Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena
Fernando Pessoa - Quadras
Não é todos os dias que um nosso interlocutor toma para si o risco de tornar pública a apreciação que de nós faz. Caminhe em que sentido caminhar a apreciação do outro faz-nos estranhar a nossa própria face, ouvir diferente a nossa própria voz, por um momento, faz-nos reflectir acerca dos gestos quotidianos de que é feita a nossa vida e, no caso, perguntarmo-nos o que é, afinal, isso de comunicação.
O amigo que me fala do outro lado do Atlântico, e que assina CATATAU, resolveu, hoje, escrever acerca de mim:
Recebi os Primeiros Poemas, livro de Eduardo Graça, cuidadosamente confeccionado, com trabalhos da artista portuguesa Isabel Espinheira.
Nosso amigo Absorto reuniu diversos poemas, boa parte deles escritos no "verão de 1980 quando, na praia dos sonhos que sempre ilumina, encontrei a Guida".
Sobre esse livro e o Graça, esbocei já diversos textos. Diria que o perfil de Eduardo Graça é muito interessante, admirador de Jorge de Sena, Kavafis e Camus (sempre presentes em seus veículos). Ainda, comentaria a respeito de sua paixão pela escrita, e apelaria a um caráter um tanto "abnegado", entrevisto em seu weblog, no sentido positivo de evocar uma ética do escrever, ao mesmo tempo em que a "popularidade" não faz parte das preocupações.
Em jogo, sempre a relação do leitor com o escritor. Porém não no mecanismo simples da mera autoridade. Eduardo não busca (enfim, é o que eu diria dele) um jogo de autor-autoridade, mas talvez um mecanismo mais complexo, no qual duas pessoas enredam-se na comunicação como pessoas - sem mediações "autorais" -, e a escrita se reveza como "meio" e como "fim". A escrita é meio para encontrar outras pessoas. Mas ao mesmo tempo, é fim em si mesma, implica o apreço por uma certa espécie de "arte" ou "culto à arte", tentativa de reportar o leitor apenas para a escrita, independente de questões autorais. No mesmo movimento, ela se reporta ao leitor, mas especialmente ao conteúdo, independente de qualquer leitor (ou talvez melhor se formule assim: para todos os leitores).
Mas no fim, não continuarei impressões que devem apenas a mim. Convido o leitor a tirar suas próprias impressões, visitando o Caderno de Poemas do Eduardo. Na lista, poemas de seus Primeiros, bem como atuais, e vários outros. Com o Absorto, o Caderno compõe um belo instrumento de interlocução, nos dois sentidos acima enumerados: um bom encontro, com bom conteúdo.
Obrigada, digo eu, cá deste lado!
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