segunda-feira, dezembro 8

POR MARES NUNCA ANTES NAVEGADOS


Estou a imaginar uma equipa de trabalho cuja missão é construir um petroleiro, um automóvel, um lustre, o que for, um produto mais ou menos complexo e exigente da concepção ao produto final. Nela trabalham pessoas utilizando os mais variados utensílios e técnicas, cronogramas e medidas, saberes e vontades. Existirão hierarquias, desde a administração ao pessoal operário, e dentro de cada departamento outras hierarquias e dentro de cada unidade mais pequena, cada vez mais especializada, existirão competências, mensuráveis por um processo de avaliação.

Se um membro de uma equipa de trabalho falhar no desempenho da sua tarefa pode pôr em causa o objectivo pré definido causando um prejuízo irreversível ao projecto e pondo em causa o seu posto de trabalho e o de todos os outros colaboradores da empresa ou instituição, ou mesmo, a sua sobrevivência.

Todas as equipas, e cada um dos seus membros, podem falhar mas têm que existir processos para identificar a origem do falhanço, apurar responsabilidades e encontrar o caminho para a correcção dos erros. A isto se chama, em qualquer modelo de organização, acompanhar, controlar e avaliar. Pressupondo, está bem de ver, que estão definidos objectivos e que os mesmos são partilhados por todos os membros da organização independentemente do seu lugar na hierarquia e das inevitáveis tensões da concorrência interna. O estaleiro para se manter no mercado tem que construir x unidades do produto por unidade de tempo.

Quando pensamos na escola pública como projecto podemos, igualmente, encontrar estruturas semelhantes, os mesmos problemas e dificuldades, apesar de ser uma realidade eminentemente social desde a concepção do modelo de gestão ao produto final. Estão lá os ingredientes todos mas, no caso, o dono do projecto é o estado. Entre a multidão de problemas com que se defronta a escola pública enumero seis.

O problema nº 1 da escola pública, por mais fervor que ponhamos na sua defesa, é o facto de estar fora do mercado, por mais desprestigiado que esteja o mercado (é a velha questão da liberdade de escolha, paradoxalmente, mesmo no seio da escola pública.);

O problema nº 2 é a escola pública, por razões históricas, ter crescido desmesuradamente, nos últimos 35 anos, obrigando o patrão (estado) a contratar trabalhadores sem ter tido a preocupação de os escolher, de forma cuidada, tomando como critério principal a competência (onde se inscreve a questão do recrutamento e avaliação do desempenho dos professores);

O problema nº 3 é o do atraso na criação de cursos profissionais nas escolas públicas, por responsabilidade dos sucessivos governos, segmentando a oferta, a meu gosto, de forma radical, pelo menos a partir do início do secundário (a partir do 9º ano);

O problema nº 4 é o da modernização e racionalização, em partilha com as autarquias, da rede de escolas públicas, criando menos escolas, mas melhores escolas (é a questão das instalações e equipamentos);

O problema nº 5 é o da chamada gestão democrática das escolas, ou seja, a velha questão de quem manda e, não tenhamos medo das palavras, ousando integrar no modelo democrático a figura de gestor que, podendo, ou não, ser professor, não pode ficar refém dos interesses particulares de qualquer corporação;

O problema nº6 é resultante do atraso na aplicação de todas as medidas correlacionadas com os pontos anteriores (e muitos outros) que conduziu o governo, em funções, face a uma situação originada por sucessivas políticas contraditórias, à adopção de uma política voluntarista de reformas em cascata destinadas a produzir resultados a médio, e longo prazo, mas que é avaliada, face ao calendário eleitoral, a curto prazo.

Pois se todos os partidos, há tanto tempo, proclamam a educação, em geral, como a prioridade das prioridades ninguém se deve espantar com as discussões, disputas e lutas a propósito de medidas que se destinam, de verdade, a promover a reforma da educação. Não é, pois, de admirar que a reforma da escola pública tenha sido tomada, pelo governo, como uma verdadeira prioridade política.

O que poderá causar admiração é a persistência do governo – em particular da ministra em funções - em levar avante a sua política, em véspera de eleições, quando sempre poderia, de forma habilidosa, fazer marcha atrás, tornando tudo ao princípio, ou seja, desistindo. Se assim não acontecer, salvo nos pormenores e ajustamentos que não sacrifiquem o essencial, nem a vontade negocial, o mais que se poderá dizer é que o governo se bate por cumprir com o seu programa.

Em última instância quem considere que votou no programa errado sempre poderá, em próximas eleições, corrigir a mão. Mais vale serem os cidadãos eleitores, através do voto, em eleições, decididas por sufrágio universal, directo e secreto, a escolher os governos do que a rua a defenestrá-los. É um caso prático de demonstração da diferença entre democracia e tirania.
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domingo, dezembro 7

QUE GUERRA É ESSA?

Frank Ward: Crossing Siberia

Há uma “literatura de opinião” e uma propaganda imensas acerca deste assunto e ontem esta frase esteve, todo o dia, fazendo manchete nos jornais on-line portugueses. O que me faz voltar ao assunto para perguntar: nos últimos tempos tem havido paz entre os sindicatos de professores e o governo? O que pretende o sindicalismo revolucionário ao desembainhar a linguagem da guerra? Conquistar a simpatia da opinião pública numa época de dificuldades económicas para a maioria das famílias e das empresas? Ameaçar com o encerramento das escolas aumentando as dificuldades do quotidiano das famílias ameaçando-as com o risco de ficarem sem saber o que fazer com o quotidiano dos seus filhos? Estão os professores porventura sob ameaça de perder o emprego como uma parte dessas famílias que ameaçam com as suas ameaças? Foi-lhes feita pelo governo alguma proposta mais gravosa que já não esteja em vigor na administração pública? É que está em vigor na administração pública um sistema de avaliação do desempenho. Talvez a maioria dos cidadãos não saibam mas, com seus defeitos, suas virtudes e perversidades está a vigorar, e a ser aplicado, à esmagadora maioria dos funcionários públicos, incluindo dirigentes, um sistema de avaliação de desempenho. É preciso que os professores sejam capazes de entender que as razões da sua luta são cada vez mais difíceis de entender. Não vale a pena abrir uma guerra que os dirigentes dos sindicatos de professores têm por obrigação de saber que já há muito está aberta. Se os dirigentes sindicais acham que a podem ganhar, que guerra é essa? E os professores sabem qual é a guerra dos dirigentes sindicais?
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sexta-feira, dezembro 5

ESTE NÃO É O TEMPO DOS TÍBIOS

Juro que estou longe de ser taradinho por sondagens. Mas com o tempo tenho-me rendido a elas ou, ao menos, a dar-lhes algum crédito. Ainda mais quanto permitem vislumbrar tendências de evolução coerente ao longo do tempo. Ora para ir directo ao assunto o que me parece é que todas as últimas sondagens mostram que o PS capitaliza com a crise e com a contestação às suas medidas anti-crise. A crise joga a favor de Sócrates permitindo-lhe apresentar-se como um político de “pulso” num país que, por tradição, gosta de políticos “de pulso”. A oposição do PSD é frágil pelo menos por duas razões: Manuela Ferreira Leite não tem perfil para criar uma expectativa de vitória eleitoral e, ao contrário de todas as aparências, é prejudicada pelo facto de a Presidência da República estar ocupada por Cavaco. A dupla social-democrata não multiplica as simpatias pelo PSD, antes as subtrai, e o PS de Sócrates ocupa, de forma cada vez mais consistente, o espaço político eleitoral do PSD. É uma estratégia inteligente concordemos ou não com ela. O reverso da medalha é o crescimento da “esquerda da esquerda” mas na hora da verdade, salvo qualquer hecatombe, se a tradição eleitoral portuguesa se mantiver, a maioria dos portugueses votará em quem lhes dê mais garantias de estabilidade política e de capacidade de resposta à crise. O que poderá evitar a vitória eleitoral do PS nas próximas eleições legislativas? : o afundamento da economia, muito para além das previsões actuais; um agravamento radical das relações institucionais entre Cavaco e Sócrates; o afundamento da UE com a queda de Durão Barroso ou um qualquer escândalo imprevisível. Mas falta muito pouco tempo para que todos os factores negativos, com incidência directa na credibilidade de Sócrates, se possam conjugar de forma letal para o PS. As oposições, ao contrário do que parece, estão na defensiva porque têm medo do poder. O poder, a nível de governo, queima os tíbios* e estes jamais confessarão, em público, a sua tibieza.

*Que é fraco, ténue, débil = FROUXO (Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa)
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MES - Resolução da 8ª reunião plenária do Comité Central


Nos onze meses posteriores ao II Congresso do MES, desde 15 de Fevereiro de 1976 até ao final desse ano, decorreram três batalhas políticas nas quais o MES foi estrondosamente derrotado: as eleições legislativas de Abril de 1976, as eleições presidenciais, nas quais apoiámos a candidatura de Otelo e, finalmente, as eleições autárquicas de Dezembro.

Apesar da retórica revolucionária, ainda presente nas conclusões do II Congresso, que se destinavam a sustentar, persistindo na «linha revolucionária», o empenhamento nas batalhas eleitorais de 1976, o desastre político que os seus resultados representaram impuseram o início de um volte face, em particular, no plano programático que começou a desenhar-se com a Resolução adoptada na 8ª Reunião Plenária da Comité Central.

Esta reunião realizou-se nos dias 15 e 16 de Dezembro de 1976 e a Resolução aí aprovada ostenta, como epígrafe, uma citação de Lenin que, no dia do encerramento do XXVIII Congresso do PCP, em que escrevo, se revela particularmente interessante:

«Ocorre frequentemente que quando se dá uma reviravolta brusca na história, até os Partidos mais avançados deixam passar um tempo mais ou menos longo, antes de se orientarem na nova situação criada, repetindo palavras de ordem que, se ontem eram acertadas, hoje perderam toda a razão de ser tão “subitamente” como «súbita» é a brusca viragem da história.»

O teor da frase escolhida para epígrafe da 8ª Resolução, assim como o seu autor, foram uma espécie de «almofada» que ajudaria os mais recalcitrantes «revolucionários» do MES a aceitar a democracia parlamentar, nunca antes reconhecida, mas que os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975 haviam tornado numa realidade irreversível.

Na verdade a questão política central que se colocava ao MES, desde há muito, mas nunca assumida, era reconhecer a democracia parlamentar como o regime político consagrado pelos portugueses nas eleições, livres e democráticas, para a Assembleia Constituinte de 25 de Abril de 1975. Foi esse mesmo reconhecimento tardio que esta Resolução, a muito custo, consagrou.

Lembro-me de ter sido eu próprio que redigiu o seu segundo parágrafo, aliás sublinhado, a bold, no qual se pode ler: «É necessário tomar como certo que na actual fase a democracia-burguesa vai prevalecer no nosso País sobre qualquer outro tipo de regime».

Poucos acreditavam que tal posição pudesse ser aprovada pelo Comité Central mas, na verdade, acabou por sê-lo, ao mesmo tempo, que uma outra posição que, à época, era crucial para a clarificação do posicionamento do MES e que, em conjunto com aquela, abria caminho para uma aproximação política aos partidos do campo democrático, em particular o PS.

Esta segunda posição é resumida na seguinte frase também sublinhada no corpo daquela Resolução: «O CC considera que a actual correlação de forças no terreno militar não favorece nem o golpismo militar de direita nem dá viabilidade a qualquer “solução militar de esquerda”.»

As orientações desta 8ª Resolução, aprovadas em Dezembro de 1976 e publicadas em Janeiro de 1977, haviam de originar uma intensa disputa interna durante os anos seguintes, atravessando o III Congresso e desembocando no IV Congresso do MES, realizado em 8 de Julho de 1979, que abriria, de uma vez por todas, as portas ao acto original da sua extinção que haveria de ocorrer a 7 de Novembro de 1981. O mais que me apetece dizer, de cada vez que pego em qualquer ponta da história do MES é que, tal como na vida, também na política, o tempo tem um valor incalculável.
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quinta-feira, dezembro 4

CAPRICHOS

Um exemplo prático do modelo das mais amplas liberdades que os comunistas portugueses seriam capazes de nos oferecer. [Aqui e também aqui.]
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PROFs: UMA RADIOGRAFIA


Ei-los de novo. Em frente, marche, pois marcha que se farta Mário Nogueira, a mão cheia de nada e a outra de coisa alguma. Repete-se, não se enxerga e vai de mal a pior aos olhos de quem desconfia deste perigoso unanimismo. Os sinais estão todos à vista: Nogueira não quer isto, não quer aquilo, não quer este modelo, não se sabe que modelo quer, torce o nariz a tudo o que lhe põem no prato como adolescente enfastiado, a esticar a corda. Não, não se pode respeitar este indivíduo, ar de faia, um pintas todo pintas e esta é, talvez, a única característica digna de registo, a graça que ele tem. Porque quanto ao que sobra, estamos conversados: é o vazio. Convenhamos que a luta dos professores não é outra coisa que resistência natural, desastrosa resistência feita de nada, uma lástima. Basta-me passar os olhos pelo blog do professor Guinote para perceber o que anda no ar. Apoucado, o simbólico professor Guinote escreve que se desunha, posta que posta e torna a postar, passa a vida naquilo, às voltas com a não existência, panfletos, a tomada da Bastilha em forma de histórias de vida, lamentosas, chorosas, «prenhes» de amor pelo ensino, pelos alunos, novelas que mostram o que interessa mostrar.Na 5 de Outubro, a inépcia política começou no dia em que se imaginou ser possível entregar aos professores, entre pares, um regime de avaliação de desempenho, observado como deve ser observado, avaliado, tal e qual e qual é o problema? É isto e mais aquilo, os titulares, os pares e a palavrinha mágica: colega. Todos colegas, todos iguais a subir na carreira sem mais nem menos, sem distinção ou «castas» como ouvi a uma professora que aqueles professores aplaudiram. A isto se resume a «luta», a resistência, o ovo da pobre serpente. Fui clara?Tudo deveria ter sido oferecido com outro papel de embrulho menos austero e em certa medida, passe o trocadilho, menos embrulhado. Mais tempo, mais tento, menos pressa. Que pena! Por mim, estes professores «humilhados» mereciam, mereciam? Estão a pedir um Ofsted que lhes endireite a coluna, que os faça perceber que se deve ter cuidado com o que se deseja, que os obrigue a sair dessa cozinha provinciana onde toda a estupidez se concentra e coze em fogo lento.

E agora volto a mim de onde saio quando me apetece para voltar quando preciso, no tempo que preciso.
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quarta-feira, dezembro 3

PS - MESMO ASSIM SOBE

(Clicar para ampliar)

Como sempre digo as sondagens valem o que valem. Esta é fresquinha e, para não variar, dá o PS a subir (40,1), o PSD a descer (26,4), o BE a subir (13,1), o PCP e PP estabilizados. Claro que há mais detalhes mas o essencial está no afastamento do PS face ao PSD e na ascensão do BE. Faltam dez meses para as eleições legislativas.
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TALVEZ TRABALHAR!

Frank Ward: Crossing Siberia

Desde ontem que passei o tempo a cogitar para que serve uma greve com uma adesão pré anunciada de quase 100%? Para que serve uma greve geral de professores do ensino básico e secundário com uma adesão de quase 100%? (segundo fonte sindical). Para protestar contra o modelo de avaliação de desempenho dos professores que já é aplicado na generalidade da administração pública? Para derrubar a ministra da educação a que se sucederá outra (ou outro) ministro da educação? Pensam que outro (ou outra) ministro da educação encetaria um recuo nas políticas que têm sido seguidas? Talvez dar uma vista de olhos pelo programa do governo! (a partir da página 42). Para derrubar o governo? Ao qual se sucederá outro governo? Qual governo? Com que programa? Porque razão foi embora o homem que coordenava o programa de governo alternativo do PSD de Manuela Ferreira Leite? Talvez a “esquerda da esquerda” se queira habilitar a fazer uma experiência de governo revolucionário. Só quando os portugueses quiserem? É esperar! O Outono é propício aos nostálgicos. O dia esteve chuvoso e promissor no campo das experiências de engenharia financeira e social. Para quem tem capacidade para fazer greves, ou escrevinhar acerca das mesmas, a vida não está mal de todo. Assim também o estado tenha capacidade financeira para pagar todas as contas. Hoje, amanhã e depois! Aqui é que a porca torce o rabo. Talvez trabalhar!
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terça-feira, dezembro 2

CRISTIANO RONALDO

CRISTIANO RONALDO

O PORTUGUÊS QUE OCUPA HOJE, EM TODO O MUNDO, AS PRIMEIRAS PÁGINAS.

HÁ QUEM NÃO VALORIZE O FEITO MAS É UMA NOTÍCIA PREFERÍVEL A ESSAOUTRA, EVITADA A TEMPO, DE UM BANCO, PEQUENO EMBORA, MAS FALIDO. É A VIDA!

segunda-feira, dezembro 1

PCP: FICO MAIS DESCANSADO

Erich Lessing - Poronin near Zakopane.

Ora aqui está um discurso político claro por parte do PCP. Não haverá alianças políticas do PCP com quaisquer outras forças. Para ser coerente o PCP concorrerá sozinho em todas as eleições: europeias, legislativas e autárquicas. Um dia quando o povo português, em eleições livres, através do voto universal e secreto, atribuir ao PCP a maioria dos votos ele aceitará ser poder. Ficam assim o PS e o BE (e os restantes partidos) sabendo, de fonte segura, que não vale a pena sonharem com a colaboração política do PCP para quaisquer acordos que digam respeito a questões de poder. Ora como a politica não é mais do que a questão do poder o PCP acaba de decretar o seu isolamento político. O PCP regressa, assim, aos tempos dos sonhos revolucionários que têm como epicentro do seu programa a destruição do capitalismo e a tomada do poder pela vanguarda da classe operária que o PCP encarnaria. Um partido com uma direcção de funcionários! É o regresso a um futuro que nunca se transformará em realidade. Fico mais descansado!
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MULHERES

Fotografia de família – a minha avó paterna

Ressonâncias de outros tempos com gente povoando os caminhos e as casas habitadas em comum com suas regras horários lugares marcados uma luta pela sobrevivência é assim que me soam as ressonâncias de outros tempos. Nela as mulheres ocupam no meu imaginário o centro do mundo. O ponto cardeal em torno do qual volteiam todos os devaneios. Desfilam pela minha memória os seus rostos, vozes e cheiros. Na família tradicional que era (e é) a minha, as mulheres parece que nunca desertam dos seus deveres, nunca morrem, permanecem no centro da vida, lugar da vida, origem da vida. Se tivesse sido iluminado pelo dom de uma qualquer arte dedicar-lhes-ia um monumento, uma obra-prima, um prolongado aplauso.

[24/2/2008]
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domingo, novembro 30

La libre opinión


A conjugação da oratória de Odete Santos, clamando contra a falta de liberdade, no exercício pleno da liberdade, com o “regresso a Marx” proclamado pelo representante do PC Cubano, no Congresso do PCP, leva-me e citar Yoani Sanchez en Generación Y referindo-se à questão da liberdade de opinião em Cuba:
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AS FLORES MORTAS DA SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

Henri Cartier-Bresson - SOVIET UNION. Moscow. 1954.

O Projecto de Teses do XVIII Congresso do PCP é uma peça memorável de arqueologia ideológica. É um arquivo morto e, como tal, não susceptível de discussão mas tão-somente de registo. No plano internacional o ponto 1.3.14. tem sido sobejamente citado. Cada Partido é livre manifestar as suas simpatias e, no “quadro internacional”, o PCP explicita, de forma clara, o que entende como “países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia. (…)”

Mas o ponto 1.3.8., menos citado, “fia mais fino”. Não só pela afirmação do PCP, no contexto da “luta contra o imperialismo”, apoiando lutas nas quais tomam parte activa movimentos terroristas, sob a capa da “estabilidade nas respectivas regiões”, sem qualquer demarcação face aos “objectivos e formas de luta” desses movimentos, como pelo parágrafo final no qual rejeita, pura e simplesmente, a integração europeia.

"1.3.8. A luta contra o imperialismo conheceu um desenvolvimento particularmente importante nos últimos anos. A resistência à política de ingerência, agressão e guerra, em particular dos EUA, foi um traço marcante da luta dos povos em defesa da sua soberania e do direito inalienável a decidir dos seus destinos. No Iraque, no Afeganistão, na Palestina, no Líbano, em Cuba e na Venezuela, assim como na Síria, no Irão, na R.D.P. da Coreia, nos Balcãs, na Colômbia ou em Chipre, prosseguem batalhas decisivas para o futuro desses povos e para a estabilidade nas respectivas regiões que merecem a activa solidariedade dos comunistas portugueses. Nelas intervêm forças muito distintas na sua origem, objectivos e formas de luta, mas dispondo de real apoio de massas e convergindo na rejeição de arrogantes e humilhantes imposições externas e na defesa da cultura e soberania nacionais. A luta contra a integração capitalista europeia é parte integrante deste vasto movimento."

sábado, novembro 29

O TEMPO NÃO VOLTA PARA TRÁS

Henri Cartier-Bresson - SOVIET UNION. Russia. Leningrad. 1973.

Por todo o mundo sopra um vento gelado na economia e nas finanças com dramáticas incidências na via quotidiana de milhões de cidadãos. Portugal não escapa à crise sem fim anunciado. Fecham fábricas ou reduzem-se os dias de trabalho, a produção contrai-se por quebra da procura, a deflação e o desemprego ameaçam tornar-se um flagelo. Para falar somente de Portugal é extraordinário que as classes com rendimentos mais baixos, seja qual for a sua origem, se mantenham na expectativa, aguentem o embate da crise, alheias aos apelos dos sindicatos. Nas fábricas buscam-se acordos para aguentar a tormenta. Quem se manifesta são funcionários públicos aos quais o estado paga religiosamente, pouco ou muito, por volta do dia 23 de cada mês. Não sei se dá para perceber que quem paga os ordenados aos manifestantes são aqueles que mais sofrem com a crise. Os grandes sacrificados pela crise que não esperem, do Congresso do PCP, palavras inspiradoras que venham ao encontro da concretização dos seus desejos e paixões.

quinta-feira, novembro 27

É PRECISO QUE ALGO ACONTEÇA ...

Gary Auerbach

A propósito do que Marina Costa Lobo escreveu em A Democracia é uma jangada apeteceu-me ir buscar uma frase que pode ter muitas leituras. E fui tentado a fazer o exercício de a aplicar ao “caso” Dias Loureiro. A solução para o “caso” Dias Loureiro parece simples. Mas, ao mesmo tempo, parece que não é! Quanto mais tempo o "caso" Dias Loureiro passar sem solução mais vai ter que arregaçar as calças o “supremo magistrado da nação”. E a jangada da democracia balouça! Balouça! Balouça!

É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!
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quarta-feira, novembro 26

BUSQUEMOS O EQUILÍBRIO PARA NÃO PERDERMOS A RAZÃO

Um líder marxista* disse, um dia, qualquer coisa como: “devemos evitar os sacrifícios inúteis”. Esse lema pode aplicar-se, nos nossos dias, na perfeição, à salvação do próprio marxismo. Não enquanto filosofia, repleta de ensinamentos válidos, mas enquanto doutrina politica. O marxismo, e os seus subprodutos, estão mortos pelo menos para aqueles que prezam, acima de qualquer outro valor, a liberdade. O que poderá suscitar espanto, para os que se interessam, e aderem às causas dos partidos que se reclamam do marxismo como o PCP. Quando utilizei a fórmula da “esperança morta” aplicada aos crentes assumidos, ou não, nos “amanhãs que cantam” não estava, ao contrário do que afirma o meu amigo Joaquim, a subestimar a crítica, qualquer que ela seja, seja qual for o seu destinatário. O problema é que os partidos que corporizam, no terreno da política, à esquerda da esquerda, a critica à política do PS, e ao seu governo, não a admitem no seu próprio seio. Não são, consabidamente, praticantes dos princípios que advogam para os outros. O PCP e o BE, cada um com a sua história, e seus métodos próprios, rejeitam a verdadeira discordância, eliminando os seus críticos como se elimina uma nódoa mesmo que seja à custa da integridade do pano. A concepção totalitária que explora a “fraqueza” da democracia politica, em favor da tirania, como a história ensina, não é monopólio da direita. Os exemplos domésticos, à esquerda, não faltam. Em época de crise todos os cuidados são poucos na apreciação dos méritos da política do “quero, posso e mando”, quer dos críticos radicais dessa política. O que eu digo é: busquemos o equilíbrio para não perdermos a razão.

* Talvez Antonio Gramsci, fundador do partido Comunista Italiano, que a Igreja Católica, por este dias, revelou ter-se convertido no leito de morte. Porque não?
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terça-feira, novembro 25

DINHEIRO SUJO


Revolvem-se-me as tripas com o desprezo votado ao carácter, verticalidade e hombridade dos homens públicos. Nada que seja fenómeno novo mas tomou o lugar cativo em tudo o que cheira a dinheiro e comunicação que atribui notoriedade. Não sei se verei o dia em que se inverta este estado de coisas ou, ao menos, se atenue o desdém face à parte fraca da sociedade. Não sei se algum dia, na história do homem em sociedade, se atingiu um tão alto grau de desprezo pelos valores da solidariedade individual. Todas as ideias solidárias morrem por não ser possível sequer tentar levantar um dedo sem que por detrás dele se não vislumbre a sombra do interesse material. Ardemos às mãos do império do dinheiro sujo e das leis que permitem esconder e disfarçar os mandantes dos crimes mais hediondos contra a humanidade. E não se sabe da missa a metade.

[2/5/2008]
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segunda-feira, novembro 24

UMA ESPERANÇA MORTA

O problema dos nossos intelectuais críticos da governação, qualquer que seja, é não serem capazes de entender que a governação não se situa no terreno do ideal absoluto mas na capacidade de atender ao relativo possível. O problema dos nossos intelectuais de esquerda críticos da governação de (centro) esquerda, é não entenderem que a esquerda, à esquerda, fundada nos puros valores, herdados da revolução francesa, já se finou. [Ver um caso em chaga viva!] O problema da esquerda, face a face com o poder, é recorrente: compromisso ou radicalidade? A insistência na radicalidade, herdeira dos vários esquerdismos, é a via mais segura para entregar, numa bandeja de prata, o poder à direita. A esquerda da esquerda não acredita na democracia politica como um regime político virtuoso mas tão-somente como um regime transitório, a derrubar por dentro, em favor de uma democracia popular, de um poder popular, ou seja, o regresso a uma discussão estafada que desemboca numa esperança morta. Para pior já basta assim …
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