terça-feira, agosto 10

Conversas

Já basta de jogos de palavras. O Director da PJ demitiu-se. O seu comunicado de imprensa é uma pérola da nossa literatura política/administrativa. As gravações de conversas de um jornalista do CM, ao que tudo indica, com intervenientes no caso Casa Pia, caíram no "domínio público".

As conversas existiram ou não existiram? Foram gravadas ou não foram gravadas? Se não existiram não podem ter sido gravadas. Ponto final. Se existiram e não foram gravadas o seu teor fica com os próprios. Se existiram e foram gravadas das duas uma: ou foram gravadas com autorização dos entrevistados ou sem autorização. Neste último caso trata-se de falta de ética profissional ou mesmo de um ilícito.

Se foram gravadas com autorização trata-se de uma situação normal na relação da comunicação social com as chamadas fontes. Mas resta a questão crucial do interesse público. Atendendo às movimentações políticas em curso as conversas, está bem de ver, existiram, foram gravadas e têm mesmo interesse público.

Caso contrário como explicar o envolvimento do Primeiro-ministro? E a reunião do mesmo com o Procurador-geral da República? E o noticiado seguimento do assunto pelo PR? E a pergunta que todos fazemos é porque razão as conversas gravadas, sendo de manifesto interesse público, não são dadas a conhecer aos portugueses? Quem são os entrevistados? O que disseram ao jornalista?

O que está em causa é demasiado importante para que o corporativismo de magistrados, jornalistas (e não só) ganhe a batalha da verdade.

segunda-feira, agosto 9

Desabafos

Passou um mês. O PR tomou a decisão de não convocar eleições antecipadas. A decisão foi legal mas, do ponto de vista da maioria dos portugueses, não foi legítima. Divulgaram-se muitas posições de revolta, nalguns casos, de vergonha. Recebi, eu próprio, muitas mensagens, por todos os meios, manifestando uma sentida e profunda desilusão pela decisão do PR.

Ao contrário do que alguns desejam e pensam a perda de prestígio do PR não tem retorno. Um mês depois transcrevo, a título de ilustração, um desabafo radical, mas representativo, dos muitos que recebi, e ouvi, pelas ruas, na minha "presidência aberta", no Algarve.

"Não tive, ainda e agora, a oportunidade de te parabenizar pelo teu "absorto"... Ele, o absorto, faz parte dos meus "favoritos" e, agora, que sou um incorrigível "navegador" de/dos Blog´s - essa nova e admirável forma de comunicação, mais livre, mais democrática - lá vou, de quando em vez, dando "espreitadela(s)"... Os meus sinceros parabéns pela iniciativa ... e, já agora, que o "absorto" faz parte dos meus(s) roteiro(s), quase quotidiano, faz o favor de continuar.

Meu caro, Fiquei perplexo, diria mesmo, muito perplexo com a decisão do Sr. Presidente da República...Eu, que ajudei a eleger este Presidente, por quem tinha uma grande admiração quer pelo seu passado de anti-fascista consequente, seja pelos valores que sempre defendeu - honestidade, democracia, respeito pelas diferenças alheias, competência, seriedade, etc. ...

Hoje, sinto-me completamente defraudado ! É que passados Trinta Anos da Revolução (com "R") de Abril, hoje, tenho a tristeza de ter(mos) um Presidente que não acredita em si mesmo. Passados trinta anos temos um Presidente que não quer ser Presidente. Passados trinta anos temos um Presidente que foge do acto de ser Presidente. Passados trinta anos temos um presidente que não sabe ser Presidente.Sampaio com esta ignóbil decisão trai, assim, a confiança e o voto de todos os que o elegeram. Sinto-me, assim, TRAÍDO !.. A partir de hoje estou de luto, pela vergonha de ter Santana Lopes no Governo. Usarei, todos os dias, gravata escura até que semelhante criatura seja escorraçado como, de resto, espero...

Estou, tal como muitos Portugueses e Portuguesas, totalmente disposto e disponível a fazer Tudo o que puder para impedir que a vergonha de ter Santana Lopes no poder dure muito. Posso colar cartazes. Fotocopiar folhetos. Fazer peditórios. Sei lá que mais... Só espero, mesmo, é que, então, o Senhor Presidente da Republica tenha a coragem - sim a coragem -de escorraçar este Governo fantoche.

O Dr. Eduardo Ferro Rodrigues só demonstrou grande caracter e uma grande dignidade. O seu consulado, à frente do P.S., tem sido por demais atribulado... e a sua decisão foi, em meu entender, simplesmente impoluta. Espero que, quem quer que seja o putativo p.f. Secretário Geral do P.S. - e, porque não Ferro Rodrigues(?) possa conseguir congregar o partido, ganhar as eleições... e, naturalmente, governar à Esquerda.

Um grande abraço ( com muita tristeza à mistura).

Assinado


Faz um mês

Não é engano meu. Faz hoje um mês. O Dr. José Manuel Barroso resolveu abandonar o barco. Nem a Dra. Manuela Ferreira Leite, dedicada executora da "política da tanga", teve direito a aviso prévio. Uma falta de carácter, a toda a prova, mais do que falta de delicadeza. O PR concordou, está bem de ver e, deslumbrado, aceitou o embuste. Fechadas as portas, desde o princípio, à solução da consulta popular, foi gastar tempo. Fingir que se ponderava o que estava decidido. Um mês passado, o Dr. Pedro Santana Lopes governa, pelo telemóvel, de férias. O PR representa e pondera, em Atenas. O Dr. José Manuel Barroso exerce, entre Lisboa, Madrid e Bruxelas. O país real, observa, aguarda e desespera. Para animar, podiam divulgar, ao menos, os nomes dos que falaram com o tal jornalista do CM.

domingo, agosto 8

Sem título

"(Lembro-me doidamente dos cheios: é porque estou a envelhecer.)"

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 24
(pag. 11, 1 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Liberdade

A reintrodução da pena de morte no Iraque é uma aquisição da "liberdade" reconquistada? Nada de importante para a trajectória política do Dr. José Manuel Barroso. A UE apoia a medida? O governo de Portugal apoia esta decisão? O PR de Portugal apoia? Portugal defende a pena de morte? Portugal tem forças militares no Iraque? Já se esqueceram?

"Governo anuncia reintrodução da pena de morte
O Iraque vai reintroduzir a pena de morte para punir assassinos e pessoas que ameacem a segurança do país. Esta medida foi anunciada no dia em que o primeiro-ministro do país visitou a cidade santa de Najaf e falou com o governador local." (TSF-online)

Chuva

Chove torrencialmente nas Azenhas do Mar. Em pleno Agosto tanta chuva é coisa rara. Os veraneantes de domingo regressam tristes a casa. Com o ar quente, o mar calmo, a praia deserta e a paisagem molhada o ambiente aproxima-se do tropical. Um domingo de Agosto diferente.

sábado, agosto 7

Ministério do Turismo

O "Semanário Económico", na sua edição de ontem, publicou, com honras de chamada á primeira página, o meu artigo com o título em epígrafe. O artigo pode ainda ser lido, na íntegra, no blog abébia vadia.

Aqui deixo transcritos os seus últimos parágrafos:

"Sustento que, sendo o turismo uma actividade transversal e multidisciplinar, muito relevante na dinâmica do desenvolvimento integrado da sociedade portuguesa, deveria, no governo, integrar um Ministério que exercesse a tutela dos transportes e do ordenamento do território. Aliás esta opinião coincide com a da maioria dos operadores turísticos portugueses e suas associações.

A minha preferência é a do modelo francês (aliás a França é a primeira potência turística mundial) no qual o turismo está integrado, ao nível de secretaria de estado, no "Ministério do Equipamento, Transportes, Ordenamento do Território, Turismo e Mar". (Que diferença em relação à estrutura do governo português actual!)

Aliás, além de Portugal, nos países da União Europeia, só em Malta existe um Ministério do Turismo, desde 2003, integrando também a cultura. Esse é o modelo adoptado nos países do Norte de África e nalguns outros do chamado "terceiro mundo".

Não quer dizer que não possa ser uma originalidade bem sucedida no nosso país. Tudo depende do peso político que alcançar, da competência dos seus titulares e … do tempo que durar.
"

Falta de vergonha

Confesso que este post é muito pouco subtil. Mas o Carmona veio outra vez com a "pesada herança"? Puxa! É uma lastimável falta de vergonha tentar esconder com a "pesada herança" a ausência de obra de Santana Lopes na CML. Goste-se ou não do estilo, João Soares deixou obra feita. Santana Lopes deixou dívidas e "buracos". Não há nada a fazer - o homem é mesmo assim! Segue-se o governo da Nação. Colocar anúncios pagos só aumenta a dívida.

"Palavra-maná

Não será forçoso haver sempre, no léxico dum autor, uma palavra cuja significação ardente, multiforme, inatingível e como que sagrada dê a ilusão de se poder com ela responder a tudo? Essa palavra não é nem excêntrica nem central; é imóvel e transportada, está à deriva, nunca é arrumada, é sempre atópica, (fugindo a todo e qualquer tópico), é ao mesmo tempo resto e suplemento, significante que ocupa o lugar de todo o significado. Essa palavra surgiu pouco a pouco na sua obra; foi primeiro disfarçada pela instância da Verdade (a da História), a seguir pela da Validade ( dos sistemas e das estruturas); agora, desabrocha: esta palavra-maná é a palavra "corpo"."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 23
(pag. 10, 3 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Anotação
Na página 10 deste livro artesanal de excertos escrevi: "acreditar que mesmo fora (ou só aí?) do terreno das massas (ou dos grandes grupos) é possível estabelecer um novo tipo de relação, nem exclusiva, nem episódica, mas preferencial."

sexta-feira, agosto 6

Política/Moral

Que nem de propósito o Dr. Pina Moura opina hoje, no Público, planando sobre o tema do último excerto dos "Fragmentos de leitura". Para ele basta que haja uma "ética da lei". O que não admira pois é um burocrata da escola do comunismo antigo.

Mas o problema é que a ética não é uma questão formal. O político ético não é o que está conforme a lei. É o que age conforme as suas convicções, é fiel aos seus compromissos, respeita os adversários e nutre compaixão pelos inimigos.

Por todas as razões o político ético é uma realidade arqueológica. Tem para cima de duzentos anos. Tal como, por outras razões, o Dr. Pina Moura.

quinta-feira, agosto 5

O sucessor natural

Se o Dr. Pedro Santana Lopes decidir abandonar a função - Deus o guarde em descanso - pela lógica do raciocínio formal do PR, aconselhado pelos inefáveis dois ou três sábios que apaziguam a sua alma com os poderosos, sabem quem é o seu sucessor natural na liderança do PSD? É o Dr. Rui Rio.

Com o Dr. Rui Rio em primeiro ministro o governo vai direitinho para o Porto e ele vai ser espalhar ministérios, secretarias de estado e serviços pelas vilas e aldeias de Portugal. Que esta história da Golegã não fica assim! Ah! Ah! Ah!

É só poupar!

Fagmentos de leitura

Volto ao título original para assinalar a actualidade deste texto antigo. Aquele que tentar associar política e moral fica com mais de duzentos anos de idade. Alguns casos recentes na nossa política doméstica são uma ilustração deste pensamento estúpido.

"Político/Moral

Toda a minha vida me tenho ralado, políticamente. Induzo a partir daqui que o único Pai que conheci (que ofereci a mim mesmo) foi o Pai político.

É um pensamente simples, que regressa muitas vezes mas nunca vejo ser formulado (talvez seja um pensamento estúpido) : não existirá sempre ética no político? Aquilo que fundamenta o político, ordem do real, ciência pura do real social, não será o Valor? Em nome de quê decidirá um militante...militar? Não será a prática política, que se desliga precisamente de qualquer moral e de qualquer psicologia, uma origem...psicológica e moral?

(Isto é um pensamento verdadeiramente atrasado, uma vez que ao acoplarmos a Moral e a Política ficamos com duzentos anos de idade, passamos a ser de 1795, ano em que a Convenção criou a Academia das ciências morais e políticas: categorias velhas, lanternas velhas. - Mas, em que é isto falso? - Nem sequer é falso; já não se usa; as moedas antigas também não são falsas: são objectos de museu retidos por um consumo peculiar, o consumo do que é velho. - Mas não será possível extrair dessas moedas um pouco de metal útil? - O que se torna útil nesse pensamento estúpido é ver-se nele o afrontamento intratável de duas epistemologia: o marxismo e o freudismo.)"

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 22
(pag. 10, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Polícia

Tomou posse o novo director da PSP (Polícia de Segurança Pública). É uma decisão política. Entrou, ponto final. Eu gostava de saber é porque saiu o Inspector Geral do Ministério da Segurança Social e do Trabalho nomeado, com pompa e circunstância, por Bagão Félix, em finais do ano passado. Não deu sequer para apresentar um relatório anual. É porque um e outro são a mesma pessoa: o juíz Branquinho Lobo.

Estranho modelo de gestão e de estabilidade político-administrativa.


O Suicídio de Estado

As notícias vão surgindo devagar. Ontem a PSP, hoje a justiça, antes a educação, depois a saúde . Todas, sem excepção, apontam na mesma direcção. Vence a ideia do caos. A modernização do Estado perdeu o rumo. Não que os responsáveis não saibam traçar um caminho Mas não querem. Assim é mais fácil fazer vencer os interesses ilegítimos. Sejam privados, sejam públicos. Contratar, alienar, favorecer, desfavorecer, omitir, revelar, valorizar, desvalorizar... Um dia destes esta lógica vai estourar. Alguém vai ter de reunir os cacos. Para muitos dirigentes e trabalhadores honestos, competentes e dedicados pode ser tarde demais. Para o país é o desastre anunciado.

quarta-feira, agosto 4

A praia

Ontem, ao fim da tarde, na Praia Grande, uma nuvem de surfistas sobre a água. Ao longo da praia, no mar calmo, ao contrário do habitual, os surfistas exercitavam o seu jogo. O negro dos fatos e a multidão dos corpos, em movimento, faziam lembrar um cardume de peixes de visita à costa.

Aquela vista permite um exercício acerca da praia. No norte a praia é a partir da tarde depois de se esbater a neblina. No sul a praia é de manhã pela fresca.

A água é sempre fria para os do sul ? E, para os do norte, é sempre quente ? Tudo depende da ideia que fazemos do lugar que é a praia para nós.

terça-feira, agosto 3

Adornar

A vida de muita gente adorna. Outros naufragam. Outros sobrevivem à tona, a maioria. A energia vital que empurra a vida para a frente, fracassa. Espanta-me a capacidade, de alguns, em conviverem em silêncio com o medo.

Lírica - Redondilhas

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.

Luís de Camões

In, Lírica, Obras Completas
Círculo de Leitores





"Uma recordação de infância

Era eu criança, morávamos num bairro chamado Marrac; este bairro estava cheio de casas em construção, em cujos estaleiros as crianças brincavam; havia grandes buracos cavados na terra argilosa, destinados aos alicerces das casas, e certo dia em que tínhamos estado a brincar num desses buracos todas as crianças saíram dele excepto eu, que não consegui.; do solo, de cima, troçavam de mim: perdido! sozinho! olhado! excluído! (estar excluído não estar de fora, é estar só no buraco, fechado a céu aberto: excluído); vi então a minha mãe acorrer; tirou-me dali e levou-me para longe das crianças, contra elas."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 21
(pag. 10, 1 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

segunda-feira, agosto 2

Arder em lume brando

Neste primeiro dia de regresso ao trabalho confirmo: a administração pública arde em lume brando. É um incêndio sem labaredas alterosas mas de consequências dramáticas para o país.

"Legível, escrevível e para além disso

Em S/Z propõe-se uma oposição: legível/escrevível. É legível o texto que eu não poderia voltar a escrever (poderei eu hoje escrever como Balzac?); é escrevível o texto que leio com dificuldade (a menos que altere totalmente o meu regime de leitura). Imagino agora (como me sugerem certos textos que me são enviados) que talvez haja uma terceira entidade textual: ao lado do legível e do escrevível haveria algo como o recebível. O recebível seria o ilegível que se agarrra, o texto ardente, produzido permanentemente fora de qualquer verosimilhança e cuja função - visívelmente assumida pelo seu escritor - seria a de contestar o constrangimento mercantil do escrito; este texto, guiado, armado por um pensamento do impublicável, faria apelo à seguinte resposta: não posso ler nem escrever aquilo que você produz, mas recebo-o, como um fogo, uma droga, uma desorganização enigmática."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 20
(pag. 9, 4 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70