terça-feira, abril 5

Almocreve das Petas

Ler, no Almocreve das Petas, “A propósito de algum anti-clericalismo”

"Ir até ao fim ..."


Faro - Uma vista do lugar das minhas leituras de juventude de Camus em volta da doca

“Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir. Tenho necessidade de sentir a minha própria pessoa, na medida em que ela é o sentimento daquilo que me ultrapassa. Por vezes preciso de escrever coisas que em parte me escapam, mas que provam justamente o que em mim é mais forte do que eu”.

Albert Camus, in Cadernos

segunda-feira, abril 4

LUZ


Luz. Iluminar. Uma lâmpada que ilumine. A epígrafe de Jorge de Sena que abre o meu último artigo:

“Aprendemos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, uma lâmpada de sala que ilumine a todos."….

Lembrei-me de Isadora Duncan. Quando a vejo retratada na minha memória, pelas imagens que me encantaram no cinema, associo à sua imagem a palavra LUZ.

Fascínio


As exéquias impõem-se.
A cor fascina-me.
A escolha obriga.
O espectáculo cega.
A fé esconde-se.
A morte certa.
A vida eterna?

"Público" Inimigo de Si Próprio


Já abordei o tema. O “Público” vai fazer-se pagar pelos acessos on line.
Vai perder pensando que vai ganhar. Um Jornal de referência
em Portugal – ao contrário de outros países – só tem a perder
ao fechar-se face à emergência de uma pluralidade imensa
de canais de informação interactivos. É um erro de gestão.
Um afloramento prático da leitura neo liberal feita por
marxistas fora do seu tempo.

O “Público” corre o rico de se
transformar, em breve, num jornal “careta”,
sem novidade nem carisma. Inimigo de si próprio.
Não vou mais reproduzir as suas notícias e artigos.

O Pacheco Pereira hoje, no Abrupto, identifica, com exactidão,
as consequências do fechamento do “Público” que esta deriva mercantil produzirá.

A ler ainda Atrium.

Expatriada

No Jornal do Blogueiro dei com Expatriada um blog de uma brasileira vivendo em Portugal.

sábado, abril 2

O PAPA MORREU


O Papa João Paulo II morreu. No seu pontificado, longo e intenso, afirmou-se como uma figura notável. Concretizou um pontificado universalista, em particular, em prol do reencontro entre as religiões. Viajou ao encontro dos povos e usou a palavra como uma arma pela reconciliação e pela paz. Era um conservador em muitas questões que atormentam a vida dos cidadãos e das sociedades contemporâneas como é o caso, por exemplo, da “interrupção voluntária da gravidez”, do uso de métodos contraceptivos e da ordenação das mulheres.

Mas impressionou-me sempre e, em particular, na fase final da sua vida, a forma desassombrada como encarou a velhice, a doença e a morte. Foi até ao fim um protagonista da sua própria vida impregnando de esperança no futuro os desafortunados pela marginalização, pela tirania, pela doença e pela pobreza.

Professemos, ou não, da sua fé, concordemos, ou não, com as orientações do seu pontificado, reconheçamos, humildemente, que foi um grande homem entre os homens do nosso tempo e de todos os tempos.

Uma nota dissonante e, porventura, menor para lastimar como, em Portugal, a RTP, canal público de televisão, realizou a cobertura dos últimos momentos da vida do Papa. No momento em que era anunciada oficialmente a morte do Papa a RTP transmitia um anúncio comercial.

Mais tarde quando o Presidente da República pronunciou a comunicação pública de condolências, em nome do povo português, a RTP não entrou no ar senão quando a comunicação já decorria e, mesmo durante a mesma, mostrou uma imperdoável displicência, sem a presença de um jornalista no acto e partilhando, quase todo o tempo, a imagem do Presidente da República com outras imagens.

A SIC, um canal privado, pelo contrário, cumpriu plenamente o serviço público que deveria competir à RTP. Face a este comportamento indigno a administração da RTP deveria ser exonerada já amanhã.

JOÃO PAULO II



No fim da vida o Papa polaco, João Paulo, Karol, quis, de vontade própria, dizer ao mundo dos homens que a vida deve ser vivida até ao fim.

Exagero, dizem alguns. Nos últimos dias as imagens das aparições públicas do Papa eram chocantes. E as imagens das guerras e de massacres de civis inocentes? E as imagens da “Quinta das Celebridades”? E as imagens dos corpos amortalhados das vítimas de desastres de viação? E as imagens dos aviões a embaterem nas Torres Gémeas ? ...

No caso deste Papa as imagens do seu sofrimento destinavam-se, por vontade do próprio, a destronar a imagem do efémero atingindo, em plenitude, o coração e a inteligência dos homens. É assim que as entendo.

O Papa quis mostrar que a velhice não é um impedimento para o desempenho de uma profissão, de uma missão, de um trabalho. Que a terceira ou quarta idade, o fim da caminhada pela vida, não é um estigma que justifique o abandono do homem pelos outros homens e a sua condenação à solidão.

Que a doença não é uma fatalidade que se deva aceitar com resignação. O Papa quis, de vontade própria, mostrar ao mundo dos homens, que o sofrimento não é motivo de vergonha e faz parte integrante da vida.

O Papa quis utilizar o poder da sua imagem pública, a sedução que a sua figura exerce em católicos e não católicos, para nos dizer: vivam a vida até ao fim, sem abdicação de nada a que tenham direito, partilhando com a comunidade não só a parte radiosa da criação humana, sempre associada à juventude, como a sua parte mais dolorosa: a dor, a doença e a morte.

Este ritual de exposição pública do sofrimento físico de João Paulo II– anunciando o fim da vida, sem subterfúgios – é uma novidade absoluta que marca uma postura corajosa acerca da vida e, quiçá, o princípio de uma nova era.

Imagem de Cibertulia

sexta-feira, abril 1

SECA



É precisa uma estratégia nacional para a água. E, por conseguinte, para a seca. De alto a baixo. De cabo a rabo. Uma tarefa de fundo, a médio/longo prazo, para o governo. Esta é mesmo uma função do governo.

Se o governo socialista a concretizar já basta para ficar na história. Eu disse concretizar. É difícil mas possível. E tem apoio popular. Garantido à partida. Mas não façam prédicas anunciatórias para empatar tempo e adormecer o auditório.
Acção. Acção.

"A SECA - PEQUENA DISSERTAÇÃO LIVRE"
(Texto integral no IRAOFUNDO E VOLTAR)

Fotografia de Helder Gonçalves

"Diário do Governo" - 7


"UMA LÂMPADA DE SALA QUE ILUMINE A TODOS"

Já está disponível no site do “Semanário Económico” o artigo com o titulo em epígrafe que hoje publico na edição daquele semanário.

O mesmo pode ainda ser lido no IRAOFUNDO EVOLTAR.

quinta-feira, março 31

O "Ti Mimoso" Morreu

O “Ti Mimoso” morreu hoje. Acabo de receber a notícia, via email da Patagónia, do Pedro Pedrosa. O “Ti Mimoso” era, com a sua mulher Helena, a referência física e humana de todos os que se deslocam à Aldeia Histórica de Linhares da Beira.

Nela viveram pelo menos dois anos os membros de uma equipa do INATEL que produziram no terreno uma obra de grande alcance chamada “Carta do Lazer das Aldeias Históricas”

Nela se realizou, promovida pelo INATEL, anos a fio a mais consagrada das provas de Parapente de Portugal: o “Open de Linhares da Beira”.

O “Ti Mimoso” era uma âncora humana insubstituível de todas as inúmeras iniciativas e actividades, planeadas e estruturadas, que o INATEL realizou, pelo menos desde 1996 a 2002, em prol do desenvolvimento socio-económico da Linhares da Beira e de toda a região da Beira Interior de Portugal. Um verdadeiro projecto, bem sucedido, de apoio ao desenvolvimento sustentável da região contrariando desconfianças, imobilismos e atavismos.

Nas muitas visitas que fiz aquela aldeia, durante sete anos, era ponto de honra visitar em primeiro lugar o “Ti Mimoso" e a D. Helena na sua “tasca”. Eram figuras de referência de todos os parapentistas nacionais e dos estrangeiros que nos visitavam.

Uma noite cheguei à sua beira, por milagre, debaixo de um nevão incrível conduzido de Jeep pelo Valentim, já de noite, através de uma estrada que era necessário adivinhar, sem avistar vivalma, nos limites da sobrevivência (pelo menos era essa a minha sensação, que não a do Valentim) mas com a determinação de cumprir o programa. E cumprimos.

O “Ti Mimoso” lá estava na sua “tasca” para nos receber não escondendo a surpresa pela visita inesperada e quase impossível.

Eu tinha levado calçados uns sapatos que não resistiram à travessia a pé do jeep à tasca. O "Ti Mimoso" e a D. Helena tiveram a gentileza de me oferecer, na hora, uma botas que me serviam a preceito. Retribui mais tarde oferecendo-lhe um relógio. Sei que ele o ficou a adorar de tal forma que o poupava ao uso não fosse estragar-se. Nunca mais esqueci o "Ti Mimoso", nem esquecerei.

Sempre amável e pronto a ajudar guardo dele, afinal, a memória próxima e fraterna de um companheiro de estrada e de viagem. Honra à sua memória.

CARANGUEJOLA



- Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores.

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira -
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado,
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
- Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar...

Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho- que amor!
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
- Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo - e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prà enfermaria! -
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará.

Justo. Um quarto de hospital - higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda -
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...

- Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.

Paris, Novembro de 1915

Mário de Sá-Carneiro

Atenção à Coreia do Norte e ao Irão

Una comisión impulsada por Bush reconoce que la guerra se basó en información totalmente errónea

Los expertos recomiendan en su informe cambios sustanciales en los servicios de inteligencia

EE UU lanzó la guerra de Irak y embarcó en ella a medio mundo basándose en informaciones "totalmente erróneas".

Ése ha sido el rotundo diagnóstico de la comisión designada por el propio presidente Bush para investigar los fallos de las agencias de inteligencia en los meses previos al ataque.

El informe recomienda una reforma en profundidad de los servicios secretos y advierte además de que la información que se maneja sobre Corea o Irán tiene la misma fiabilidad que la que se tenía entonces sobre las armas de Sadam.

El País

quarta-feira, março 30

Resultados Oficiais das Eleições Legislativas

O site do STAPE não apresenta ainda o resultado final das eleições legislativas de 20 de Fevereiro. Faltam os resultados dos “círculos da emigração”. Ainda há contencioso ? Há atraso ? É erro meu? O que se passa?

Sondagens no Reino Unido

Com eleições gerais, muito provavelmente em 5 de Maio, no Reino Unido são importantes as reflexões do MARGENS DE ERRO em que se afirma, por exemplo, que “uma votação 35%-34% favorável aos Trabalhistas, como a que resulta da última sondagem YouGov (24 Março), por exemplo, significa, na prática, uma vantagem muito maior em termos de deputados. Ou para ser mais preciso: o Labour pode até perder em número de votos e ganhar confortavelmente em deputados.”

Faro - "Capital da Cultura 2005"



Faro, minha cidade natal, parece aturdida com a ingente tarefa de acolher e organizar a “Capital Nacional da Cultura” - 2005.

A cidade sempre foi arredia a essas coisas da cultura. Cidade natal de muitos artistas, só grandes poetas contemporâneos, assim de repente, me lembro de António Ramos Rosa, Gastão Cruz e Casimiro de Brito...

Mas a cidade não acolhe dos seus grandes artistas senão quase só a sua lembrança.

Não admira que a directoria do certame, com sede ali no “Clube Farense”, paredes meias com uma janela do quarto onde eu me sentava na minha adolescência estudando e lendo enquanto ouvia os sons da mesa da batota que se jogava do lado de lá, encontre o caminho eivado de escolhos.

Morei na Rua de Santo António, a rua principal da cidade, na casa que serviu de lançamento para o negócio no qual o meu irmão – em ambiente familiar - havia de prosperar até à sua recente e dolorosa morte.

Dormimos longos anos os dois no mesmo quarto exactamente à beira da tal janela. Ele era o irmão mais velho e foi-me interessando pelas coisas da cultura. A cidade provinciana olhava esses interesses culturais com desconfiança e julgo, em abono da verdade, que nada de essencial mudou, ao longo dos anos, no espírito da cidade.

A “Capital Nacional da Cultura” em Faro seria algo muito fácil de organizar se tivesse sido pensada antes de ser organizada. E se o tivesse sido teria havido um espírito de buscar o que de mais profundo, na cidade e na província, no que respeita à dita cultura (erudita e popular), existe para estudar, aprofundar e divulgar.

Não foi. Os que conhecem as raízes culturais do Algarve, desde a antiguidade até aos nossos dias, sabem muito bem do que falo. Um dia destes volto ao tema. Por agora fico-me pela recordação daquela janela através da qual me interroguei, vezes sem conta, acerca do porquê das vozes que falavam a linguagem da batota.

A mesma palavra, batota, de que se falo agora, no mesmo exacto lugar, a propósito de Faro "Capital da Cultura - 2005".

Imagem da rua de acesso ao Largo da Sé de Faro

INSANUS

A Blogosfera marca o ritmo. Vejam aqui insanus do Brasil.

Personalidade do ano - 2004

O Carlos Paredes foi “embrulhado” na homenagem que o Ramon Font quis prestar, por interposta imprensa estrangeira, ao Dr. José Manuel Barroso.

Tenho a maior estima pelo Ramon mas o Carlos Paredes não merecia um tal “embrulho”. O Carlos Paredes era um génio na sua arte. O maior virtuoso da guitarra portuguesa – pelo menos - das últimas décadas. Um artista comprometido com a defesa de ideias dos quais nunca abdicou. Foi comunista até ao fim.

O Dr. José Manuel Barroso, com todo o respeito e consideração, é o seu perfeito oposto. Colocar Carlos Paredes como uma pena no chapéu de José Manuel Barroso é, no mínimo, indecoroso.

A hora das cegonhas - Faro

segunda-feira, março 28

Areia

Areia pisada,
areia dorida,
areia beijada,
areia batida,
areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida.

Frescura abraçada
ao mar que se vai,
e os braços crispados
pregados num ai.

E a areia rolada
nos olhos profundos,
e as matas de sombra
ao fundo dos mundos…

E o paço de pedra
Erguido no espaço
e as capelas tristes,
que perco e abraço…

E o sonho do vento,
que gela e que deixa,
e a voz que ergo e calo
e é vida e é queixa…

Os degraus que subo
e são mais de cem,
e os cisnes vogando
nos lagos de além…

E as estradas brandas
onde correm fontes,
e as moças que sonham
sem verem os montes…

E os bancos abertos
aos corpos cansados,
e a chuva da tarde
nos parques molhados…

E os riscos de luz
que bordam o Céu,
e a cortina branca
que ao Sol me escondeu…

E os quartos alheios
que giram à roda,
e as vozes na estrada
que me tolhem toda…

E eu dentro de um sonho
suspensa e vibrante
- areia beijada num mar mais distante –
e rica e mais longa,
e presa e mais livre
- sem mal e sem vida…

Areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida!

Natércia Freire

In "Horizonte Fechado" - 1942