governo socialista compete, ponderada a relação custo benefício e o interesse nacional, fazer como Duarte Pacheco em relação a Salazar: realizar a obra que os cépticos e detractores depois se hão-de montar nela (a obra) e tecer-lhe loas como se fora obra sua!
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NUCLEAR

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sexta-feira, julho 4

Fidel, o PCP e a libertação de Ingrid Betancourt -

Burt Glinn - CUBA. CASTRO, Fidel. 2001.

Que mais não seja para efeitos de comparação de estilos a declaração de Fidel Castro, a propósito da libertação de Ingrid Betancourt é, politicamente, bastante cuidada ao contrário da do PCP. A diferença está no parágrafo, que transcrevo a seguir:

No restante não há diferenças de fundo mas há limites que Fidel sabe, por experiência, que não podem, nem devem, ser ultrapassados. E um desses limites é, mesmo descontando o cinismo próprio da diplomacia, o que ele designa como “elementar sentimento de humanidade”.
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quinta-feira, julho 3

PALAVRAS DE ORDEM

Às voltas com uma pesquisa dei de caras com uma listagem de palavras de ordem retiradas da colecção de Murais Artísticos de Abril, de Conceição Neuparth, depositada e tratada pelo Centro de Documentação 25 de Abril. Algumas delas pertencem inexoravelmente ao passado mas outras, à falta de ideias, ainda podem servir de inspiração a algumas lideranças partidárias.


A revolução triunfará
A terra a quem a trabalha
A vitória é difícil mas é nossa
Abaixo a exploração capitalista
Casas sim! Barracas não!
Dá mais força à liberdade
Democracia em Portugal só com Freitas do Amaral
Em frente com a Reforma Agrária
Fora com a canalha o Poder a quem trabalha
GNR fora das cooperativas
Greve ao papel higiénico. Compremos os jornais
Independência Nacional
Já não há eleições. D. Sebastião volta para a semana
Junta a tua à nossa voz
Morte ao fascismo
Não ao aumento do custo de vida
Nato fora de Portugal, Portugal fora da Nato
Nem Deus nem Chefe
Nem mais um faroleiro para as Berlengas
Nem Nato nem Pacto de Varsóvia
Ninguém há-de calar a voz da classe operária
O Chile vencerá
O sol brilhará para todos nós
Operários, camponeses, soldados, marinheiros, unidos vencerão!
Otelo para Presidente
Pão Paz Terra Liberdade, Independência Nacional
Por uma vida melhor
Quem tem medo do comunismo?
Rumo ao Socialismo
Sem cultura não há liberdade
Todos unidos com o MFA
Unir – Organizar – Armar (PRP)
Unir Organizar Vencer (MDP)
Viva o 25 de Abril
Viva Staline eternamente na Sibéria
Voto do povo para a vitória do povo

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Ingrid Betancourt em liberdade



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Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
Em resposta a várias solicitações dos órgãos de comunicação social sobre a posição do PCP a propósito da operação de resgate de Ingrid Bettencourt por parte do exército nacional na Colômbia, o PCP considera o seguinte:
1. O resgate de Ingrid Bettencourt após um período em que esteve prisioneira na selva colombiana, coloca em evidência a gravidade da situação em que se encontram centenas de prisioneiros em ambos os lados do conflito e a necessidade de encontrar uma solução humanitária entre as partes.
2. Os complexos problemas em presença, exigem uma solução política e negociada de um conflito que se arrasta há mais de 40 anos sem solução, situação que é em si, inseparável da política de agravamento da exploração e de terrorismo de estado praticada pelo governo neo-fascista de Uribe, conforme tem vindo a ser denunciado pelas forças progressistas e democráticas da Colômbia.
3. O Povo colombiano poderá continuar a contar com a solidariedade dos comunistas portugueses na sua luta contra a opressão e exploração, pela justiça social, pela democracia e soberania nacional.

(A partir de um comentário de MFerrer que agradeço fui em busca da posição do PCP acerca da libertação de I.B.. Cada força política, em democracia, é livre de tomar as posições que entender sem o risco de rapto, degredo ou assassinato. Fico, ao menos, a saber que Ingrid Bettencourt foi resgatada “após um período em que esteve prisioneira na selva colombiana …” e que a Colômbia tem um governo “neo-fascista”. Prometo que vou dar mais um pouco de atenção a este conceito no caso em apreço e noutros.)
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quarta-feira, julho 2

Ingrid Betancourt

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MANUELA FERREIRA LEITE - NOCTURNOS (II)

Christine Lebeck - Nocturnes

Ainda a propósito da entrevista de Manuela Ferreira Leite (MFL) à TVI, está fora de causa a necessidade e relevância da oposição actuar segundos os processos que considere mais adequados e eficazes. Mesmo nas ditaduras, como todos sabemos, as oposições, embora actuando nas margens, ou fora da lei, de forma pacífica ou violenta, sempre existiram e existirão. Quanto mais em democracia! A questão está no patamar civilizacional em que se encontra a comunidade ao discutir os regimes políticos e as suas regras, nas quais se integra a questão das oposições. MFL disse que ao governo não compete fazer oposição à oposição. Compete-lhe governar. Estou de acordo. Mas à oposição, em democracia, compete mais do que bloquear as iniciativas e projectos do governo. À oposição compete apresentar alternativas quando as encontre melhores do que os projectos do governo ou concordar com os projectos do governo quando não lhes encontre melhores alternativas. É simples e fácil. MFL não é uma política caída do céu, desconhecedora de tudo e todos, uma virgem ofendida com a clausula dos projectos do governo. O jogo do fingimento de MFL não resistirá, como o debate de ontem mostrou, a um minuto de debate, a sério, com Sócrates. Pela simples razão, entre outras que não cabem neste já longo post, que MFL esteve presente no processo de gestação e decisão de todos os mais importantes projectos cujos estudos hoje afirma desconhecer. O azar de MFL é o facto de ter encontrado um primeiro-ministro – goste-se ou não do estilo – que é difícil de igualar no confronto com a adversidade. Quando antes alguns primeiros-ministros, ressalvados os seus méritos, se puseram ao fresco face às adivinhadas dificuldades da governação e aos expectáveis embaraços das explicações que deviam ao país, este primeiro-ministro parece que está disposto à luta (política, entenda-se) mesmo nas condições adversas que se desenham no horizonte. Ora esta atitude pessoal perante a política, indo além da política, faz toda a diferença!
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